Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 61
Marketing é tudo


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta! Mais um domingo, mais um capítulo.

Boa leitura! :)



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Pessoas têm o péssimo hábito de deixar certas tarefas não urgentes para mais tarde. Só que esse “mais tarde” pode ser bem mais tarde, dias, semanas, meses ou, como no caso que vamos considerar aqui, anos. Abílio, o dono da lanchonete localizada à frente da casa de nossa querida família Montecarlo, trouxe uma caixa velha para a sala, cheia de poeira, teias de aranha e buracos feitos por traças. Luciano estava na cozinha tomando um copo de água e ficou curioso ao ver aquilo.

—E aí, pai? O que é isso?

—Ah, eu estava mexendo umas coisas velhas no quartinho dos fundos para pegar um documento e achei essa caixa. Faz tanto tempo que não abro isso que nem lembro mais o que tem dentro.

—Abre aí - sugeriu Luciano.

—Deve ter alguma coisa que trouxe da minha casa depois que me casei, enfiei no quarto e nunca mais usei - disse Abílio - O que será que tem?

Abílio abriu a caixa e uma enorme nuvem de poeira se levantou.

—Aff...ainda bem que eu não tenho rinite.

—O que temos aqui, heim? Ah, uns enfeites de Natal antigos…

—Ah, legal. Finalmente vamos poder montar uma árvore de Natal decente - falou Luciano.

—Olha, uns livros de receita - disse Abílio, mostrando o livro para Luciano - Pode ser útil. Talvez tenha algumas ideias novas de lanche para nossa lanchonete.

—Bom ver que está animado para trabalhar firme na nossa lanchonete - falou Luciano - Desistiu de mandar os Montecarlo embora, é?

—Ah, isso é passado - confessou Abílio - Tenho outros planos agora.

—Sério? Então vai mesmo se esforçar no trampo.

—É...isso também - disse Abílio.

—Boa, velho. É assim que se fala.

“Enquanto arranjo seu casamento com a filha dos Montecarlo, é lógico”, pensou Abílio, tentando disfarçar seu sorriso maquiavélico, enquanto olhava o que havia mais naquela caixa. Eis que ele descobre algo bem fora do comum.

—Não acredito - disse Abílio - Não acredito! Não acredito mesmo!

—O que foi? - indagou Luciano. Abílio tirou uma coisa peluda, fedorenta e embolorada de dentro da caixa. Parecia uma fantasia.

—É a roupa do senhor Raposo - disse Abílio, em tom de nostalgia - Já tinha me esquecido disso..

A roupa, de fato, lembrava uma raposa vermelha. Era aquelas roupas de bichinhos que costumam usar para entreter as crianças.

—Quem foi o senhor Raposo? - perguntou Luciano.

—Ah, foi um personagem muito popular com as crianças aqui da região - disse Abílio - Meu pai usava essa roupa para animar as festas das crianças. Ele era a autoridade das festinhas de aniversário daqui. Não só fazia os salgadinhos e o bolo, como ainda animava com o senhor Raposo. Saudades.

Bem, a lanchonete de Abílio foi uma herança de família. Não, os lanches não eram dos melhores desde aquela época, mas como não havia concorrência no passado, era o que tinha. E o pessoal não reclamava, já que a família era bem carismática. Abílio herdou o negócio e sobrevivia aos trancos e barrancos, enquanto algum estabelecimento alimentício superior não aparecesse para tornar as coisas mais difíceis. O resto da história vocês já conhecem.

—E você já usou essa roupa?

—Não, não, meu pai que gostava dessas coisas. Eu nunca me dei bem com crianças.

—É, eu sei bem - disse Luciano, sempre lembrando dos cascudos que vivia levando do pai.

—Mas era um ótimo personagem, sempre atraía a atenção e…

—O que foi?

—Acho que tive uma ideia - disse Abílio, olhando para Luciano - Luciano, meu filho, por que não revivemos o senhor Raposo?

—Mas o senhor não disse que era péssimo com crianças?

—Sim, eu disse. Mas quem disse que estamos falando de mim?

—O-O quê? - Luciano já entendeu onde o pai queria chegar - Espera! Você tá querendo que eu vista esse negócio?

—Exato! Vamos usar o senhor Raposo para atrair mais clientes para a nossa lanchonete. Eu até mandei imprimir esses panfletos para isso mesmo.

—Mas todo mundo da cidade já conhece nossa lanchonete! - reclamou Luciano - O que adianta pensar nisso agora?

—Errado. Todos conhecem nossa lanchonete sem o senhor Raposo. Mas quando os pais virem o personagem e lembrarem dele, o sentimento de nostalgia falará mais alto e aposto que nos trarão aqui para lembrar os velhos tempos!

Bem, dourar o passado é uma tendência psicológica comum mesmo (o passado nunca é tão bom quanto parece, mas sempre pensamos “ah, naquele tempo era melhor”).

—E por que o senhor acha que eu daria um bom senhor Raposo? - perguntou Luciano.

—Você se dá melhor com crianças do que eu - disse ele - Só chame a atenção dos pirralhos. De preferência, aqueles que estão com os pais andando pela praça.

—Mas eu em disse que aceitei - falou Luciano.

—Você acha que tem escolha? - disse Abílio - Afinal, você ainda mora comigo, lembra? E também é meu funcionário, lembra?

—Seu único funcionário… - balbuciou Luciano.

—Então não reclame e dê graças aos céus por ter o privilégio de poder trabalhar em um país com tanto desemprego - falou Abílio - Veste logo a roupa e vá entregar esses folhetos.

—Tá bom, vai - falou Luciano. 

O rapaz vestiu a roupa e logo percebeu que não seria uma tarefa fácil.

—Caraca! Isso é quente, heim? - disse Luciano, já tirando a cabeça da raposa - Espera. Quantos graus está fazendo hoje?

—Ah, acho que uns 26 - falou Abílio.

26 graus Celsius não era muito, mas dentro de uma roupa de raposa peluda, a história era outra.

—O senhor não acha melhor esperar o inverno, não? - perguntou Luciano.

—Deixa de ser idiota. Está um dia lindo lá fora. Aposto que as famílias estão aproveitando o sábado para passear. É a melhor hora!

—Será que isso vai dar certo? - perguntou Luciano.

—Marketing é importante em qualquer negócio, filho - disse Abílio.

—Não dava para a gente simplesmente fazer um perfil nas redes sociais como todas as outras empresas fazem? - perguntou Luciano - Marketing digital está na moda hoje.

—Já temos isso e não fez muito sucesso.

—Achei que aquela montagem dos nossos lanches com um fundo roxo e texto em Comic Sans amarelo fossem uma boa ideia - lamentou Luciano.

—De qualquer forma, um pouco de marketing das antigas não vai fazer mal, não acha? - disse Abílio - Só vai lá e entrega os folhetos.

—Se não tem jeito... - falou Luciano, colocando sua cabeça de raposa e incorporando seu novo personagem, o senhor Raposo.

—Ah, sim, mais uma coisa - lembrou Abílio - Leva o rádio e entrega os folhetos dançando uma musiquinha. Vai ser mais atraente para a criançada.

—Se for para ter música, posso cantar e divulgar o meu trabalho, não acha?

—Queremos atrair clientes e não afastar, Luciano - disse Abílio - Apenas dance com uma música conhecida e pronto. Não vá me fazer besteira, heim?

—Tá bom - Luciano apenas suspirou e acatou. Não tinha muita escolha.

No que será que essa ideia vai dar?


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Notas finais do capítulo

Em confusão, é claro.

Até o próximo capítulo! :)



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