For Evermore escrita por MelanieStryder


Capítulo 12
Capítulo 12 - Never Too Late


Notas iniciais do capítulo

Olha o Jacob se achando... kkkk



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Os últimos três meses foram um inferno na minha vida. Eu não consegui me alimentar direito, raciocinar direito, mal pude trabalhar e agora está afetando também o meu sono. Já há duas semanas que eu não dormia bem. Não eram pesadelos nem nada, acontece que eu simplesmente não dormia.

Abri os olhos e fiquei olhando para o forro embolorado do quarto, misturado ao barulho das ondas quebrando na praia. Renesmee não saía da minha cabeça, desde nossa última discussão na casa de Charlie. Eu ficava lembrando repetidas vezes dela me pedindo para ir embora, para desaparecer e eu tinha aceitado essa estúpida condição; o que eu nunca devia ter feito. Como eu poderia fazer isso? Como eu poderia fingir que ela não existia? Eu podia não amá-la, isso eu admitia, mas... Não é assim que se arranca alguém do seu coração, pois ela ainda estava lá e sempre estaria. E eu a amava sim, feito uma irmã.

Estava cansado daquela situação, era doentia e eu não suportaria sequer mais um minuto.

Levantei devagar o lençol para que Leah não me escutasse. Saí de casa nas pontas dos pés e então corri montanha acima, fugindo da estrada, fugindo dos humanos, fugindo de Leah. Eu precisava vê-la, para ter certeza de que ela estava bem, de que ela me perdoava. Logo eu era apenas um lobo selvagem passando por entre os borrões verdes e marrons da floresta. Eu seguia aquele cheiro, o odor doce e enjoado dor vampiros. Não demorou muito para eu chegar na estrada dos Cullens e também para Sam tentar invadir meus pensamentos. Então eu voltei imediatamente à minha forma humana, para que ele não pudesse me pegar, para que Leah nunca soubesse que eu estava novamente na casa dos Cullen. Ah, se ela descobrisse...

Ainda no meio das árvores fiquei observado o casarão escuro. Dormindo é que não estavam. No máximo deviam estar distraídos com alguma coisa. Como é que eu ía falar com ela sem que ninguém soubesse que eu estava ali? Era óbvio que Edward me receberia se eu quisesse, mas eu não tinha cara nem coragem para chegar nele e dizer: “Edward, são três da madrugada, mas eu quero falar com sua filha, você sabe, eu quero só falar, só saber se ela está bem”. Patético!

Por melhor que Edward fosse... Acho que se fosse minha filha eu não deixava.

Peguei algumas pedrinhas no chão e comecei a jogar na janela dela. Ela tinha que acordar, ela tinha que vir para fora da casa.

...

Acordei assutada com um barulho que ouvi. Abri um pouquinho a cortina e espiei lá fora. Não vi nada.

_ Devo ter sonhado... _ Murmurei para mim mesma.

Deitei-me novamente, mas sem fechar os olhos. De novo, aquele barulho de algo batendo na minha janela. Sentei na cama e pensei em ligar o abajour, mas desisti em seguida. Abri novamente a cortina e olhei para a escuridão. Vi um par de olhos selvagem piscarem no meio das árvores e depois um focinho grande na penumbra.

_ Seth! _ Sorri para mim mesma.

Abri um pouquinho a janela e botei a cabeça para fora.

_ Shhh! Espera aí! Estou descendo. _ Sussurrei.

Levantei correndo, toda descabelada. Não estava nem aí, era só o Seth. Coloquei meu hobby de seda florido sobre o pijama curto e calcei minhas velhas botas de montaria. Estava ridícula, mas nem importei.

Desci as escadas devagar, evitando não fazer barulho. Parece que ninguém tinha me visto ainda. Ótimo! Deviam estar todos “bem ocupados” nessa hora da madrugada.

Corri pela grama úmida do quintal e me embrenhei na floresta escura, sem medo nenhum.

