Peter não estava conseguindo dormir.

 Há apenas uma hora, quando ele estava com Tony no laboratório e os dois estavam mexendo com um monte de programações que logo, logo iriam formar uma I.A, Peter estava quase caindo da cadeira de tanto sono. Eles já estavam ali por pelo menos quatro horas, e Peter estava tentando ao máximo combater o cansaço. Ele estava se divertindo e ao mesmo tempo apreendendo tantas coisas novas, foram simplesmente as melhores horas da sua vida e ele não queria que acabasse.

 Mas Tony tinha outros planos.

 O bilionário logo percebeu que Peter estava lutando para manter os olhos abertos e decidiu encerrar as atividades no laboratório. Ele, literalmente, escoltou Peter de volta para seu quarto e colocou o garoto na cama como se ele fosse uma criança pequena.

 Apenas para ele fechar os olhos e abri-los logo em seguida.

 Peter não pode evitar, ele já estava voltando a se sentir ansioso pelo o que iria acontecer amanhã — hoje no caso, porque já passava da meia-noite quando ele se deitou. Os pensamentos mantiveram seus olhos abertos e ele passou a encarar a escuridão do quarto firmemente.

  Ele ficou assim por quase quarenta minutos, quando de repente começou a se sentir enjoado, mas tanto ele quanto Tony não tinham comido nada desde o almoço. Peter deveria estar com fome e não enjoado.

 Peter tentou fechar os olhos, tentou controlar a sua respiração, tentou pensar em outras coisas, mas ele sempre acabava abrindo os olhos mais uma vez, apenas para encarar o breu do quarto.

 Agora Peter estava enrolado nos cobertores, uma completa bagunça não intencional. A cada minuto ele virava de um lado para o outro, tentando buscar uma posição confortável e fechar os olhos — novamente, apenas para abri-los segundos depois.

 Ele fez isso várias e várias vezes, desejando que ele pudesse simplesmente desligar a sua mente e descansar um pouco, mas as coisas estavam difíceis demais. Depois de um tempo, Peter desistiu, optando por se sentar na cama e encarar a escuridão.

 Ele ficou assim durante um tempo, até que decidiu que não podia mais ficar parado. Ele se levantou da cama e no mesmo instante as luzes do quarto se acenderam, machucando seus olhos com o clarão repentino.

 — Problemas para dormir Peter? — A voz de Sexta-Feira ecoou pelo quarto, parecendo preocupada.

 Peter demorou um pouco para responder, tentando primeiramente se acostumar com a luz. Ele piscou várias vezes antes de tentar manter os olhos abertos novamente.

 — Sim... eu me sinto um pouco ansioso na verdade — Ele confessou, encolhendo os ombros.

 Peter estremeceu, sentindo um arrepio de frio passar por todo o seu corpo. Ele resolveu se enrolar no edredom, buscando preservar um pouco de calor antes que seus dentes começassem a bater involuntariamente.

 — Você quer que eu chame o chefe? Ele pode ajudar — A I.A sugeriu e Peter balançou a cabeça firmemente no mesmo instante, rejeitando a ideia de perturbar o sr. Stark.

 — Não. Não quero incomoda-lo — Ele disse apressadamente, apertando o edredom mais fortemente ao redor dos seus ombros. Peter parou por alguns segundos, pensando em alguma outra coisa que ele pudesse fazer para se acalmar. — Eu... eu poderia assistir TV ou algo do tipo? Acho que posso me distrair um pouco

 — Claro. O que você gostaria de assistir? — Peter se animou com essa resposta e avançou com passos lentos para fora do quarto.

 Ele pensou um pouco sobre isso. Depois de tanto tempo nas ruas, ele realmente não tinha um interesse tão grande em filmes como quando era criança; na verdade, ele está bem desatualizado nesse quesito.

 Sem muitas opções, ele decidiu que gostaria de assistir algo que lhe trouxesse boas memorias, algo que ele realmente gostava de assistir quando era pequeno.

