Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 21
A triste vida de uma garota triste


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Dessa vez está mais dinâmico. Hehe.

Boa leitura.



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—Acabei - disse Luciano, jogando o guardanapo de seu sanduíche no lixo - Realmente, os sanduíches da nossa lanchonete precisam melhorar.

—Isso é esquisito - comentou Carioca - Tu nunca reclamou de comida, cara.

—Pois é...parece que alguma coisa mudou no meu paladar - rebateu Luciano - Não sei exatamente o que comi de diferente.

Mas, na verdade, ele sabia muito bem.

—Será? - Luciano pensou em voz alta.

—O quê? - perguntou Carioca, enquanto os dois entravam na sala.

—Será que foi...a comida no restaurante do pai da Anne? - disse ele, lembrando do ótimo gosto daquela comida, na primeira vez em que comeu lá, ainda que seu objetivo principal tenha sido sabotar o lugar.

—Ainda não comi lá. É boa? - perguntou Carioca.

—Se é boa? É…

Mas Anne também estava entrando na sala com Kelly. Claro que Luciano não daria o braço a torcer tão fácil assim..

—Bem, não era ruim...mas acho que aquele lugar ainda tem muito o que melhorar - disse ele, embora Anne sequer tenha prestado atenção no que ele estava falando.

—Se tu tá dizendo… - foi tudo que Carioca disse antes de voltar para o seu lugar.

“A real é que eu queria comer de novo lá”, disse Luciano. “Mas meu pai me mataria se soubesse disso e a Anne também me encheria a paciência. Droga. Depois que comi lá, meu paladar nunca mais foi o mesmo”

Apesar da vida difícil de Luciano, ele pelo menos tinha sua admiradora. Samara, a garota para quem ele apenas sorriu após ela emitir uma opinião sincera sobre sanduíches, ficou observando o rapaz também na hora da saída. Ao vê-lo sair da sala, a menina de cabelos pretos cobrindo o rosto o seguiu à distância.

“Bem, também vou para esse lado”, pensou ela. “Não que eu esteja interessada em segui-lo, mas...já que vamos pelo mesmo caminho.”

Ela estava interessada sim. Nisso, ele se abaixou para amarrar o tênis e olhou para trás. Samara se escondeu rapidamente atrás de uma coluna próxima.

“N-Não que eu esteja com vergonha dele me ver”, pensou ela. “Só...só gosto de ser discreta. É. Não gosto que fiquem me olhando”

Mas o rubor no rostinho dela não combinava muito com seus pensamentos.

Enquanto Luciano terminava de amarrar seu tênis, ele acidentalmente esbarrou com Anne, que estava indo para a sala de Briana buscá-la.

—Ai, cuidado! - reclamou ela.

—Cuidado? É você que não olha por onde anda!  - retrucou Luciano.

—É você que fica parado no meio do caminho feito um idiota  - respondeu Anne.

—Por que você é sempre assim?

—Assim como?

—Chata, insuportável, irritante!

—Só trato os outros como me tratam! 

—E desde quando eu te trato mal?

—Ah, claro, você me trata muito bem, né? - respondeu Anne ironicamente - Olha, não tenho tempo pra ficar aqui ouvindo você. Preciso ir buscar minha irmã.

—Já vai tarde! - resmungou Luciano.

“Nossa, ele não gosta mesmo daquela menina”, pensou Samara, enquanto observava tudo à distância, ainda escondida atrás da coluna.

—Eles realmente se gostam - comentou Ema que, por sua vez, também estava escondida atrás da mesma coluna de Samara. Ela só não percebeu que Samara estava ali e falou aquilo em voz alta.

“Essa é...é a Ema Fontes, filha do empresário mais rico da cidade, não é?”, lembrou Samara. “O que ela quis dizer com isso?”

—Ai, desculpa - disse Ema, finalmente reparando em Samara ali - Não te vi aí.

Samara apenas desviou o olhar envergonhada.

—Você é a Samara do segundo ano, né? - continuou Ema.

“Ela...ela sabe o meu nome!”, pensou Samara, quase derramando algumas lágrimas de alegria. “Alguém além dos meus pais guardou o meu nome”.

—Desculpa, não quis te incomodar - falou Ema - Só estava admirando meu novo casal preferido.

—C-Casal? - gaguejou Samara - Aqueles...dois…

—Ah, eles ainda não são um casal, mas é só questão de tempo - disse a garota - Sou boa em juntar pessoas que estão na cara que se gostam.

“Na cara?!”, pensou Samara. “Então eles já se gostam mesmo?”

—Não vou desistir até ver aqueles dois juntos! - reafirmou Ema - Luciano e Anne foram feitos um para o outro!

“Luciano? Então esse é o nome dele. E o nome da garota é Anne”, pensou Samara. “Não posso esquecer disso”

—Bem, é isso - disse Ema - Vou indo nessa. Desculpa de novo.

E Ema saiu de cena tão rápido quanto entrou.

“Por um lado estou feliz por alguém ter lembrado de mim, mas por outro...estou meio chateada. Quer dizer, não é que eu estivesse gostando dele ou algo assim, mas...não esperava que ele já tivesse alguém. É. É isso. Quebra de expectativa é uma droga!”, pensava Samara, enquanto caminhava tentando digerir a situação. 

Enquanto caminhava, Samara viu Anne junto com Briana indo para casa. A tímida garota  acabou seguindo as irmãs por algum tempo, tomando cuidado para que não fosse vista, embora, claro, tentasse dizer para si mesma que não estava fazendo nada de errado.