_ Seth! Seth! _ Sussurei, mas ele não aparecia.

Inesperadamente, algo prendeu meus braços com força e uma mão, tapou minha boca. No começo eu ri, pensando que era uma brincadeira dele, mas ele nunca me soltava.

_ Shhhh! _ Ele soltou.

Aquela voz não era de Seth e eu estava com muito medo agora.

_ Ness, não grita.

Jacob? Era ele, eu tinha certeza!

_ Sou eu, Jacob. Eu vou te soltar, mas você tem que me prometer que não vai gritar nem fazer escândalo, promete?

Eu balancei a cabeça positivamente, já que estava completamente imobilizada por ele. Então ele me soltou.

_ O que você pensa que está fazendo? _ Eu disse alto e com raiva, já me afastando floresta adentro. _ Quase me matou de susto!

_ Shhh! _ Ele colocou a mão na boca. Você quer me ver morto? Então fala mais baixo!

Eu ainda ofegava pelo susto, mas já começava a raciocinar.

Fitei-o.

_ O que você está fazendo aqui? _ Disse cruzando os braços por cima do hobby.

_ Eu... Eu não sei... _ Ele gaguejou e eu ri nervosamente.

_ Como não sabe Jacob? _ Disse irritada.

_ É isso! É por isso que eu vim. Eu não quero que a gente continue assim... Você com raiva de mim.

Lembrei a última vez que nos falamos, das coisas que eu disse e que depois eu achei que não devia ter tido. E tudo porque eu estava com a cabeça quente.

_ E o que você quer? _ Perguntei sincera.

_ Só sua amizade de volta. _ Ele se aproximou um pouco. _ Eu sinto sua falta...

Então Jacob virou-se de costas para mim.

_ Vai, me diz, pode me dizer, eu sou mesmo um canalha! Diz tudo o que você quer me dizer, me xinga, me bate, me mata, faz o que você quiser!

Então ele virou-se novamente. Parecia frustrado.

_ Mas faz isso de um vez só e depois me deixa ficar perto de você...

_ Jacob, eu... _ Fiquei desconcertada.

_ Eu não consigo mais comer, não consigo mais dormir, não consigo mais trabalhar, mais nada! Tudo na minha vida está uma merda desde aquele dia Renesmee. _ Ele suspirou. _ Você também está sentindo assim?

_ Eu? Eu não... _ Fui sincera.

Ele ficou me olhando, pasmo por uns instantes.

_ Está certo, você está certa. Não tem que sofrer por causa disso, afinal, o canalha sou eu.

Doeu em mim vê-lo assim tão perdido. Ora, se tudo o que ele queria era a minha amizade, será que eu não podia dar isso a ele? Será que eu tinha que ser assim tão dura com ele, tão dura com a gente? Senti um aperto no peito que há muito eu não sentia.

_ Não fala assim Jacob...

Então ele segurou minha mão e se ajoelhou aos meus pés.

_ Ness, por favor, me aceita de volta. Como seu amigo, mas me aceita...

_ Pára! Levanta Jacob! Que horror... _ Eu tentei puxá-lo para cima, mas ele era pesado demais.

_ Não, eu não vou sair daqui até você me aceitar de volta!

_ Jacob... Não é fácil pra mim. Não pede isso...

_ Já que eu sou um canalha mesmo, vou ser mais um pouco e continuar te implorando. _ Ele apertou minhas mãos.

_ A Leah sabe que você esta aqui?

_ Não... _ Ele murmurou, ainda com seu rosto enterrado em minhas mãos.

Rolei os olhos.

_ Jake, como é que você quer que sejamos amigos se ela não sabe?

_ Ela não precisa saber.

_ Lógico que precisa. Que abrsudo!

_ Ness, ela não entenderia! _ Ele disse alto e meio que sem paciência. _ Ela não sabe nada sobre nós!

_ Nós... _ Repeti e depois respirei fundo. _ Você acha que vai se sentir melhor se voltarmos a sermos amigos, mesmo mentindo para a Leah? Você vai é continuar se sentindo mal com essa mentira... _ Eu o repreendi.