 — O sr. Stark tem a trilogia clássica de Star Wars? Faz um bom tempo que eu não assisto... — Peter sussurrou, tentando fazer pouco barulho agora que ele estava no corredor, optando até mesmo para fechar a porta com cuidado.

 — Você quer que  eu dê play no primeiro filme?

 Peter franziu o cenho, agora caminhando lentamente até a sala. Ele então olhou para a televisão e acenou, mesmo sabendo que Sexta-Feira não podia vê-lo.

 — Sim

 Ele se sentou no sofá, se encolhendo no canto mais distante ainda completamente coberto com o edredom. Logo em seguido a televisão ligou e não demorou muito para o filme começar.

 Ele se permitiu abrir um pequeno sorriso, ainda admirado com o quão fácil a vida se torna quando se tem uma inteligência artificial por perto.

 ...

 Peter não sabe exatamente quando aconteceu, mas em algum momento do terceiro filme ele simplesmente não conseguiu mais manter os olhos abertos e acabou adormecendo ali mesmo no sofá, encolhido, mas ainda assim mais confortável do que ele estava acostumado.

 Ele estava tendo um pesadelo.

 Peter sabia disso assim que sua mente começou a ser arrastada para a realidade novamente apenas algumas horas depois que ele adormeceu. Seu coração estava batendo fortemente contra a sua caixa torácica, tudo porque o rosto sorridente e doentio de Skip estava piscando em sua mente.

 No primeiro momento, ele se sentiu ofegante, tanto que seus pulmões estavam doendo, praticamente implorando por ar. Peter lutou por um momento para tentar respirar corretamente novamente, mas então ele registou a mão calorosa em seu cabelo e se permitiu relaxar, soltando um pequeno suspiro.

 — Aqui não é lugar para dormir garoto... — Uma voz gentil sussurrou e Peter se encolheu mais contra o sofá, se recusando ainda a abrir os olhos. Ele ainda estava se sentindo cansado e com frio, meio grogue enquanto tentava registrar o que a voz estava falando. — Vamos Peter, hora de acordar

 Peter gemeu em desagrado e optou por tentar se esconder da pessoa que estava tentando acorda-lo, por isso ele puxou o edredom para cima, sob a cabeça. Ele ouviu um suspiro derrotado e se sentiu vitorioso por um momento.

 — Que horas ele foi dormir ontem Sexta? — Peter fez um esforço e tampou os ouvidos, realmente esperando que aquilo fosse impedi-lo de ouvir a conversa.

 — Quatro e quarenta, chefe

 Ele ouviu outro suspiro, seguido de passos que estavam se afastando, se tornando cada vez mais distantes. Peter aproveitou isso e tentou voltar a dormir, apenas para ser cutucado novamente pelo que pareceu segundos depois.

 — Vamos Peter, você precisa acordar — Peter respirou fundo e tirou o edredom de cima da sua cabeça, tentando abrir os olhos apenas para ser recebido com um clarão de luz forte demais para os seus sentidos.

 Peter demorou um pouco para se acostumar com a luz, sentindo uma pequena dor de cabeça começar a se formar por causa do esforço. Ele piscou várias vezes até finalmente conseguiu distinguir a figura do sr. Stark pairando sobre ele.

  — Bom dia... — Ele resmungou, coçando os olhos preguiçosamente. Peter ouviu quando Tony soltou uma risada abafada e estendeu uma mão para afagar os cabelos do menor.

 — Não seria boa tarde? — Peter apenas gemeu em resposta, ainda meio grogue de sono e se sentindo casado, como se ele não tivesse dormido. — Vamos garoto nós temos que sair

 — Sair...? Pra onde...? — Peter se sentou, balançando a cabeça na esperança de que isso fosse ajuda-lo a acordar mais rápido. Ele empurrou o edredom para o lado, perdendo assim grande parte do calor que o rodeava.

 — De acordo com Pep, fazer algumas compras. Você ainda precisa de roupas garoto — Sr. Stark se afastou e Peter tomou isso como um incentivo para se levantar, sentindo suas costas protestarem ao fazê-lo. Ele bocejou. — Você vai querer café ou almoço?

