O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 27
27: Um discurso de um meio lobo


Notas iniciais do capítulo

Vocês não sabem o quanto cavei para sair do atoleiro e trazer esse capitulo que estava meio escrito há meses!
Pelas minhas contas, o último foi 8 meses atras. Aaaa! Desculpa fazer pausas tão grandes! Dessa vez quase deu para nascer um filho! Kkkk.
Eu amo escrever e contar essa história, mas a vida é um rio que eu nem sei nadar e ela me joga para longe... Quando penso em voltar para concluir surgem outras coisas e prioridades. Às vezes sinto que mal tenho tempo para mim e me perdi, imagina para relaxar escrevendo?... Mas, em fim, sigo determinado a mostrar para todos que ainda acompanham o final que planejei láaaaaaaaaa em meados de 2019. Boa leitura!

(Estarei fazendo um revisão depois de postado atras de erros que não vi :*)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774445/chapter/27

Névoa e Carvão fugiam dos lobos da alcatéia que estavam bravos, porém, quando nos viram, três humanos feiticeiros parados no meio da clareira do lago congelado, o grupo parou e formou uma linha a certa distância, soltando rosnados e encarando. Era possível ouvir estalos distantes do gelo, o vento soprava suave e frio e a lua cheia trazia muita luz para o espaço aberto. Observando-os enquanto os irmãos se uniram a nós, conclui que não havia mais rebeldes entre eles então, segurando minha própria calça que ainda estava solta, me levantei e dei alguns passos à frente. Os lobos tinham cautela com os humanos e ali estavam diante de três, Mejem, Agatha e eu, mas não pareciam estar cedendo ao medo.

Logo atrás de mim, meu mestre estava sério e com o cajado em mãos pronto para lutar se necessário, apesar de seu corpo velho já estar cansado por todo aquele evento que se arrastava para a madrugada. Tremi quando senti minha pele úmida fria e meu corpo bem dolorido por causa da súbita destransformação da minha versão monstro, com certeza era extraordinário que eu ainda estivesse consciente depois de tanta magia ter passado por minha carne naquela noite, e acredito que Mejem também suspeitasse que eu não durasse muito tempo consciente.

Alguns lobos se moveram atentos em algum sinal de fraqueza que demonstrássemos. Lembrei-me do meu pai lobo alfa e o procurei no meio do grupo, mas ele não estava lá. Inspirei o ar gélido em um fôlego, agarrei e apertei mais na capa que Fiel deixou ao redor de mim, e falei alto:

— A loba traidora de seu alfa foi levada por um feiticeiro do mal! — Uma parte dos lobos ficou nervosa em poder me entender. — Mesmo que vocês tenham a acolhido em sua Família, ela não entendeu o sentido da união e nem reconheceu a história que levou o alfa até a posição de respeito de líder! Ela não era capaz de compreender a responsabilidade que um verdadeiro lobo-alfa carrega! Ter que ser o mais forte, medir conseqüências, mantê-los a salvos dos humanos, sustentar a paz do grupo e escolher um território com muita caça! São todas habilidades do alfa que guia vocês há tantos anos e vocês esqueceram-se disso muito fácil! De agora em diante, lembrem-se e se envergonhem da estupidez dessa revolta sem sentido! O alfa de vocês é muito forte e não merece isso novamente!

A alcatéia silenciosa não esboçou reação, contudo ouvi um rosnado baixo e solitário atrás e me virei para Mejem, de onde o filhote se remexia chateado de estar preso na bolsa, com um sinal de mão o homem me entendeu e soltou-o no chão. No início daquela noite o plano era buscá-lo para protegê-lo dos rebeldes e evitar que fosse morto, mas já não havia mais perigo. Meu meio irmão mais novo era um lobo puro sangue, com pelagem densa, amarelada e branca, o que o deixava mais fofo que qualquer outro que já vi, mas suas pernas eram longas e magras assim como seu corpo que não tinha muito músculos. Ao ser liberto, ele se acalmou e ficou parado olhando ao redor, chamei-o e ele veio corajosamente até deter-se ao meu lado encarando o grupo na frente. Agachei para acariciá-lo e não conseguia decifrar nada do que ele podia estar pensando ao olhar os lobos.

— Esse filhote herdou o sangue do alfa de vocês — eu ressaltei, falando para alcatéia. — Um dia terá a força e esperteza do pai e aprenderá tudo para mantê-los a salvo por logos anos no futuro.

