"That's What Friends Are For"

I

Se há 14 anos perguntassem a Donna o que ela faria caso Lauren voltasse para casa, ela provavelmente diria que a expulsaria por abandonar a família e destroçar o coração de seus pais. Mas agora, depois de dois filhos e muitos aprendizados, Donna sabia que mesmo irritada, seria incapaz de separar uma mãe de sua filha. Ver o sorriso no rosto de Kitty compensava a raiva que Lauren fez durante os últimos anos.

Donna puxou Anne para um último abraço sentindo a filha se remexer inquieta em seus braços.

—Mãe, eu não vou embora para sempre. - Anne resmungou. Ela então soltou a filha desejando do fundo do coração que ela não fosse tão Lauren. - Mamãe, eu não sou a tia Lauren, eu não vou deixar você. Muito provavelmente você terá que me expulsar para eu sair de casa. - ela sussurrou baixinho como se soubesse o que se passava na cabeça dela. Donna às vezes se esquecia que Anne também era filha de Eric e havia herdado toda a sua compaixão e a veia dramática. - Agora me deixa ir.

Donna assentiu lentamente. Anne sorriu para ela e então se virou seguindo Betsy que já saía da cozinha em direção a garagem. Como parte do presente de aniversário para o casal Forman, Brooke havia convencido Betsy a cuidar das crianças por aquela noite enquanto os adultos se divertiam. A segunda parte do presente era uma ida ao SPA para a Kitty e ingressos de um jogo para Red.

—Eles crescem tão rápido. - Kitty murmurou enquanto ajeitava os aperitivos na bandeja. - Em um segundo eles estão chorando para não saírem de casa, já no seguinte eles estão se mudando para Boston porque uma vadia ruiva quer.

Donna fechou os olhos sentindo a irritação de Kitty por meio de voz.

—Sra. Forman, eu não vou brigar com você na véspera do seu aniversário de casamento. - ela disse olhando para a mulher. - Que tal deixarmos isso pra segunda?

—Mamãe, onde deixo essas cervejas? - Lauren indagou deixando as latas em cima do balcão.

—Leve-as para o porão, pra que elas gelem. - Kitty disse antes de empurrar a bandeja para Donna. - Você leve isso para sala e diga a Steven que eu estou preparando alguns drinks sem álcool para ele.

—Pensei que Hyde fosse o primeiro a querer ficar bêbado hoje. - Lauren falou. Donna a olhou por cima do ombro antes de dizer.

—Hyde não bebe mais.

—Por que não?

—Eu não sei. Ele nunca falou sobre isso. - Donna deu de ombros e então passou pela porta até sala de estar.

Donna deixou a bandeja em cima da mesinha de centro, quando ergueu a cabeça seus olhos encontraram Eric, seu marido tinha o olhar fixo no casal sentado no sofá, ela virou o rosto e se surpreendeu ao encontrar Jackie e Hyde jogando xadrez, os dois conversavam em voz baixa, mas era óbvio o clima entre eles. Donna observou que Hyde parecia muito mais atento ao rosto de Jackie do que as peças no tabuleiro. Havia algo de diferente neles dois, algo que ela não sabia explicar, mas tanto Hyde como Jackie tinham aquela aura de felicidade.

—Brooke, você me ajuda com as bebidas? - Donna indagou indicando a porta da cozinha. A Kelso se levantou e seguiu a Forman até o outro cômodo. - Ok. Precisamos urgentemente descobrir o que está acontecendo entre eles dois. E eu tenho um plano para fazer Hyde falar, mas preciso de sua ajuda.

—Qual sua ideia? - Brooke questionou cruzando os braços.

—Temos que fazer o jogo das 20 perguntas. É a única maneira de fazê-lo falar a verdade.

—Oh querida, Steven nunca aceitará isso. Ele prefere morrer do que ser sincero na frente de todos. - Kitty disse passando por elas com a forma cheia de enroladinhos de salsicha até o forno. - Ele nunca dirá a verdade.

