Após uma série de acontecimentos, Cíntia e Samanta chegaram à conclusão de que a fonte da praça da cidade era uma fonte dos desejos. Lançando uma moeda, um desejo seu se realizaria. Não demorou muito para Samanta conseguir algumas moedas para realizar todos os desejos que tinha em mente (ser rico deve ser bem legal).

—Infelizmente, o caixa do mercado não quis me dar cem reais em moedas - disse Samanta - Mas pelo menos consegui cinco moedas de um real. Isso deve dar para uns cinco desejos!

—Que demais - disse Cíntia - E qual é a primeira coisa que você vai pedir?

—Já te falei, não falei? - rebateu Samanta, com uma expressão confiante - Meu primeiro pedido é para o Enzo ficar caidinho por mim.

—Vai logo, amiga. Joga a moeda! - disse Cíntia, toda empolgada.

—É agora - disse Samanta - Eu desejo que o Enzo se apaixone por mim.

Samanta jogou a moeda e alguns segundos se passaram sem que nada acontecesse.

—Será que deu certo? - perguntou Cíntia.

—Como é que eu vou saber? - disse Samanta - Preciso encontrar com o Enzo para saber se funciona ou não.

Assim que ela acabou de falar isso, o tal Enzo, o garoto da sala das meninas por quem Samanta tinha um crush, estava passando por ali.

—Oi, Samanta - disse ele - Tudo bem com você?

Samanta e Cíntia se olharam e quase não conseguiram segurar um grito de empolgação.

—Tudo. Tudo sim - falou Samanta, com uma voz meiga.

—Mesmo? - insistiu ele.

—Claro - falou Samanta - Estou ótima.

—Tá legal - falou o garoto - Se cuida, tá?

—Ah, obrigada - disse ela.

“Será que ela tá bem mesmo?”, pensou Enzo, enquanto saía de cena. “Não é comum ter uma coisa estranha daquelas em cima do cabelo”

Assim que ele saiu, Samanta e Cíntia gritaram juntas, segurando as mãos uma da outra enquanto saltitavam.

—Você viu? Você viu? - disse Samanta - O Enzo não só falou comigo, como se preocupou. Ai, tá na cara, ele já tá caidinho por mim!

—Que demais, amiga - falou Cíntia - Ele falou com você todo preocupado, apesar desse bicho esquisito no seu cabelo!

—O que foi que você disse? - falou Samanta.

Cíntia apontou para o cabelo de Samanta. Um tipo de grilo ou gafanhoto tinha pulado em cima da cabeça dela quando as meninas passaram por uma árvore no caminho para a praça.

—Ai, que nojo! Tira, tira isso de mim! Ai! - Samanta se desesperou.

—Calma, amiga. Calma - falou ela - Já saiu.

O inseto pulou do cabelo de Samanta que, rapidamente, recuperou sua classe.

—Bem - disse a filha do prefeito - Isso não importa. O que importa é que o Enzo está caidinho por mim. A fonte funciona mesmo.

—E o que você vai pedir agora? - perguntou Cíntia - Ainda tem quatro moedas. Dá para fazer quatro pedidos.

—Ai, é verdade - falou Samanta - O que mais eu posso pedir? Já sou linda, rica e inteligente. O Enzo já gosta de mim. Não tem mais nada que eu possa querer.

—Como é bom ter tudo - disse Cíntia.

—Será que eu devia pensar nas outras pessoas e não fazer pedidos para mim mesma? - refletiu Samanta. Cíntia olhava para ela com os olhinhos brilhando - Ah, que bobagem. Uma vilã pensa sempre primeiro nela. É isso. Desejo me tornar uma vilã de respeito.

Samanta jogou outra moeda na fonte.

—Mas, amiga - disse Cíntia - Você já não é uma vilã de respeito?

—Isso só o futuro dirá - falou Samanta - É um desejo para garantir, sabe? Bem, tenho mais três desejos. E agora?

Enquanto pensava, Samanta viu sua rival de sempre, Briana, passeando pela pracinha. Foi o suficiente para despertar sua mente maligna (na cabeça dela, é claro).

—Está pensando no que eu estou pensando, Cíntia? - perguntou Samanta.

—Depende, você tá pensando em cachorrinhos usando chapéu? - disse Cíntia.

—Por que eu pensaria nisso?! - rebateu Samanta.

—Não sei. Mas é no que eu estava pensando agora - respondeu Cíntia.

—Olha lá a bobona da Briana chegando - disse Samanta - É nossa chance de sermos malvadas.

—Ah, é? - perguntou Cíntia.

—Sim - disse Samanta, jogando outra moeda na fonte - Eu desejo que a Briana pague um mico ainda hoje.

—É, isso é maldade - disse Cíntia.

—Ela tá vindo aí. Não fala nada, só me acompanha - disse Samanta, enquanto Briana se aproximava.

—Samanta! Cíntia! Vocês por aqui? - perguntou Briana.

—Oi - responderam as duas.

—E aí? O que contam de novo? - perguntou a doce Briana.