“N-não estou seguindo ela, é claro que não”, pensava a mocinha. “Só quero fazer uma caminhada. Sim. Meu pai vive dizendo para eu tomar sol, ajuda a desenvolver vitamina D ou coisa assim. É, preciso tomar mais sol. É isso!”

Mas o fato é que Samara seguiu Anne e Briana até o restaurante da família, ainda que ele fique do lado contrário à casa dela.

“Esse é o restaurante novo que ouvi falar”, pensou Samara. “Agora lembrei. Aquela é a menina nova na cidade com uma família que abriu um restaurante.”

Quando se deu conta, Samara já estava próxima à entrada do restaurante. Ela se aproximava lentamente, bem perto da porta, quando, de repente, recebeu uma pancada na cara. Uma pancada de uma vassoura para ser mais exato.

—Que barulho foi esse? - perguntou Carla, a mãe de Anne. Ao olhar para o lado, viu a pobre Samara caída no chão - Minha nossa! É uma menina! Você tá bem? Desculpa, não te vi aí”

“Por que não estou surpresa?”, pensou Samara.

—N-Não foi...não foi nada - balbuciou a garota.

—O que disse?

—Não foi nada! - Samara disse mais alto, só que rápido e desviando o olhar.

—Desculpa mesmo. Você veio almoçar?

“Almoçar? É verdade...já tá na hora do almoço”, pensou Samara. Nisso, seu estômago roncou. O sanduíche na hora do intervalo não deu muita sustância.

—É, você parece estar com fome - riu Carla.

—D-Desculpe - gaguejou Samara - Já estou indo.

—Espera! - disse Carla - Pode almoçar aqui. É por conta da casa. Para compensar a vassourada.

“Almoçar? De graça?”, pensou Samara, admirada com a generosidade de Carla. 

—Não faz cerimônia. Entra logo! - disse Carla, trazendo Samara para dentro.

—Posso mesmo? - perguntou Samara.

—É muito raro eu oferecer comida de graça, viu? Mas você parece uma boa menina e, além disso, a culpa foi minha por você ter se machucado. Por favor, coma o que quiser.

“Ela é mesmo uma boa pessoa”, pensou Samara, quase chorando de alegria. Raramente alguém era tão boa com ela.

—Você é aluna daqui da cidade? - perguntou Carla.

Samara confirmou com a cabeça.

—Talvez você conheça minha filha Anne da escola, então - disse Carla - Ela está almoçando ali. Pode sentar com ela.

Anne estava comendo antes de iniciar seu trabalho e acena para Samara.

“Ela é filha da dona do restaurante mesmo…”, pensou Samara.

Samara se sentou timidamente junto com Anne, evitando ao máximo contato visual

—Oi. Você...é de qual ano? - perguntou Anne.

—S-Segundo - gaguejou Samara.

—Segundo? Ah, então está um ano na minha frente - disse Anne, sorrindo - Entrei no primeiro. Ainda estou me acostumando, sabe? Aqui é muito diferente de onde eu morava.

—O-onde você morava? - perguntou Samara, gaguejando como sempre.

—São Paulo. Na capital.

“Ela é da cidade grande?”, pensou Samara. “Ela deve me achar uma caipira!”

—Pode ficar à vontade, viu? Aproveita que minha mãe gostou de você, porque mão de vaca do jeito que ela é você não vai ter outra oportunidade de filar boia de graça aqui de novo, heim?

—T-Tá bem.

Samara pegou um pouco de comida e voltou para mesa com seu prato. Anne não pode deixar de notar o quanto o prato dela estava vazio.

—Pode pegar mais se quiser, viu? Você só come isso mesmo?

—S-Sim - confirmou Samara.

—Bem, fique à vontade. Só vou pedir licença porque preciso trabalhar.

—Trabalhar? - perguntou Samara.

—É. Trabalho de garçonete aqui - explicou Anne sorrindo.

“Ela é bonita, morou na cidade grande e ainda tem o próprio emprego”, pensou Samara. “Que chance eu tenho contra ela? Quer dizer, não que eu esteja competindo, mas...se eu fosse competir com ela por alguém, que chance eu teria?!”

Agradecendo a gentileza de Carla, Samara saiu do restaurante de barriga cheia, mas desanimada. Se realmente Anne e Luciano foram feitos um para o outro, então ela não tinha muito o que fazer. 

“Estou com estômago cheio, mas...por que ainda me sinto vazia?”, pensava Samara, enquanto voltava para casa. Sim, ela sentia que estava perdendo algo, talvez...o primeiro rapaz por quem se apaixonou? Pelo menos ela encontrou um gatinho na volta para casa. O animal estava se lambendo no meio da calçada.

—Ah, um gato - disse a garota, animada para fazer carinho nele. Pelo menos alguma coisa estava dando certo, não é mesmo? O gato não percebeu a menina se aproximando e se assustou quando ela passou a mão nele. Samara recebeu uma bela arranhada na mão antes do gato sair correndo. É, parece que isso também não estava indo bem para a menina.

“Por quê?!”, pensou Samara lamentosamente.

Será que a sorte sorrirá para Samara de alguma maneira? Não dá para saber ainda.


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Notas finais do capítulo

Pobre Samara...mas ela ainda vai aparecer mais vezes.

Ainda tem outros personagens para aparecer, mas vamos conhecendo eles aos poucos.

Espero que continue acompanhando.

Até! :)



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