Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 109
Erro de cálculo




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Depois de acidentalmente engolir uma das pílulas do amor feitas por Luís, Anne foi vendada por Kelly e levada até o restaurante. Naquela altura da tarde, o movimento já tinha diminuído bem e foi possível acomodar Anne com mais tranquilidade. 

—Ah, Kelly, amor. É sempre bom receber sua visita! - disse Gustavo, funcionário do restaurante, correndo para os braços de sua amada. Mas, ao ver que ela estava acompanhada de uma Anne de olhos fechados, freou seu impulso rapidamente - A-Anne? O que aconteceu?

—Anne! - disse Carla, a mãe - O que você tá fazendo? Tá matando hora de trabalho pra ficar brincando por aí?

—Brincando? - disse Briana, que também estava por ali ajudando a família como podia - Do que você tá brincando, Anne? É cabra cega?

—Que cabra cega que nada! - disse Anne - Mas eu não posso tirar essa venda dos olhos de jeito nenhum!

—E posso saber por quê? - perguntou Carla.

—Bem, isso eu posso explicar - disse Luís, coçando a cabeça. 

—É. Pode começar - disse Anne - Afinal, nada disso estaria acontecendo se não fosse pela sua invenção maluca!

E assim Luís explicou a situação. Carla não acreditou muito no que ouviu.

—Vocês acham que eu nasci ontem para acreditar numa história dessas? - reclamou a mãe - Deixa dessa brincadeira e volta para o trabalho, Anne.

—Eu também gostaria que fosse mentira, mas não dá pra subestimar o perigo das invenções do Luís - falou Anne.

—Por favor, não diga isso. Vai me fazer parecer um cientista louco!

—Espera, espera - disse Antenor que, no meio da confusão, veio ver o que estava acontecendo e ouviu toda a história - Sei bem que o Luís é um garoto bem inteligente. Aqueles patins turbo que ele usou no exame para garçom só podia vir de uma mente brilhante.

—Obrigado, sogro - disse Luís - O senhor é mesmo incrível!

—Sogro é o escambau! - reclamou Anne.

—Calma, calma - disse Ema, tentando amenizar a situação - Eu entendo muito bem essa divisão de opiniões. Então proponho um teste para provar que estamos falando a verdade.

—Teste? Que teste? - estranhou Luís.

—Simples - continuou Ema - Samara, venha aqui.

—E-Eu? - falou Samara que, até agora, só estava acompanhando tudo em silêncio.

—Sim, você - confirmou Ema - Tome a pílula e olhe para o Luís.

—QUÊ?! - Luís e Ema gritaram juntos.

—Isso mesmo - disse Ema - Vocês provariam para a família da Anne que estão falando a verdade.

—M-mas eu não quero ficar apaixonada pelo Luís! - disse Samara.

“Eu te entendo”, pensou Anne.

—E eu também não quero essa salva-vidas de aquário atrás de mim! - reclamou ele.

—Não quero ouvir isso de você! - retrucou Samara, excepcionalmente sem gaguejar.

—Ah, eu acho que ficariam fofos - disse Briana.

—Sim, Briana, você tem bons olhos! - disse Ema - Com treino pode ser uma shipper incrível no futuro!

—Posso? - disse Briana, animada.

—Ei, não vem influenciar minha irmãzinha, não! - reclamou Anne.

—Bem, eles não parecem estar brincando - comentou Gustavo - O problema parece mesmo sério.

—É verdade, dona Carla - disse Kelly - A Anne não iria inventar algo assim só para escapar do trabalho.

—Ai, ai. Tá bom. Vamos supor que isso seja verdade - admitiu Carla - Se for, como ela vai trabalhar assim? Não quero que ela se apaixone pelo primeiro cliente que passar pela porta. E se for um pé rapado? Não quero minha filha se engraçando com qualquer um!

—Acho que a felicidade dela também conta nisso, não é, amor? - falou Antenor.

—Não é tão trágico - falou Luís - Lembra? Eu disse que só dura vinte e quatro horas.

—Mesmo assim - falou Carla - Vou perder uma funcionária por um dia inteiro. 

—E eu vou perder o pagamento de um dia. É culpa sua, Luís!

—M-Mas foi um acidente! - Luís tentou se defender.

—Dinheiro não é problema - disse Ema, assumindo a frente - Eu pago seu dia de trabalho.

—Não precisa fazer isso, Ema - continuou Anne - Se o Luís é quem fez a pílula, ele é que deve pagar.

—É que...parte da culpa também foi minha - falou Ema - Se eu não ficasse provocando ele, a pílula não teria escapado.

—Tá boazinha demais para o meu gosto… - comentou Anne - Sorte a sua que não posso tirar essa venda pra ver a sua cara.

—Como você é desconfiada - disse ela - O que tem demais em querer ajudar minha amiga?