—Estamos fazendo pedidos para a fonte dos desejos - explicou Cíntia.

—Cíntia, que parte do não falar nada você não entendeu! - retrucou Samanta.

—Ué? Foi o que ela perguntou, não? - respondeu Cíntia.

—Fonte dos desejos? - estranhou Briana.

—Bom, já que não tem jeito, vamos explicar - disse Samanta - Você joga uma moeda na fonte, faz um desejo e ele se realiza. Simples assim.

Briana começou a rir.

—Deixem de ser bobas - falou Briana - Essas coisas não existem.

—Ora, parece que temos uma cética aqui - disse Samanta - Por que não tenta? Veja por você mesma.

—Ah, não. Não vou desperdiçar minhas moedinhas nisso. Tenho certeza que não funciona - insistiu Briana.

—Não seja por isso - falou Samanta, pegando uma de suas moedas e entregando para Briana - Eu te dou uma. Toma.

—Se você não se importa - disse Briana - Então, tá. Vou pedir uma coisa que dê para conferir na mesma hora.

—Por favor - falou Samanta, confiante.

—Quero que o céu mude de azul para roxo - falou Briana, jogando a moeda na fonte.

—Pedido diferente - comentou Cíntia.

—Por que pedir uma coisa dessas? - reclamou Samanta.

—Não pensei em nada melhor que desse para conferir na hora - explicou Briana, sorrindo - Além disso, eu gosto de roxo.

“Fofa”, pensou Samanta. “Digo, digo, que bobona. Mas vamos ver se isso vai se realizar mesmo ou não.”

As meninas olharam para o céu e nada aconteceu.

—Nada - disse Briana - Parece que a fonte não funciona mesmo.

—Calma aí - falou Samanta - Acabei de lembrar de uma coisa importante.

—O quê? - perguntou Cíntia.

—Agora pouco pedi para você pagar um mico ainda hoje - disse Samanta - A falha do seu desejo foi o meu desejo sendo atendido. Você fez um pedido e ele não se realizou. Você passou vergonha e não eu. Logo, a fonte funciona.

Briana raciocinou um pouco e acabou aceitando.

—Nossa - disse a irmã de Anne - Puxa, se for isso, então deve funcionar

—Não disse? - falou Samanta, orgulhosa.

—Se funciona mesmo, então é maravilhoso! - disse Briana - Vou espalhar para todo mundo. Todas as pessoas da cidade vão poder ter seus desejos realizados!

—Todas...as pessoas da cidade? - disse Samanta.

—Sim - confirmou Briana - Não é incrível? Todo mundo vai ser feliz, graças à fonte que realiza desejos!

“Todo mundo ser feliz?”, pensou Samanta. “Ah, não. Não era isso que eu queria!”

—Não é ótimo, amiga? - disse Cíntia - Agora todo mundo vai poder usar os poderes da fonte!

—Ah, não - disse Samanta - Isso não! Não quero todo mundo realizando o que bem entender por aqui. E se alguém pedir para ser mais rica e bonita do que eu?

—Como? - estranhou Briana.

—Chega - falou Samanta, jogando sua última moeda - Eu desejo que a fonte nunca mais realize qualquer desejo!

Cíntia e Briana arregalaram os olhos.

—Puxa, mas aí você também não vai poder pedir mais nada - disse Briana.

—Eu sei - disse Samanta, rindo - Mas eu não me importo. Já fiz meus desejos. Lembre-se: eu sou má!

—Bom, se a fonte não funciona, não tem mais nada para fazer, né? - falou Briana - Agora preciso ir. Até mais, meninas.

E Briana seguiu cantarolando, como se nada tivesse acontecido.

—Pensando bem, tirar a oportunidade de todo mundo na cidade ser feliz e ter seus desejos realizados foi um ato bem maldoso - disse Cíntia - Amiga, você conseguiu. Seu desejo de ser uma vilã de respeito foi realizado.

—Era mesmo uma fonte mágica - falou Samanta - Mas agora ninguém vai poder fazer qualquer desejo. Eu fui a única a ter seus desejos realizados.

—Ah, Samanta - disse Enzo, voltando depois de ter pego um sorvete.

—E-Enzo? - gaguejou Samanta, se recompondo e mexendo no cabelo - Você voltou…

—Ah, que bom. Aquele bicho saiu do seu cabelo - reparou ele - Eu, heim? Você é uma menina esquisita. Coitado do seu namorado.

E ele saiu de cena mais uma vez. É, o Enzo não tinha se apaixonado por você, Samanta.

—Pensando bem - disse Cíntia - Acho que a fonte não era mágica, no final das contas. Deve ter sido tudo coincidência.

Samanta estava sem palavras.

—Mas, sabe, amiga - continuou Cíntia - Eu aprendi uma coisa hoje: se queremos que nossos desejos se realizem, precisamos realizá-los com nosso próprio esforço!

—Por quêêêê?! - lamentou Samanta - Por que essas coisas só acontecem comigo? Oh, como eu sofro!

Seja forte, Samanta.