—Ah mas ele vai. Apenas tenho que fazê-lo achar que ele não tem outra alternativa. - Donna explicou. - Hyde pode ser um idiota, mas é um idiota que honra sua palavra. Tenho que fazer com que ele prometa que será sincero.

—E como você pensa em fazer isso? - Brooke indagou a olhando ansiosa.

—Vamos fazer Hyde perder em algum jogo e como punição ele terá que participar das 20 perguntas.

—Donna, acho que você se esqueceu que Hyde é bom em qualquer jogo. - Brooke disse arqueando uma de suas sobrancelhas. - Ele praticamente cresceu em um bar.

—Não se preocupe com isso. Steven Hyde vai perder esta noite. - Donna assegurou enquanto se afastava de Brooke e fazia seu caminho até o porão.  

II

—Quem está afim de jogar Monopoly? - Donna indagou erguendo a jogo e sorrindo animadamente. Brooke notou a expressão chocada no rosto de Hyde e teve que se segurar para não rir. - Lembrando que quem perder esse jogo deverá passar pelas vinte perguntas.

—Oh! Oh! Isso vai ser tão divertido! - Kitty exclamou batendo palmas. Brooke assentiu em afirmação sorrindo com a situação. - Red, querido, venha jogar.

—Não. Eu não gosto disso e não gosto do que ela está armando. - Red disse sem desviar o olhar da televisão, Brooke olhou para Donna esperando que ela tivesse alguma reação, mas a mulher apenas deu de ombros e começou ajeitar o jogo em cima mesinha de centro.

—Eu também me recuso a jogar. - Hyde falou cruzando os braços e incorporando a pose de garoto rebelde. - Este jogo é apenas uma amostra de como um governo capitalista pode controlar nossas vidas vida. E como dinheiro é capaz de mudar as pessoas. Isso vai contra todas os meus princípios.

—Steven, cala a boca. Você tem um gravadora e definitivamente se vendeu para “os homens”. Então senta logo sua bunda aqui e me veja ganhar. - Jackie disse já escolhendo a peça para lhe representar. Hyde em silêncio, porém ainda emburrado, se sentou no chão ao lado dela. Jackie sorriu e estendeu uma das peças para ele.

—Ótimo, já que estamos todos acomodados, podemos começar. - Donna sorriu enquanto pegava os dados e estendida para o rebelde de óculos escuros. - Hyde quer fazer as honras?

—Não. Me recuso a me vender para isso.

Brooke franziu a testa, mas ignorou o padrinho de sua filha. O plano de Donna era realmente algo genial. Aquele era obviamente o único jogo que Hyde se recusaria a ganhar.

E embora houve segundas intenções por trás daquela farsa, as coisas não foram menos divertidas.

Brooke nunca pensou como eles realmente eram competitivos até aquele momento, mas Monopoly podia apresenta o pior de uma pessoa. E Kitty era o melhor exemplo para aquilo, sua cadeia de hotéis havia sido conquistada a base de pequenas extorsões e ameaças, fora do jogo. Já Michael havia saído no braço com Eric e Fez por conta de alguns notas que sumiam e desapareciam em meio às calças dele. Lauren conseguiu convencer Fez a lhe vender alguns de seus patrimônios que ela rapidamente repassou a Jackie por um preço mais alto. Donna tentava não gritar com os idiotas, mas parecia difícil quando se tinha apenas alguns milhares de dólares e dois carros conversível.

Mas no fim Jackie ganhou, ela havia conseguido falir Fez, endividar Eric e Michael, enganar Kitty para comprar seus hotéis, tomar meio milhão de Donna e deixar Lauren vivendo uma boa vida em sua ilha particular. Ela era como um pequeno gênio do mal.

—Não dá pra saber se ela fez um pacto com o diabo, porque ela é o diabo. - Eric resmungou jogando o que restou de seu dinheiro para Jackie.

—Por favor, né? Eu sou boa em tudo. - ela disse sorrindo e então se virou para Hyde. - Eu não sou, Steven?

—Como você quiser, boneca. - ele murmurou indiferente. No final, Hyde havia mesmo mantido sua palavra, ele não tinha se movido ou participado do jogo em si. Tudo para não se vender às grandes corporações.

