Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 113
Hiperatividade




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—É isso! - Beni parecia realmente animado agora - Você pode me ajudar com o meu treinamento!

Márcia, a atual babá, sorriu, acreditando que era uma boa oportunidade de melhorar seus laços com Beni.

—Legal. Mas o que exatamente você está treinando?

—Estou treinando para descobrir meus poderes ocultos! - disse ele, empolgado.

“Tá legal, acho que isso vai ser mais difícil do que parece”, pensou ela. “Ele tem quase onze anos, então deve gostar mesmo dessas coisas de menino. Heróis, poderes, sei lá. Vou entrar na dele!”

E foi o que ela fez.

—Tudo bem - disse Márcia - Quais poderes você acha que tem?

—Espera, você acreditou em mim? - disse Beni, admirado.

—Err...não sei se entendi direito, mas estou aqui para te ajudar! - falou Márcia, fazendo todo o esforço para entrar na brincadeira.

—Já entendi, você acha que eu tô brincando, né? - falou Beni, desconfiado.

—Bem, se você me explicar melhor a situação talvez eu entenda - continuou a babá, aplicando o pouco de psicologia infantil (ou pré-adolescente) que conhecia.

—É uma história longa, mas, basicamente, tenho a missão de proteger a Terra de uma ameaça!

E assim Beni contou tudo para Márcia, seus sonhos, sua missão e sua luta para descobrir quais são seus próprios poderes.

—E é isso - concluiu ele.

“Nossa, que imaginação!”, foi o que Márcia pensou após ouvir tudo aquilo.

—A última pista que tive foi do Afonso - falou Beni, após um suspiro.

—Afonso?

—É, é um elefante. Mas não um elefante comum. Você quer que eu te mostre?

—Claro - falou Márcia, animada por já estar se dando bem com Beni.

Os dois subiram para o quarto de Beni (um lugar bem bagunçado por sinal) e o garoto começou a procurar pelo seu elefante.

—Afonso, Afonso, cadê ele? - falou Beni, jogando as coisas para todos os lados.

“Ainda bem que eu sou paga só para cuidar dele e não para arrumar o quarto”, pensou Márcia.

—Ah, já sei - falou o garoto - Lembrei que coloquei ele no armário lá em cima. Vou ter que pegar um banquinho para subir lá e…

—Ah, relaxa - disse Márcia - Eu alcanço. Pode deixar que eu pego pra você.

Márcia abriu o armário e foi atingida na mesma hora por uma avalanche de coisas, entre caixas velhas, sapatos gastos e brinquedos usados.

—É que eu vou jogando as coisas aí - explicou Beni - Márcia?

Márcia ainda estava atordoada com o monte de coisas que caíram em cima dela.

—Ai, caramba! - gritou Beni, desesperado - A babá morreu! A culpa não foi minha, juro que não. Será que são as forças do mal já agindo para me impedir?

Mas a garota começou a se mexer.

—Ai, que bom. Ela tá se mexendo - falou Beni - Já te ajudo.

Ele tirou um pouco do excesso de coisas que caiu e finalmente foi capaz de tirar Márcia daquele sufoco. Sufoco mesmo, considerando que uma das meias de Beni foi parar bem na cara dela.

—Aff...que horror - disse ela - Há quanto tempo não lavam essa meia?

—Ah, acho que uma vez cheguei em casa depois de andar num dia de sol e só joguei ela aí em cima - explicou ele - Às vezes eu faço isso.

—Esse troço é quase uma arma biológica - falou Márcia.

—É isso! - exclamou Beni - Chulé super forte pode ser um dos meus poderes. Vou anotar isso. Tá decidido. A partir de hoje não lavo mais os pés para aprimorar ainda mais minha força e…

—Não! - gritou Márcia, para susto do garoto - Quero dizer...acho que seu poder deve ser uma coisa mais grandiosa do que isso.

—Sério? Achei que seria um poder legal - resmungou ele.

—Por falar em banho, já tá na hora de tomar banho, não acha? - falou ela - Sua mãe falou que você ainda não tinha tomado.

—Ah, relaxa. Banho demais faz mal pra pele - disse ele.

—E se você tiver um poder oculto de controlar a água? - falou Márcia - Tomar banho pode ajudar nisso, não acha?

Beni pensou nisso e acabou concordando.

—Nossa, tem razão! - disse ele - Vou tomar banho agora!

Márcia sorriu.

“É só entrar na dele que funciona”, pensou ela. “Levo jeito pra isso”

—Bora tomar banho! - exclamou Beni, tirando toda a roupa de uma vez.

—Ei, o que você tá fazendo?! - falou Márcia, espantada e encabulada.

—Indo tomar banho, ué? Foi você mesma que mandou!

—Mas tira a roupa no banheiro, né? Você já tem quase onze anos! Não pode simplesmente correr pelado pela casa!

—É? Tá bom, vai - falou ele, se embrulhando na toalha e indo para o banheiro.