 — Eu estou bem sr. Stark — Ele respondeu, voz carregada de sono. Peter ainda estava se sentindo meio lento e precisou lutar para conseguir pensar com clareza.

 Ainda assim ele percebeu quando Tony lhe lançou um olhar apreensivo, analisando Peter de cima a baixo com uma sobrancelha levantada. O bilionário então suspirou e balançou a cabeça em desaprovação.

 — Não você não está — Ele, contornando a bancada para abrir alguns armários. — Vá tomar um banho enquanto eu faço algo comestível

 Peter resolveu não contraria-lo, já que um banho provavelmente iria ajuda-lo a acordar. Ele então acenou e começou a andar em direção ao seu quarto, deixando Tony para lidar com o fogão.

 O jovem aranha começou a funcionar no automático, se mexendo sem nem ao menos raciocinar. Ele tomou um banho rápido que serviu apenas para acorda-lo e colocou uma nova muda de roupa, dessa fez formado por um casaco de diversas dimensões, com o capuz felpudo e que caiu sobre seus ombros, largo demais. Ele vestiu uma calça jeans e decidiu que agora era o momento apropriado para colocar o gorro e as luvas.

 Peter estava se sentindo quente com tantas camadas de roupas, confortável, mesmo que elas nem servissem direito nele.

 Assim que saiu do quarto — agora se sentindo bem mais desperto e capaz de pensar com clareza — Peter sentiu o cheiro agradável de bacon frio e... ovos? Bem, essa era uma ótima combinação para um café da manhã e ele sentiu seu estômago rosnar no mesmo instante.

 Peter caminhou um pouco hesitante até a cozinha, logo encontrando com o sr. Stark que estava colocando um pouco de suco de maçã dentro de um copo. Ele levantou o olhar para o mais novo e sorriu, fazendo um gesto para o garoto se sentar.

 — É melhor você comer rápido, hoje as lojas fecham mais cedo — Ele disse e deixou o copo em cima da bancada ao lado de um prato com ovos e bacon.

 Peter encarou a comida por alguns instantes, sentindo um sorriso se formar lentamente em seu rosto. Ele realmente não se lembra da última vez que o trataram tão bem, como se ele de fato fosse especial, e por mais que ele quisesse negar, era bom saber que existia alguém para cuidar dele.

— Por quê? — Ele perguntou, já pegando o garfo e dando sua primeira mordida. Supreendentemente, os ovos estavam bons, apenas o bacon que estava um pouco queimado.

 Peter não reclamou, em vez disso comeu seu café com um sorriso contente no rosto.

— Hoje é ano novo Peter — Tony disse com um sorriso, arrumando um lugar ao lado do filho. — Todos querem comemorar

 Peter piscou, parando em seus movimentos por um segundo enquanto pensava. Um novo ano estava começando e as coisas pareciam tão diferentes de antes, ele deveria se sentir feliz, alegre e entusiasmado com sua nova vida, mas a única coisa que ele pode sentir foi ansiedade revirando em seu estômago, o que quase anulou seu apetite.

 — Que horas são...? — Ele perguntou, franzindo os lábios ainda meio ansioso enquanto se forçava a comer seu café mesmo com o sentimento ruim pairando sobre seu estômago.

 — Uma e dez — Tony riu. — Você dormiu a manhã inteira

 Peter encolheu os ombros, realmente não esperando essa resposta. Céus! Ele não tinha a intenção de dormir tanto assim, mas aparentemente ele estava cansado demais. Ele franziu os lábios e não respondeu, preferindo encher a boca novamente antes que ele falasse algo estupido sem querer.

 Peter terminou seu café em tempo recorde, praticamente emburrando a comida pela garganta já que sua vontade de comer estava nula naquele momento. Ele se levantou da banqueta, seguido do sr. Stark. A ideia inicial de Peter era pegar os pratos e deixá-los na pia, talvez lava-los, mas ele não chegou a nem sequer dar um passo.

 — É melhor a gente ir — Tony disse, dando um breve olhar para o seu relógio de pulso. — Pepper já deve estar esperando por nós e eu não quero deixar ela plantada de novo

 ...

