Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 170
Amigos




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Depois de um evento mais do que exagerado, a equipe de organização desmontou as estruturas mais rápido do que havia montado. No dia seguinte, Vila Baunilha estava do mesmo jeito de sempre, como se nada tivesse acontecido. As pessoas voltaram às suas vidas de sempre, estudando e trabalhando, fazendo seus serviços corriqueiros como lavar a louça do restaurante.

—Anne - chamou Carla, enquanto Anne estava distraída, segurando um prato.

A garota parecia bem aérea. Carla virou os olhos e foi mais enérgica.

—Anne! Tá surda, menina?! - gritou ela.

—Ai, mãe! - reclamou ela - Precisa gritar?

—Preciso. Você parece que tá no mundo da lua, menina! - retrucou Carla - Olha a água que você tá desperdiçando. Tá só segurando o prato e não esfregando nada! Se a conta de água vir mais cara esse mês, vou descontar do seu salário!

—Tá, desculpa - falou Anne, voltando ao trabalho.

Ter a própria mãe como chefe nem sempre é uma coisa boa. De qualquer modo, Anne tinha razões para estar distraída.

“O que ele quis dizer com aquilo?”, pensava Anne, insistindo na lembrança do que Renan disse à ela no final da corrida de casais. Ele disse que gostava de verdade de Anne, mas saiu correndo logo em seguida. Como a corrida aconteceu em um domingo, Anne esperava encontrar com Renan no dia seguinte, mas não conseguiu encontrá-lo durante o tempo da aula. Parece que o rapaz a estava evitando. De fato, era isso que estava acontecendo.

“Eu realmente gosto de você!”, foram as palavras de Renan para Anne naquele dia e as palavras que ecoavam na mente do garoto.

—Como eu sou idiota! - exclamou ele, o único aluno do terceiro ano na sala - Por que fui dizer aquilo?!

—Eu não sei - disse professor Otávio, tirando os olhos do jornal que lia ao ouvir o garoto falar sozinho - Mas acho que isso não vai influenciar nas questões que te passei.

—Não, não, é outra coisa - falou ele.

—Tem a ver comigo? - perguntou o professor.

—Não - respondeu Renan.

—Então não me interessa - disse o professor, voltando os olhos para o jornal.

“Agora nunca vou conseguir olhar a Anne de novo”, pensou Renan. “O que ela vai dizer? E se ela me der um fora?”

O garoto ficou o dia todo na sala, evitando o máximo possível de entrar em contato com Anne. Na hora da saída, contudo, ele não conseguiu evitar de encontrar outra pessoa. Enquanto se esgueirava para não ser percebido pela garçonete, alguém chegou de mansinho atrás dele e o tocou no ombro. Renan sentiu um arrepio, mas não gritou. Seu alívio foi maior que o susto quando olhou para trás e viu Márcia.

—Ah, é você - disse ele.

—E aí? - cumprimentou ela - Que cara é essa? Parece que viu um fantasma.

—N-Não é nada - gaguejou Renan.

—Não mesmo? Você parece preocupado…

—Promete que não vai contar nada para a Anne?

—Sobre o quê?

—Sobre eu estar fugindo dela! - disse Renan, envergonhado.

—Fugindo? - estranhou Márcia - Esquisito. Achei que você gostasse dela.

—O problema é justamente esse - disse Renan, explicando logo em seguida tudo que aconteceu no final da corrida.

—Ah, então foi isso - entendeu Márcia - Parabéns pela coragem. Já está bem na frente do soldado Caxias.

—O policial da cidade? O que isso tem a ver com…

—Ah, deixa pra lá. Longa história, longa história - falou Márcia - Então você se declarou e saiu correndo? Nem ficou para ouvir a resposta dela?

—O medo foi maior - disse Renan - E se ela disser não?

—E se ela disser sim? - falou Márcia - Como você pode saber?

—Você acha que ela pode dizer sim? - perguntou Renan.

—Bom, eu não sei - disse a garota - Infelizmente, é difícil saber o que se passa no coraçãozinho da Anne. Só sei que gostaria muito de ver vocês juntos.

—Mesmo?

—Claro. Isso deixaria o Luciano livre para mim - explicou Márcia - Já falei que aqueles dois tem um monte de questões inacabadas.

—Então ela ainda gosta dele, não? - disse Renan - A resposta é óbvia.

—Depende - continuou Márcia - Com a sua confissão é possível que muita coisa tenha mudado na cabeça dela. Talvez ela pense melhor e decida tentar algo com você.

—V-Você acha? - gaguejou Renan.

—É possível, mas não posso garantir - disse Márcia - Sentimentos não são coisas que cabem em uma lógica pronta, Renan. Não adianta ficar tentando adivinhar.

—E o que eu posso fazer?

—Não tem jeito. Vai ter que encarar a fera - disse ela - Vá atrás da Anne e escute a resposta dela. Vou estar torcendo por vocês.