_ Não, eu posso mentir para a Leah, para qualquer um, menos para você. _ Ele disse me encarando.

Eu bufei. Por que ele gostava de me torturar assim dizendo essas coisas? Às vezes eu não entendia o Jacob...

_ Tudo bem... _ Eu falei baixo.

_ O que? _ Ele me olhou estupefato.

_ Eu disse que tudo bem... Embora eu ache que isso não vai dar certo...

Então ele se levantou do chão e me abraçou apertado, fato que me incomodou um bocado.

_ Escuta, me põe no chão. _ Ele obedeceu. _ Mas tem uma condição.

_ Qualquer coisa. _ Ele disse com um sorriso que só ele tinha, que ía de orelha è orelha.

_ Não me toca.

Ele tirou as mãos da minha cintura.

_ Ok, acho que eu posso fazer isso. _ Disse sem perder à expressão de alegria em seu rosto.

Então Jacob começou a caminhar por uma trilha que dava para dentro da floresta. Aí ele parou e me chamou.

_ Vem.

_ Para onde?

Ele estendeu a mão para que eu a segurasse. Que droga, tínhamos acabado de fazer um acordo, será que ele não entendia isso?

Olhei para a mão dele e ele logo a retirou.

_ Vem! Vou te levar para ver uma coisa. _ Disse sorrindo.

Então eu comecei a caminhar devagar atrás dele. Por que eu estava fazendo aquilo? Ok, já estávamos “de bem” novamente, mas eu ainda teimava em seguí-lo? No fundo eu sabia que aquilo ía me machucar depois, mas mesmo assim... Ah, eu era muito teimosa! Até comigo mesma.

_ Onde estamos indo? Eu devia voltar a dormir, está tarde. _ Reclamei mas continuei seguindo-o pela floresta.

_ É para comemorar. Poxa, faz uma forcinha!

_ Comemorar o que?

_ A nossa mais nova amizade, oras! _ Ele me olhou sorrindo. _ Vou te levar para ver uma coisa que você nunca viu.

Não pude deixar de sorrir de volta.

_ Aqui na floresta? Não tem nada que eu não tenha visto...

_ Não é na floresta bobinha. Vai, me segue.

Então ele começou a correr e eu acompanhei-o em seu encalço. De repente, percebi que tínhamos chegado na fronteira entre as terras dos Cullen e as terras da tribo Quileute. Freiei a corrida levantando poeira no chão que não via uma gota de chuva há três dias.

_ Jacob! Eu não posso continuar. _ Disse com os pés cravados no chão.

Então ele andou de volta até mim.

_ Eu sou o Alpha, eu determino. _ Ele sorriu malicioso. _ Além do mais, são quase quatro da madrugada. Você acha que os moradores de La Push vão estar todos na rua numa hora dessas? E também não precisamos passar por dentro do vilarejo.

_ Eu não sei... _ Disse com medo. _ Se alguém me ver aí... Nós nunca fomos para La Push.

_ E por que você acha que eu quero te levar até lá? _ Novamente aquele sorriso malicioso nos lábios carnudos deles.

_ Não sei... _ Recuei sem querer pensar no motivo, mas já imaginando. Era realmente tentador, mas... _ Melhor eu voltar.

Então Jacob segurou minha mão, não deixando que eu continuasse minha caminhada de volta.

Ficamos os dois, fitando nossas mãos entrelaçadas. Não durou nem 15 minutos nosso acordo de “toque corporal”. Eu sabia que aquilo não ía dar certo.

_ Por favor. _ Ele implorou.

_ Isso tem que ficar em segredo Jacob.

_ Claro! Nosso segredo... _ Os olhos dele brilharam.

