Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 31
O show deve continuar! E continuou...


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, queridos e queridas. Boa leitura! :)



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O horário já estava avançado e as cadeiras do show preparado por Ema já estavam praticamente lotadas. Só faltava Luciano finalmente iniciar sua apresentação.

—Tá legal! Chegou a hora! - disse ele - Vou mostrar o meu talento para esse povo!

—Bom ver que está animado - disse Ema, fazendo um sinal de joinha - Você só precisa ir até lá, se sentar no banquinho e começar sua apresentação.

Luciano deu uma rápida olhada para a plateia por uma abertura atrás do palco e viu que tinha mais gente do que esperava. Um certo nervosismo foi inevitável.

—Espera...tem tanta gente assim? - disse Luciano, espantado.

—É. Muita gente quer um ano de sorvete grátis - explicou Ema.

—S-será que eu vou conseguir? Agora fiquei preocupado - comentou Luciano.

—Deixa de ser inseguro. É só ir lá e cantar - falou Ema - Ah, sim. Lembre-se de seguir direitinho o repertório que combinamos.

—O que me preocupa é essa “Hey Jude” - lembrou Luciano - Eu não sei cantar isso.

—Só vai lá e canta! - reclamou Ema - Aliás, já demorou para você ir para o palco.

—Ei, espera!

Mas Ema praticamente jogou Luciano no palco. Ele praticamente chegou caindo em cima do banquinho logo no centro do palco e, olhando para frente, deu de cara com todo aquele público.

—E aí, galera? - disse ele, um pouco nervoso,, falando ao microfone instalado perto do banquinho onde iria cantar - Prontos para curtir um som?

O público, infelizmente, não estava na mesma animação.

“Nenhum aplauso?”, pensou Luciano. “Ah, claro. Muitos deles nem conhecem a minha música. Vamos ver quando eles terminarem de ouvir.”

—Quando vai sair o resultado do sorteio, heim? - perguntou um rapaz para o colega ao lado.

—Acho que só no final do show - foi a resposta.

—A gente vai mesmo ter que aturar esse cara cantando até lá? - reclamou o garoto.

—Tá legal! - falou Luciano - Vamos começar com uma tranquila. Roberto Carlos. Você meu amiigo de fééé, meu irmãão camaraadaaa…

E Luciano começou a cantar. O esperado seria encontrarmos vários rostos de desaprovação e desgosto, talvez alguns óculos quebrados e pessoas enjoadas praticamente colocando para fora o que ingeriram no almoço. Curiosamente, o que estávamos vendo era um público assistindo um show que tinha uma qualidade sonora considerável. Sim, eles estava, de certa forma, achando bom o show de Luciano.

“E-ele canta bem mesmo”, pensou Samara, a garota tímida do segundo ano que veio assistir o show, apesar de ninguém reparar da presença dela na fileira ali do fundo. “E é tão lindo...digo, o som é lindo...não que ele seja lindo, quer dizer, ele também não é feio e...eu nem gosto tanto assim de Roberto Carlos..oh, por que estou pensando tanto e não me concentrando na música?”

—Esse é o Luciano? - perguntou Luís.

—Pô, maneiro aí! - disse Carioca, que havia chegado atrasado por estar ocupado demais comprando um lanche, mas conseguiu encontrar um lugar ao lado de Luís - O Luciano estava escondendo o ouro esse tempo todo!

—Não é possível! Como ele aprendeu a cantar bem em tão pouco tempo? - reclamou Luís.

—Nossa. Ele tá indo bem mesmo - reparou Briana.

—Pois é...bem demais - suspeitou Anne.

“Perfeito”, pensava Ema, acompanhando tudo nos bastidores. “Luciano só precisa cantar normalmente.Ninguém percebeu que ele entrou em uma redoma transparente feita de um vidro de forte isolamento acústico. Enquanto isso, o cantor profissional que contratei está aqui atrás cantando todas as músicas dele. Vai ser um sucesso. Quando ele chegar na música preferida da Anne, já posso até imaginar como ela vai ficar emocionada!”