—Parece que é o jeito, né? - reconheceu Renan.

E por isso Renan estava na frente do restaurante, mais ou menos no horário de saída de Anne. Ela costumava sair antes dos pais para ter mais tempo de fazer suas lições, fato que ajudou Renan a não ter que encarar o resto da família. Ele podia, enfim, conversar a sós com sua crush, bem, se ele tivesse coragem de encontrar com ela.

“Não, não dá”, pensou ele. “Não vou ter coragem de falar com ela. Melhor desistir”

Renan já estava dando meia-volta, mas Anne estava saindo bem na hora que ele pretendia fazer isso.

—Renan? - chamou ela - É você, Renan?

—Ah, oi - disse ele, todo vermelho, olhando para trás.

—Puxa, você sumiu na escola - falou ela - Por que estava fugindo de mim?

—Ah, desculpa por aquilo. Falei sem pensar - falou Renan.

—Você está dizendo…

—É, aquilo…sobre gostar de…

—Então era mentira? Você não gosta de mim de verdade?

—Eu, eu…

—Pode falar - disse Anne - Só tem nós dois aqui.

—Não, não é mentira! Eu gosto mesmo de você! - disse Renan - É que...eu esperava falar isso de um jeito melhor…

Anne apenas sorriu ternamente e pegou nas mãos de Renan.

—Obrigada - disse ela - Aprecio seu sentimento. Tenho certeza de que é uma coisa sincera. Não é como o Luís ou o Ian que falam isso pra mim todo dia como se não significasse nada. Sei que, para você, deve ser algo que vem bem mais do fundo do coração.

—Espera, então você…

—O problema - disse Anne - É que eu não posso corresponder.

Renan deixou seu sorriso desaparecer depois disso.

—É porque você gosta de outra pessoa, não é? - disse Renan.

—Não é exatamente isso - falou Anne - É que eu realmente não sei o que eu sinto por essa outra pessoa.

—Essa outra pessoa...é aquele garoto da sua sala, não é? Aquele Luciano..

—Quem te falou isso? Foi a Ema?

—Não, mas não importa muito como eu sei - disse Renan - Você tem certeza disso?

De repente, Renan parecia mais corajoso. Ele fala isso olhando diretamente para Anne e, dessa vez, foi a garota quem desviou o olhar.

—Diz Anne, você tem certeza de que é com esse Luciano que você quer ficar?

—Não sei - falou ela, com algumas lágrimas nos olhos - Minha razão diz não, mas meu coração...meu coração diz outra coisa.

—Mas por quê? Eu vi vocês conversando na corrida e parece que se tratam como gato e rato. Por que você gosta dele?

—Eu não sei! - falou Anne, não conseguindo esconder o choro - Isso é o que mais me irrita. Eu não sei o que me chama a atenção nele. Sentimento não é o tipo de coisa que a gente coloca em uma lógica pronta.

—É a segunda vez que escuto isso hoje - disse Renan.

—Desculpa, Renan - falou Anne - Mas é melhor falar isso do que te enganar. Você quer que eu fique com você pensando em outro?

—Não, claro que não - disse Renan.

—Então...eu sinto muito. Muito mesmo - disse Anne, chorando.

—Eu entendo - falou Renan - Estou triste, mas, por outro lado, parece que um peso enorme saiu das minhas costas.

—Desde quando você gosta de mim? - perguntou ela.

—Acho que desde a primeira vez que conversamos - falou ele - Quando você chegou para mim interessada no meu quadro, confesso que te julguei como uma intrometida. Mas conforme fomos conversando...fui sentindo que éramos cada vez mais próximos.

—Então, o baile no festival, a corrida...você fez tudo isso comigo sofrendo calado?

—Pois é, né? Sou um idiota, pode falar - falou Renan.

—Por que você não me falou antes? - indagou Anne - Acho que se você tivesse me falado antes, a história poderia ter sido outra.

—Por quê?

—Não, nada - disse ela - Como eu falei. Sentimentos não tem lógica. Eles mudam sem a gente querer.

Renan apenas suspirou.

—Posso pelo menos te acompanhar até em casa? Como amigo? - falou ele.

Anne sorriu, limpando as lágrimas.

—Claro - disse ela.

Mais um guerreiro ferido em batalha. Bem, ainda tem muita vida pela frente, Renan. Continue lutando.


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Notas finais do capítulo

É, eu falei que iria começar um arco novo, mas mudei de ideia e preferi não enrolar muito na bomba que deixei no final do capítulo anterior.

"Sentimentos não seguem uma lógica" / "Vá atrás dela"

Por que minha própria personagem está dando conselhos que eu mesmo não sigo? Quando se trata de amor sou totalmente soldado Caxias. Kkkk

Agora sim, começamos outro arco no próximo capítulo. Até lá! :)



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