Seguimos em silêncio enquanto atravessávamos a aldeia. Meu coração batia a mil por hora. Se me pegassem ali, eu não sei do que aqueles anciões de La Push seriam capazes! Ou melhor, até sei... Já me imaginava sendo assassinada por enforcamento ou sendo decapitada, ou queimada, como faziam na época das bruxas.

Deixamos a aldeia para trás e continuamos a correr por cerca de vinte minutos.

_ Espera! Pára! _ Eu disse assustada.

_ O que foi? _ Ele sussurrou.

_ Que barulho é esse?

Ficamos em silêncio para que ele também pudesse ouvir, até que Jacob começou a rir.

_ Qual a graça cachorro?

_ Esquece o barulho, vamos continuar.

Continuei no encalço de Jacob, olhando para todos os lados. Eu ouvia um ruído constante, que hora estava mais alto, ora mais baixo. Tinha a ligeira impressão de que alguém nos seguia, embora eu não conseguisse ver nenhum movimento suspeito na mata.

Enfim, paramos em um lugar que me parecia como uma espécie de penhasco.

_ Chegamos. _ Ele avisou.

_ Você não vai acreditar, mas eu não estou enxergando quase nada. _ Eu comentei, tentando identificar o que tinha embaixo de nós, mas... Era impossível!

_ Hoje a Lua não está visível. Está mesmo muito escuro e eu também não estou vendo muito bem, deve ser por isso.

_ Então como sabe que chegamos? Como sabe se não estamos perdidos?

Ele riu.

_ Renesmee você está falando com um lobo. Eu conheço essas terras como as palmas das minhas mãos.

_ Ui, está bem “senhor-sabe-tudo”!

Eu continuava a ouvir o ruído. Agora estava bem mais alto do que antes. Não era possível que Jacob não escutava!

_ Está preparada? _ Ele perguntou, em tom misterioso.

_ Para que? _ Eu apertei meu hobby de seda contra o corpo, tentando fugir do vento gelado. Pode até ser coisa da minha cabeça, mas aquele vento parecia grudar no meu corpo e tinha um “gosto” estranho. Está bem, eu sei que vento não tem gosto, mas... Por Deus! Este tinha!

_ Agora a gente vai ter que pular.

_ Que? Pular onde?

_ Oras, não era você que sempre quis ver o penhasco onde sua mãe pulou? Você sempre disse que também pularia. Quero ver agora! _ Ele disse em tom desafiador.

Quando Jacob disse aquela palavra... Penhasco. Um arrepio tomou conta do meu corpo e minhas pernas ficaram bambas. Eu olhei para Jacob desconfiada. Então ele tinha me trazido para La Push, para pular de um penhasco na madrugada? O que será que ele pretendia? Me matar?

Meu coração voltou a pulsar acelerado e eu comecei a ofegar.

_ Que barulho é esse Jacob? _ A voz saiu trêmula.

_ É o mar, bem embaixo dos seus pés.

Só então fui perceber que eu estava perigosamente bem na beirada. Afastei-me rapidamente e em seguida, pedaços esmigalhados de rochas se esfaleraram debaixo dos meus pés, devido ao meu movimento brusco. Apertei o braço de Jacob, que estava do meu lado, na tentativa de buscar equilíbrio.

_ Ele bate nas rochas com muita força. É esse o barulho que você está ouvindo.

Eu olhei para ele e Jacob tinha uma expressão muito séria em seu rosto.

_ O que foi? Está com medo?

_ Não. _ Minha voz quase não saiu.

_ Então você pula e eu vou logo atrás de você. _ Ele praticamente ordenou.

Eu continuava apertando o braço dele, meu corpo balançando com aquele vento forte e minha respiração alta era a única coisa que eu conseguia ouvir.

_ Vai amarelar? _ Ele desafiou novamente.

_ Não! _ Eu disse com raiva. Jacob parecia que estava gostando muito de me provocar naquela noite. Ele queria mesmo que eu pulasse daquele penhasco e minha mente parecia não querer compreender isso, o porque de ele desejar isso. A única coisa que eu sentia agora era raiva.

