Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 185
Nós amamos Vila Baunilha


Notas iniciais do capítulo

Bem, chegamos ao último capítulo dessa fic. Boa leitura :)



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—Vocês o quê? - disse Carla, ao ouvir de Anne e Luciano que eles finalmente assumiram um relacionamento.

—É, é difícil de explicar, mãe - falou Anne - Mas, Luciano e eu decidimos namorar.

—Ai, que lindo! - disse Briana, que também estava na sala ouvindo a conversa - No fundo, sempre suspeitei que vocês se gostavam.

—Eu também demorei para perceber isso - falou Luciano - Então, vocês permitem que a gente namore? Por…favor?

Luciano apenas sorria com toda a tensão que um genro pode ter diante de um sogro ao pedir permissão para namorar a filha dele. Antenor, o pai, coçou a cabeça e fez uma pausa antes de finalmente dizer alguma coisa.

—Bom, acho que isso acontece com toda filha, mais cedo ou mais tarde - disse ele - Bem, Luciano sempre foi um rapaz trabalhador e nunca falaram mal dele pela cidade, então não vejo problemas.

—Só espero que isso não atrapalhe seus estudos e seu trabalho, mocinha - falou Carla - Vou ficar de olho em vocês dois.

—Não precisa se preocupar, mãe - disse Anne - Sei bem das minhas responsabilidades.

—É bom mesmo - insistiu a mãe - E você, rapazinho, é bom cuidar bem dela, viu?

—C-Claro - gaguejou Luciano.

—Então tá tudo certo! - falou Briana, animada - Vocês já podem se beijar, né?

—Briana! - reclamou Anne.

—A-Aqui? Na frente de todo mundo? - perguntou Luciano.

—Dá pelo menos um selinho - falou Carla - Nossa, essa geração de hoje é devagar pra caramba, né?

—Mãe! - falou Anne, indignada.

—Vai, se beijem logo! - insistiu Briana.

Luciano e Anne dão um selinho timidamente. Todos aplaudem. É, parece que essa etapa do relacionamento foi vencida. E, como é de se esperar, notícias em cidade pequena correm bem rápido.

—Ah, bisa - disse Márcia para dona Cleide, assim que ela colocou os pés em casa - Que caminhada demorada! Já estou quase terminando de fazer a janta.

—Ah, desculpa - disse Cleide, toda alegre - É que fiz uma boa ação hoje.

—Que boa ação?

—Fiz o melhor pastel da região voltar - falou ela.

—É, aqui é difícil achar pastel mesmo - disse Márcia - Mas do que a senhora tá falando?

—Do Abílio, pai daquele seu amigo, o Luciano - explicou dona Cleide - Aliás, ele agora está melhor do que nunca. Começou a namorar a garçonete do restaurante.

—A Anne? - perguntou Márcia, pasma.

—É, ela mesma. Aliás, ela é da sua sala, não é?

“Então, eles finalmente se acertaram…”, pensou Márcia, sentindo uma lágrima escapar de seus olhos.

—O que foi, Márcia?

—Nada não, bisa. Só um cisco que caiu no meu olho.

—Bom, se você tá dizendo…vamos logo comer. Ainda tem espaço pra mandar mais um pratão pra dentro!

“Pelo jeito ele finalmente se decidiu”, pensou a garota. É, antes tarde do que nunca.

No dia seguinte, Anne e Luciano foram juntos à escola, acompanhados de Briana. A irmã de Anne estava tão feliz quanto o casal.

—Imagina a cara do pessoal da escola quando ver vocês dois juntos - disse Briana.

—É, isso vai ser meio esquisito - falou Anne - Você tá pronto, né, Luciano?

—Se você também estiver…

—É, vamos logo - disse Anne.

Luciano e Anne respiraram fundo e entraram na escola. Assim que atravessaram o portão, foram abraçados na mesma hora pela pessoa que mais almejava aquele casal. É, ela mesma.

—Meu casal! Bom dia! - disse Ema, mais bem-humorada do que de costume.

—De onde você saiu, criatura? - reclamou Anne.

—Eu vim correndo assim que vi vocês dois - explicou ela - Já estou sabendo da notícia.

—Mas já? - estranhou Anne.

—Você vive em cidade pequena, meu bem - explicou Ema - Aqui as notícias se espalham mais rápido que uma pandemia. Parabéns pelo namoro e…bem, vocês não tem alguma coisa para me dizer?

—Ai, lá vem. O quê? - perguntou Anne.

—Tipo, não acham que alguém estava certa esse tempo todo? - falou Ema, enquanto passava a mão no cabelo com um sorriso triunfante.

—É melhor a gente fazer isso logo - disse Luciano.

