Com Amor, Samantha Puckett escrita por JJAlbuquerque


Capítulo 7
Seis ― À Sós




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Uma raiva gigantesca havia tomado conta de Samantha Puckett após a tristeza profunda.Freddie havia sido tão cruel e ignorante com a garota que ela até mesmo havia chorado a noite anterior inteira, e então, quando o sol nasceu, no lugar da tristeza, uma monstruosa raiva havia despertado em seu interior, decidida a não se deixar levar pela grosseria do monstro que dormia no quarto ao lado. 

Levantou, se encarou no espelho e fez questão de continuar treinando sua cara de raiva, ela não poderia vacilar ao dar de cara com ele. Naquele dia, ela decidiu deixar o cabelo solto, vestiu uma legging cinza nova, dada de presente pela senhora Benson e um moletom novo de unicórnio. O sábado estava apenas começando e ela precisava de energia pra fazer todas as milhares de atividades que ela tinha para finalizar até a terça-feira, pois segunda era feriado.

Saiu do quarto atendendo uma ligação de Jade, que a convidava pra sair naquela tarde.

― Mas nós temos muita atividade pra fazer... Tem matemática, francês, inglês... Tem física e história também. Não existem chance de terminarmos até terça... Será que deveríamos mesmo desistir? ― Descia as escadas melancólica, encerrando a ligação pouco tempo depois.

― Bom dia, Sammy!

― Dormiu bem?

― Bom dia ― respondeu a garota, que logo se juntou a todos para desfrutarem o café da manhã, sempre majestoso, preparado com tanto carinho pela senhora Benson. ― Eu tive uma ótima noite...

O que não era verdade, óbvio. Mas era claro que ela não iria falar isso, ninguém naquela casa deveria saber que ela tinha um amor gigantesco pela pedra de gelo Freddie, sentado a sua frente, inclusive.

― Tem certeza? Seus olhos parecem um pouco inchados ― a senhora Benson realmente não deixava passar nada.

― Ah, não se preocupe. Eu apenas dormi um pouco tarde fazendo minhas tarefas ― sorriu a garota, um tanto desconcertada.

― Se tiver dificuldades, você tem que pedir ao Freddie ― disse a mãe, mas o filho não esboçou nenhuma reação aparente.

Sam apenas sorriu e se serviu de café e torradas com queijo. Seu pai e o senhor Benson estariam viajando aquela manhã para uma reunião da escola em um resort no interior. Ficariam por dois dias e duas noites, então não paravam de falar sobre isso. Ambos estavam realmente animados para reverem seus amigos da época do colegial, que não viam há mais de vinte anos. Então logo após o café, os dois amigos se arrumaram para partirem, as malas já estavam prontas e esperavam apenas a chegada do táxi que os levaria até o aeroporto.

Eles estavam tão ansiosos com a viagem que não paravam de relembrar das mil e uma aventuras que viveram no ensino médio, antes de conhecerem suas esposas, na época da faculdade. Na última vez que o senhor Benson havia pensado em ir em uma reunião daquelas, seria apenas para encontrar o velho amigo, pai de Sam. Infelizmente, um problema de última hora em sua empresa o fez desistir da viagem, e seu pai, que também havia planos de ir naquela viagem para encontrar o sr. Benson, não pôde viajar porque Sam havia ficado doente dois dias antes. Felizmente, agora os dois estavam ali reunidos, após duas décadas, indo naquela viagem juntos.

Assim que o táxi chegou, todos os acompanharam até a porta para se despedirem, até mesmo o Freddie, que deu um abraço tímido no pai, o desejando uma boa viagem.

― Se certifiquem de tirar muitas fotos, okay? Bye-bye!

Sorrindo, a senhora Benson continuou acenando até que o táxi virasse a esquina e entrou em casa radiante. Era sábado de manhã e havia apenas dever de casa para ser feito. Uma montanha deles.

― E então, Sam, vai fazer algo divertido com suas amigas? ― A mãe de Freddie perguntou, enquanto Sam a ajudava na limpeza da louça do café.

― Estávamos pensando em ir ao cinema hoje a tarde, mas temos muitas atividades para fazer.

― Não seja por isso, peça ao Freddie pra te ajudar! Tenho certeza de que ele pode ajudar.

― Não posso não, eu tenho planos pra hoje. E mesmo que eu não tivesse, não vou gastar meu precioso sábado ajudando uma garota sem cérebro.

Freddie adentrou a cozinha, pegando uma garrafinha de água na geladeira e já foi logo batendo de frente com o comentário da mãe. Ela estava ficando louca? Ele não entendia que mania feia era essa de sua mãe ficar tentando forçar uma aproximação dele com... Ela.

