Razões para viver escrita por J S Dumont


Capítulo 8
Capitulo 8 - Aniversário


Notas iniciais do capítulo

olá gente, voltei!!! espero que gostem do cap. e peço que comentem e favoritem, para eu voltar mais rápido, ainda mais agora que a história está esquentando, beijos!



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8. Aniversário

Katniss Hawthorne me encarou com as sobrancelhas arqueadas, depois me olhou dos pés a cabeça, antes de parar novamente os olhos em meu rosto e expirar o ar pesadamente.

— Você é o...? – ela começou num tom de pergunta.

— Peeta... Peeta Me...

— Ah, Peeta, o vendedor! – ela rapidamente me interrompeu. – Me informaram que você estava na empresa vendendo uma impressora, não é?

— Sim! Então...

— Então, esses tipos de negócios quem faz é a Johanna... Se quiser vender mais alguma coisa é só você falar com ela! – ela novamente me interrompeu, depois olhou a hora no seu relógio de pulso, parecia apressada.

— Não, mas... – eu comecei, até que me calei ao ouvir o barulho do celular de Katniss.

— Ah me desculpa! – ela disse, pegando o celular de sua bolsa e o atendendo logo em seguida. – Alô! Finnick... Ah eu estava querendo falar com você, não, não é nada que eu não possa resolver, mas é que eu estou com algumas duvidas e... – ela dizia depois me olhou. – Com licença! – ela pediu depois se virou e entrou no carro dela.

Eu suspirei, e fiquei a olhando ir embora, decepcionado por ter sido praticamente ignorado por ela, quer dizer, ela nem me deixou falar.

Eu me virei e depois comecei a caminhar pela rua, com as mãos no bolso, e agora não tão mais animado como cheguei. Afinal, se eu preciso dela para conseguir uma vaga de estagio, eu já vi que seria uma tarefa difícil, praticamente quase impossível. Afinal, ela já havia me demonstrado que não era fácil conseguir a sua atenção.

***

— PAPAI! PAPAI! Que bom que chegou! – ouvi Jack exclamar, praticamente pulando em cima de mim, assim que cheguei ao apartamento de Haymitch para buscá-lo, o garotão todo sorridente me olhou com os olhos brilhantes. – E ai ganhou um emprego? – ele me perguntou.

— Não! Quem te disse que... – eu comecei.

— Ninguém, mas imaginei que você tinha saído para procurar um! – ele falou, me interrompendo. Sorrindo, olhei para Haymitch e vi que ele sorria para mim também.

— Ficaram fazendo o que? – perguntei.

— Haymitch estava assistindo ben 10 comigo! – ele disse.

— E que tal agora irmos chupar um sorvete juntos? – sugeri.

— Sim, sim, vamos com a gente Haymitch! – Jack pediu todo animado, olhando para ele.

— Boa ideia!- falei, também o olhando.

— Eu acho que vai ficar para outro dia, será melhor hoje vocês fazerem isso sozinhos e juntos, sabe, uma saída de pai e filho... – ele disse, e em seguida tossiu. – E também eu estou com tosse, eu acho que um sorvete só iria piorar isso... – ele falou.

— Ahhhh que pena, se puder eu chupo outro por você! – falou Jack, nos fazendo dar risada. – Espera só um minuto pai, que eu vou bem rápido no banheiro! – ele disse, dando as costas logo em seguida e saiu correndo em direção ao banheiro.

Eu suspirei, e fechei a porta de Haymitch, em seguida coloquei as mãos no bolso da calça.

— Parece que lá não foi tão bem, ou é impressão minha? – Haymitch perguntou, já notando pela minha expressão que tinha algo de errado.

— É me parece que esse estagio não é tão fácil de conseguir como pensei que seria, a mulher que vai selecionar os candidatos tem fama de chata, e quando fui falar com ela, ela não me deu atenção, pelo contrario ficou me cortando todo o momento, e ainda me deu as costas e foi embora sem sequer se despedir, não consegui completar uma frase sequer... – confessei.

Haymitch então suspirou e se sentou no sofá, enquanto ainda me encarava.

— Meu filho, isso não é nenhuma surpresa, pois isso que você me disse, chega a ser o mal dos ricos, não são todos, pois eu ainda cheguei a conhecer pessoas endinheiradas que ainda eram muito sábias e bem divertidas, você se lembra do senhor Charles? – ele perguntou e no mesmo momento eu sorri.