Enquanto eu tocava e admirava meu meio irmão fofo de perto, que era alto como Fiel mas pouco encorpado, senti um rosnado baixo vibrar nele e suas orelhas virarem para trás brevemente antes de se voltarem completamente para a alcatéia enquanto sua cabeça se baixava levemente, atento. Logo pressenti a mesma hostilidade que o deixou mais focado na alcatéia:

— “És um mestiço ingênuo... Realmente acredita que compreende essas coisas?” — A voz veio de um lobo adulto. — “Ter um alfa tão experiente por tantos anos é uma sorte para todos que compartilham das caçadas de sucesso e de um território bem estabelecido. Contudo é um ciclo inevitável. Ele terá um fim e todos sabem que não há esperança deste herdeiro ser igual a ele em algum momento! Veja por si como ele é fraco, desatento e sem senso de perigo! É um inútil sem habilidades que perderá para qualquer inimigo que lhe morder a cauda!”

Os lobos passaram a olhar para o filhote ao meu lado, que ficou mais tenso e soltando suaves rosnados ao ver que começaram a se mover junto com o velho lobo que falava:

— “Esta cria adoece a cada mudança de estação. É fraco. Seu progresso é lento e ele corre de qualquer conflito... Aquele que desafiá-lo agora pela liderança futura irá nos poupar de sofrer tentando aceitá-lo quando o alfa não estiver mais vivo. E esta noite se torna propícia para mostrar até onde as pegadas deste herdeiro chegarão, já que podemos culpar o mestiço pelas conseqüências! Temos que ser rápidos!”

O lobo correu e os outros o seguiram. Mejem avançou um pouco na minha frente usando ataques que não atingissem o gelo, criando barreiras momentâneas e jogando lobos para longe como se os varressem. Névoa e Carvão se uniram a ele, avançando naqueles que passavam. Logo um lobo surgiu vindo do meu lado direito e o notei a tempo de reagir:

— Pare! — gritei e protegi meu irmão, a magia não muito intencional congelou aquele lobo enquanto mantive uma mão aberta na direção dele, mas logo me senti tonto e abaixei o gesto. O lobo inimigo saltou para cima de mim, mas fui ignorado e pisoteado, ele agarrou o filhote pelo pêlo do cangote e foi o arrastando para longe de nós. Sem pensar muito, dei um soco na cara dele, bem no olho, e ele soltou o lobinho enquanto meus dedos doeram depois de acertar um crânio tão duro. O lobo abriu a grande boca pronto para me morder, quase pude contar todos os seus dentes pontudos, mas Agatha me salvou, deslizando-o para longe com magia e gritando comigo:

— Luahn, é melhor recuar! — ela já estava segurando firmemente o filhote que queria correr dali. Concordei imediatamente e me virei para os dois irmãos que lutavam por nós, estiquei a mão e tentei usar um feitiço para trazê-los para perto, no entanto não teve efeito algum. Mejem assistiu meu movimento, entendeu e logo fez o feitiço com sucesso. Quando todos estavam juntos ouvi algumas falas de Agatha em um idioma estranho e fomos envoltos por uma névoa densa e acelerada por uma ventania. Fechei os olhos e não consegui mais entender o que estava acontecendo ou enxergar quem exatamente estava do meu lado, era tanto movimento, barulho e frio que acabei ficando mais tonto e enjoado, oscilando em direção ao que achei que era o chão.

...

Acordei em um trecho muito escuro da floresta onde quase não podia distinguir troncos, arbustos e galhos das sombras negras. Não havia som e nem sensações no meu corpo. Quando tentei me levantar do chão para procurar pelos outros, não consegui então apenas parei ajoelhado e confuso. De repente, distingui um paredão rochoso diante de mim, banhado fracamente pela luz azulada da lua e subindo infinitamente para o céu noturno. Um risinho surgiu no ambiente e de curioso procurei com os olhos até que vi uma pequena caverna, a dois metros do chão, de onde apenas a cabeça de algo pequeno, branco-esverdeado e que parecia ter uma áurea pulsante despontou, me encarando de volta com olhos grandes e escuros.

— Você morreu — a coisa disse direta e riu enquanto fiquei em choque. Mas dentro do meu peito meu coração batia rápido e surpreso então fiquei confuso.

