Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 56
Bancando os Cupidos


Notas iniciais do capítulo

Prometi que voltava ainda nessa semana e aqui estou eu.
Se tem alguém com saudades da implicâncias entre Gibbs e Jenny., deleite-se!
No mais, boa leitura!



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Assim que vi Jenny saindo, tive que correr atrás dela.

— Hei, Jen, espere! – Acabei gritando mais alto que queria e atraí a atenção da equipe que se preparava para sair. Só pelas caras de Tony e Abby eu sabia que viria uma enxurrada de perguntas depois.

Assim que me escutou, Jen impediu as portas do elevador de se fecharem e ficou me encarando, esperando que eu dissesse o que queria.

Por outro lado, Abby deu um berro e perguntou se eu ia precisar de carona para o restaurante.

Eu ia para a casa do meu pai, mas bem que poderia dar uma chance para o destino, né?

— Quero, Abbs! Passa lá em casa.

— Ótimo, Tony, você ouviu. Me pega e depois pegamos a Kelly. – Abby disse toda feliz. Eu não disse que ela também tinha um plano?

Jenny ainda me esperava.

Corri para o elevador e antes que as portas se fechassem vi meu pai com cara de dúvida, olhando da sala do esquadrão para mim.

— O que você quer me perguntar sobre Sophie, Kelly? – Jenny nem esperou que as portas se fecharem direito.

— Mas como você sabe que eu vou perguntar sobre a Soph?

— Você esperou até que eu estivesse longe do alcance da equipe inteira...

— Bem, é verdade. Eu quero te perguntar quem vai ficar com ela, agora de noite?

— Noemi.

— Mas ela não vai se importar? Você deve estar aqui desde cedo...

— Eu digo que é um jantar de negócios e vou prometer compensá-la.

— Por que não a leva? – Tentei a sorte.

— Você sabe o motivo. E eu não quero ter que ficar me explicando para muita gente.

— E a minha formatura? Você vai deixá-la aqui em D.C. e vai para Cambridge? Eu a quero lá.   

Jen passou a mão no rosto.

— Tem muita coisa para ser arranjada ainda, Kelly. Eu não posso simplesmente aparecer com ela do meu lado. Eu não quero que ela seja rejeitada.

— Sei... Te vejo no restaurante, então. Eu pretendo ir ver Sophie amanhã, tem problema?

— É claro que não. Ela vai ficar feliz em ter alguém para quem mostrar todo o material escolar...

O elevador se abriu e papai já estava no estacionamento me esperando.

— Até daqui a pouco! – Me despedi.

— Até! – Jen se foi na direção do carro que a levaria para casa.

E vendo que ela não tinha mais a autonomia de poder dirigir para cima e para baixo, uma ideia me ocorreu.

— Por que você pediu carona para Abby? – Papai perguntou ofendido.

— Por que o senhor não passa na casa da Jen e a leva para o restaurante? – Perguntei ao mesmo tempo.

Ele me encarou e eu o encarei de volta.

— Kelly, não comece.

— Ela precisa sair com motorista e segurança, pai. Se o senhor a pegar, ela pode dispensar toda essa gente... e eu acho que ela não ligaria... – Disparei a falar antes que ele começasse a me contradizer.

Paramos no semáforo, e o carro dela parou bem do nosso lado.

— O que que custa, pai? E assim eu tenho mais tempo para me arrumar. -  Me desculpei.

Ele não falou nada, só olhou para o SUV parado ao nosso lado.

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Agora eu tinha que inventar a desculpa perfeita para minha filha. Se eu me embolasse e dissesse que Kelly iria nesse jantar, Sophie iria fazer de tudo para ir também.

Estava presa em uma espiral de pensamentos que envolviam Sophie, Jethro e Kelly que nem tinha notado que já estava em casa.

— Muito obrigada, Stanley. Você está dispensado por hoje.

— Mas a senhora não tem um compromisso?

— É particular. Pode ir descansar e aproveitar o final de semana. Tenha uma ótima noite e um bom final de semana. – Falei descendo do carro.

Olhei para o quarto andar. Dava para ver a sombra de Sophie atrás das cortinas, ela estava me esperando, com certeza tinha ouvido o carro parar.

Cumprimentei os dois seguranças que ficam na portaria.

