Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 174
Duas Annes




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Dessa vez Luís foi mais longe do que deveria. Visando encontrar um modo de praticar sua convivência com Anne, ele simplesmente cria Anne 2.0, uma réplica artificial da garota que simula a personalidade dela. A intenção do jovem cientista era manter isso em segredo, mas, como não poderia ser diferente, as coisas não saíram bem como ele esperava. Um pouco antes da hora do almoço, um gato pulou no teclado do computador e acabou ativando a robô de Anne sem querer. Como a robô tinha a personalidade e algumas memórias induzidas da sua versão original, ela simplesmente se dirigiu para onde imaginava que era seu local de trabalho, o restaurante dos Montecarlo.

Pouco tempo depois disso, Luís chegou em casa, depois de ter saído correndo da aula. Ele pretendia ajustar o que podia na Anne 2.0. Infelizmente, ao adentrar no laboratório, ele não encontrou sua andróide ali.

—Muito bem - falou Luís, um pouco antes de notar a ausência de sua robô - Agora vamos arrumar o que falta e…

Finalmente ele se deu conta.

—Anne? Anne, cadê você? - estranhou ele, procurando a robô por toda parte. Quando ele finalmente viu a tela do computador, descobriu o que aconteceu - Ah, não. Só pode ser brincadeira! Esqueci o computador ligado e alguma coisa deve ter reativado a Anne robô! E agora? Onde ela foi? Ah, não adianta ficar aqui pensando. Preciso ir atrás dela agora!

Enquanto isso, a Anne original estava terminando um trabalho em dupla com Kelly. Justamente naquele dia, ela teve permissão de ficar um pouco mais tarde na escola.

—Ufa. Pelo menos terminamos - disse Anne, depois de finalizar o último exercício da lista em dupla - Matemática é uma desgraça, fala sério!

—Deixa de manha - disse Kelly, sorrindo - Você sempre vai bem em matemática.

—Sacrificando muitas horas de sono para entender essas coisas antes da prova - falou Anne - Bem, pelo menos o ritmo da matéria é mais tranquilo do que na escola que eu estudava lá na cidade grande.

—Tem uma pessoinha na nossa sala que adoraria ensinar matemática pra você - provocou Kelly.

—O Luís, né? - disse Anne, já ajeitando as coisas para ir embora - Nem me fale. Ainda bem que hoje ele me deixou em paz e foi logo embora da aula. Nossa, que menino grudento.

—Você vive cercada de meninos grudentos, né? - disse Kelly, apontando para Ian, o garoto que simplesmente chegou abraçando Anne.

—Anne, querida. Não sabe como eu senti a sua falta..

Anne apenas deu um soco no garoto jogando-o na parede mais próxima.

—Mais um dia normal na minha vida - ironizou Anne.

—Preciso dizer que você já se adaptou bem - falou Kelly, sorrindo - Mas você quer mesmo ir embora daqui, né?

—Não é que eu não goste de Vila Baunilha - comentou Anne - Só não é o tipo de futuro que eu quero ter, entende? Nesse ponto...

Anne interrompeu a si mesma do nada.

—Nesse ponto? O que você ia falar? - perguntou Kelly.

—Ah, eu ia dizer que sou parecida com o Renan, do terceiro ano. Ele também tem intenção de sair da cidade para viver como artista em outro lugar.

—Ah, sim. O menino que participou da corrida junto com você - lembrou Kelly - Vocês estavam bem próximos, né?

—É, eu não te contei?

Anne contou a Kelly a declaração de Renan. A amiga ficou pasma.

—Nossa, então ele estava mesmo a fim de você - disse Kelly - E se você recusou...é porque tem algum motivo…

—Não quero atrapalhar meus estudos com namoro.

—Ah, vá - disse Kelly - Muita gente estuda e namora. Isso não é desculpa.

—Mas eu trabalho além de estudar, esqueceu?

—Anne, Anne. Tem mais alguma coisa nessa história que você não está me contando, né?

—Não é bem assim - disse Anne, desviando o olhar.

—Não precisa me contar se não quiser - falou Kelly - Não vou ficar chateada por isso porque, no fundo, eu acho que sei o que é.

—Como assim? - disse Anne, toda vermelha - O que você sabe?

—Também não vou contar - falou Kelly, rindo.

—Tá, tá bom. Vamos mudar de assunto.

As meninas seguiam de volta para casa, quando Luís finalmente apareceu.

—Ah, encontrei - disse ele.

—Luís? - estranhou Anne, olhando para trás - O que foi?

—Fica quietinha - disse ele, correndo na direção dela e saltando para apertar na nuca da garota.

Sim, tanto Anne quanto a androide estavam de uniforme, então um engano assim poderia muito bem acontecer. Claro que Luís não encontrou botão nenhum no pescoço da Anne original.

— Ué? O que aconteceu? - estranhou o jovem cientista.

Luís apenas recebeu um belo tapa na cara e foi jogado no chão.

—Eu é que pergunto o que aconteceu, safado! - reclamou Anne - Que história é essa de apertar o meu pescoço desse jeito?

—Ops, acho que me enganei - falou ele.

—Se enganou com o quê? - retrucou Anne, furiosa - Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. Eu devo ter atendido o celular durante o sermão da montanha, não é possível.

“Droga. Essa é a Anne original. O que eu faço agora?”, pensou Luís, já arrependido por ter agido de modo tão precipitado.

—O que aconteceu, Luís? - perguntou Kelly.

—N-nada - gaguejou ele.

—Tá com cara de quem aprontou - disse Anne - Foi outra invenção sua, é?

—Puxa, Anne. Você fala como se minha invenções sempre dessem problema - balbuciou Luís, com uma cara de chateado.

—Por que será, né? Suas invenções já fizeram meu cabelo crescer sem parar, quase fizeram eu me apaixonar pelo primeiro idiota que eu visse na frente, já me empurraram em um lago inteiro e já fizeram uma galinha ficar gigante. COMO ESQUECER DA GALINHA GIGANTE?!

—Foram só uns errinhos de cálculo… - Luís continuou balbuciando - Mas dessa vez não é nada demais. Eu juro.

—Será? - reclamou Anne - Espero que não seja mesmo…

“Como eu vou explicar que fiz uma andróide baseada nela?”, pensou Luís, realmente preocupado.

Enquanto isso, Anne 2.0 andava pela cidade com uma expressão robótica. Seu objetivo era simplesmente chegar no restaurante. Pena que ela encontrou uma certa pessoa no caminho. Enquanto andava, a robô acabou esbarrando em Luciano, mais um vez com seu inseparável violão querendo praticar um pouco ao ar livre.

—Ei, não olha mais por onde anda, não? - disse Luciano.

—Não me enche - foi tudo que Anne 2.0 disse, usando memórias que tinha sobre Luciano.

—Ah, é assim, é? Vai começar a falar comigo desse jeito mesmo? - retrucou ele, achando que estava falando com a Anne de verdade. O que vai sair dessa conversa?


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