— C-claro que não! — contestei um pouco nervoso. Eu tinha que trazer Fiel de volta e me desculpar por ser o culpado daquela vida que ele estava tendo, não podia partir assim. Claramente não podia ser verdade.

A criatura gargalhou, rodando dentro da caverninha até se acalmar.

— De fato, criança. O pós-morte pode não ser o que você espera, assim como aqui não é lá onde estava. Então onde é aqui?

Eu estava confuso de novo. Deveria ser eu a perguntar aquilo, não responder, e não havia pistas de onde era ali ou que coisa era ele.

— Quem é você? — perguntei com suspeita.

A expressão dele ficou séria e encarou fixamente o nada na escuridão atrás de mim até que voltou seus olhos para meu rosto:

— Sou o Guia Leste da natureza. Não me manifesto para qualquer um e nem essa é minha forma definitiva. Não sou lindo? — Ele não tinha forma de nada! De nenhuma criatura que eu já tivesse visto ou estudado. E daquele ponto de vista, abaixo de sua caverninha, tudo que via era sua cabeça sem cabelos ou orelhas. Era quase feio se olhasse rápido. — E tu és o filho misturado daquela dama que agora é a Lua! E está ansioso em voltar logo para o que estava fazendo, não é?! Mas, justamente a pedido dessa mulher que não pode mais te ver, eu tenho algo a lhe dizer.

— Ela... quem?

— A única, meu caro! Ela mesma. Você já sabe. A mamãe.

— E... O que é?

O Guia limpou a garganta e:

— A pobre alma de seu irmão é desequilibrada. Pacífico é um filhote que trás conseqüências pela vida extra incrustada no pai de vocês. Os deuses julgaram como injusto que um lobo mortal fosse tão amado por um usuário de suas bênçãos que foi escolhido para ter uma vida longa com magia. Por isso, o sopro de vida nesse filhote de lobo foi mais fraco e ele veio ao mundo com pouca energia vital primordial. Por essa razão sua alma e corpo têm todo potencial, mas não há força para se desenvolver como um ser normal.

—... É como um efeito contrário ao do meu pai?

— Criança esperta! Enquanto o lobo-pai ganhou mais energia para viver, o filho recebeu menos, assim a balança controlada pelos deuses ficou equilibrada, mesmo que seja injusta com os inocentes.

— Isso é muito injusto! Tem algo que possa ser feito para livrá-lo disso?

— Pois justamente é que sua mãe quer que eu lhe diga! Sua mãe foi uma mulher muito perspicaz, apesar de teimosa e muitas vezes drástica! — a criaturinha riu. — Preste atenção que lhe direi apenas uma vez... Aquilo que os deuses fizeram entre os lobos não incluiu você. Quando você ganhou vida no útero, sua mãe calculou suas ações com o uso da magia. Ela planejou tudo o que pode para que fosse justo que você surgisse humano, saudável e tivesse sua vida normal. E é por isso que você é o único que poderia ajudar Pacífico, seu meio irmão e o lobinho herdeiro! Só você pode remediar o problema dando-lhe a parte de força vital que falta nele, mas que existe em você sem propósito!

— Hey! Minha vida tem propósito! Eu preciso continuar vivo e doar força vital me mataria! Ou no mínimo me deixaria fraco demais para fazer o que tenho para fazer! Se você fosse um guia sábio, saberia que a energia vital não pode ser recarregada de volta!... Quer dizer, não de um jeito bom... Só se pode conseguir ela extraindo de algo vivo até que isso morra. Mas eu não sei fazer isso e jamais faria! Eu não nasci para tirar vidas.

A criatura concordou chacoalhando a cabeça.

— Sei bem das leis da vida, meu caro. Então se acalme e me escute mais um pouco... A energia vital que tu transferirás ao seu irmão é da sua metade lobo! Essa sua metade mais extravagante cujo você mesmo tem medo do poder que ela tem armazenado todos esses anos tendo que conter sua selvageria e instintos naturais. Extrair energia dela não afetará a sua energia vital humana, mas não sabemos quanta energia restara depois de completar a do seu irmão. Pode ser metade e pode ser nada, é um mistério! E dessa forma não afetará o equilíbrio estimado pelos deuses que dão a benção da magia aos humanos, já que essa sua metade lobo não passa muito tempo na nossa realidade...