— Tudo certo hoje com a baixinha?

— Sem nenhum problema, senhora. Ela só quis brincar com todos os cachorros que viu na rua.

— Certo. – Falei e subi.

Só faltava essa, estava vendo a pergunta de “Mamãe, agora que temos uma casa grande, podemos ter um cachorro?” vindo de Sophie mais cedo ou mais tarde.

Meus saltos anunciaram a minha presença e Sophie escancarou a porta, já pulando para me abraçar. Não vou negar, era a melhor parte do meu dia!!

— MAMÃE!!! – Ela cantarolou. – Chegou antes do jantar! Vamos poder jantar juntas!! – Ela tirou a minha bolsa e meu casaco e os colocou no lugar.

— Infelizmente não. Mamãe tem um compromisso. Mas posso te fazer companhia, tudo bem?

— Vai jantar com os políticos de novo?

— Não, com o pessoal do serviço. É obrigatório, para a mamãe poder conhecê-los melhor. – Menti.

— Ah! Entendi.

— E então, como foi o seu dia?

— Eu brinquei com um monte de cachorrinhos!! Mas eu pedi permissão antes para os donos. Ninguém se importou. – Ela se explicou quando eu levantei a sobrancelha na direção dela.

Noemi informou que o jantar estava pronto e eu acompanhei Sophie até a mesa, ela comeu normalmente, já estava acostumada a não jantar mais com a mamãe.

— Ah! Esqueci de te informar. – Falei para ela.

— O que? – Ela perguntou de boca cheia.

— Onde estão os modos, Sophie Shepard? Não foi isso que eu te ensinei!

Ela engoliu o que estava na boca e murmurou suas desculpas.

— Mas o que a senhora queria me falar?

— Adivinha quem começou a trabalhar no NCIS? E adivinha quem vem te visitar amanhã?

Sophie parou de comer e levantou as duas sobrancelhas pensando em quem seriam as pessoas.

— A Kells?

— Sim, ela vem te ver amanhã! Agora quem você acha que está trabalhando no NCIS?

— A Kells vem me ver! Eu não vejo ela já faz um tempão!! Estou com saudades da minha irmã! E eu não faço a ideia de quem está no NCIS.

— A Ziva.

— A Tia Ziva está morando aqui nos EUA, também? Jura!! – A ruivinha pulou da cadeira e parou na minha frente, pulando sem sair do lugar.

— Sim, juro. Ela começou já tem um tempo, e eu me esqueci de te contar!

— E quando nós vamos visitá-la?

— A Ziva ainda está em um hotel. A mudança dela não chegou de Tel Aviv. Mas te garanto que ela vai vir aqui primeiro.

— ISSO. É. MUITO BOM! – Sophie pulava. – Agora tá todo mundo aqui. Só falta juntar!! E quando isso acontecer eu vou ter a minha família toda pra mim! E o Henry também tem que ir!  - Ela falava.

— Não vai terminar de comer? – Perguntei para o prato não terminado.

— Não. Não tô mais com fome. – A espoleta falou. – Obrigada Noemi, estava uma delícia.

— Nem tanto, se la pequeña não comeu tudo.

— Eu tô muito feliz para comer, Noemi! Muito feliz! – Sophie foi abraçá-la e quase a joga no chão.

¡Muy bien! Ahora vas a ayudar tu madre!— Noemi conversava com ela em espanhol

!Pues si, Señora!— Sophie respondeu no mesmo idioma. – Mamãe, posso escolher a sua roupa?

— E você acha que eu sei fazer isso? – Brinquei com ela e a peguei no colo.

Saí carregando Sophie pelo apartamento afora enquanto ela tentava se soltar do meu aperto e das cosquinhas que eu fazia. Sua risada ecoando por todo o lugar. A soltei em cima da cama e ela começou a pular, feliz em poder me ajudar.

— Vai escolhendo a roupa aí, enquanto a mamãe toma um banho.

— Vou começar pelo sapato! – Ela gritou entrando no closet.

Se Jethro pudesse ver isso, ele ia acabar falando que ela não era filha dele, mas sim o meu clone!

Não demorei no banho e quando saí, minha filha estava sentada na cama como se fosse uma indiazinha e olhava muito orgulhosa para a roupa que tinha escolhido.

— Que tal mamãe?

