—Bom dia - disse Luciano, próximo ao portão de sua escola, entregando um folheto de propaganda de seu show para uma aluna que chegava - Venha para o meu primeiro show. Entrada franca!

A aluna apenas acenou com a cabeça. Luciano estava sorrindo por fora, mas, por dentro, não parecia tão confiante assim.

—Será que alguém vai… - falou ele para si mesmo, mas Luís o ouviu.

—Falando sozinho, Luciano? - perguntou ele.

—Ah, Luís! Que bom que você apareceu, cara! - disse Luciano, mais animado - Você vai, não vai?

—Vou aonde? - perguntou Luís.

—Para o meu show - disse ele - Aqui. Será na fazenda Fontes.

—Show? - estranhou Luís, pegando o folheto - Você já vai fazer um show?

—Pois é. Quando se tem talento as oportunidades aparecem logo.

—Como você conseguiu um show? Alguém está querendo se matar lá na fazenda? - provocou Luís.

—Vou fingir que não ouvi. Pois fique sabendo que a Ema vai patrocinar o meu show.

—Ah, por isso a entrada é franca. Ainda bem. Ninguém iria pagar por isso.

—E ainda se considera meu amigo… - reclamou Luciano.

—Amigos são sinceros uns com os outros - disse Luís - E, espera...você disse que a Ema vai patrocinar tudo? A troco do quê ela faria isso?

—Sobre isso…

Para entender isso melhor, vamos voltar dois dias antes, quando Ema propôs oferecer um espaço em sua fazenda para Luciano fazer seu primeiro show.

*Flashback*

—Isso mesmo - disse Ema - Você pode fazer seu show na minha fazenda, tudo por minha conta. Só vou pedir uma coisinha.

—O que é? - perguntou Luciano.

—Quero que você faça uma coisa para mim durante o show - disse ela.

—Tá. Que coisa?

—Calma. Você vai saber na hora certa - disse ela - Mas, antes, quero sua resposta. Topa ou não topa?

—Como vou topar se não sei o que você vai me pedir? - perguntou Luciano.

—Você não confia mesmo em mim, né?

—Não mesmo.

—Não se preocupe. Não é nada que você não possa fazer sem dificuldade - disse Ema - É algo simples. Vai pegar ou largar? Isso pode alavancar sua carreira de cantor.

—Tá legal - disse Luciano - Vou te dar um voto de confiança. Mas se você me sacanear, não conte mais comigo.

—Relaxa. Vai ser bom para todo mundo - disse ela.

*Fim do flashback *

—No fim, acabei concordando. Apesar de não entender muito bem o que ela quis dizer com “vai ser bom para todo mundo” - concluiu Luciano.

—Tá legal. Eu vou, vai - disse Luís.

—Vai? Sabia que podia contar contigo, velho!

—Aqui está dizendo que vai ter o sorteio de um cupom especial para um ano inteiro de sorvete grátis nas sorveterias parceiras da fábrica Fontes - disse Luís - Acho que vale a pena ouvir sua música para ter essa chance.

—Ah, entendi… - disse Luciano - Então era isso?

—Já imaginou ter direito a um ano de sorvete grátis? - falou Luís - Será bem mais fácil levar a Anne para tomar sorvete no fim de semana. Como bons casais apaixonados, é claro que tomaremos sorvete juntos nos fins de semana!

—O detalhe é que vocês não são casais apaixonados - lembrou Luciano.

—Isso é só uma questão de tempo, Luciano - falou Luís - Não vou desistir tão fácil.

—E aí? - disse uma voz conhecida, se aproximando dos dois.

—Carioca - falou Luciano - Toma. Você vai no meu show, não vai?

—Tu já tá fazendo show? Aí sim, heim? - falou ele, pegando o folheto - Ah, e vai ter sorteio para um ano de sorvete grátis? Maneiro, aí.

—Você também, Carioca? Achei que pelo menos os meus amigos pudessem apreciar a minha música! - reclamou Luciano.

—Pô, cara. É que tu ainda precisa melhorar bastante, né?

—É - concordou Luís - Você precisa reconhecer que não é nenhum Beethoven, né, Luciano?

—Não conheço. Só lembro do filme - disse Luciano.

—Podicrê, aí - disse Carioca, sorrindo - Aquele cachorrão. Mó engraçado!

“Por que ainda ando com eles?”, pensou Luís.

—Espero que vocês venham, pelo menos por causa do sorvete - disse Luciano - Agora deixa eu entregar mais panfletos por aí!

Nisso, Samara, a garota que dificilmente era notada, chegou na escola. Ela, claro, viu Luciano ali conversando com os amigos.

“Ah, o Luciano. Vou ter que passar por ele para chegar no pátio. Não que eu esteja nervosa, não é nada disso. Sei que ele não vai reparar em mim, nem nada, mas...talvez ele repare”, pensava ela. “Que seja. Vou entrar!”

Samara tentou passar rápido, mas Luciano a viu.

—Ah, você! - disse ele.

—E-Eu? - gaguejou Samara.

—Quer ir no meu show? Será esse sábado na fazenda Fontes - disse Luciano, entregando o folheto.

“Um show? Ele..é um artista?”, pensou ela. 

—Você vai?

Samara apenas pegou o folheto, acenou rapidamente com a cabeça e saiu de cena.

—Isso foi sim ou não? - perguntou Luciano.

—Você deve ter assustado a menina - comentou Luís.

“Ai, ai, ai, ai, ai”, pensava Samara, segurando o folheto que recebeu com as mãos trêmulas e com o rostinho pálido ruborizado. “Ele me chamou para o show dele! Deu o folheto nas minhas mãos! Será que? Não, Samara, calma. Isso não quer dizer nada. Mas é um convite. Vou ou não vou? Vou, claro que vou! Quer dizer, não que eu esteja querendo tanto ir, mas sempre ouvi falar que é saudável sair e relaxar de vez em quando. É! Vou, vou sim!”

Enquanto isso, Ema chegou cantarolando na escola, encontrando Anne e Briana na entrada.

—Ah, Anne. Chegamos juntas - disse Ema, sorrindo.

—Oi, Ema - cumprimentou Anne - Ah, essa é a minha irmãzinha, Briana.

—Oi - cumprimentou Briana fofamente.

—Vocês são irmãs mesmo - comentou Ema - São bem parecidas.

—Todo mundo fala isso - disse Briana.

—Ah, estava aqui organizando minha playlist - disse Ema, como quem não quer nada - Qual é a sua música preferida, Anne?

Depois disso, o dia seguiu normalmente até a hora do intervalo. Nessa hora, Ema puxou Luciano discretamente.

—E aí? Conseguiu entregar muitos panfletos? - disse ela.

—Entreguei para todo mundo - explicou Luciano - Parece que se animaram com a chance de ganhar sorvete grátis.

—É. Foi o que animou a Anne também - falou Ema.

—O quê? Chamou a chata da Anne?

—É óbvio! - disse Ema - Ela não poderia faltar. Aliás, hoje viemos conversando na hora da entrada da aula e ela me disse a música preferida dela.

—E daí?

—E daí? E daí que você VAI cantar essa música no show em homenagem a ela!

—Como é que é?

—O que você ouviu. Essa é a minha condição!

“Eu devia ter suspeitado”, pensou Luciano. Parece que esse show não será algo tão trivial e, além disso...a música preferida de Anne cantada na voz do Luciano seria mesmo uma homenagem? Bem, vamos ver o que sairá disso...