Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 77
Nada a temer


Notas iniciais do capítulo

Bom domingo e boa leitura



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Samara fez um pedido inocente para a lanchonete de Luciano, a pessoa que ela gostava (embora não reconhecesse para si mesma que gostava), achando que poderia ter uma chance de conversar com ele. Ah, a juventude…Samara rolava em sua cama imaginando isso, mas eis que ela lembrou de um detalhe.

—Ai, é verdade! - exclamou ela - Quem garante que é o Luciano que vai fazer a entrega? Eu já vi ele entregando algumas coisas pela cidade, mas não poderia ser outro?

Era uma possibilidade. Claro, Abílio não dispensaria a mão de obra barata do próprio filho, então é claro que o enviado foi Luciano, mas Samara não sabia disso.

—Já sei! - exclamou a garota, tendo outro lampejo - Vou esperar o entregador lá fora. Se for o Luciano, tudo bem, mas se for outro...talvez eu consiga dar um jeito nele.

Samara procurou no meio das suas coisas e encontrou uma maquiagem pesada que usava em seus períodos mais sombrios (sim, ela já teve fases piores).

“É isso”, pensava ela. “Vou fazer o entregador que não é o Luciano pensar que sou uma assombração. Vivem dizendo que a floresta no caminho daqui é mal-assombrada mesmo.”

Sim, ela sabia que vivia em um lugar assustador e não, ela não ligava a mínima para isso. É, Samara e seus pais são praticamente os Addams.

“Mas por que estou fazendo isso?”, pensou Samara. “N-não é como se eu gostasse do Luciano ou coisa assim...mas...se for ele, será mais divertido, não? Não será? Ah, dane-se! Vou assim mesmo!”

E foi o que ela fez. Uma maquiagem rápida que a fez mais parecida ainda com a menina de “O Chamado”. É, dava para assustar alguém de verdade com aquilo ali. Principalmente se for alguém medroso, como quem? É, como o pobre Luciano.

—Sim, aposto que consigo assustar qualquer um agora! - disse Samara para si mesma. Ela saiu de casa sem avisar seus pais pela janela, com toda a confiança que uma assombração teria. Infelizmente, tropeçar enquanto pula a janela diminui um pouco a confiança.

“Ai, isso não acontece com os fantasmas nos filmes”, pensou ela. “Mas, vamos lá, vai. Já que tive essa ideia maluca…”

E Luciano estava a caminho da floresta. Claro que sua coragem não era das maiores. Isso foi perceptível por seu amigo Luís que estava em um banco da praça lendo um livro de física quântica para relaxar um pouco.

—Ei, Luciano? - perguntou Luís, ao vê-lo de longe.

—Ah, Luís. E aí? - cumprimentou ele.

—O que você tá fazendo pedalando tão devagar? - indagou Luís.

—É que...preciso fazer uma entrega - disse Luciano.

—Não deveria ir mais rápido? Desse jeito vai perder pontos - reparou Luís.

—Eu sei, estou disposto até a pagar o prejuízo do meu bolso, mas o lugar que eu tenho que ir…

—O que tem? Qual é o problema?

—É lá na “Colina do Arrepio”! - falou ele.

—E daí?

—Como e daí? Tem um monte de histórias escabrosas sobre aquele lugar! A floresta que precisa passar para chegar lá é sinistra!

—Que histórias? Nunca aconteceu um assassinato em Vila Baunilha até onde eu sei.

—Mas são...as assombrações.

Luís não resistiu e deu uma alta gargalhada.

—Assombração? Ah, Luciano. Fala sério, vai?

—Mas estou falando sério! Não queria passar pela floresta!

—Assombrações não existem, Luciano - disse o cético Luís - Tudo isso é bobagem. Não acredito que existam coisas como fantasmas, espíritos ou Deus. Já falei que não acredito em Deus? Aliás, acho que não falei isso na Internet hoje, preciso colocar isso na minha agenda…

—Uma coisa é você acreditar, outra coisa é elas existirem. E se você estiver errado?

—Eu? Errado? Estou com a ciência do meu lado! Se ela nunca apresentou evidências concretas de assombrações, então não tenho motivo para crer nelas.

—E se a ciência estiver errada? - perguntou Luciano.

—Lave essa sua boca, seu herege! - exclamou Luís, quase jogando o livro que tinha em mãos na cabeça de Luciano - Se você deve acreditar em alguma coisa, acredite na ciência!

—Dane-se! Se você não acredita em fantasma, eu acredito e já estou tremendo só de pensar em entrar naquela floresta.

—Ai, ai, o que seria desses meus amigos se eu não estivesse por perto? - falou Luís, balançando a cabeça - Está bem. Eu vou com você e vou mostrar que não tem fantasma nenhum naquele lugar!

—Sério? Valeu, valeu mesmo. Sobe aí, então - disse Luciano.

Havia um lugar na garupa da bicicleta. Como Luís era baixinho, não teve dificuldades em se segurar no colega. O pacote com os sanduíches pedidos estava na cesta, na frente da bicicleta, onde Luís também colocou o seu livro. Assim, os dois partiram e chegaram à floresta.

—É aqui - disse Luciano.

—Aqui é só a entrada da floresta. A casa fica na colina - disse Luís - Não lembro quem é que mora lá.

—Eu também não tenho a menor ideia! - falou Luciano - Nunca vim por esses lados! N-não quero entrar. Vamos voltar!

—Deixa de ser idiota - falou Luís, batendo na cabeça de Luciano - Não tem nada de sobrenatural nessa floresta aí. Só entra e pronto!

—M-M-mas…

—Você não tem vergonha? Um marmanjo barbado desses com medo de fantasma.

—Tenho motivos para isso - falou Luciano - Quando eu era criança, contavam histórias de fantasma para mim e eu morria de medo. Meu pai vivia dizendo que um deles iria me pegar se eu fizesse bobagem.

—E algum te pegou?

—N-não. 

—E você fazia bobagens mesmo assim, não fazia?

—Fazia - admitiu Luciano.

—Então é claro que seu pai mentiu.

—Eu sei. No fundo, eu sei que é superstição, mas...alguma coisa em mim não deixa.

—Entra logo nessa droga de floresta. Eu tô aqui, não estou? Ainda que existam fantasmas, e eu sei que não existem, posso te proteger com a minha coragem e inteligência - falou Luís, com um ar de confiança.

Luciano não falou nada.

—Que cara é essa? Não confia em mim?

—T-Tá bom, vamos nessa, vai…

—Você não respondeu minha pergunta! - reclamou Luís.

Seja como for, os dois entraram na floresta, pegando a trilha para fazer a entrega. Enquanto isso, Samara estava à espreita, pronta para assustar um entregador que não fosse Luciano.

“Ai, estou nervosa”, pensou ela. “Será que consigo assustar alguém assim?”

Infelizmente, essa história não tem imagens, mas o que se pode dizer é: sim, Samara, você pode assustar muita gente assim.

O que vai sair disso?


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Notas finais do capítulo

Veremos no próximo capítulo. Até lá! :)



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