— Ah, ele era um dos nossos melhores clientes... – me lembrei, cruzando os braços, ainda com um sorriso no rosto. – Contava cada história...

— Era ótimo com piadas também, sempre estava contente, rindo, sinto falta de bater papo com ele, pois ele sempre estava de bom humor, era muito inteligente, um ótimo empreendedor, sabe, quando penso nele até me lembro de você, e não é de agora não, desde a época da concessionária... – Haymitch falou, e então o encarei com as sobrancelhas franzidas, não entendi aquele comentário.

— Por que se lembrava de mim? – perguntei.

—Porque você tem talento meu filho, talento para negócios que nem ele, eu sempre soube, pois olho para você e vejo algo grande, uma luz imensa... – ele disse, e então eu ri e discordei com a cabeça.

— Você está falando isso para me animar... – eu falei, ainda rindo.

— O que é? Do que está rindo? Não acredita em mim?

— Não é isso, é que eu não me vejo assim... – falei.

— Claro, porque as pessoas nunca se vêem como elas realmente são... – Haymitch falou e em seguida suspirou, antes de continuar. – Olha meu filho, nunca esqueça que um dia, alguém vai olhar para você e vai enxergar todo esse seu potencial, e ai vai ser quando você poderá fazer a diferença nesse mundo, e não digo apenas em ganhar dinheiro, mas eu sei que você fará algo melhor do que isso, algo que faça você ser importante para as pessoas, sabe, precisamos de alguém assim, que não apenas pense em ganhar dinheiro, mas que tenha um olhar com o próximo, em vez de apenas virar as costas para elas por acharem que elas não são dignas de sua atenção, ou porque também acha que tem algo melhor para fazer...

— É impressão minha ou isso é uma critica a chefe da W&C Winter? – perguntei.

 - Não, não digo isso só por ela, sinceramente eu acredito que talvez ela só seja mais uma de varias pessoas que se voltou para o seu mundo particular, como se a única coisa que se importasse fosse ela, os negócios, ganhar dinheiro, trabalhar e trabalhar... Não me surpreenderia, pois a maioria do mundo está assim mesmo, ninguém mais tem tempo para olhar para o lado, para rir, para tomar um ar fresco, ou para se divertir com uma boa conversa... – Haymitch falou, e em seguida suspirou novamente. – Charles mesmo uma vez me falou algo que eu nunca esqueci...

— O que? – perguntei curioso.

— Que hoje em dia, os homens andam perdendo a saúde para conseguir juntar dinheiro e depois acabam tendo que perder esse dinheiro para recuperar a saúde. E, por pensarem, ansiosamente no futuro, eles acabam se esquecendo do presente de forma que acabam por não viver nem o presente e nem o futuro. As pessoas acabando vivendo como se nunca fossem morrer e, por fim acabam morrendo, como se nunca tivessem vivido, é um triste ciclo meu filho, mas ele existe, e hoje cada dia que passa eu vejo que Charles estava certo, o exemplo dela é um desses, está tão ocupada com seu mundo particular que não quer ouvir o que um desconhecido tinha a dizer e esse desconhecido poderia fazer a diferença, não é?... – ele falou.

— Eu não sei, eu só queria conseguir a vaga de estagio! – eu falei, dando de ombros.

— Não, você não quer só um estágio, você quer mostrar que pode mais, para você, para o seu filho, para a sua mulher, o estágio é só a porta de entrada, é só o começo... Posso te dar um conselho? – ele perguntou e então assenti com a cabeça. – Não desanime porque ela estava ou achava que estava ocupada, tente de novo, ás vezes esses ricos são como crianças, a gente as vezes precisa gritar e berrar para finalmente eles nos escutar!

Eu concordei com a cabeça, já ia prosseguir com a conversa, quando a voz de Jack, me interrompeu:

— Papai, papai, estou pronto! Podemos ir? – ele falou, voltando para a sala de estar, se aproximou de mim ás pressas, e ao parar ao meu lado, eu coloquei o meu braço em volta do ombro dele.

— Está bem! Vamos... – falei, dando um beijo em sua cabeça.

Começamos a caminhar em direção a porta do apartamento de Haymitch, por todo momento eu ainda estava pensando nas palavras dele, até que então, de repente parei, virei para trás, para olhá-lo, franzi a testa e vi que ele ainda me olhava.