 Quando Tony disse que eles estavam indo fazer compras, não foi isso que Peter pensou.

 Na verdade, Peter nem imaginou que isso iria acontecer. Nem em mil anos ele esperava por algo assim.

 Ele imaginou talvez uma loja qualquer do shopping, algo simples onde a maioria das pessoas fazem as suas compras, o básico de sempre, mas agora ele estava dentro de uma loja cheia de roupas de marca tão caras que Peter se perguntou quem seria o doido que iria compra-las.

 Aparentemente, Tony.

 Assim que eles entraram dentro dá loja ambos avistaram Pepper conversando com um funcionário. Elas pareciam distraídas e Peter pode ouvir que o tema da conversa era casacos, mas ele estava se sentindo desconfortável demais dentro daquela loja para se importar com isso.

 Ele queria sair e ir em outro lugar, em uma loja mais simples, Tony o guiou gentilmente para dentro, até que ambos chegaram a Pepper.

 — Ah! Aí estão vocês — Ela sorriu para ambos, se virando para eles.

 — Não me diga que já começou sem a gente — Sr. Stark brincou, fazendo Pepper revirar os olhos.

 — Estávamos apenas conversando — Ela disse, se aproximando de Peter. — Venha Peter, eu tenho algumas opções pra você

 Peter foi arrastado para mais dentro da loja, quando Pepper começou a lhe mostrar alguns casacos, mas ele realmente não conseguiu prestar atenção porque sem querer viu a etiqueta de uns dos casacos.

 Mil dólares.

 Mil dólares em um único casaco.

 Peter estava espantado e ao mesmo tempo horrorizado com isso, querendo apenas sair daquela loja e ir em outra, qualquer uma. Isso era muito caro para ele, não tinha um porquê de gastar tanto dinheiro em um único casaco.

 Ainda assim, Tony e Pepper começaram a trabalhar juntos para soterra-lo com roupas, sem nem ao menos se importar com o preço de cada uma delas. Peter se sentiu desconfortável e meio deslocado com tudo que estava acontecendo.

 Ele já tinha experimentado três casacos diferentes quando finalmente conseguiu algum espaço e se aproximou do sr. Stark um pouco hesitante.

 Peter não sabia exatamente o que ele queria falar, mas qualquer coisa que fizesse eles saírem dali já estava mais do que bom. Não confiando em sua voz, ele resolveu simplesmente puxar a manga do casaco do bilionário ganhando sua atenção automaticamente.

 — O que foi Pete? — Ele perguntou, devolvendo um sapado preto a prateleira enquanto se virava para encarar Peter mais de perto.

 — Sr. Stark... eu — Ele encolheu os ombros, respirando fundo enquanto buscava as palavras certas para expressar o quão desconfortável ele estava naquele momento. — Eu realmente não me sinto muito confortável aqui, a gente pode em ir outro lugar? Um um pouco mais simples...? — Peter sussurrou, sentindo seu rosto quente demais em comparação ao resto do seu corpo. Ele esperava que tivesse transmitido exatamente o que estava pensando.

 Tony parou por alguns segundos, parecendo pensativo e talvez um pouco confuso. Peter encolheu os ombros sentindo uma pequena tensão no silêncio que se seguiu e resolveu apenas esperar pelo o que seu pai iria dizer.

 Para a sua surpresa, o bilionário ofereceu um breve sorriso e acenou.

 — Claro, sem problemas. Mas vamos ter que esperar um pouco mais já que a Pep quer encomendar um terno pra você

 Peter soltou o ar que nem ao menos percebeu que estava prendendo, um grande peso saiu dos seus ombros e ele decidiu que estava bem com isso.

 ...

 Eles ainda ficaram por mais meia hora naquela loja, onde Pepper e uma costureira começaram a discutir sobre um terno e Peter não podia estar se sentindo mais deslocado em toda a sua vida. Nem o ensino médio deveria ser tão horrível assim.