Anne apenas suspirou.

—Orgulho pra quê, né? - falou Anne, segurando firme nas mãos de Luciano - Tá…vamos lá.

—Você estava certa o tempo todo! - Anne e Luciano falaram em uníssono (embora a contragosto)

—Ai, como eu adoro ouvir isso - disse Ema, orgulhosa.

—Pelo menos agora você deixa a gente em paz - disse Anne.

—Claro. Missão cumprida fica no passado. Mais um casal para minha coleção - disse ela, anotando Anne e Luciano em um caderninho que tirou da bolsa.

Briana apenas ouvia tudo isso rindo. Não muito longe, Samanta e sua inseparável amiga Cíntia enxergavam a irmã de Anne atrás de uma árvore.

—Lá está ela, Cíntia - falou Samanta - Hoje a gente pega a Briana.

—Explica de novo, amiga. Por favor - falou Cíntia.

—Ai, Cíntia. Você ainda não entendeu? - reclamou Samanta - É fácil. Vamos chegar perto dela como quem não quer nada e…do nada, a gente finge que tropeça e derrama a água dessa garrafa em cima dela. Ela vai pagar o maior mico na frente da irmã.

—Ah, acho que entendi - falou Cíntia.

—Ótimo. Então, vamos - falou Samanta, andando de braços dados com Cíntia até Briana segurando uma garrafa de água mineral aberta. De fato, as duas chegam tranquilamente até lá, esbanjando simpatia.

—Bom dia! - disseram as meninas, juntas.

—Ah, Samanta, Cíntia. Bom dia! - respondeu Briana, com um lindo sorriso.

“Que sorriso fofo!”, pensou Samanta. “Não, não. Concentração. Eu sou a vilã aqui! É só fingir que a gente tropeça e derramar…”

—Briana! - disse Beni, chegando do nada - Você precisa ouvir o sonho que eu tive hoje e…

Foi tão repentino que as meninas se assustaram e jogaram a garrafa para cima. O resultado foi que a água acabou caindo na cabeça de Samanta.

—Você…tá bem? - perguntou Anne, para a pobre (e molhada) Samanta.

—Eu…vou ficar - disse Samanta, tentando fingir um sorriso e depois se voltando para Beni - Por que você sempre me atrapalha, garoto?

—Eu não fiz nada - disse ele - Nem reparei que vocês estavam aqui…

—Para de se fingir de besta! - reclamou Samanta.

—É só um pouquinho de água - retrucou Beni - Quem se importa com isso? Tenho coisas muito mais importantes para lidar, tipo o fim do mundo!

—Você não é normal mesmo! - rebateu Samanta.

—Olhando agora… - disse Ema, olhando para Samanta e Beni - Vocês ficam muito fofos juntos, sabiam?

—O quê?! Nunca! - Samanta e Beni falaram juntos, depois se olharam e viraram a cara um para o outro.

—Vamos ver - disse Ema - Vocês são muito novinhos, mas vou deixar anotado para quando entrarem no ensino médio.

“Ela não tem jeito mesmo”, pensou Anne. Briana, fofamente, apenas deu risada de tudo.

Também não muito longe dali, nosso amigo Luís observava toda a cena, escondido em outro canto do pátio. Apesar de ter aceitado a rejeição de Anne, ele ainda não estava psicologicamente pronto para aceitar ela namorando seu amigo Luciano.

—Que mundo injusto - resmungava ele - O que, afinal, o Luciano tem que eu não tenho? É muita injustiça! Mais uma prova de que não existe nenhum Deus!

Enquanto Luís reforçava seu ateísmo, Samara chegou e se aproximou dele.

—O-Oi - cumprimentou ela.

—Ah, é você? - disse ele - É, parece que não tem mais jeito. Luciano e Anne começaram a namorar. Agora não tem mais volta. Perdemos.

—Ou talvez não - disse Samara.

—Do que está falando?

—Que se dane a timidez! - disse Samara, avançando em Luís e o beijando na boca. O garoto ficou tão surpreso que nem conseguia falar.

—O que…você pensa que está fazendo? - finalmente ele disse, após uns instantes de surpresa.

—A real é que…não estou mais nem aí para o Luciano faz tempo e estou cansada de fingir que não! - falou ela - Se não gostou, é só falar.

Luís estava realmente surpreso, mas, vendo que sua situação com Anne já estava perdida e não achando que seu primeiro beijo foi tão ruim assim, ele conseguiu dar um novo significado para sua situação.

—Sabe, acho que quando uma porta se fecha, outra se abre, né? É, talvez tenha alguém além do universo…acho que vou virar agnóstico - disse Luís, não sabendo bem como colocar as palavras.