— Foi por isso que você largou a concessionária não é? Viu ela como um utensílio para realizar o seu desejo... – eu falei. Haymitch então sorriu de leve e depois deu de ombros.

— É não foi como eu esperava, mas a vida é muito curta para gente viver um sonho que não é o nosso, e a concessionária não era meu sonho, eu pelo menos tentei, e não me arrependo disso! – ele confessou e sorrindo eu concordei com a cabeça, enquanto pensava no quanto eu teria orgulho de Haymitch, se ele tivesse sido meu pai em vez de Anthony...

— Nos vemos depois! – falei, antes de sair do apartamento, acompanhado por Jack. — Bom, então vamos para o sorvete... – falei para Jack, assim que fechei a porta da casa de Haymitch.

— Pode ser de chocolate? – Jack pediu, meu sorriso então se alargou.

***

— O Ben 10 é o desenho mais legal de todos do mundo, ainda melhor do que X-men! – Jack dizia, enquanto começava a chupar seu sorvete de chocolate. Já estávamos na sorveteria e o sorvete de Jack já tinha chegado.

— O que aconteceu com seu amor pelo Wolverine? – eu perguntei, cruzando os braços em cima da mesa, enquanto o observava.

— Ahhhh ele não é tão legal quanto Ben 10, ele não tem o relógio omnitrix que o transforma em um monte de seres maneiros! – Jack explicou. – Bem que eu queria um relógio daqueles, eu ia quebrar todo mundo que zombasse de mim!

Eu dei risada.

— Quando eu era criança, ás vezes eu queria ser o superman, porque eu pensava que qualquer um que mexesse comigo eu ia quebrá-lo com a minha força de aço... – falei e depois suspirei. – Ai, você não saiu tão diferente de mim!

— Eu te acho mais maneiro que o superman, mesmo você não voando, não sendo veloz e não tendo a força de aço! – disse Jack, meu sorriso se alargou, enquanto eu observava a boca dele ficar melada com chocolate.

— E você também não precisa de um relógio alienígena para ser um garoto legal! – eu afirmei, ele então olhou para mim e sorriu, e eu continuei sorrindo de volta para ele.

Jack queria que eu pedisse um sorvete para mim também, mas além de eu não estar com muita vontade, eu não queria gastar mais dinheiro, precisava economizar para comprar uma bola legal para ele. Depois que ele viu que ele não iria me convencer a comprar um sorvete para mim, ele acabou me deixando um pedaço do sorvete dele e só quando eu o chupei que ele finalmente se contentou.

Enquanto íamos embora, carreguei Jack por alguns metros em minhas costas, ele já estava muito pesado e grande, mas, ainda não tínhamos conseguido parar com esse costume.

— Tio Haymitch é muito legal, eu queria que ele fosse meu avô! - ele comentou, enquanto se ajeitava em minhas costas.

— Ele pode ser seu avô, avô de coração! – falei, enquanto aumentava os passos, afinal, Jack estava começando a pesar demais e devido a isso eu queria chegar logo no nosso prédio.

— Você queria que ele fosse seu pai? – ele perguntou para mim.

— Sim, afinal, você sabe que meu pai não foi o melhor pai do mundo...

— Eu nunca o conheci! – ele disse.

— Eu não o vejo há muito e muito tempo, ele estava com problemas, nem sei se está vivo hoje... – falei, suspirando. Com a vida que meu pai levava era capaz de já ter morrido há muito tempo. – Mas sabe filho, apesar de tudo, mesmo não querendo ele acabou me ensinando algo importante...

— O que? – Jack perguntou, parecia curioso.

— A valorizar a família que tenho! – eu disse, e então paramos em frente ao prédio, e finalmente tirei Jack de minhas costas. Soltei um suspiro e pensei por mais alguns segundos e a ultima frase que falei para Jack se repetiu em minha mente, algumas e algumas vezes.         

Fora então que as palavras de Haymitch fizeram ainda mais sentido para mim, do que já havia feito. Foi então que eu comecei a perceber a importância que tinha de eu insistir em entrar na W&C Winter, não era apenas uma conquista pessoal, não era apenas para provar que eu poderia ser bom, ia muito, muito, além disso.