E esse era o plano. Ema havia investido em uma poderosa tecnologia de isolamento acústico e contratado um cantor profissional, embora desconhecido. Não é algo que pode se preparar em pouco tempo, mas quando se é tão rico quanto ela, esses detalhes não importam muito. O resultado é que as pessoas realmente acreditavam que Luciano estava cantando bem e estavam cada vez mais encantadas com aquilo. O próprio Luciano acreditava que estava abalando e sua autoconfiança subia cada vez mais. Ema também havia colocado uma saída de som dentro da redoma, de modo que Luciano pudesse ouvir os aplausos. Além disso, quando Luciano falava e não cantava, ela ligava o microfone para que o público pudesse ouvi-lo. Para todos os efeitos, tanto Luciano quanto o público estavam acreditando em um show de qualidade. Após algumas músicas, ele recebeu aplausos e ficou tão empolgado que decidiu sair do script.

—Valeu, galera! Amo vocês! - gritou Luciano - Já que estão gostando tanto, vou aproveitar para cantar uma música que eu mesmo preparei. Vocês vão curtir!

—Quê? - gritou Ema - O que ele tá fazendo?

—Dona Ema, não consigo inventar uma música de uma hora para outra, assim não - disse o cantor que estava fingindo ser Luciano - Sou cantor, não compositor.

—Droga! - reclamou Ema - Intervalo! Vamos fazer um intervalo!

Ema mandou um dos garotos na produção do evento ir até Luciano e avisar que fariam um breve intervalo. Luciano até gostou da ideia para deixar o público com um gosto de “quero mais”. Ele anunciou o intervalo e foi até os bastidores. Enquanto Luciano tomava uma garrafa de água, Ema veio até ele furiosa.

—O que você tem na cabeça? - reclamou ela - Que história é essa de música que você mesmo preparou?

—É, eu estava testando umas composições - disse ele - Eu não iria cantar, mas como o pessoal está curtindo, acho que seria legal incluir no show. O que você acha?

—Acho uma péssima ideia - disse Ema - Você tem que seguir o programa. O pro-gra-ma. Deixa de inventar moda!

—Qual é? É só uma música a mais! Qual é o problema?

—É que...sou uma pessoa metódica. Se algo sai do previsto, fico nervosa, é isso.

—Não tem com o que se preocupar, Ema - disse ele - Você não viu? Tá todo mundo adorando.

—Tá, tá bom - disse Ema - Você tem pelo menos as cifras dessa sua música aí.

—Não preciso de cifra nenhuma - falou Luciano com toda a confiança do mundo, apontando para sua própria cabeça - Tá tudo aqui, ó, na minha cabecinha.

—Como é que é?! - exclamou Ema - Não, então não vai rolar. 

—Por que não?

—É que...sabe, precisamos registrar tudo. São umas burocracias que têm em todo show. Sem cifra, tudo bonitinho, vamos ter problemas com a justiça, sabe?

—Nunca ouvi falar disso - disse Luciano, coçando a cabeça.

—Você manja de legislação? Não? Então fica quietinho e deixa comigo, tá? Só se concentra para cantar “Hey, Jude” daqui a pouco.

—Ah, essa. Sabe, acho que até consigo cantar. Estou indo melhor do que eu esperava! - falou Luciano.

—Ótimo. Vai lá! - disse Ema. Daria tudo certo. Luciano voltaria ao palco, cantaria “Hey, Jude” lindamente, Anne acharia o máximo e não demoraria muito para eles ficarem juntos. É, tinha tudo para dar certo, se não fosse o cantor contratado vir falar com Ema uma fraça de segundo antes de Luciano voltar para o palco.

—Dona Ema - falou o cantor - Posso até pensar em uma música nova, mas aí vou cobrar mais caro.