— Isso é mesmo possível?

— Claro... Apesar de seu caso ser peculiar. Irei lhe dizer todo o método, passo a passo, mas esteja alertado severamente, criança, que ao doar essa energia ela não terá volta! E mesmo que eu lhe diga todas essas coisas, ainda será uma escolha sua fazer ou não.

— Eu entendo. Por favor, me diga o que tenho que fazer.

O pequeno guia me instruiu sobre os detalhes para realizar essa transferência com ajuda da magia, me elogiando por já ter a pedra que me permitia controlar a minha consciência quando estava como meio-lobo, pois tendo esse controle eu já teria o necessário para alcançar e iniciar a doação de energia vital. Fui alertado de que a cura não podia se feita de uma única vez, pois devido ao corpo debilitado do lobinho, ele não agüentaria subitamente ter força, então o tratamento levaria ao menos alguns dias, para que o corpo de Pacífico se adaptasse e se desenvolvesse de acordo com o nível de energia crescente até que não precisasse mais da transferência, e então meu meio irmão estará por completo saudável.

Depois de ouvi-lo, fiquei esperançoso e sorri, agradecido e encarando o Guia, uma pequena mãozinha surgiu e balançou em um aceno, antes de subitamente tudo se apagar e me chacoalharem.

— -ahn...! Luahn! — me chamaram desesperado e acordei assustado. Mejem estava sobre mim e entendi que eu estava deitado. O velho ficou aliviado. — Garoto, sua conexão com a sua mana estava fraca enquanto estava dormindo! Eu fiquei preocupado.

— É realmente um sinal ruim para um feiticeiro, essa conexão não se fortalecer enquanto está descansando — disse Agatha, meio sem sentimento. — Mas agora simplesmente foi restaurada. É incrível. Como se sente?

— Estou bem — respondi e me sentei. Névoa estava junto com Carvão e Pacífico, o nome do meu meio irmão que descobri com o Guia, e apenas a loba parecia atenta ao redor. Os dois irmãos já estavam em suas formas normais e com alguns ferimentos meio curados e tratados. Um relincho baixo me fez notar o cavalo de Majem de volta, supostamente o feiticeiro teve tempo suficiente para chamá-lo e esperar que o animal o encontrasse enquanto eu dormia e falava com... — MESTRE! Eu descobri como ajudar a doença do lobinho!

Os dois me olharam com estranheza e expliquei tudo. Não acreditaram muito, mas também não me impediram de tentar realizar o tratamento. Assim que os primeiros sinais da manhã surgiram o brilho do sol, iniciamos o tratamento que faria Pacífico ser um lobo capaz de assumir a alcatéia. Foi complicado me concentrar e encontrar o caminho dentro da minha alma para chegar à parte lupina contida em uma área restrita, felizmente ao entrar naquele lugar o encanto da pedra manteve tudo calmo e pude sentir de onde extrair a energia vital. Felizmente a transferência acontecia rápida e não tinha efeito colateral enquanto estava como humano. Sem fazer justiça ao meu esforço e expectativa, nada aconteceu com Pacifico naquela primeira vez, nenhuma mudança ou reação.

Então, para minha surpresa, Agatha revelou que graças à capa que Fiel havia deixado para trás, ela tinha uma pista da região onde o Feiticeiro Negro estava atuando e pretendia dominar. De acordo com ela e depois de um descanso, nosso grupo seguiu viagem para esse lugar, levando o lobinho junto e sempre aos cuidados de Névoa e Carvão até que ele estivesse forte suficiente para retornar a alcatéia.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tudo tenha feito sentido. Desculpe se algo ficou meio borrado. Eu busquei atar mais uma ponta que estava solta e logo concluir a parte do lobinho irmão de Luahn.

Fiquem felizes comigo que consegui atualizar mais um esse ano! Yeah! Cada novo capitulo é um passo para o árduo fim.
E eu PRECISO de Luahn e Fiel JUNTOS mais um momento pelo menos!AAAaa! Não posso seguir minha vida na sociedade em paz sem isso.
Me pertubem para sair o próximo capitulo! Me invoquem, incentivem, me obriguem, me divulguem! Obrigado por me dar atenção!
Até o próximo!

Ah, caso eu atrase mais seis meses, já deixo meu desejo de feliz e ótimas festas de final de ano! :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.