Fredduardo Benson! ― A senhora Puckett gritou de repente, desligando a torneira. ― É melhor você medir o seu vocabulário malcriado, mocinho. Ter 18 anos não te torna adulto, entendeu?

A feição de Freddie era de um completo perdido. A mãe nunca o havia repreendido em sua vida, ou reclamado de alho antes, muito menos de seu comportamento. E também havia o... Fredduardo, já que ela o havia chamado pelo nome completo, parecia mesmo realmente indignada com a situação. Mas não que ele fosse pedir desculpas, muito menos para Puckett, a pedra no seu sapato. Então ele apenas colocou a garrafinha de água de volta na geladeira e saiu da cozinha, sem dizer uma palavra.

Sam não segurou um sorriso vitorioso, e um mais divertido ainda. Quem diria que Freddie seria abreviação de Fredduardo? Imagine se a escola inteira soubesse disso, todos, sem nenhuma exceção, iriam tirar sarro da cara dele. Samantha tinha mais uma carta na mão. Sua vingança já estava sendo planejada.

 

Após o café da manhã, Ted e a sua mãe ficaram assistindo televisão enquanto Sam reunia certa coragem para subir e começar a fazer sua pilha de exercícios que a esperava em cima da mesa de estudos. Assim que finalmente decidiu subir, o telefone tocou e a sra. Benson correu para atender. Deveria ser uma ligação qualquer, sem importância, mas ao ver a mulher com uma feição nervosa e preocupada, Sam esperou que ela terminasse para saber se tudo estava bem, mas sua dúvida logo foi respondida quando a sra Benson disse:

 

 

― Não se preocupe, estarei aí logo logo ― e assim ela encerrou a ligação. ― Sam, querida. Eu vou precisar sair.

 

 

― Tá tudo bem, Sra. Benson?


― Não, uma grande alinha minha está em desespero porque o cachorro dela morreu, então eu irei até lá e farei companhia a ela. Levarei o Ted, então você e Freddie vão tomar conta da casa.

Freddie estava escutando do sofá, onde ele lia um livro aleatório de biologia; levantou o olho rapidamente quando ouviu aquela última frase.

― Não se preocupe, assim que voltar, terá um gostoso jantar esperando por você.

― Ah, querida. Eu não volto hoje, só já segunda de manhã. Amanhã minha amiga ainda estará triste, então ficarei com ela até segunda de manhã, quando ela voltar do trabalho

A serenidade no olhar de quem não sabia mentir era mais que óbvia. Seu sorriso sapeca de quem havia planejado aquilo era evidente, Freddie já havia percebido. Levantou do sofá no mesmo instante em que a frase terminou, acompanhado do irmão caçula e da própria Sam, e os três gritaram alto, e ao mesmo tempo:

― Não!

A senhora Benson simplesmente sorriu, deu de ombros e subiu as escadas correndo. Indignada, Sam virou-se furiosa para Freddie Benson, que obviamente não estava nem um pouco contente com aquilo. Bem, é claro que Sam mataria por um tempo a sós com Freddie, mas estava tão zangada com ele que aquilo havia se tornado um completo incômodo, Freddie quase não acreditou na cara feia que ela havia lançado a ele, mas não esbanjou nenhuma reação a mais, então ele passou por ela e subiu as escadas, transbordando ― falsamente ― completa indiferente.

A senhora Benson desceu meia hora depois, acompanhada de Ted, ambos levavam uma pequena mala de rodinhas e Ted também carregava uma mochila na costa. A contragosto, Freddie ajudou a mãe a colocar a pequena mala no carro e se despediu dela de forma grossa e distante, mas a mesma já estava acostumada com o jeito frio de Freddie ser, e até mesmo atribuía uma culpa a si mesmo pelo filho ser tão... Ignorante.

― Comportem-se vocês dois ― se atreveu a dizer aos dois. ― Estaremos de volta em duas noites.

― Irmão, tome cuidado com certas pessoas, ela pode voar no seu pescoço. Não ajude ela na lição de casa ― provocou Ted, sem tirar os olhos de Samantha. ― E você fica longe do meu irmão.

― Como eles podem ser tão idênticos...

― Sam querida, ― a senhora Benson chamou-a e a confidenciou algo, enquanto Freddie e Ted conversavam enquanto o mais velho ajudava o menor a entrar no carro. ― O Freddie gosta de Curry. E já que não vamos estar aqui... Bem, é melhor não desperdiçar a incrível chance que eu dei a você.