_ Então vai! _ Ele arrancou minha mão do braço dele e quando eu menos esperava, Jacob me empurrou para o abismo.

Gritei estupidamente alto quando ele fez isso. Eu sequer podia sentir o meu corpo, que parecia estar adormecido, sequer podia pensar em qualquer coisa. O estranho foi que quando comecei a raciocinar novamente, senti meus pés fincados no chão e comecei a ouvir a gargalhada de Jacob bem do meu lado.

Cravei minhas mãos no chão ao meu redor e apertei aquela terra fina entre elas, cheia de ódio. Eu não tinha caído de penhasco nenhum! Acho que tinha pulado um metro e meio no máximo, só isso.

Apurei o olhar e percebi que Jacob se contorcia deitado na areia clara, de tanto rir. Joguei o conteúdo das minhas mãos nele, mas como o vento estava contra mim, voltou tudo na minha cara. Cospi areia.

_ Jacob Black! Eu vou te matar! _ Gritei furiosa enquanto vi a sombra dele sair correndo. Me levantei ainda com as pernas bambas e toquei a correr atrás dele.

_ Você acha mesmo que eu ía te empurrar de um penhasco? _ Ele ria enquanto eu o perseguia.

_ Você me pága Jacob, me pága!

Percebi que aquele ruído que eu estava constantemente ouvindo, agora era incrivelmente alto. Parecia estar ao meu lado. Mas eu não ligava, queria pegar Jacob e eu ía socá-lo, ía até mordê-lo como eu costumava fazer! Continuei correndo atrás dele, quando de repente, um líquido gelado entrou na minha bota de cano alto. Parei.

Jacob andou até mim e ficou tomando fôlego com as mãos apoiadas nos joelhos.

_ Jacob, nós estamos... _ Eu mal conseguia dizer.

Ele sorriu e balançou a cabeça positivamente.

_ Então esse... _ Abaixei e peguei um pouco da água salgada, trazida pela maré. _ Esse é o mar? É assim que é o mar? _ Senti meus olhos molhados. Era algo que eu sempre quis conhecer, mas sendo da família que eu era, nunca tive oportunidade.

_ Eu não disse que ía te mostrar algo que você nunca tinha visto? _ Ele me abraçou pelo ombro, enquanto eu sentia a água gelada entrar de novo nas minhas botas. Dei uns passos para trás, assim que a maré subiu.

_ É... É lindo! _ Eu disse olhando para a água negra e agitada, bem na minha frente. _ Pena que está de noite e não dá para ver direito.

_ Vem. _ Ele me puxou pela mão e começou a andar.

_ Tem mais? _ Eu disse extasiada, me deixando ser levada por ele.

_ Você vai ver.

Andamos um pouquinho para longe do mar, até começarmos a ver uma construção antiga e bem alta.

_ O que é isso? Um prédio?

Jacob riu.

_ Não ri, seu bobo! _ Dei um soquinho no braço dele.

_ É um farol.

_ Hummm... Legal. Eu já li sobre isso e vi na TV também _ Disse olhando para cima, tentando imaginar quão alto era aquilo.

Jacob esmurrou com o ombro a porta de madeira e ela se abriu.

_ Seu louco!

_ Relaxa, é um farol abandonado. Vem. _ Nós dois entramos e eu percebi que tinha uma velha escada de ferro enferrujado, que levava até lá em cima. _ Vai você na frente e vê se sobe devagar.

Tirei as botas dos pés e descarreguei a água que estava dentro delas. Deixei lá embaixo e comecei a subir descalça, com Jacob atrás de mim.

Enfim, chegamos no topo do tal farol. Não dava para ver o mar muito além do que eu já tinha visto na praia, mas ainda sim, era uma boa visão. Encostei-me no para-peito e olhei para baixo.

_ Sai da beirada, pode ser perigoso. _ Ele me puxou para dentro.

_ Eu gosto do perigo. _ Eu ri.