***

Querer algo é sempre o primeiro passo de tudo, o fato de querer já é um degrau avançado, mas eu já sabia que os outros degraus sempre são maiores e bem mais difíceis e também cansativos de se subir. Eu já sabia que queria entrar na W&C Winter, e todo dia eu comecei a ir lá com esse foco, eu respirava fundo e pedia paciência e determinação, para não desistir dia após dia. Pois, eu tinha a esperança, a esperança de que em algum momento eu chamaria a atenção da “mulher de gelo”, pois eu só precisava de uma oportunidade para falar com ela, mas parecia que essa tarefa que antes parecia até ser simples, se tornou tão difícil como um dos mais dificultosos e complicados cálculos matemáticos que existem no mundo.

Sempre ela saia da empresa correndo, chegava correndo, na maioria das vezes estava falando no celular, e quando eu ainda pensava em me aproximar, ela sempre virava de costas e entrava rapidamente no carro, ou entrava rapidamente na empresa. Uma vez quando cheguei perto ela até mesmo pediu para eu segurar a sua bolsa, achei que seria o momento perfeito, mas só foi eu abrir a boca para o celular dela tocar pela milésima vez, e ai foi mais uma chance perdida, ela simplesmente pegou a bolsa, entrou no carro e foi embora novamente, me ignorando mais uma vez.

E foi mais uma vez que cheguei em casa, totalmente decepcionado. Principalmente porque eu sabia que não poderia ficar mais ali todos os dias, eu precisava voltar á venda das impressoras. Só que por outro lado, eu não queria desistir.

E foi então que eu pensei que pelo menos por um dia eu poderia não ficar plantado em frente á W&C Winter, tipo no dia do aniversario do meu filho, afinal, o estagio poderia esperar um pouco mais, já que essa era uma ocasião bem especial.

— Bom dia meu aniversariante! – falei, enquanto sentava ao lado da cama de Jack, ele começou a abrir os olhos bem devagar, e assim que me viu sorriu. – Já está virando um homem, já tem oito anos, daqui a pouco quando eu me der conta já vai estar tirando a barba junto comigo!

— SIM! Eu não vejo á hora de ser um homem bem grande e barbado, pois ai eu vou poder ganhar um trabalho e ajudar você e a mamãe... – ele falou.

— Você não tem que se importar com isso agora, mas sim no que você vai ganhar de aniversario! – falei.

— SÉRIO? – ele falou.

— É sua mãe está esperando você lá na cozinha... – falei para ele, o sorriso dele se alargou e ele se levantou da cama num pulo.

— LEGAL! Vamos lá papai, vamos lá! – ele disse todo animado, saindo correndo em direção a cozinha, logo eu fui atrás dele.

Ele se animou mais ainda quando viu que Madge estava colocando um bolo em cima da mesa da cozinha, ele era grande e de chocolate, do jeito que ele gostava. Ele deu um abraço nela, que logo beijou a sua testa e sorriu.

— Eu posso comer agora? Posso? – ele disse.

— Bom não gosto que você coma chocolate no período da manhã, mas, hoje você pode fazer uma exceção... – ela disse e depois deu as costas, vi que ela foi á sala de estar pegar alguma coisa, enquanto Jack ia até o armário e pegava alguns pratos e talheres.

— Para que tudo isso Jack? – perguntei, me aproximando dele, para ajudá-lo com os pratos.

— Porque eu quero que vocês comam comigo! – ele falou, depois desviou o olhar assim que viu Madge voltando para cozinha com um presente em suas mãos. – Legal, presente! – ele disse todo sorridente, colocando os pratos na mesa e indo até Madge e lhe dando um abraço, em seguida ergueu os braços para conseguir puxar o presente da mão dela.

— É um brinquedo não é? – ele perguntou.

— Abra para ver! – ela disse, com um sorriso no rosto. Eu sorri também, enquanto observava Madge sorrir, era tão difícil vê-la sorrindo, que fiquei por alguns segundos apenas olhando aquele sorriso que estava estampado no rosto dela, como se fosse algo realmente muito raro.

Só voltei em mim, quando ouvi um grito de Jack, animado por ver que o presente se tratava de um carrinho de controle remoto.  Então eu aproveitei o momento de distração dos dois, para ir até o meu quarto e pegar embaixo da cama o presente que eu havia comprado a Jack. A bola de basquete que eu havia prometido a ele.

Assim que voltei para sala com o presente, Jack logo olhou para mim, sorrindo todo feliz, correndo em direção ao meu presente.

— É A MINHA BOLA! – ele falou, pegando o presente nas mãos, olhei para Madge, e vi que ela estava um tanto surpresa por eu ter conseguido comprar um presente a Jack.