Dizendo isso, ela lançou a Sam uma piscadela e entrou no carro. Em poucos minutos, a garagem estava vazia e a casa silenciosa, Sam estava quase estática, ainda pensando no que a senhora Benson havia dito a ela. Deveria mesmo aproveitar aquela situação? Experimentar cozinhar e talvez assim, Freddie se sentisse conquistado pelo seu esforço e trabalho duro? Valeria a pena tentar?
Antes mesmo que pudesse se responder, Freddie apareceu na cozinha e disse:

― Você prepara o jantar.

― Eu não sei cozinhar ― ela respondeu, mas ele já havia saído da cozinha. ― Ei, ei! Eu disse que não sei cozinhar!

Como ele pode ser tão babaca?, pensou Sam, ao sair da cozinha e se dirigir a um armário que ficava na sala, onde a senhora Benson guardava um livro de receitas, então Sam sentou-se na cadeira e procurou pela receita de Curry. Olhando a imagem da foto, já ficou com água na boca. Já Havaí tomado café da manhã, mas já imaginava como o já ter seria gostoso se fosse Curry. E, bem, não era como se ela rea estivesse cozinhando apenas para Freddie, mas também para si, comer Curry seria uma ótima idéia.

Sam então pegou o livro de receitas e subiu as escadas, decidida a não enfrentar a cozinha sozinha, então, sem bater na porta, entrou no quarto dos irmãos Benson e até mesmo se viu perdida por alguns instantes, admirando a decoração daquele quarto. Era a primeira vez que entrava no quarto de Freddie, as outras garotas matariam por aquilo.

― Você e eu vamos cozinhar Curry. Eu não sei cozinhar, e você provavelmente sabe. Então, ou você me ajuda, ou você come comida carbonizada. O que escolhe? ― Disse a garota, destemida e decidida.

― Por que eu ajudaria você quando posso pedir comida? ― Sam definitivamente não esperava por aquela resposta, Freddie tinha completa razão, eles poderiam simplesmente pedir comida.

― Não quer comer Curry?

― Não vou morrer se não comer Curry uma vez. Agora saia do meu quarto, tá me atrapalhando. Você já fez seus exercícios? Devia estar preocupada com isso.

― Eu quero comer Curry, me ajude a fazer ― Sam engoliu em seco ―, por favor.

Freddie levantou da cadeira e se dirigiu a porta, onde Sam estava. E devagar, ele a empurrou e disse:

― Se você quer tanto comer seu Curry carbonizado, então faça você mesmo. Não me atrapalhe mais ― e por fim, ele fechou a porta.

Ah, como ele poderia ser tão... Escroto?? Um dia você vai se arrepender!

 

x.x.x.x.x

 

Sam havia passado a noite enfiada nos livros e se havia conseguido responder duas questões era muito. Muito mesmo. Na verdade, ela havia respondido uma, mas ela estava errada. Às onze da noite, ela desceu as escadas, faminta. No almoço, comeu uma maçã com um suco, havia feito café para tomar durante a tarde e então estava descendo para procurar algum macarrão instantâneo pra comer. Havia sobrado um, escondido entre os pacotes de comida no armário, Sam pode perceber que Freddie realmente havia pedido comida quando viu alguns potes de comida chinesa no lixo da cozinha. 

 

― Freddie Monstruoso Benson ― reclamou Sam, enquanto colocava água quente no para ferver. ― Ele realmente não comprou nada pra dividir comigo? Como eu posso continuar gostando dele mesmo depois disso? Eu sou mesmo muito boa, nenhuma garota poderia suportar tamanha arrogância. 

 

Quando o macarrão ficou pronto, ela subiu novamente as escadas em direção ao quarto, fechou a porta e sentou-se novamente na cadeira em frente a sua mesa, encarando o livro de francês. Sam havia se lembrado da semana em que passou estudando com Freddie e havia conseguido até mesmo responder a diversas questões, mas matemática... Ela havia praticamente desistido da matéria. Simplesmente não conseguia lembrar de como resolver nada. Francês era a matéria que ela mais entendia, portanto, havia deixado para responder as questões apenas quando tentasse todas as outras. Ela havia conseguido responder algumas, mas outras eram realmente impossíveis para mentes limitadas como a sua e quando o relógio na parede marcava uma da manhã e programa da madrugada começava no rádio, Sam já havia cedido ao sono ali mesmo, naquela mesa cheia de coisas, dura e assim permaneceu até o dia seguinte, quando Freddie entrou em seu quarto. 

 

Acontece que antes de adormecer, Sam havia aberto sua gaveta, onde guardava sua primeira e provavelmente última foto com Freddie, da noite em que ambos havia adormecido juntos, e também a carta escrita com tanto carinho e amor, nunca lida, mas já suja, pelo formato do sapato social que Freddie sempre usava. E então, quando viu que Sam estava adormecida ao lado da carta, não conteve sua curiosidade e leu.