_ Ahh, eu percebi mesmo o quão corajosa você é! _ Ele fez piada de mim.

_ Não importa o medo, o importante é fazer. Ora, eu pulei, não foi? _ Esnobei-o. _ Quando você vai me levar naquele penhasco? Não este de agora a pouco, no de verdade.

_ Nunca! Do jeito que você é louca... Não espere isso de mim. _ Ele disse sério.

_ Pois um dia eu ainda vou até lá... _ Disse olhando para o mar.

_ Se vai. _ Ele debochou, mas eu não respondi. Eu ía e pronto, não tinha que ficar brigando com ele por causa disso.

_ E andar de moto, você també não vai deixar? _ Perguntei só para irritá-lo.

_ Andar? Você quer dizer correr feito louca, né? _ Ele riu. _ Seth já me avisou sobre sua fama de sem noção. Pois esqueça também essa história de moto.

Eu ri para mim mesma, sem falar nada para ele. Certamente era outra coisa que eu ía fazer sem precisar dele. Era uma das coisas da minha lista... Sabe quem tinha comprado a moto que era de Jacob? Mike Newton...  Há há há! Lógico que ele ía me emprestar, nem que fosse para dirigir na floresta, mas eu ía.

Então ficamos os dois em silêncio escutando as ondas raivosas arrebentarem na praia.

_ E então? Gostou? Está tão quieta... _ Ele perguntou.

_ Jake, lógico que eu gostei! _ Sorri. _ É só sono. E frio. _ Friccionei as mãos nos meus braços. _ Vamos embora?

_ Não! Vamos esperar o sol nascer.

_ Pra que?

_ Pra você ver direito. Está muito escuro agora.

_ Mas... E depois para voltarmos?

_ Voltamos pela floresta. Relaxa, não vai ter ninguém.

_ Bom... Se eu não congelar até lá... _ Eu disse tremendo.

Então ele me abraçou e eu olhei feio, incomodada com ele encostado em mim.

_ Jacob, você já quebrou nosso acordo umas dez vezes hoje. _ Lembrei-o.

_ O que é que tem? Você disse que estava com frio...

Eu evitei os olhos dele, tirei os braços dele de mim e continuei a tremer.

_ Está bem... Fica aqui, fica bem parada e não olha para trás.

Balancei a cabeça negativamente. O que será que ele ía fazer agora? De qualquer forma não me mexi, pois o frio não me permitia. De repente senti algo quente tocar meu braço. Olhei para trás e vi que aquele enorme lobo marron tomava quase todo o espaço do pequenino farol. Olhei para o canto e vi as roupas dele amontadas. Ele tocou minha mão com o focinho e depois deitou-se no chão. God, era imenso! Eu não lembrava de Jacob ser um lobo assim tão grande e de ele ter aquela pelagem tão brilhante.

Era óbvio que eu entendia o que ele queria.

_ Não Jacob... É a mesma coisa, oras! _ Dei de costas a ele. Eu não ía fazer isso.

Houve um grunido, algo como um gemido triste.

_ Não começa a chorar, por favor...

Então ele começou a chorar muito. Era irritante aquilo, parecia até que eu o estava machucando. E droga... Estava muito frio lá em cima...

_ Está bem, está bem... _ Cedi. O frio era demais. _ Deitei-me no chão e encostei-me nele. Jacob parecia pegar fogo, de tão quente. Quando dei por mim, estava a afagar o pelo comprido e macio de seu pescoço, como eu costumava fazer antigamente.

Não demorou muito para que pegássemos no sono, os dois.

...

Acodei com os primeiros raios de sol que transpassavam a madeira velha do parapeito do farol iluminando meu rosto.

Espreguicei-me e me levantei. Que vista era aquela? Que coisa mais linda e... E que coisa imensa era o oceano! Eu não fazia idéia de que era assim.

Senti o vento morno bater em meu rosto. Sorri, mas a vontade era deixar-me chorar. Ela lindo demais...

