Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 62
Um dia de raposa


Notas iniciais do capítulo

Mais um domingo, mais um capítulo. Boa leitura! :)



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Abílio encontrou uma fantasia antiga ao revisitar alguns artigos antigos de sua família, a fantasia do Senhor Raposo, um personagem popular de Vila Baunilha. Ele acabou convencendo seu filho Luciano a usar a fantasia e fazer alguma propaganda para sua lanchonete. Meio a contragosto, Luciano acabou aceitando e lá foi ele, se vestir de Senhor Raposo para atrair a criançada e trazer mais clientes para sua humilde casa de lanches.

—Que troço mais quente! - disse Luciano, já tirando a cabeça do personagem, antes mesmo de sair de casa - Vou morrer sufocado nesse negócio!

—É só pela parte da manhã - reclamou Abílio - Nem tá tão quente assim.

—Mesmo assim - retrucou Luciano - Não vou aguentar ficar com isso aqui, não.

—Deixa de frescura e vai logo! - falou Abílio.

—Que droga! Ah...já sei!

Luciano não aguentava o calor, mas seu pai não o deixaria em paz. A solução que encontrou foi ficar na fantasia só de cueca. Assim, ele não precisaria expor sua cara e não sofreria tanto com as altas temperaturas.

—É isso! Vou ficar só de cueca na fantasia! - falou Luciano - Só assim pra suportar esse troço!

—Faça como quiser, desde que entregue os panfletos.

—Tá legal. Agora sim, deixa eu ir nessa! - respondeu Luciano, ainda desanimado, mas pelo menos um pouco mais refrescado.

—Ei, peraí.

—O que foi agora?

—Não esquece o rádio. Com música, a criançada se interessa mais, lembra?

—Tá - disse Luciano, pegando o rádio, já que seu pai não queria que o filho cantasse alguma coisa pelo bem dos negócios.

E assim lá se foi nosso herói, disposto a divulgar os serviços de sua lanchonete de família. Parando para pensar, não era um serviço tão difícil assim.

— Bom - disse Luciano para si mesmo, chegando na pracinha da cidade e ligando o rádio em alguma música animada - No fundo, só preciso dançar e entregar panfletos, não é? Não é tão complicado assim. O que pode dar errado?

E assim, Luciano colocou em uma estação que tocava alguma música popular atual e começou a dançar. Algumas pessoas se aproximavam e o rapaz, devidamente trajado em sua fantasia de raposa, entregava os folhetos com uma animação que deixava até ele mesmo surpreendido.

—Nossa, é o Senhor Raposo - disse um pai, andando na pracinha com sua filha pequena.

—Senhor Raposo? - perguntou a garotinha de mãos dadas com o pai.

—É. Ele aparecia muito pela cidade quando o papai era mais novo - disse o pai.

—E então, amiguinha? - perguntou Luciano - Quer visitar a lanchonete do seu Abílio, nosso amigo?

—Ah, a gente não comeu lá outro dia? - lembrou a filha.

—Foi sim.

—O lanche dele é horrível! - reclamou a menina.

—Não liga - disse o pai - Obrigado e, puxa, muito legal vocês terem voltado com o Senhor Raposo.

—Ah, tá - Luciano apenas sorriu amarelo dentro de sua fantasia, ao mesmo tempo em que pensava que as crianças de hoje mudaram bastante.

Logo, outro garoto se aproximava. Na verdade, era o Beni, nosso conhecido herói em treinamento.

—Bom dia, amiguinho. Que tal lanchar na lanchonete do seu Abílio?

Beni estava andando distraído e quase caiu para trás ao ver aquela criatura peluda e fedorenta na sua frente.

—O...o que é isso?! - falou o garotinho, com os olhos arregalados - Não é possível! A ameaça do nosso mundo já chegou?

—Que ameaça? Só estou divulgando nossa lanchonete! - falou Luciano, entregando o folheto para ele.

—É uma armadilha, não é? Você é um monstro...ou, quem sabe, um alienígena!

—O quê? - falou Luciano - Que monstro, garoto?

—Não tente me enganar! Não é possível que tenha um bicho tão esquisito quanto você andando por aí!

