Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 181
Decepção




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Anne estava pensativa sobre seus próprios sentimentos naquela noite, quando encontrou com o garoto que havia se declarado à ela pouco tempo atrás, Renan, pintando um quadro. O rapaz, obviamente, não se sentiu muito confortável.

—O-Oi - gaguejou ele - Dando uma volta?

—Pois é - disse ela - Estava tentando arejar a cabeça um pouco.

—Sei como é - respondeu Renan - Decidi pintar uma cena noturna, sabe? As ruas à noite em uma cidade tranquila, a luz do poste...gostei desse clima.

—É um tema que me acalma também - respondeu Anne, ternamente - Decidiu pintar coisas mais concretas agora?

—Já faz um tempo que tenho variado - disse Renan - Mas tenho mesmo preferido coisas que me acalmam ultimamente.

—Sei - disse Anne.

Renan era alguém que poderia ouvir Anne, ela sabia disso. Por outro lado, ela sabia que falar com ele sobre o que estava passando em seu coração seria, no mínimo, um desrespeito com os sentimentos do pobre garoto. Mesmo alguém sem muita noção de romance como Anne conseguia entender isso.

—Bom, vou te deixar em paz - falou ela - Até mais.

—Ei, espera - falou Renan.

—Sim? - perguntou ela.

—Err...você disse que estava arejando a cabeça, não é? Ainda está confusa com o que sente?

—Mais do que você imagina - disse ela, enfim - Mas isso é algo que preciso resolver sozinha.

—Escuta - disse Renan - Eu...só queria dizer que não guardo nenhuma mágoa de você ou coisa assim.

Anne continuou ouvindo.

—Eu odiaria ficar com alguém que não quer ficar comigo de verdade - disse ele - Doeu? Bastante. Mas não é algo que vou ficar carregando para sempre.

—Puxa, você é tão maduro - comentou Anne - Que inveja.

—Ah, imagina - disse ele, passando o pincel sujo na cara sem querer - Oh, droga! Fiz isso de novo!

Anne apenas sorriu.

—Você é mesmo bem legal - disse Anne - Fico feliz que ainda queira conversar comigo mesmo depois daquilo.

—Como eu falei, doeu, mas ainda me sinto melhor do que se tivesse guardado aquele sentimento para sempre - confidenciou Renan - E para as feridas da alma, acho que a arte é um dos melhores remédios.

—Arte - repetiu Anne - Essa sua dedicação pelo que gosta é uma coisa que admiro. Nesse ponto, você é até parecido com o Luís.

—Aquele garoto baixinho da sua sala?

—Ele mesmo - respondeu Anne - Ele ama ciência.

—E você? Tem alguma coisa para se dedicar e se sentir melhor?

—Olhando agora - ponderou Anne - Eu passo boa parte do meu tempo estudando e trabalhando. Nas horas vagas só escuto alguma música ou assisto alguma coisa.

—Bem, cada um tem seu jeito de relaxar - disse Renan, sorrindo e voltando a pintar - Pode ser um refúgio quando se quer muito fugir de algo.

—Fugir - disse Anne - No fundo, acho que estou fugindo de tomar uma decisão importante sobre mim mesma.

—Acho que sei do que está falando - disse Renan - Olha, como eu falei, não guardo nenhum ressentimento. Mas se você foi sincera mesmo comigo, acho que devia ser sincera com você mesma também.

—Não sei se entendi…

—No fundo, acho que você sabe a resposta para o que quer - falou ele, colocando algumas últimas pinceladas no quadro - Você devia aceitar isso logo e se jogar nisso.

—Renan, eu…

—Eu gostei de você porque quero que você seja feliz, Anne, mesmo que não seja comigo - disse ele - Mas acho que o preço para isso é se jogar logo de uma vez. Alguém me disse uma vez...que sentimentos não são o tipo de coisa com muita lógica, né? Acho que o segredo é não pensar demais nisso e ir com tudo.

Anne sentiu uma lágrima escorrer de seu rosto. Talvez a resposta fosse mesmo jogar fora o seu orgulho e correr logo para o que seu coração estava gritando e ela se negava a ouvir.

—Acho que entendi! - disse ela, emocionada - Obrigada, Renan. Obrigada. Também quero que você seja feliz! Tchau!

E Anne sai correndo em direção ao seu destino. Renan continuou ali pintando.

—É, não tem jeito. Vou ter que esquecer dela - disse ele - Acho que me dedicar à arte é o melhor caminho para isso. Ah, terminei.

Renan viu seu quadro finalmente concluído. Ele se afastou para ver melhor, mas acabou escorregando para trás e caindo sem jeito em cima dos seus potes de tinta. É, essas coisas acontecem (principalmente se você for um menino em Vila Baunilha).

—Eu estava tão maneiro há poucos segundos atrás… - lamentou Renan.

Voltando à Anne, ela finalmente decidiu encarar os fatos de seu coração e se dirigiu à lanchonete à frente de sua casa. Se ela lembra bem dos horários, Luciano devia estar trabalhando lá e, de fato, era bem isso.

—Você nunca limpa essas mesas direito - falou Abílio, o pai do garoto.

—Foi mal - disse ele - Vou limpar de novo.

—O que aconteceu, garoto? - retrucou Abílio - Anda meio desanimado ultimamente.

—Não é nada.

—Se tem uma pessoa que tem direito de estar triste aqui sou eu - disse Abílio - Só queria ser pobre um dia porque ser pobre todo dia é uma droga!

—Não se preocupe - disse Luciano - Já estou melhorando no violão e procurando uns contatos. Minha carreira de cantor vai engrenar logo, logo.

—Você realmente não tem nenhuma noção de realidade, garoto! - reclamou Abílio - Quantas vezes eu vou ter que te falar: você não sabe cantar!

—Como pai você devia apoiar os sonhos do próprio filho! - retrucou Luciano.

—Apoio sonhos que podem ser realizados! - rebateu Abílio - Você devia investir em algo que realmente tem chances...tipo o seu casamento.

—Já vai começar essa conversa de novo? - lamentou Luciano, voltando a passar pano nas mesas.

—Por que você não tenta se dar bem com a filha dos Montecarlo? Case com ela e salve nós dois!

—Eu não faria isso só por esse motivo - reclamou Luciano.

—”Só por esse motivo” - repetiu Abílio - Espera, então você está pensando mesmo na ideia?

—Eu não disse isso - retrucou Luciano.

—Por favor, pense mais nisso - disse Abílio - Se você se casar com a Anne, podemos aproveitar todo o sucesso do restaurante dos Montecarlo. É uma oportunidade única!


   -Pai, eu.. - mas essa última fala de Luciano sofreu um interrupção inesperada.

—Então era isso! - gritou Anne, ao ouvir as palavras de Abílio assim que colocou os pés na lanchonete com a intenção de se acertar com Luciano.

—A-Anne?! - gaguejou Abílio ao vê-la ali - Há quanto tempo você chegou?

—Tempo suficiente para ouvir o que vocês pretendem - disse ela, furiosa e frustrada - Então é isso, Luciano? É isso que você estava querendo? Casar comigo por interesse?

É, mais um drama para resolver...


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Notas finais do capítulo

Sim, isso foi bem clichê, mas vamos ver no que isso vai dar.

Até a próxima! :)



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