—Hã? Cobrar? - estranhou Luciano, ao ouvir aquilo.

—Espera, Luciano. Não é nada, não. Estamos falando de uma outra coisa.

—Ué? - estranhou o cantor contratado - Achei que você queria cobrir a música que inventada também?

—Cobrir? Ema, o que está acontecendo?

—Tá, tá bom! Eu confesso! - disse Ema - Contratei esse cantor da cidade vizinha para fazer o playback da sua voz. Você está cantando em uma câmara transparente isolada de som, Luciano. Ninguém te ouve, só ouvem a voz do cantor.

—QUÊ?! - Luciano ficou indignado - Então...é tudo uma farsa?

—Mas não vai estragar tudo agora! - disse Ema - O show tá indo bem. Continua seguindo o script que vai dar tudo certo!

—Sabia que não podia confiar em você - reclamou Luciano - Eles não estão ouvindo o meu show, estão ouvindo o show desse cara!

—Mas não sou qualquer um - o cantor contratado se defendeu - Consigo cantar muito bem!

—Não importa! - esbravejou Luciano - Vou até o palco agora desmentir isso!

—Não, Luciano. Não faz isso, pelo amor de Deus!

Mas o apelo de Ema foi inútil. Luciano voltou ao palco furioso, mas entrou por um outro lado, onde podia ficar do lado de fora da câmara. Ele pegou um microfone avulso e comunicou a todos.

—Pessoal. Atenção! - disse ele, em tom sério - Vocês estavam sendo enganados.

Houve muito murmurinho após isso. Mas Luciano continuou.

—Vocês não estavam ouvindo o meu show de verdade. Era tudo uma farsa. Colocaram um vidro para isolar som no palco e usavam um outro cantor de playback.

Todos ficaram pasmos.

—Nossa. Por que fizeram isso? - perguntou Briana.

—Não sei. Mas pelo bem dos nossos ouvidos, que Deus abençoe quem teve essa ideia - respondeu Anne.

—Eu sabia! - disse Luís - Sabia que tinha alguma explicação lógica e científica para isso!

—Pô, mas será que vão cancelar o sorteio? E a nossa chance de ganhar um ano de sorvete grátis? - reclamou Carioca.

—Não se preocupem - disse Luciano, sem soltar seu violão - Farei o show para vocês daqui mesmo! Vamos começar de novo, tudo bem? Roberto Carlos, amigo de fé, irmão camarada.

Mas essa não foi uma boa ideia. Ao começar a cantar, todos descobriram a cruel realidade: a terrível musicalidade de Luciano. Não demorou para uma boa parte dos presentes começar a sair.

—Ah, não, cara - disse um dos que foram embora - A chance de ganhar um ano de sorvete não vale aguentar essa tortura.

—Concordo - disse um colega - Vamos sair daqui antes que eu vomite com tanta desafinação.

Ema ficou desolada. Mas, pelo menos, alguns remanescentes fiéis permaneceram e Anne estava entre eles.

—Quer mesmo ficar, Briana? - disse Anne.

—Ah, pensa que podemos ganhar um sorvete - disse Briana - E coitado do Luciano. Vamos dar essa força para ele.

—Bom, se vocês ficarem, eu também fico - disse Kelly.

—E no fim ficamos até o fim - disse Carioca.

—Bem, somos amigos dele, né? - comentou Luís - Mas ele também pode ficar nos devendo essa.

—Amiga, quer mesmo continuar aqui? - disse Cíntia para Samanta.

—Claro - respondeu ela - Não vou deixar a Briana pensar que sou mais fraca que ela. Além disso, meu irmão também não quer sair.

“Enquanto a doce Anne estiver aqui, qualquer som horrível se torna uma bela melodia”, pensava Ian, olhando para trás e só admirando Anne.