—Se você não se importa, então que seja - falou Carla - O jeito é ela ficar isolada por um dia até o efeito dessa coisa passar.

—O efeito dura só vinte e quatro horas, não é? - perguntou Antenor.

—Espero que sim - disse Luís.

—Espera? - perguntou Carla.

—Pelo modelo do computador - explicou Luís, ajeitando os óculos - Cada pílula dessa nova remessa tem uma previsão de vinte e quatro horas. É o que a teoria diz.

—Você tem certeza, né? - perguntou Kelly.

—Claro. Vou até mostrar para vocês os cálculos. Aqui no meu celular tem uma versão do sistema que eu estava usando - Luís tirou o celular do bolso, mexeu em algumas funções e olhou para o gráfico - Ops...

—Não gostei desse “ops” - comentou Anne - Desembucha, safado.

—É que...acho que teve um pequeno erro nos cálculos - disse Luís - O computador fez uma nova previsão e corrigiu os dados.

—E? - perguntou Carla.

—E então é possível que essa pílula dure tempo indeterminado - disse ele.

—Tempo indeterminado?! - todos falaram em uníssono.

—O que você quer dizer com “tempo indeterminado”? - questionou Anne.

—Bem, em outras palavras, o efeito...pode ser...permanente - disse Luís, falando baixinho em “permanente”.

—Ai, meu Pai amado! - Carla quase desmaiou - Ela vai ter que usar venda o resto da vida? Antenor, pode ir procurando outra garçonete.

—Mãe! O fato de eu estar condenada a ficar assim não te incomoda, não?

—É, tem isso também - disse Carla.

—Não há nada que possamos fazer? - perguntou Antenor.

—Bem, eu poderia criar um antídoto e...

—É isso! - disse Gustavo - Se tem como fazer, tem como desfazer. Vocês cientistas são bons nisso, não são?

—De onde você tirou essa ideia? - perguntou Luís.

—Você pode fazer isso, Luís? - perguntou Briana - É pelo bem da minha irmã.

Os olhinhos de Briana derreteriam qualquer um, então é claro que a resposta dele não poderia ser mais direta.

—C-Claro - disse ele - Posso fazer isso, sim.

—Ah, que bom! Viu, Anne? É só ele fazer o antídoto! 

—Será que você consegue isso o quanto antes? - perguntou Anne.

—Bem, pode levar um tempinho - disse ele - E, sabe, preciso fazer algumas pesquisas…

—Mas ele consegue, sim - falou Briana - Lembra? Ele fez rapidinho o antídoto para aquela galinha gigante voltar ao normal.

—Nem me lembra disso - reclamou Anne.

“Mas se é mesmo tempo indeterminado”, pensou Luís. “É a minha chance de conseguir ficar com a Anne de vez. Não, não. Eu falei que só tentaria fazer isso honestamente, mas...uma oportunidade dessas…”

—O que você tá esperando, garoto? - disse Carla - Vai logo preparar esse antídoto ou sei-lá-o-quê.

—S-Sim, senhora - falou ele - É pra já!

—E-Eu também já vou indo - disse Samara - Até mais!

Depois que Samara e Luís saíram de cena, Carla se voltou para Anne.

—Bem, Anne - disse ela - Acho que o melhor é ir para casa, não é?

—É. Não posso ficar aqui de olhos vendados - disse ela - Mas preciso que alguém me leve.

—Deixa comigo - disse Ema - Eu te levo, Anne.

—Tá, obrigada - disse Anne - De novo, tá boazinha demais, não acha, não?

—Eu sou boazinha, meu anjo - falou Ema.

—Acho que quando você se priva de um dos sentidos, os outros ficam mais aguçados. O tom da sua voz tá dizendo que você tá aprontando alguma.

—Deixa de ser desconfiada - retrucou Ema - Vamos logo, eu te levo pra casa.

E assim foi. Ema deixou Anne em casa, onde ela finalmente tirou a venda. Parecia seguro, já que as duas eram meninas.

—Bem, pelo menos já sei que a pílula não funciona com duas meninas - disse Anne - Não é meu estilo.

—Muito menos o meu - disse Ema - Mas recomendo que você use a venda dentro de casa também. Vai que você olha sem querer para algum homem passando pela janela.

—Ai, nem me fala - disse Anne - Vou ficar é bem quieta no meu quarto e de janela fechada.

—Bem, então é isso - falou Ema - Vou indo nessa.

—Valeu. Ah, e desculpa. Achei que você tava armando alguma, mas obrigada pela força.

—Para isso que servem as amigas - disse Ema.

As duas se abraçaram e Ema saiu da casa de Anne direto para a lanchonete.

“Se o que aconteceu é verdade, essa oportunidade eu não posso perder!”, pensou ela. É, certas coisas nunca mudam.


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