Olhei para o vestido e para os sapatos. Que orgulho do lado fashionista da minha pequena.

— Muito bem. Eu definitivamente não faria melhor, e nem tão rápido. – Dei um beijo na sua testa.

Ela pulou da cama feliz foi se sentar no peitoril da janela.

Já estava quase pronta, quando ela simplesmente falou.

— Vai de cabelo solto, mamãe.

— Mas está calor, filha! – Olhei para o penteado que tinha feito.

— Solta o cabelo. – Ela pediu com um muxoxo.

E lá fui eu atender o pedido dela.

— Não se acostume. – A alertei.

Ela só riu de lado e se voltou para a janela.

— Estranho. – A ruivinha disse.

— O que é estranho, Sophie?

— Não tô vendo o Stanley lá embaixo... mas tem um outro carro. Carro bonito! – Ela falou.

— Que carro? – Perguntei.

— Não sei, mas tem uma pessoa parada do lado de fora dele que parece estar olhando para cá. – Ela disse e saiu da janela para me dar espaço.

Prendi o ar. O que Jethro estava fazendo do lado de fora do meu apartamento? Será que ele tinha visto a Sophie?

Estava olhando para baixo, quando ele ligou para meu celular. A essa altura, Sophie tinha voltado sua atenção para as minhas bolsas, escolhendo uma.

— Shepard. – Atendi.

— Sério, Jen. Mesmo você me vendo aqui, vai responder assim?

— O que você quer, Jethro?

— Já está pronta?

— Quase. Por quê?

—  Sou sua carona. Quer que eu suba?

Algo como o pânico subiu pela minha garganta.

— Não vou demorar. Só vou pegar a minha bolsa.

E à menção a minha bolsa, Sophie veio com uma e me entregou, toda sorridente.

— Te espero aqui, então. – Jethro disse e desligou o telefone.

Olhei para ele parado lá embaixo e para a nossa filha que estava parada do meu lado, analisando a minha roupa.

— Você ficou bonita, mamãe! – Ela falou me entregando o batom que escolhi usar, para caso eu quisesse retocá-lo.

— Obrigada, pequena! E você não passe do seu horário de dormir, hein?

— Não vou. – Ela prometeu. – Posso ir lá embaixo com a senhora?

— Agora está tarde, e não quero você subindo essas escadas sozinha. Fique aqui na sala. – Beijei a testa dela, e Sophie foi até a porta comigo, a fechando assim que comecei a descer as escadas. Graças a Deus essa menina me obedecia.

Abri a porta e percebi que Jethro ainda estava do lado de fora do carro olhando em direção à janela do meu quarto, quando ele escutou o barulho dos saltos, me olhou. Ele realmente me olhou.

— Boa noite, Jethro. – Falei para quebrar o clima estranho.

Ele demorou um pouco para responder.

— Noite, Jen. – Disse e abriu a porta do carro para mim. Quando entrou tornou a me olhar, como se não acreditando que eu realmente estava ali e vestida daquele jeito.

— Vai ficar babando pelas minhas pernas ou vai dirigir, Jethro? – Perguntei quase ofendida.

Ele ligou o carro e o arrancou.

— Está bonita. – Disse depois de um tempo.

— Você também não está nada mal. – Falei sincera.

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— Anda logo, Tony. Já estamos quase em cima da hora e eu ainda tenho que interrogar Kelly!! – Abby não parava de falar do meu lado.

— A ideia de te pegar e depois pegar a Kelly foi sua! Por que você não a deixou ir com o Chefe?

— Porque, só porque, eu acho que Kelly sabe uma ou duas coisinhas sobre Gibbs e a Diretora. E eu preciso saber se ela fez o que eu acho que ela fez.

— Abby, seja mais específica, por favor?

— Eu preciso saber se ela mandou o Gibbs buscar a Jenny na casa dela!

Eu quase pisei no freio.

— Você acha que eles são um pacote?

Abby sorriu triunfante.

— Eles já foram. Se são, não sei, mas serão! E você, Anthony DiNozzo, vai nos ajudar nessa.

— Por quê? – Perguntei. Por que eu tinha que ajudar o meu chefe a conquistar uma mulher bonita?

— Porque a Jenny não é para o seu bico. E você nem gosta de ruivas! Você ouviu o que eu disse? Eles já foram mais do que parceiros, Tony. Conseguiu entender.