—Eu pareço um monstro para você? - falou Luciano, tirando a cabeça do senhor Raposo e se mostrando simplesmente como uma pessoa fantasiada.

—Aah...você pode assumir forma humana? - gritou Beni.

—Que tal a possibilidade de eu simplesmente ser uma pessoa usando uma fantasia? - disse Luciano, já perdendo a paciência.

—Ah, é isso? - disse Beni, se acalmando - Mais sem graça do que eu pensei.

—Apenas pegue o panfleto e segue com a sua vida, vai! - disse Luciano, já despachando o garoto.

—Tá bom…

Luciano já estava colocando sua cabeça no lugar de novo, quando foi interrompido por uma voz conhecida.

—Luciano? - disse Anne, se aproximando dele juntamente com Briana. As duas tinham saído para comprar algumas coisas para o restaurante.

“Ah, era só o que me faltava”, pensou ele.

—É o Luciano mesmo - disse Briana - Que fantasia mais fofa.

—Fofa? Para mim é bem ridícula - comentou Anne.

—Vai ficar aqui me atazanando mesmo? - reclamou Luciano - Só estou fazendo um trabalho de divulgação para o meu pai.

Luciano entregou um panfleto.

—A gente já conhece a lanchonete do seu pai - falou Anne.

—Custa pegar o folheto? - perguntou Luciano - Ajuda aí, vai!

—Mas, afinal, de onde veio essa ideia de se vestir de raposa vermelha? - perguntou Anne, pegando um folheto apenas por dó.

—Ideia do meu pai - respondeu ele - O Senhor Raposo é um personagem que minha família usava quando animava festas infantis.

—Sério? Sua família animava festas? - disse Briana, com um olhar interessado.

—S-Sim - gaguejou Luciano, surpreendido por alguém se interessar pelas histórias da sua família - Nós fazíamos os lanches e também animávamos as festas. Naquele tempo tudo era mais simples.

—E seus lanches eram como hoje? - perguntou Anne.

—Err...não - reconheceu Luciano.

—Então o problema é mais recente do que eu imaginava - disse Anne.

—O que disse?

—Nada, nada, não - desconversou Anne. 

—Posso tirar uma foto? - perguntou Briana.

—C-claro - disse Luciano, colocando a cabeça da raposa de volta e fazendo uma pose ao lado da menina. Anne tirou uma foto com o celular para Briana, deixando a garota bem contente.

—Amei sua fantasia! - disse Briana, fofamente como sempre. Luciano até ficou sem graça.

—Você é a primeira pessoa que me diz isso hoje, sabe? - falou Luciano.

—E provavelmente vai ser a única - disse Anne.

—Você não tem nada pra fazer, não, Anne? - perguntou Luciano, já mudando sua voz para um tom mais irritado.

—Pior que tenho sim - disse a mocinha - Vamos, Briana. Temos que fazer as compras.

—Tchau, Luciano. Bom trabalho!

—Obrigado - disse o rapaz, voltando à sua atividade de entrega de folhetos e divulgação.

—Você não gostou da fantasia do senhor Raposo? - perguntou Briana.

—Achei bem estranha - reconheceu Anne - Mas...achei legal que a família dele animava festas de crianças. 

—Mesmo? - perguntou Briana.

—Só não fala para o Luciano que eu disse isso, heim? - falou Anne.

—Tá bom - concordou Briana, rindo.

Bem ou mal, o trabalho de Luciano até que não estava sendo tão problemático. As pessoas pegavam os folhetos e agradeciam, os mais velhos lembravam do senhor Raposo e uma ou outra criança até achava o personagem engraçada. Só que, se tratando de uma cidade minúscula como Vila Baunilha, o movimento não durou muito. E, considerando o calor que estava fazendo e o café da manhã não muito nutritivo de Luciano, certos fenômenos naturais do organismo humano começaram a agir.

“Ai, caraca”, pensou ele, usando a dança para disfarçar, mas sentindo algo na barriga que não o fazia ficar quieto. “Acho que não vou aguentar muito tempo...ai, ai.”

Sim, o chamado da natureza era inevitável. Será que isso...se tornará em um problema?


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Notas finais do capítulo

O que você acha? Aguarde o próximo capítulo.

Até! :)



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