 Ele apenas ficou lá, parado, enquanto a costureira tirava as suas medidas. Pareceu uma década quando ele finalmente pode sair daquele lugar, ainda assim carregando três sacolas cheias e pelo menos duas caixas de sapatos.

 Pepper e Tony não pareciam incomodados quando Peter praticamente guiou eles para uma área mais simples do shopping, entrando na primeira loja de roupas que eles viram. Dessa vez Peter não se sentiu pressionado, já que as roupas custavam de 50 a 500 dólares, e ele se sentiu livre para vagar por todo o lugar.

 Tony o seguiu, fazendo algumas piadas quando eles passaram pela sessão infantil que estava cheia de camisetas dos Vingadores; Peter realmente riu de grande parte delas, se sentindo mais leve. Pepper, por sua vez, se sentou em um banco de espera na frente de um espelho enquanto falava alguma coisa pelo celular. Peter notou que ela tinha assumido um tom autoritário, então ele deduziu que era algo relacionado as Industrias Stark.

 Eles ficaram lá por quase uma hora e meia, enquanto Peter e Tony olhavam algumas camisetas, que em sua maioria tinha algum trocadilho nerd — uma em especial lhe causou uma risada, que era uma piada sobre prótons, surpreendentemente, Pepper também riu e resolveu comprar uma camisa igual pra ela. Ele se sentiu particularmente quente quando Tony jogou para ele uma camiseta do Homem de Ferro, mas não disse nada sobre isso. Peter decidiu leva-la sem um segundo pensamento

 No final, eles compraram tantas roupas que o trio teve dificuldades para sair da loja carregando tudo. Peter se permitiu sorrir enquanto eles voltavam pelo caminho de antes.

 — Vocês querem comer alguma coisa? Ainda tem uma lanchonete aberta —Pepper sugeriu, olhando para um pequeno espaço ainda movimentado do shopping.

 — Acho que não vamos ter tempo o suficiente... — Tony disse, então olhou para Peter como se o garoto tivesse a palavra final. — O que você acha Pete?

 O jovem aranha encolheu os ombros, franzindo as sobrancelhas. Ele realmente não tinha uma opinião sobre isso então resolveu apenas dar de ombros.

  — Eu não me importo na verdade... — Ele confessou.

 — Bem, acho que não vai ser um problema se pedimos algo para a viagem — Pepper disse, olhando mais uma vez para a lanchonete. — Você vem comigo Tony? — Ela perguntou gentilmente e Peter pode ver quando seu pai cedeu, dando um último olhar para ele.

 — Você cuida das sacolas Pete? — Ele perguntou e Peter não hesitou em acenar positivamente. Ele ofereceu um sorriso encorajador e sem mais palavras o casal se afastou em direção a lanchonete.

 Ele ficou ali durante alguns segundos, se permitindo alternar entre encarar as sacolas e observar o casal. Peter não pode evitar o sorriso quando viu Tony dar um beijo na têmpora de Pepper enquanto ambos esperavam o pedido ficar pronto.

 Eles formavam um belo casal, Peter não pode combater a essa ideia. Ele cruzou os braços e os observou, sentindo algo quente começar a dominar seu peito. Por um momento ele se deixou levar pelo pensamento de ter uma família novamente.

 Até que seu sentido aranha começou a formigar, fazendo todos os pelos do seu corpo se arrepiarem instantaneamente. Peter congelou no mesmo instante, ficando em alerta com qualquer movimentação suspeita ao seu redor.

 Nem mesmo um segundo depois um alarme começou a tocar por todo o shopping, alto demais para os seus ouvidos e isso fez Peter se encolher.

 Ele estava perto de uma joalheria, perto demais ao ponto de poder ouvir quando uma cadeira de computador foi jogada contra a vidraça, fazendo cacos de vidro voarem por quase 4 metros e logo depois dois tiros soaram.

 Peter arfou quando ele viu um homem mascarado sair daquela mesma joalheira, carregando uma mochila em uma mão e uma arma na outra. O homem começou a correr em direção as escadas da saída de emergência, ele provavelmente iria fugir.

 Ele iria fugir se Peter não fizesse alguma coisa.