Agora toda aquela tensão estava explicada. A tensão e o fato do Chefe toda hora ir na sala dela.

— Acha que eles já batizaram algum lugar do NCIS? – Perguntei com um sorriso no rosto.

— Se já, espero que venha algum Jibblet por aí.

— Algum o que?

— Jibblet! Eu preciso de uma criança desses dois para poder mimar e dar tudo que ela quer, Tony.

Jibblet. Só Abby para pensar em um nome desse.

Parei na frente da casa do Chefe e buzinei. Kelly não demorou a sair. Para facilitar o interrogatório, Abby foi para o banco de trás e deixou Kelly se sentar no banco do carona.

— Agora desembucha. Eu sei o que você fez. Ele foi até lá?

Kelly abriu o maior sorriso. O maior sorriso que eu já a vi dando desde que eu a conheço.

— Foi!

Abby soltou um grito enorme. E eu quase fiquei surdo.

— E o que eu ganho com o Chefe dando uns amassos na Diretora? – Perguntei por fim.

— Menos dor de cabeça? – Kelly respondeu.

— Um Gibbs feliz, Tony, é uma equipe livre de tapas e pisões. Admita, você anda gostando dele um tanto mais mole. Ele até nos deixou sair mais cedo hoje. – Abby completou.

— E quem sabe, DiNozzo, você pode ganhar até alguns finais de semana de folga. – Kelly tentou me comprar.

Disso eu gostei.

— Podem falar, vocês duas têm a minha atenção agora. – Falei por fim.

— A ideia é simples, - Kelly começou. – Temos que dar um jeito de juntar esses dois, só que antes deles ficarem juntos. E pode parar com esse sorriso de mente poluída, Tony! - Ela bateu na minha cabeça. – Aqueles dois precisam conversar.

— Sobre o que? – Eu quis saber.

Kelly não me respondeu diretamente.

— Vamos dizer que é um assunto que diz respeito somente aos dois.

— O que você sabe que envolve os dois e que você não está nos contando? – Abby enfiou a cabeça entre os assentos e encarou Kelly.

A garota respirou fundo e apenas disse:

— Não cabe a mim espalhar isso, Abby. É muito pessoal.

— E você acha que eles podem conversar sobre isso e se entenderem? – A gótica continuou.

— Por tudo o que o assunto envolve, eu acho bom. – Foi o que a herdeira falou.

Eu comecei a pensar no que ela queria dizer. Até que tive um estalo. E se esse “assunto” não fosse um assunto. Fosse uma criança?

— Há quanto tempo eles estão separados? – Tentei tirar o maior número de informações que poderia, sem fazer Kelly falar o que era. Sei que ela não espalharia algo assim.

— Seis anos. Desde 1999.

— Quem deixou quem?

— Tony! – Ela chiou.

— Quem? Custa muito responder? Se foi a Diretora quem foi embora, talvez seja mais fácil de resolver as coisas. Se foi o Chefe, mais complicado, mulheres são mais difíceis de serem convencidas. – Expliquei.

Kelly mordeu o lábio.

— Ela foi embora, mas meu pai tem tanta culpa quanto ela.

— Que coisa... – Abby falou. – Por que se separam? Eles parecem se dar tão bem! Nunca vi alguém tão em sincronia com o Gibbs como a Jenny.

Seis anos. Ela foi embora. O Chefe tem culpa. A ideia de que poderia haver uma criança nessa bagunça, não me saía da cabeça. E se tivesse, era mais do entendível que Kelly não quisesse soltar a informação. Se a notícia dessa suposta criança vazasse para a mídia, tinha muita gente que iria querer a cabeça da mulher.

Chegamos no restaurante. Ducky, Palmer, McNerd e Ziva já estavam esperando por nós.

— A Ziva veio! – Abby disse em um tom infeliz.

— A Ziva é a pessoa mais próxima da Jenny que conheço, Abby. Ela pode nos ajudar. – Kelly falou antes de abrir a porta.

— Se você diz. – Falei e olhei para a israelense. Será que ela nos ajudaria nesse plano?

Só faltavam os dois. Que não demoraram a aparecer, pois logo vi o carro do NCIS virando a esquina rápido demais.

— Eles chegaram! – Abby disse feliz.