—Agora que sabemos quem é o grande vencedor. Está na hora do perdedor pagar. - Donna falou olhando diretamente para Hyde. - Hora das 20 perguntas.

—Eu posso me recusar a fazer isso? - ele indagou enquanto se levantava e se sentava no sofá.

—Não! Você concordou com isso. Então terá que ser sincero com suas respostas. - Donna disse. - Eu, Eric, Kelso, Brooke e Fez faremos cada um cinco perguntas, então Brooke te fará elas e você realmente tem que respondê-las, Hyde.

—Hey! Isso não é justo. Você sabe que eu não minto para a Brooke. - Hyde resmungou cruzando os braços.

—E é aí que está o fato. Ninguém mente para a Brooke. - Eric disse sorrindo para o irmão adotivo.

—E por que eu não posso participar? - Jackie indagou irritada.

—Porque se você não percebeu, o objetivo do jogo é arrancar algumas verdades desse ex-órfão psicopata. E por algum motivo, você parece saber mais sobre ele do que nós. Então você fica de fora. - Donna falou. Jackie abriu a boca indignada, então se virou e caminhou até a escada onde se sentou nos degraus. - Vamos lá.

—Aí, eu gostaria tanto de participar. Steven é igual a Red, seria bom saber o que ele está pensando. - Kitty disse enquanto juntava as peças dentro da caixa.

—Você pode ficar com três das minhas perguntas, sra. Forman. - Brooke sugeriu fazendo a mulher sorriu. - Eu só preciso de duas mesmo.

—Oh Brooke, você é um anjo.

—Ótimo pequeno órfão, vamos saber seus segredos mais profundos. - Eric disse apontando para Hyde. - Se prepare para chorar.

—Eu não vou. Cara, eu sou um livro aberto. - Hyde afirmou relaxando no sofá. Jackie, ainda nas escadas, soltou uma risada irônica. - Calada, pigmeu!

—Você tem sorte de eu estar com os meus sapatos favoritos ou eu os arremessaria em você! - Jackie grunhiu fazendo todos na sala rirem.

Donna voltou para sala segurando um bloco canetas e um aquário vazio.

—Vamos lá, cada um pega um pedaço de papel e escreve suas perguntas. Eu vou ler cada uma para ver se não a repetidas. - Donna explicou deixando o aquário sobre a mesinha deixando de centro. - Que comecem os jogos.

III

Kitty estava em êxtase com aquela brincadeira. Ela sabia que muito provavelmente Steven mentiria sobre muitas coisas, mas seria bom ver pelo menos um pouco de verdade em seus olhos. Jackie ainda estava emburrada na escada e Red fingia indiferença diante deles. Kitty observou Brooke mexer no aquário vazio pegando a primeira pergunta.

—Hyde, tira os óculos. - Donna ordenou. Steven bufou, mas retirou o acessório e entrou para a jornalista. - Brooke, comece a tortura.

—Hyde, antes de começarmos saiba que você não é obrigado a responder nenhuma dessas perguntas se não quiser, não vamos forçá-lo a nada. - Brooke disse recebendo gemidos e desgostos e exclamações de repreensão.

—Buu! Brooke! Buu!

—Idiotas. - a Kelso resmungou antes de continuar. - Primeira pergunta, por que você usa esses malditos óculos escuros?

—Estilo. - Steven disse dando de ombros.

—Mentiroso. - Jackie cantarolou da escada.

—Ok. Meus olhos são sensíveis.

—Mentiroso.

—Jackie, isso funciona melhor se você calar a boca. - Steven cuspiu fazendo Jackie bufar.

—Steven, isso funciona melhor se você abrir a boca e dizer a verdade. Mas agora me lembro que você não é muito bem com a verdade.

—Ah não! Eu não vou cair nesse seu joguinho de novo.

—E quem está fazendo joguinhos, Steven? Eu sou clara como água.