“Pelo jeito ele amadurece mais devagar. Com onze anos os meninos da cidade já chegaram na puberdade”, pensou Márcia.

E finalmente, Beni terminou seu banho e já estava de pijamas.

—Agora sim, tá limpinho - disse Márcia, ajudando a secar o cabelo dele com a toalha - Daqui a pouco a gente janta.

—Podemos pedir pizza para jantar? - disse ele.

—Sua mãe deixou janta pronta - falou ela - Além disso, quem vai pagar pela pizza?

—Ué? Mas você não recebeu dinheiro para ficar aqui?

—Sim, mas não vou gastar com pizza, né?

—Por que não? Dinheiro não serve justamente para gastar com comida?

—Quando você crescer mais, vai descobrir que precisamos guardar dinheiro para comprar outras coisas.

—É verdade. Tipo comprar um videogame, né?

—É, isso também - falou Márcia, sorrindo.

—Por falar nisso - falou Beni - Por que não jogamos um pouco? Duvido você ganhar de mim!

—Tá bom, vamos jogar um pouquinho - concordou Márcia.

Após um pouco mais de uma hora, Beni já começou a ficar nervoso.

—Ei, você tá roubando! Não é possível!

—É que estou acostumada a jogar esse lá na cidade - falou ela - Anos de experiência.

—Você sabe todos os golpes. Não vale - reclamou Beni. Eles estavam jogando um game de luta.

—Ah, é prática, né?

—Já sei - disse ele - Você é uma enviada dos salvadores da Terra para me treinar, não é? Por favor. Use sua sabedoria para me ensinar!

“Desde quando jogar videogame é um poder para salvar a Terra?”, pensou Márcia.

De qualquer maneira, os dois continuaram jogando por mais algum tempo, até que o celular de Márcia tocou.

—É, hora da janta - disse ela - Chega de games por hoje.

—Ah, mas ainda preciso dominar aquele combo que você fez e…

—A gente já jogou demais, Beni - disse ela - Agora é hora de comer.

—Mas…

—É sábio de um grande herói dominar seu próprio tempo - falou Márcia.

Beni pensou um pouco.

—É, tem razão - concordou ele.

“Até que não é tão difícil assim de lidar com ele”, pensou a garota.

No jantar, Beni tentou deixar a salada de lado, mas Márcia já estava preparada para isso.

—E a salada? - perguntou ela.

—Essas verduras não são gostosas - disse ele - Come você e depois fala para a minha mãe que eu comi, vai? Nunca te pedi nada.

“Na verdade, já pediu bastante coisa, né?”, pensou Márcia, mas se manteve firme.

—Nada disso - falou ela - Verduras são importantes para manter seu organismo forte. Como você quer salvar a Terra sem os nutrientes certos?

—É, tem razão - disse ele - Posso pelo menos temperar do jeito que eu gosto.

—Claro - disse ela.

Infelizmente, Beni praticamente derramou a garrafa de vinagre inteira na salada. O problema é que ele não fez isso só no prato dele, mas na travessa de salada toda.

—Com vinagre fica bem melhor - disse ele.

Márcia colocou uma garfada na boca, mas não aguentou o gosto forte.

—Que forte. Como você aguenta?

—É tão bom! - disse ele.

Bem, pelo menos ele colocou vinagre demais na salada e não na carne (como Kelly fez outro dia).

—Ai, não vou aguentar comer isso…

—Como assim, Márcia? Você devia dar o exemplo para mim e comer suas verduras direitinho.

“Tô começando a achar que ele fez de propósito”, pensou a garota.

Seja como for, os dois jantaram e assistiram um pouco de televisão. 

—Espera, esse filme é maneiro - disse ele - Tem umas tripas e sangue saindo o tempo todo e…

—Ah, vai ficar para depois - disse Márcia - Agora é hora de dormir.

—Mas já? 

O grande desafio das babás, a hora de dormir.

—Isso mesmo - falou ela - Se não dormir direito, não vai crescer o bastante para ficar mais forte.

—Isso não! Quero ser o cara mais alto que conheço! - exclamou ele.

—Então…

—Tá bom, vamos lá.

Assim, Márcia estava prestes a colocar Beni na cama, mas ainda havia mais um desafio.

—Pode contar uma história para eu dormir? - falou ele.

—História? Mas você já tem quase onze anos!

—E daí? É sempre bom ouvir histórias. Assim pego no sono mais fácil.

—Se você vai dormir com isso, então acho que dá para tentar. Tá legal.

Como será essa história?


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Notas finais do capítulo

Beni tem quase onze anos, já que está na sala da Briana, mas agora estou percebendo que seria bem melhor se ele fosse mais novinho. Kkk. Estou me inspirando no Calvin das tirinhas do Calvin & Haroldo para construir algumas partes dele.

Apesar de ser um arco bem dispensável estou gostando bastante de escrever. No próximo capítulo veremos como isso acaba. Até lá!



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