— Espero que goste! – falei voltando a olhar para ele, passei a mão nos cabelos dele, os arrepiando por inteiro.

— Claro que eu vou gostar pai, pois agora eu vou aprender a jogar basquete! – ele falou, e todo animado fora abrindo o embrulho, eu sorri ao ver que ele também sorriu, todo feliz quando viu a bola. – LEGAL! Quando você vai me ensinar? Quando? Quando?

— Quem sabe a gente comece no fim de semana! – eu falei, e ele sorrindo concordou com a cabeça.

— Então vamos comer o bolo? Se vocês não correr eu vou comer tudo sozinho, adoro chocolate! – ele disse, voltando até a mesa, e agora se concentrando novamente no bolo.

Olhei novamente para Madge, e vi que ela ainda me olhava, parecia intrigada com algo, mas no momento permaneceu quieta, comeu um pedaço de bolo com a gente, e ficou alguns minutos conversando com Jack.

 Apenas quando ela foi para o quarto para se trocar para ir trabalhar, que eu fui atrás dela, apenas para saber se ela estava bem ou não.

Mas foi só eu entrar no quarto e fechar a porta, para ela se virar em minha direção e me encarar, parecendo bem desconfiada.

— Onde você conseguiu o dinheiro para comprar a bola? – ela me perguntou.

— Eu vendi uma impressora! – falei.

— E você simplesmente não me conta? – ela falou, se aproximando mais de mim, eu a encarei com um olhar sério.

— Eu tentei, mas toda vez que eu tentava falar com você, você me interrompia, achando que eu queria era fazer sexo, e já vinha com as desculpas, mesmo que minha intenção não era nem essa, mas sim conversar com minha esposa, como todos os casais normais fazem... – eu falei, ela então cruzou os braços e discordou com a cabeça.

— Eu não me lembro de você ter tentado falar comigo ontem... – ela falou.

— É, ontem eu não tentei, eu acho que é porque já estou meio cansado de ser ignorado! – eu disse, não precisei pensar muito para concluir que minha frustração, não se resumia apenas na Madge, mas também a Katniss Hawthorne, pois se não bastasse eu não ser escutado em casa pela minha própria esposa, eu também era ignorado por uma das donas da W&C Winter, dia após dia.

— Você sabe que eu ando cansada... – ela falou, depois foi até o guarda-roupa e o abriu para pegar o seu uniforme de trabalho.

— Eu sei, eu sempre sei disso Madge, e é por isso que todos os dias eu ainda insisto em conseguir um emprego, eu não falei para você, mas estou tentando uma vaga na W&C Winter! – eu disse.

— A corretora de valores? – ela falou, olhando para mim, com as sobrancelhas franzidas, eu concordei com a cabeça. – Ai Peeta, porque você perde seu tempo com isso, você não tem ensino superior...

— Mas não precisa de ensino superior para trabalhar como corretor, e também vão abrir vagas para estagio e...

— Estagio? – ela me interrompeu, depois suspirou. – Você precisa de um emprego de verdade e não de um estagio!

— É impossível começar já por cima Madge! Temos que sempre começar de alguma forma e se essa forma for um estagio...

— É fácil, não é? – ela já foi me interrompendo novamente. – É fácil você ficar dando uma de homem sonhador, e ficar ai viajando com algo que você quer ter, mas no fundo sabe que você não vai ter, enquanto eu tenho que ficar aqui vivendo a realidade e trabalhando duro para manter a casa... – ela retrucou, e suas palavras meio que me atingiram no fundo do peito, tanto que não consegui encará-la, olhei para baixo, enquanto sentia os meus olhos marejarem.

— Eu vou conseguir entrar na W&C Winter... – eu garanti, numa voz baixa, depois a olhei de novo, vi que os olhos dela também marejavam. – E se eu quero fazer isso, é por vocês, é pensando em vocês Madge, mas pena que você não consegue entender isso...

— Olha Peeta... – ela começou.