O Chefe desceu do carro e fez menção de dar a volta e abrir a porta, mas a Diretora saiu antes, vindo parar ao lado dele para atravessarem a rua. E o modo como Gibbs praticamente guiou a mulher até onde estávamos me disse tudo. Como Abby falara, eles foram algo, se são, não sabemos, mas serão!

— Fecha a boca, lesado! – Kelly deu um pisão no meu pé.

— Eu nem fiz nada! -  Reclamei.

— É feio encarar. – Ela sibilou.

— Mas os dois estão querendo que encaremos! – Abby veio ao meu socorro.

— Vocês dois podem ser mais discretos? – Ela disse e trocou o assunto. – Já que todos estão aqui, podemos entrar?

Isso vai ser muito interessante de se ver!

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Só pela forma como Abby, Tony e Kelly nos encararam quando chegamos, vi que tinha sido uma péssima ideia ter vindo a esse jantar. Deveria ter ficado em casa com Sophie e todos os desenhos que ela adora assistir.

E já dentro do local, não foi diferente, eu esperava poder me sentar perto de Ducky para colocar a conversa em dia, porém Abby parecia ter outros planos, não só Abby, como Kelly também. Elas aprontaram uma confusão tão grande que acabei por me sentar ao lado de Jethro. Porém, eu não perdi o olhar de contentamento no rosto das duas, de segundas intenções no de Tony e de surpresa nos de Ducky e Ziva, McGee e Palmer, educadamente, resolveram olhar para o cardápio.

Com pouco tempo, o garçom veio perguntar o que queríamos beber, cada um escolheu entre cerveja, coquetéis e um scotch. Para a minha infelicidade, eu e Gibbs respondemos ao mesmo tempo que queríamos Bourbon.

A cada momento estava pior, porém, como bem diz aquele ditado, o que está ruim, tende a piorar. E a mentora da saia justa foi Abby.

Estava conversando com Ducky por sobre a mesa, já que ele se sentara à minha frente, tomando todo o cuidado do mundo para não esbarrar em Jethro – ele, de alguma maneira, já tinha conseguido “acidentalmente” esbarrar na minha perna duas vezes, na terceira eu ia enfiar o garfo na coxa dele. Quando Abby soltou:

— Então... Jenny, eu posso te chamar de Jenny quando não estamos no escritório, né? Como você conheceu o Gibbs? – O sorriso dela era tudo menos inocente.

Eu peguei o caminho mais fácil e soltei.

— Trabalhamos juntos entre 98 e 99.

— Nossa, então tem muito tempo... estranho que nunca ouvi o Chefe mencionar você. As ex-esposas sim, não você! – Esse foi DiNozzo.

Para trocar o foco, joguei verde.

— Ele já falou da vez que a ex-esposa número 01 o atacou com um taco de beisebol?

E era o que bastou para Tony começar um falatório sem fim, o foco da conversa era outro, e Jethro não estava nada feliz com isso, tendo em vista que ele havia parado de tentar alcançar a minha perna e agora tinha me dado um beliscão na coxa.

Muito deliberadamente, mirei o salto do meu sapato no meio do pé dele e pisei com toda a força que o espaço me permitia. Ele, pego de surpresa, sibilou na minha direção:

— Jen!

— O que foi Jethro?

— Precisava pisar no meu pé com tanta força e justo com esse salto? Essa coisa quase furou o meu pé!

— Se você não tivesse me beliscado primeiro, eu não teria pisado no seu pé!

— Quantas vezes eu te falei que eu detesto esses saltos? Essas coisas não servem para nada.

— Estranho, pelo que me lembro, teve uma época que você não parecia se importar.

— Eu estava esperando que você caísse desses saltos, Jen.

— Isso nunca vai acontecer, Jethro. Viva com isso!

Jethro, como sempre, detestava perder, e para encerrar a conversa, me deu um tapa atrás da cabeça.

— O que você acha que está fazendo, seu energúmeno? Você acabou de estapear a sua chefe? – Agora eu estava furiosa.

— Eu sou o que? – Ele me olhou sem entender.

— Pegue um dicionário, Jethro! – Eu o encarei com raiva e ele me encarou de volta. Nenhum dos dois abaixando o olhar. Nossa briga tinha sido toda aos sussurros, porém, toda a mesa ouviu...