 A saída de emergência estava apenas a alguns metros de distância de Peter, então ele tinha espaço suficiente para impedir que alguma coisa acontecesse. Particularmente, Peter não estava pensando quando ele simplesmente agarrou uma caixa de sapatos e jogou com todas as suas forças no homem, atingindo em cheio a parte de trás da cabeça dele.

 Aparentemente, o ladrão não era muito forte, já que ele estava lutando para carregar a mochila e correr ao mesmo tempo, sendo assim ele acabou ficando um pouco atordoado quando a caixa de sapatos o atingiu.

 — O quê? — O homem gritou, se virando para Peter.

 O jovem aranha não pode ver o seu rosto por causa da máscara Peter, mas o seu sentido aranha avisou do perigo eminente, batucando na sua cabeça como um alarme desesperado.

 — Perigo!

 Peter já sabia o que iria acontecer quando o homem ergueu a arma e atirou, não hesitando em nenhum momento se a bala iria ou não matar um adolescente.

 Se fosse um dia normal, se Peter ainda estivesse lutando contra a fome e o frio diariamente, a bala provavelmente teria lhe atingido em cheio, mas como ele estava bem o seu sentido aranha o guio para longe, fazendo ele desviar com maestria.

 Ele também já sabia do segundo tiro antes mesmo do som soar por todo o shopping, e foi rápido em desviar, nem ao menos sentindo quando a bala pegou de raspão na sua orelha esquerda.

 Peter avançou em direção ao homem, agindo por um instinto defensivo que durante muito tempo fez parte da sua rotina. Ele podia ouvir os passos pesados que estavam se aproximando cada vez mais e os gritos de alarme das pessoas na lanchonete, em meio a tudo isso ele também podia ouvir as ordens vindas de alguns seguranças.

 Assim como o homem não hesitou em plantar uma bala no coração de Peter, Peter também não hesitou em soca-lo no rosto. Ele não sentiu remorso nem mesmo quando ouviu o som doentio de osso quebrado.

 Talvez ele tivesse colocado um pouco mais de força do que o necessário e isso fez o homem cambalear para trás, soltando a mochila no chão no meio do caminho. Ele ergueu novamente a arma, mirando bem no meio das sobrancelhas do garoto, mas ele foi mais rápido e alcançou o pulso do homem, torcendo seu antebraço em uma posição que ele tinha certeza que era dolorosa.

 O homem não aguentou a onda súbita de dor e com um grito alto soltou a arma, que caiu em um baque no chão.

 Peter se afastou quando três seguranças se aproximaram, sendo rápidos em deter o homem e algema-lo. Um deles se virou para Peter com os olhos arregalados e o queixo caído, uma expressão de completa surpresa.

 Logo seus olhos se suavizaram e ele abriu um pequeno sorriso.

 — Obrigado garoto. Ele teria fugido se não fosse por você

 Peter soltou o ar que nem ao menos notou que estava segurando e retribuiu o sorriso, acendo.

  De repente Peter foi puxado para trás pelo capuz da jaqueta e logo ele estava encarando um par de olhos obscurecidos com pura fúria e isso fez ele se encolher.

 — Mas que porra você estava pensando?! — Sr. Stark praticamente gritou em seu rosto, em extrema raiva. Peter sentiu seu coração cair e ele desviou o olhar, em parte assustado com a súbita explosão.

 Peter deu um passo para trás, se recusando a responder porque sabia que isso seria pior. Ele sabia que sempre piorava quando ele respondia.

 — Tem ideia do que acabou de fazer?! — Céus! Peter realmente pode sentir toda a raiva e frustação que estava sendo diretamente dirigida a ele naquele momento.

 — Tony... — Era a voz de Pepper, e apenas por isso ele ousou levantar o olhar mais uma vez. — Se acalma. Tá tudo bem! Nada aconteceu

  Dessa vez foi o sr. Stark quem recuou, com os olhos fechado ele enterrou o rosto nas mãos e deu mais alguns passos ao redor.