—Só fica quieto e me beija, vai? - disse Samara, dando mais um beijo. Dessa vez, Luís correspondeu bem mais. Quando finalmente eles pararam, Luís disse.

—É, acho que a gente sempre formou uma boa dupla, né, pintora de rodapé?

—Com certeza, salva-vidas de aquário.

—Síndica de maquete!

—Lenhador de bonsai!

É, parece que Luís encontrou alguém à sua altura. Tá bom, parei. Seja como for, os dois apenas riram e se beijaram de novo. Nada como superar uma fase difícil. Só que nem todo mundo naquela escola estava em condições de superar essa fase tão rápido. Márcia, por exemplo, chegou atrasada de propósito e, na hora do intervalo, fez questão de evitar Anne e Luciano. Na hora da saída, foi a última a sair da sala. Ao fazer isso, enquanto caminhava em direção ao portão, Márcia passou pela sala de Renan, no momento em que ele também estava saindo.

—Ah, boa tarde - falou ele.

—Oi - disse Márcia, querendo passar logo por ali.

—Eu fiquei sabendo…- disse Renan - Da Anne e do Luciano.

—É, eu sei. Bom pra eles, né? - falou Márcia.

—Não temos muito o que fazer - disse Renan, coçando a cabeça - Acho que nessas horas só dá para seguir em frente.

—Eu sei! Eu sei, tá bom? - disse Márcia, perdendo a calma, para espanto de Renan - Eu sei que não dá pra fazer nada! Eu sei que não adianta chorar por uma coisa que já aconteceu! Mas dói! Não parece, mas dói! Eu gostava mesmo dele! Será que não tenho pelo menos o direito de ficar chateada? Que droga!

—Claro que tem - disse Renan - Como você mesma falou, no amor tem horas que a razão não importa…

—Que inveja - falou Márcia - Você superou isso muito bem.

—Não, não foi fácil - falou Renan, sorrindo - Eu também chorei bastante sozinho, então…eu meio que sei o que você tá passando.

—Essas coisas do coração. É difícil mesmo - falou Márcia, enxugando as lágrimas que não conseguiu deixar de soltar naquele desabafo - Agora só quero ir pra casa ouvir playlist de sofrência a tarde toda.

—Faça isso - disse Renan - Chora tudo que tem para chorar hoje. Amanhã é outro dia.

—Ai, parece um conselho que eu daria - disse Márcia, rindo - Bom, a gente se vê, então..

—Até - disse Renan se despedindo.

“Esse Renan é mesmo bem legal”, pensou Márcia, já se sentindo um pouco melhor.

Já Renan…

“Não tinha reparado, mas a Márcia é bem gatinha, né?”, pensou Renan.

É, acho que já sabemos onde tudo isso vai parar. De fato, o “luto” de Márcia durou mesmo só um dia. Aos poucos, ela voltou a falar com Luciano, Anne e o resto da turma. Não demorou muito para a turma toda ficar de boa novamente. Todo mundo da sala parecia bem feliz, principalmente Ian.

—Não, por favor. Não aperte tanto assim! - falou Ian, ao ser abraçado por Tamires, sua namorada oficial.

—Mesmo? Então, tá…

—Mas…também não precisa ser tão fraquinha - falou ele, apenas para ser apertado ainda mais violentamente por Tamires. E falando em casais diferentes…

—Já vamos ser maiores de idade quando a gente se formar - disse Luciano - Então, acho que a gente pode se casar e morar na cidade vizinha, o que acha?

—Acho que é meio cedo para pensar em casamento - falou Anne - Mas, sabe. Acho que não me importo de morar aqui em Vila Baunilha mais um tempinho.

—Isso é sério? - falou Luciano - Não era você que queria dar o fora daqui o quanto antes?

—Bom, agora tenho um bom motivo para ficar, né? - falou Anne, beijando seu namorado com todo o carinho. Realmente, os dois nem parecem as mesmas pessoas.

—É verdade, Anne. Acho que ainda não cantei para você a música que estou ensaiando, né? - disse Luciano, sentado ao lado de Anne sob uma árvore com um violão.

—Não, mas não precisa cantar - disse Anne, sutilmente.

—Claro que precisa - falou Luciano - Ela se chama “chapadão de amor”!

—Chapadão do quê? - perguntou Anne.

—Chapadão de amor - repetiu Luciano.

—Chapadão de amor? - repetiu Anne.

—É, chapadão de amor. Saca só. Tô chapadão de amoooor. De amor, de amor, de amoooor….

Anne apenas pensou em silêncio.