— Jennifer, Jethro. Se importam... – Ducky coçou a garganta para chamar a nossa atenção.

— Nós não terminamos. – Ele me alertou.

— Nem começamos, Jethro. Nem começamos. – Avisei.

Assim que me virei para encarar o restante da mesa, todos eles nos olhavam de volta, McGee e Palmer tinham os olhos arregalados, a expressão do medo estampada em suas faces, Ducky tentava não demonstrar que não era a primeira vez que nos via brigando assim. Ziva demonstrava que tinha acabado de entender sobre quem eu falara com ela no Cairo. Tony tinha a cara de que iria começar uma aposta, no melhor estilo de quem ia matar quem ou quando nós dois iriamos para cama. Já Abby e Kelly, bem, a expressão dessas duas era de dar medo. Kelly tinha um sorriso no rosto que me dizia: “Eu sempre soube que vocês não tinham perdido o jeito”. E Abby algo como, “Me deem o maior número de crianças agora!!!”

Para acabar com o clima que se instalara, resolvi que para a segurança de todos, era melhor alguém trocar de lugar, Jethro jamais daria o braço a torcer, assim, chamei por Kelly.

— Kelly.

 - Sim? – Ela desviou a atenção da conversa que estava tendo com Ziva.

— Troque de lugar comigo. – Ordenei.

— Mas por quê?

— Kelly....

— Você não manda na minha filha! – Jethro tentou intervir.

E internamente pensei que eu mandava sim, não na que estava na minha frente, mas na outra que a esse horário, já devia estar dormindo.

— Kelly, por favor.

Ela olhou para mim e para Jethro.

— Tudo bem. – Ela deu de ombros. - Mas por quê?

— Você ainda quer ter um pai pela manhã?

Ela nem me respondeu.

Depois da mudança de lugares, o jantar correu sem nenhum incidente. Todo mundo conversando com todo mundo, e grande parte querendo saber sobre Ziva, principalmente Abby, que parecia estar começando a aceitar a presença da israelense.

Na saída, depois de me despedir de todos, eu estava decidida a pegar um táxi e ir para casa. Não tinha a menor condição de entrar em um carro com Jethro sem ser o alvo de mais comentários e olhares. Pedi o vallet para chamar um para mim.

— O que você está fazendo? – Gibbs veio me perguntar, o restante estava parado perto do carro de Tony, nos observando de canto.

— Esperando que o Vallet traga a minha vassoura para poder voltar para a minha caverna, Jethro.

— Você vai voltar comigo. – Ele falou baixo e tentando manter a fachada de que só estávamos conversando.

— Eu não vou. Não vou brigar ainda mais com você! – Respondi cansada.

— Eu te trouxe, eu te levo.

Dei uma olhada para os demais, eles viraram na hora e fingiram estar conversando entre si algo muito interessante. Minha vontade era sair marchando a pé dali, e para bem longe de Jethro. Cruzei os braços e encarei Kelly e DiNozzo.

Os dois entenderam a minha cara e em um piscar de olhos, entraram no carro e partiram. A plateia já tinha ido.

Vi que Jethro estava distraído com algo e saí andando, deixando-o sozinho na porta do restaurante.

Estava quase na esquina quando ele parou o carro na minha frente.

— Tem certeza de que vai andando até a sua casa? É longe e você está com os sapatos errados.

— Vai começar a implicar com os meus sapatos de novo?!

— Você não vai longe com eles. – Ele me alertou.

— Não preciso, talvez, logo ali na frente eu consiga uma carona. Tem homens que apreciam uma mulher andando de salto, Gibbs!

Vi que ele apertou o volante.

— Entre logo, Shepard. – Ele falou.

— Vai para a sua casa, Jethro, eu vou para a minha. – Dobrei a esquina e ele me seguiu com o carro.

— Jen, não seja teimosa!

— Eu teimosa? Foi você quem começou tudo isso! – Acusei, sem parar de andar.

Jethro desligou o carro e desceu, me alcançando com duas passadas – malditas pernas longas! – e parando na minha frente.

— Entre, Jen. Você não vai conseguir uma carona, nem um táxi por aqui, pelo menos não um limpo. – Ele apontou para a casa noturna no outro quarteirão. - E muito menos antes que essa chuva caia.