—É, água durante um furacão. - ele murmurou revirando os olhos. O sapato voou quase acertando o rosto dele, Steven arregalou os olhos em direção a Jackie, porém a morena apenas voltou a se sentar ignorando os olhares perplexos.

—Esse definitivamente foi o melhor burn sem fala que eu já vi. - Michael afirmou segurando a risada. Brooke revirou os olhos, mas ignorou o marido.

—Segunda pergunta, Qual foi sua última bebida?

—Cerveja quente… eu acho.

—Terceira pergunta, qual sua música secreta favorita?

Steven desviou o olhar de Brooke para Jackie, que ainda o ignorava.

—Angel Eyes, ABBA. - a resposta fez Jackie se virar para ele com um sorriso no rosto, a mudança repentina de humor não passou despercebida por Kitty.

—Oh Steven! Eu sabia que você acabaria se contagiando com o meu grandioso gosto musical.

—Não. É porque essa música é a menos enjoada de todas. - ele afirmou, mas nem a resposta seca fez o sorriso de Jackie desaparecer. Kitty sorriu também, observando como Steven conseguia fazer Jackie sorrir com apenas algumas palavras. - Brooke, próxima.

—Qual foi o melhor show de sua vida?

—The Rolling Stones, New York, 16 de março de 1991. - Steven respondeu sem hesitar, Jackie franziu a testa e pareceu preste a dizer algo, porém parou. Kitty torceu a boca imaginando o que estava se passando pela cabeça da pequena morena.

—Quarta pergunta, essa é muito boa. Qual o seu maior erro?

—Chicago. - Steven afirmou, Kitty arqueou a sobrancelha surpresa. A sala foi tomada pelo silêncio enquanto todos processavam a resposta tão inesperada e verdadeira.

—Ownnn, pelo menos você sabe disso. - Brooke murmurou fazendo-os todos rirem. - Próxima, por que você se casou com uma striper?

—Porque eu sou um panaca.

—Eu nunca duvidei disso. - Red murmurou sorrindo. - Você estava certa, Kitty. Isso definitivamente é divertido.

—Que bom que a minha humilhação lhe diverte, Red. - Steven disse sorrindo ironicamente.

—Não se ache demais. A humilhação de qualquer um de vocês pode muito bem me divertir.

Kitty revirou os olhos com a fala do marido e então se virou para Steven.

—Red não está falando sério.

—Estou sim.

—Hyde diga a verdade. Por que você se casou com uma striper? Embora eu ache que a profissão dela já seja uma boa justificativa.

—Michael!

—Eu apenas estou dizendo, Brooke!

—Eu me casei com Sam porque eu era um panaca. E também porque era único jeito de me manter longe de Jackie. - Steven disse dando de ombros.

—É por que você queria manter longe de Jackie? - Donna questionou intrigada com a resposta dele.

—Porque eu sabia que de alguma maneira eu conseguiria magoá-la ainda mais. Eu não queria machucá-la e me odiei toda vez que a deixava triste. Mas naquele momento parecia melhor deixar que ela achasse que eu gostava de Sam, porque assim ela poderia seguir em frente.

Kitty sorriu minimamente encantando com aquelas palavras. Era reconfortante saber que mesmo durante aquele caos que foi 79, Steven ainda se importava com Jackie.

—E com essa ótima resposta podemos passar para a próxima pergunta. - Brooke disse também mantendo um sorriso maroto no rosto. - Com quem foi seu primeiro beijo?

A expressão no rosto de Steven de repente mudou, sem os óculos era possível ver que sua indiferença havia sido substituída por uma certa tensão.

—Acho que essa pergunta bateu em algum ponto? - Kitty afirmou sorrindo.

—Você disse que eu não precisava responder se não quisesse e essa eu não estou afim de responder. - Steven disse a Brooke.

—Por que não, Hyde? É tão humilhante assim? Ou a garota te bateu depois do beijo? Já sei, foi tão ruim que ela chorou ou você chorou? - Eric questionou com a voz carregada de sarcasmo. Steven então cruzou os braços já cansado do amigo e com um sorriso irônico disse.

—Não, cara. É porque foi com sua irmã.