“Ele não leva jeito mesmo para isso”, pensou ela. “Mas não seria a mesma coisa se não fosse assim. Amar é isso, né? Gostar do outro até nos defeitos”

É, parece que todo mundo está feliz.

—Todo mundo feliz uma ova! - reclamou Samanta para Cíntia em seu quarto - Nenhum dos meus planos deu certo até agora! Por que, Cíntia? Por que eu sou um fracasso como vilã?!

—Calma, amiga. Olha, eu aprendi um coisa hoje - falou Cíntia.

—O quê?! - Samanta perguntou furiosa.

—Aprendi que se estamos no caminho errado, sempre podemos dar meia-volta e voltar para o caminho certo - falou Cíntia, em tom sábio.

—Onde você aprendeu isso?

—Li em um perfil de coach no Twitter.

—Então, será que estou no caminho errado? Mas tudo apontava para eu ser uma grande vilã. O que eu sou, então? Entrei numa crise existencial, amiga.

—Você precisa mudar seu mindset, amiga - falou Cíntia - Talvez você não tenha nascido para ser vilã, mas para ser alguma outra coisa. E se, na verdade, você nasceu para ser a mocinha.

Samanta teve um insight ao ouvir isso.

—É isso! - disse ela - Só pode ser isso! Eu nunca fui a vilã da história…a verdadeira vilã sempre foi a Briana.

—Foi?

—Claro. Olha só, ela se faz de boazinha, mas, na verdade, é a mais malvada da cidade. Como nunca percebi isso antes?

—É, é? - estranhou Cíntia.

—Está decidido. A partir de amanhã, vamos nos dedicar a mostrar ao mundo que a Briana é má! - disse Samanta, recuperando a empolgação. Depois de balançar a cabeça, Cíntia apenas abraçou Samanta.

—O que foi? Por que o abraço?

—Te adoro, amiga - falou Cíntia, dando um beijinho no rosto de Samanta.

—Sorte sua que eu não sou mais malvada - retrucou Samanta, abraçando Cíntia de volta - Também te adoro, Cíntia.

É, casais vão, casais vem, vilões vem, vilões vão, pilantras aprendem que são ótimos pasteleiros, ursos continuam ajudando no posto de saúde, namoradas desastradas na cozinha continuam tentando fazer quitutes para seus namorados garçons, policiais continuam esperando casos difíceis, namoradas ricas de um desses policiais continuam procurando casais promissores, garotos hiperativos continuam esperando revelações do fim do mundo É, a vida continua em Vila Baunilha, essa cidadezinha tão doida que (espero) todos aprendemos a amar.


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Notas finais do capítulo

E assim termina mais uma fic. Acho que não consegui adequar bem os capítulos finais, mas não tinha muito mais o que enrolar. Na real, o principal já acabou no capítulo anterior, esse aqui foi mais o final de novela mesmo. Kkk

Foi uma longa história, a terceira fic mais longa que escrevi (perdendo apenas para This is my Gang! com 220 capítulos e Encrenca Shaolin com 200). Ainda que eu tenha perdido um pouco a mão agora no final, gostei muito de escrevê-la. Amei todos os moradores de Vila Baunilha, mesmo os mais chatinhos.

Minha intenção com essa fic era imaginar uma cidade de interior tranquila, mas com suas próprias confusões e problemas românticos. Já fiz um romance em cidade do interior em Suave Sedução, uma fic bem mais curta do que essa e bem mais pesada. Queria algo mais leve, algo que provocasse sorrisos além de interesse pelos conflitos românticos. Bom, como não tenho experiência com romance (sou solteiro até hoje), muita coisa deve ter soado irreal para quem já viveu isso, mas espero que a comédia tenha compensado essa parte.

Assim como em This is my Gang! quis manter um humor inocente e pastelão. Fazer um romance entre adolescentes mantendo a pureza nos dias de hoje não é tarefa fácil, mas espero ter chegado perto disso. Como ocorre em minhas outras fics, tomei como base referências diversas como séries (principalmente Chaves e seriados da Disney), animes (como Ranma 1/2, Urusei Yatsura, Love Hina e WataMote), livros (como Pollyana e Emma) e novelas (como Chocolate com Pimenta e O Cravo e a Rosa).

Enfim, foi uma fic bem querida e já é uma das minhas preferidas. Espero que, assim como eu, você também tenha aprendido a amar Vila Baunilha. Se leu até aqui, agradeço sua paciência e consideração. Muito obrigado por ter deixado um pouco da minha imaginação maluca entrar na sua vida por meio desses 185 capítulos. Se gostou mesmo, deixe sua recomendação. Quem sabe outros também não venham conhecer a cidade?

E é isso. Espero continuar escrevendo, então espero que nos encontremos em uma próxima história.

Até! :)



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