 — Peter, nunca mais faça isso, okey? Foi muito perigoso, você quase levou um tiro! — Pepper disse, estendendo a mão para apertar seu ombro, os olhos apreensivos o analisando de perto. — Preciso prometer que nunca mais vai fazer algo assim

 Peter cerrou as sobrancelhas, franzindo os lábios para o pedido de Pepper. Ele sabia que se prometesse algo assim não iria hesitar em quebrar mais de uma vez; de que adiante uma promessa se ele vai quebra-la de qualquer jeito? Ele não vai prometer algo que ele já está pensando desde o início em quebrar.

 Peter balançou a cabeça, respirando fundo antes de falar.

 — Desculpa srta. Potts, mas não posso prometer isso...

 Peter endireitou os ombros, se preparando antecipadamente quando ele viu de soslaio o sr. Stark se virar para ele, apontando um dedo acusativo enquanto provavelmente se preparava para gritar com ele mais uma vez.

 Só que o bilionário foi interrompido por um segurança.

 — Eu preciso dizer garoto, você teve uma enorme coragem aqui — Ele disse, batendo amigavelmente no ombro de Peter duas vezes. — O mundo precisa de mais pessoas como você

 Peter não pode lutar contra o rubor que dominou duas bochechas com o breve elogio. Ele não queria se sentir convencido, mas era difícil quando um segurança estava elogiando-o de forma tão sincera.

 Ele ofereceu um sorriso em resposta.

 O segurança se afastou, e Peter se viu sozinho novamente na frente de um sr. Stark ainda parecendo muito furioso, mas um pouco mais calmo; talvez isso fosse culpa de Pepper e Peter estava grato quanto a isso.

 — Eu só vou fazer uma pergunta. Por quê? — Ele disse lentamente, o tom de voz tão sério que enviou um calafrio por todo o corpo de Peter.

 Ainda assim, Peter não hesitou em responder.

 — Eu podia impedir ele, se eu não fizesse e... se coisas ruins acontecessem, seria minha culpa — Peter disse, respirando fundo quando sentiu um certo peso a mais no seu coração.

 Estava doendo. Mas ele fez um enorme esforço para ignora-lo.

 Para a sua surpresa, Tony respirou fundo e parou durante alguns segundos. Então ele franziu os lábios e olhou para Peter, uma diferença clara em seus olhos agora que grande parte da sua ira tinha ido embora. Peter sentiu seu corpo relaxar com isso.

 — Não faça mais isso. Não pule na frente de um cara armado, você poderia ter se machucado seriamente... — Tony disse, se aproximando um pouco mais de Peter agora que ele estava mais calmo.

 — Eu estou bem, não aconteceu nada — Peter garantiu, oferecendo um sorriso fracos.

 — Isso é...? — Pepper foi quem se aproximou agora, estendendo a mão para o queixo de Peter e com isso ela fez com que ele virasse o rosto para a direita. O garoto franziu as sobrancelhas, confuso com o gesto. — Você está sangrando Peter!

 Pepper se afastou, caçando alguma coisa no bolso do seu casaco. Peter não ficou livre por muito tempo, já que Tony foi quem se aproximou logo em seguida, analisando sua orelha.

 — Tá tudo bem, ein? — Ele rosnou, se afastando de Peter tão rápido quanto se aproximou. — Cadê aquele filho da puta?!

 — Não, não, não. Não adianta fazer nada agora Tony! — Pepper disse, praticamente segundo Tony pelos ombros e forçando ele a ficar parada. Ela olhou novamente para Peter, fazendo um gesto para ele virar o rosto. — Vamos ter que limpar isso querido

 Pepper estendeu um pano na direção de Peter, que estremeceu de dor assim que o tecido entrou em contato com a sua orelha.

 — Ótimo... conseguimos complicar as coisas — Sr. Stark disse, se aproximando um pouco de Pepper para também ver o dano. Peter não podia vê-lo, mas sabia que o homem estava franzindo os lábios.

 — Complicar o quê...? — Ele perguntou inocentemente, curioso.

 Tony bufou em aborrecimento e Peter encolheu os ombros para o som.

 — Tem duas pessoas esperando por você no estacionamento