Parei e o encarei. Ele não ganharia essa guerra tão fácil.

— Vamos, entre. – Ele me pegou pelo braço e me guiou até a porta.

Olhei para céu.

— Eu só vou, porque está começando a chover e você me fez perder o meu táxi. – Informei e me sentei no banco.

Ele deu a volta e tomou seu lugar atrás do volante.

— À propósito, eu sei valorizar uma mulher que sabe andar de salto. – Ele falou quando deu a partida. – E nenhuma que conheci consegue andar com tanta elegância e tão rápido quanto você.

— Até parece. – Murmurei e resolvi ficar encarando as gotas de chuva no para-brisa.

Estávamos no meio do caminho quando ele tornou a falar:

— Vai me ignorar até que cheguemos na sua casa? Desde quando você guarda os seus pensamentos para você?

— Corta o papo e dirija.

— Só me explica uma coisa, por que você estava sentada na janela do seu quarto mais cedo?

— Não estava sentada! Estava me arrumando! – Falei sem pensar. Depois que percebi, ele tinha visto a sombra de Sophie...

— Lugar estranho para se arrumar... – Ele falou, assim que parou o carro e se virou para me encarar.

— Calçando os meus sapatos, Jethro. – Falei sarcasticamente e olhei para ele.

Não sei o que ele viu em mim, mas ele abriu um sorriso.

— Eu senti falta de você, Jen. De nossas brigas, de ver você corada com vontade de despejar tudo o que você tem para falar de uma única vez, de ver seus olhos faiscando em fúria. Eu senti falta de nós.

Eu congelei, desde quando Jethro tem rompantes de saudades?

— É bom estar de volta. – Respondi e tentei abrir a porta, mas a mão dele me impediu.

— Sobre o que aconteceu quando você voltou...

— Não tem o que se explicar. – Falei e saí do carro. Eu precisava ficar longe dele se quisesse manter a sanidade. Contudo, ele me alcançou antes que eu conseguisse fechar a porta do prédio e entrou no hall comigo.

— Jen, espere.

— Jethro, isso aqui é um prédio, tem um monte de pessoas que moram aqui. Eu não vou brigar ou conversar com você aqui.

— Seu apartamento.

— Não. – Fui categórica. E comecei a subir as escadas. Ele me acompanhou. – Quem é o teimoso agora?

Eu parei na porta do apartamento e rezei internamente para que Sophie estivesse dormindo e não viesse me receber como sempre fazia.

— Por quê?

— Não é só um porque, Jethro, são vários. Agora, por favor. – Pedi.

Ele não arredou o pé. E eu tentei abrir a porta e entrar no momento em que ele estivesse distraído, todavia ele foi mais rápido, virou a maçaneta por ele mesmo, uma mão na minha cintura, seus lábios colados nos meus e me empurrou para dentro.

Eu praticamente travei. Minha filha, nossa filha, estava dormindo em algum lugar ali dentro, eu nunca havia levado nenhum homem para dentro de casa e muito menos dito a ela que o pai dela trabalhava comigo, isso era errado, mas era tão bom. Era muito bom ter Jethro tão perto. Era como se nada tivesse mudado, mesmo quando tudo tinha mudado.

Ele fechou a porta e me guiava para o sofá, e eu me perguntei como ele sabia se guiar dentro daquele apartamento se ele nunca estivera ali. Senti minhas pernas baterem contra o assento do sofá, eu sabia o que aconteceria se eu caísse ali.

— Jethro, por favor. Não. – Eu pedi, colocando a mão em seu peito.

— Jen, são seis anos.

— Seis anos sobre os quais não conversamos, Jethro. Não podemos simplesmente ignorar tudo o que aconteceu! – Eu mantive a minha voz baixa.

— Eu te perdoei há muito tempo, Jen. – Ele me disse, sua boca roçando contra a minha garganta.

— Jethro, não é só o perdão.  – Peguei seu rosto em minhas mãos e o levantei para que ele me olhasse. - Temos que conversar de verdade. Eu não posso fazer isso às cegas como em Paris. Não mais. – Eu o olhava nos olhos. Ele tinha que entender o que estava em jogo ali, ele sabia o que estava em jogo, não sabia? - Vamos fazer o seguinte, vamos conversar, como adultos, sensatos, quando nenhum de nós tiver bebido nenhuma gota de álcool, e aí, quando acertamos tudo, nós podemos pensar em retomar isso aqui, o que você acha?