“Então é assim que ele canta de verdade?”, pensou Samara, com as mãos trêmulas. “É horrível, mas...pelo menos ele parece feliz lá em cima. E além disso...minha fileira ficou vazia, se eu sair, ele vai me ver e vou morrer de vergonha!”

“Não posso sair sem me despedir da senhorita Ema”, pensava soldado Caxias. “Por ela, eu aguento tudo”

E o show continuou. Pelo menos, chegou a hora de Luciano finalmente cantar “Hey, Jude”. Mas, como era uma música que ele não dominava, ficou em dúvida na hora.

—A próxima música...bem, eu ia cantar uma música especial para uma pessoa aqui presente, mas...acho que vou cantar a música da minha autoria mesmo. Vamos lá?

—Achei que ele tinha esquecido disso… - balbuciou Anne.

Luciano tocou uma música que falava algo sobre não desistir e seguir seus sonhos. Algo bem clichê. Foi sua música de encerramento. No fim, só aquelas poucas pessoas estavam presentes para ouvir.

—É isso, galera! Obrigado por ouvirem! - gritou Luciano - Amo vocês!

—Isso foi horroroso - falou Luís - Mas pelo menos acabou.

—Será que agora tem sorteio? - perguntou Carioca.

—Sim, sim - disse Ema, pegando o microfone - A hora que todos estavam esperando. O sorteio para um ticket valendo um ano de sorvetes grátis da fábrica de sorvetes Fontes!

—Isso! - comemorou Briana - Será que a gente ganha?

—Vamos lá - continuou Ema - Vou fechar os olhos e apontar para algum dos presentes. Quem será que vai ganhar?

Ema fingiu que fechou os olhos e apontou na direção de Anne. Ao abrir, ela anuncia que Anne venceu.

—Isso! E o prêmio vai...para a garota de cabelos compridos nova na cidade! 

Todos aplaudiram.

—Eu? Eu mesma? - perguntou Anne.

—Isso! - comemorou Luís - Vamos tomar muito sorvete juntos, Anne, meu amor…Já posso nos imaginar tomando milk-shake com dois canudinhos no mesmo copo e...

—Deixa ela terminar de falar, pô - interrompeu Carioca.

—Sim - disse Ema - Mas...tem um detalhe dessa promoção que esqueci de mencionar.

—Qual? - perguntou Anne.

—O prêmio só é válido se a primeira vez que você usá-lo for em um encontro com nosso astro - disse Ema, entregando o ticket do prêmio para Luciano - Resolvi aumentar o prêmio. Sou mesmo um doce, não acha?

—O que você tá fazendo?! - reclamou Luciano.

—Não gastei meu dinheiro nesse show à toa, meu querido. Meu propósito era só que isso tudo deixasse você mais perto da Anne - disse Ema - Aproveita a chance!

—Você é louca! - disse Luciano.

—Luciaanooo! - Luís se mordia de raiva - Como ousa  ter um encontro com a Anne antes de mim?

—Não se preocupe, querida Anne - gritou Ian - Saia comigo! Eu sempre pagarei sorvetes para você! Não precisa sair com esse troglodita se não quiser, saia comigo!

—Deixa eu ver se entendi...a Anne só vai ganhar sorvete grátis se o primeiro for junto com o Luciano? - perguntou Briana.

—É isso mesmo - disse Kelly - É, Anne, falei que a Ema não ia largar do seu pé tão fácil.

—Ah, eu devo ter jogado pedra na cruz para merecer isso - resmungou Anne.

É, as confusões nessa cidade só aumentam. Será que Anne e Luciano vão se aproximar ou não?


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Notas finais do capítulo

É, a Anne vai ter que sair com o Luciano se quiser sorvete grátis, mas acho que ela não faz muita questão disso...pelo menos, por enquanto. Vamos ver o que vai sair disso aí, né? Pelo menos agora todo mundo na cidade sabe como Luciano canta mal. Hehe.

Até a próxima e obrigado por ler! :)



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