 

 

Colega Freddie Benson, como vai?

 

Meu nome é Samantha Puckett, da turma F. Eu precisei reunir muita coragem para poder escrever meus sentimentos nesta carta. Eu o observo desde o primeiro dia do colegial, quando você fez seu discurso incrível na frente de todos os calouros. Você era tão novo e tão inteligente! Me apaixonei por você na mesma hora!

 

Mas então você e eu ficamos em turmas separadas, e eu queria tanto ser sua amiga. Então sempre admirei você de longe: nos jogos de tênis, onde você foi campeão nos três anos, nos dias de gincana da escola, nas assembleias... Estive sempre observando por você e desejando o melhor possível pra você. Este é nosso último ano na escola e eu não quis desperdiçar, então reuni coragem pra poder dizer que gosto de você. Eu não estou realmente esperando que você me aceite como sua namorada ou algo do tipo, mas ficarei muito feliz se puder me ter como sua boa amiga. 

 

Freddie Benson, eu gosto muito de você!

 

Com amor, Samantha Puckett.

 

 

Como é que ela poderia perder tanto tempo escrevendo uma carta de amor? Freddie estava tão incomodado com aquilo. A verdade era que existia algo dentro de Freddie que o machucava desde os tempos do primário, 

 

― Você me rejeitou primeiro. Como eu posso simplesmente aceitar você de volta quando você foi tão cruel comigo no passado? 

 

Freddie falava a Sam, murmurando, esperando, bem no fundo, que ela pudesse acordar e se lembrar de tudo que havia acontecido doze anos antes. Mas ela não lembrava e provavelmente nunca lembraria, mas isso não significava que ele não poderia ao menos ceder um pouco. 

 

― Puckett! ― Gritou o rapaz, assustando Sam, que deu um pulo da cadeira. ― Toma um banho e desce, tem café pronto. 

 

Dizendo isso, ele saiu do quarto e desceu. O cheio do café já invadia a sala, vindo da cozinha. Freddie levantou cedo, fez compras, preparou sanduíches, cortou algumas frutas e até mesmo comprou um pudim. Quando Sam desceu, quase não acreditou na mesa posta. 

 

― Você fez mesmo tudo isso? Freddie Benson fez mesmo tudo isso? ― Ela sorriu sapeca, dando um leve tapinha no ombro dele.  ― Uau, você realmente é alguma coisa, nota dez! E tem até pudim, eu amo pudim!

 

Claro que ela amava pudim, Freddie sabia disso. Não foi a toa que ele saiu cedo pra ir a loja de doces, comprar o pudim mais bonito de todos. Ele lembra muito bem de como Sam costumava devorar um pudim inteiro se deixassem ela sozinha em casa, Freddie costumava comer junto com ela às vezes. 

 

― Puckett... Seu pai, por acaso, comentou sobre nossa família antes? 

 

― Ele apenas me disse que ele e seus pais eram grandes amigos desde o primário ―  respondeu ela, de boca cheia. ― Por que a pergunta? 

 

Freddie estava nervoso. Seria uma boa ideia revelar a verdade? 

 

― Bem, a história não é só isso. Tem muito mais. 

 

― Como assim? 

 

― Nossos pais… Eles viviam praticamente juntos mesmo após nosso nascimento. Puckett, crescemos juntos. Éramos melhores amigos, praticamente inseparáveis. 

 

― Mas do que você está falando? Como pode uma coisa dessas? 

 

Sam havia até mesmo deixado seu pudim de lado para dar ouvidos as palavras de Freddie. Como eles puderam ter sido amigos? Ela não lembrava de absolutamente nada. 

 

― Quando fizemos seis anos, eu… Escrevi uma carta de amor pra você, mas na época, você acreditava que eu era uma garota, então quando descobriu, ficou realmente zangada comigo e disse que nunca mais queria me ver. Então, você correu e caiu da escada do parque. Bateu a cabeça. E no fim, você se esqueceu de mim. 

 

Freddie ficou em silêncio. Sam definitivamente não havia acreditado naquela história, seu pai nunca havia falado sobre e ela queria saber o motivo de nunca ter sabido daquele fato tão importante. Sam e Freddie melhores amigos, em que mundo isso poderia ter ocorrido? 

 

― Isso é mesmo verdade? 

 

Freddie balançou a cabeça, confirmando, e Sam não pode deixar de segurar uma lágrima por aquilo. Ela havia sido tão cruel quando criança, e não lembrava de nada tampouco. Seria por isso que Sam vivia sendo alvo de chacota por parte de Freddie? Então, ele ainda estava magoado, desde aquela época?

 


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