— Não, não fale mais, não vale á pena continuarmos discutindo, pois sei que não chegaremos a lugar nenhum... – respirei fundo antes de continuar. – Olhe Madge, eu sinto muito por ter feito você tão infeliz a ponto de você ficar vivendo assim, amargurada, sem sonhos e sem esperança alguma, mas mesmo sentindo muito, eu não posso permitir que você mate os meus sonhos, que me jogue mais para baixo, que me desanime, que me faça perder ás minhas esperanças, sendo que é a única coisa que eu tenho nesse momento, eu já vivi minha infância inteira sendo jogado para baixo pelos meus pais, e eu ainda consegui sobreviver aquilo, só que eu não quero voltar para esse mesmo ciclo... Eu ainda vou conseguir a vaga, mas até lá, eu não vou mais falar da W&C Winter com você... – acrescentei, antes de me virar e sair do quarto sem falar mais nada, e sem voltar a olhar para ela também, pois eu sabia que olhá-la só iria me fazer ainda mais mal.

Assim que fechei a porta do quarto, eu limpei as primeiras lágrimas que caíram dos meus olhos, em seguida encostei as minhas costas na porta e pensei, pensei no que estava acontecendo, definitivamente não era isso que eu esperava do meu casamento, ela não era o perfil de mulher que sonhei para mim, quer dizer, não a Madge de hoje, mas sim a Madge alegre de antes, cheia de sonhos e com muita vontade de viver, e o pior é que ainda eu me sentia culpado por tudo que ela havia se transformado. Como se a minha situação, tivesse colaborado para a falta de fé dela, para seu jeito negativo, para sua descrença com a vida.

E ver tudo aquilo que eu não queria ainda assim acontecendo, e ainda tentar e tentar e não conseguir reverter á situação, doía. Doía de verdade. Mas eu não queria que minha dor acabasse com minha fé, então, respirei fundo e tentei esquecer, esquecer e seguir em frente.

Fui até a cozinha, sentei a mesa e fiquei ali por alguns minutos, apenas observando Jack brincar, fiquei reparando nos olhos brilhantes dele, no seu sorriso doce e tão inocente, ele não sabia nem da metade que Madge e eu passávamos, mas também não valia a pena saber, para mim criança sempre tem que viver assim, apenas sendo criança, com preocupações de criança. Se todas pudessem viver isso, com certeza o mundo seria um lugar bem melhor.

— Está tudo bem pai? – ele perguntou pegando o carrinho que havia acabado de ganhar nas mãos, e me encarou com um sorriso nos lábios.

— Sim meu filho, não tem como não estar, é seu aniversario! – falei, e então seu sorriso se alargou. Foi então que eu ouvi o barulho do telefone de casa tocar, o que me fez voltar á realidade, me levantei rapidamente, e então o atendi. – Alô?

— Alô, por favor, eu gostaria de falar com Peeta Mellark! – uma voz feminina falou.

— É ele mesmo... – falei.

— É a Johanna Mason, tudo bem? – ela disse.

— Sim e você? – perguntei.

— Também, então, eu liguei para te avisar que vão começar hoje a selecionar os estagiários, então se você quiser tentar uma vaga precisa aparecer hoje por aqui... – ela falou, fazendo no mesmo minuto o meu coração disparar.         

Hoje eu tinha prometido a mim mesmo que não iria a W&C Winter, mas se eu quisesse a vaga, eu percebi que não teria muita escolha.

***

Madge fora trabalhar e como eu havia prometido, eu não comentei mais de W&C Winter com ela, eu estava decidido só falar novamente do assunto quando conseguisse a vaga de estagio, e talvez esse momento esteja perto de chegar.

Como era aniversario de Jack, não achei justo levá-lo para escola, então o deixei com Haymitch, que ficou todo animado e até fora brincar com ele com o carrinho de controle remoto.

Antes de ir para a empresa, eu fiquei algum tempo sentado no sofá, olhando os dois brincarem, enquanto também pensava em todas as vezes que fui a W&C Winter e o máximo que consegui fora ser ignorado pela “mulher de gelo”. Quem me garantia que hoje eu conseguiria algo de diferente? Quem me garantia que Katniss Hawthorne dessa vez iria ouvir o que eu tinha para falar?

Foi então... Que as palavras de Haymitch voltaram em minha mente: “Não desanime porque ela estava ou achava que estava ocupada, tente de novo, às vezes esses ricos são como crianças, a gente ás vezes precisa gritar e berrar para finalmente eles nos escutar!”.

É talvez estivesse faltando isso... Não que eu devesse berrar com ela, mas sim, fazer algo que chamasse a sua atenção, pelo menos o suficiente para ela ficar curiosa e finalmente me escutasse.

Fora então que eu sorri, eu tinha acabado de ter uma ideia.

continua...


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