_ Agora sim! _ Senti a mão de Jacob atrás de mim. _ Então me deixe perguntar novamente se você realmente gostou.

_ É lindo! _ Eu abracei-o apertado. _ Obrigada por me trazer.

_ Ness?

_ O que?

Ele apontou para mim, pendurada no pescoço dele.

_ Você está quebrando o acordo, percebeu?

_ Ahh é, lógico. _ Alinhei-me em meu hobby florido e voltei a olhar para o mar. Bem ao longe, vi um pontinho preto que parecia cada vez mais se aproximar da praia.

_ O que é aquilo?

_ Humm... Deve ser um pescador. Eles pescam na madrugada e retornam no início da manhã.

Apenas sorri. Então peguei Jacob fitando-me.

_ Ness... Que bom que estamos bem novamente. _ Ele sorria. Eu tinha que admitir que aquele sorriso... Droga! Eu nunca tinha visto sorriso mais bonito.

_ Também acho. _ Sorri. _ Mas ainda acho que você devia contar para a Leah. _ Disse o nome meio que com desdém. Irritava-me aquela Leah.

_ Ahh, Leah! Não me venha falar de Leah agora, por favor. _ Ele voltou a ficar sem paciência. _ Agora é só eu e você. Esquece o resto.

_ Sei... Simples assim.

_ É! Simples assim! _ Ele sorriu.

Voltei a olhar para o mar, então ele tirou uma mecha de cabelo que estava em meu rosto.

_ Epa, epa! O acordo! _ Lembrei-o.

_ Ahh é... _ Ele parou. _ Sabe, estive pensando...

_ Fala.

_ Pensando numa coisa... Numa coisa que eu queria.

_ Deixa de rodeios Jacob! _ Dei um soquinho no braço dele e sorri. _ Fala logo!

Ele respirou fundo.

_ Queria te convidar para sair comigo, você aceita?

_ Sair? Para onde?

_ Sei lá, para jantar, por exemplo.

_ Sei... Vai ser onde esse jantar? Na floresta?

Nós dois rimos.

_ Claro que não! Num restaurante. _ Ele concertou.

_ E o que é que eu vou fazer num restaurante Jacob?

_ Ah sei lá Ness... O objetivo não é comer, é a gente sair para conversar, para aproveitar...

_ Não sei... _ Fiquei pensando. Não contava com essa coisa de sair. _ A Leah vem junto?

_ Você está maluca? Claro que não!

_ Então é melhor deixar pra lá...

_ Ness! É um jantar de amigos, não é um encontro! _ Ele insistiu.

_ Eu não sei Jacob... _ Eu disse enquanto começava a descer as escadas.

_ Você não sai com seus amigos?

_ Saio, mas... É diferente.

_ Como assim? É a mesma coisa, oras! _ Ele estava impossível.

_ Bom... Eu vou ver com o Rian. Se ele tiver outra coisa para fazer aí a gente vai.

_ Rian... O que você tem com esse cara?

Chegamos no térreo e eu calcei minhas botas geladas e completamente molhadas.

_ Nada... Nada sério.

_ Você está ficando com ele?

Eu olhei para ele e ri.

_ Jacob, não é da sua conta!

_ Foi só uma pergunta. Você não precisa responder se quiser, mas pela sua reação já está respondido. _ Ele riu malicioso.

Eu sorri concordando.

Então ele parou e ficou meio sem graça. Parecia que queria dizer alguma coisa, mas não saia.

_ Vocês... _ Ele rodeou com as mãos na cintura. _ Vocês já se beijaram?

Eu olhei para ele franzindo a testa.

_ Jake, em que planeta você vive? 

Aí ele não perguntou mais nada.

A volta pela floresta foi silenciosa. Acho que já tínhamos falado o suficiente, ou melhor, eu já tinha revelado o suficiente.

Entrei em casa pela janela do meu quarto, ajudada pelo Jacob. Ridículo, mas eu fiz isso.


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Notas finais do capítulo

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