Peter não sabia, exatamente, o real motivo de ele ter voltado para o último lugar a onde ele era bem-vindo. Ele estava simplesmente no automático naquela noite e em um momento ele estava no Central Park e no outro aqui, no lugar menos improvável do mundo.

 Parecia o destino, mas ele tinha voltado a esse prédio que estava, ainda que milagrosamente, de pé. O lugar que ele chamou de casa durante muito tempo e agora estava simplesmente sentado em cima do terraço, sob a beirada, com o céu azul-cinzento de Nova York sob a cabeça.

 Peter se perguntou como seria ver as estrelas daqui, talvez elas fossem capazes de acalmar seu coração e aquietar a ardência das suas feridas. Mas esse era apenas um pensamento distante, afinal, essa era Nova York e as estrelas aqui eram apenas uma palavra.

 Cada centímetro do seu corpo estava doendo, e isso incluía o seu interior. O simples pensamento de voltar para a Torre lhe causava uma ansiedade e um medo enorme, uma sensação doentia. Agora dois Vingadores sabiam quem ele também era, e por mais que ele soubesse desde o início que seria impossível esconder sua identidade por muito tempo, ainda era decepcionante.

 Ele sabia que podia ter feito melhor. Se ao menos sua máscara tivesse sobrevivido a luta ele tivesse uma pequena chance de manter sua identidade escondida. Foi pura sorte que nenhum fotografo do J. Jonah Jameson estava nos arredores para tirar uma foto que com certeza seria exibida apenas uma hora depois no noticiário.

 Peter abraçou mais fortemente a mochila em seus braços, rasgada e esfarrapada, danificada pelo tempo e pelo uso, mais ainda assim era sua e querendo ou não carregava grande parte da sua história dentro. A história de Peter Benjamin Parker-Stark.

 Sinceramente, ele ainda não sabia se merecia esse nome.

 Um vento gélido bateu em seu rosto, fazendo todo seu corpo de arrepiar. A primavera ainda parecia meio estranha, por mais que o verão estivesse a apenas um mês. Peter não se encolheu, permitindo apenas que um leve tremor em seus ossos; ele certamente não estava vestido de forma adequada para estar do lado de fora.

 Mas quem se importa?

 O jovem piscou, levantando a mão para encarar o pequeno frasco com tampa; um pequeno tubo se ensaio.

 Ele precisava agradecer a Gwen mais tarde. Os estragos podiam ter sido bem maiores se ela não tivesse lhe ajudado.

 — Purificador de Gene foi o que ela disse. Uma pequena mistura que tinha o objetivo de limpar o DNA humano que, de alguma forma, foi modificado geneticamente. Poderia acabar com seus poderes, poderia torna-lo novamente apenas o “Pete”.

 Ele nunca pediu pela picada.

 Mas Peter quis ser o Homem-Aranha.

 Mas ser um “herói” realmente vale a apena? Enfrentar falsas acusações, encarar o rosto decepcionado do homem que agora é seu pai, enganar amigos e lidar com uma vida dupla eram tarefas grandes demais para os ombros de um adolescente de 14 anos.

 Mas desde quando ele é fraco? Desde quando ele não pode enfrentar o que a vida lhe dá?

 Peter suspirou, olhando para a rua logo abaixo dele. Naquele momento, ele não estava agindo ou sequer pensando com clareza, o cansaço do dia pesando em seus ombros. Ele sabia que se deitasse naquele chão sujo e empoeirado seria capaz de adormecer em segundos.

 Ele nunca pediu pelos poderes, mas talvez os poderes fossem exatamente o que ele precisava.

 Peter apertou o tubo de ensaio com força, tentando decidir o que fazer agora. Ele estava confuso, incerto, mas por um instante considerou simplesmente deixar tudo isso para trás. Considerou a vida normal.

 Peter piscou, e de repente a pequena tampa estava caindo diretamente para a calçada vazia logo abaixo dele. Seus olhos estavam encarando a mistura verde com força enquanto sua mente criava cenários aonde ele era normal; apenas uma pessoa normal, sem uma vida secreta, sem segredos; uma vida onde Ned e MJ podia confiar nele com os olhos vendados.

 Foi só então que seus ouvidos captaram um baque logo atrás dele e todo seu corpo congelou, com o tubo de ensaio erguido a apenas alguns centímetros de sua boca.

 — Bambino? — O apelido veio acompanhado da estranha voz robotizada, e Peter não conseguiu decidir se odiava ou não. Simplesmente não era o momento para isso.

 Ele não precisava de Tony agora, quando estava tentando decidir o que fazer com a sua vida em um simples gole. Não era o momento para o Homem de Ferro voltar do Norte apenas para, provavelmente, lhe dar uma bronca.

 Ele não tinha nada melhor pra fazer? Não tinha que lidar com Thor e os problemas políticos?

 Peter deixou seus ombros caírem, fechando os olhos apenas para poder contar até cinco mentalmente. Ele pode ouvir a armadura se abrindo, pode ouvir os passos de Tony logo atrás dele, mas não tinha força e nem vontade de se afastar.

 Ele queria simplesmente descansar, ignorar os cortes e fraturas que provavelmente estavam espalhadas pelo seu corpo e simplesmente deixar que seu metabolismo acelerado agisse e lidasse com esses problemas. Ele não queria conversar, não queria ter que explicar as coisas, dar satisfação a alguém.

 Porque, particularmente, isso não fazia o seu estilo.

 Ele não precisou abriu os olhos para saber que agora Tony estava ao seu lado, provavelmente parecendo sério e autoritário, talvez um pouco chateado.

 — Precisamos conversar...

 Essas eram justamente as palavras que ele não queria ouvir.