— Jen, não faça isso comigo, não me faça voltar para casa e ficar remoendo o passado.

— Não é remoer o passado, é perceber se você fez ou não as escolhas certas.

— E quando vai ser isso? – Ele perguntou se afastando e eu senti falta dele instantaneamente.

— Sexta-feira, sem falta. Aí, tanto eu quanto você teremos tempo para saber o que queremos conversar, e como vamos tocar nesses assuntos.

— Aqui, ou na minha casa.

— Pode ser na sua. Não me importo.

Ele voltou para perto de mim, e antes que eu pudesse pensar no que ele queria, ele pegou o meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo. Não foi um beijo qualquer, foi intenso, voraz, ele me disse tudo o que ele queria fazer comigo apenas naquele beijo que ele encerrou quando quis, me deixando zonza.

— Uma semana, Jen. Se você não for lá em casa, eu venho aqui. – Ele disse e saiu, fechando a porta bem devagar.

Eu pude escutá-lo descendo as escadas, ouvi quando a porta principal do prédio foi fechada e o carro sendo ligado. Os pneus cantaram no asfalto molhado e eu ainda estava ali, de pé, atônita.

— O que eu vou fazer da minha vida agora? – Perguntei a mim mesma.

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LabQueen: eu sei que vocês viram o que eu vi!

MossadNinja: o que é isso? E que apelido é esse?

Chefinha: Isso, Ziva, é só um chat que a Abby criou para que possamos conversar sem que ninguém perceba.

AMETony: seja muito bem-vinda, Ninja!

Sim, parecia até brincadeira que o apelido de Tony fosse AME, as iniciais de Agente Muito Especial... quanto egocentrismo.

ElfLord: peraí, desde quando eu tô no meio dessa confusão do Gibbs com a Diretora?

LabQueen: desde que eu mandei, Tim.

MossadNinja: eu não sei... não é uma boa ideia!

Chefinha: podemos voltar ao ponto principal?

AMETony: o chefe já chegou em casa?

Chefinha: ainda não. Mas não tire conclusões precipitadas, a julgar pela cara da Jen, ela deve ter dado trabalho para entrar no carro.

LordElf: alguém pode me explicar o que foi aqueles dois no restaurante? Até parece que eles já tinham brigado assim antes.

Chefinha: aquela lá foi tranquila. Eu já vi piores. Vai por mim, eles sabem se meterem em uma briga com muitas mais farpas e tiradas que aquela.

LabQueen: você acha que eles se acertam?

MossadNinja: não hoje.

AMETony: mas vão. Eu preciso ganhar essa grana.

ElfLord: acho difícil. Os dois só sabem brigar.

Chefinha: pode demorar, mas eu torço que sim, e para futuras informações, papai acaba de chegar e está descendo para o porão... deu ruim.

LabQueen: ok, não foi dessa vez. Desligando.

ElfLord: talvez não seja nunca. Até segunda!

AMETony: o chefe não vai perder essa! Tá no papo. Fui.

Só restou eu e Ziva online.

MossadNinja: eles não sabem, não é?

Chefinha: você sabe?

MossadNinja: eu conheço a sua irmã, Kelly. Ela me chama de tia.

Disso eu não sabia.

Chefinha: não, não sabem, acho que Tony desconfia de alguma coisa, mas não tem provas, Abby e Tim, nem sonham.

MossadNinja: seu pai sabe dela?

Chefinha: sabe. A Jen contou.

MossadNinja: eu acho que ele não sabe.

Chefinha: como assim?!

MossadNinja: pode me achar fofoqueira, mas eu creio que seu pai não seria capaz de saber da existência de uma filha e ignorá-la por todo esse tempo e, quando ver a mãe dela fingir que ela não existe. Kelly, ele não sabe. E Jenny, como ainda está magoada, acha que ele está brincando com ela.

Chefinha: e você chegou a essa conclusão em tão pouco tempo?

MossadNinja: eu tracei o perfil de toda a MCRT para Ari, quando eu achei que ele trabalharia ao lado do NCIS como agente duplo, eu sei o que aconteceu com a sua mãe, eu sei sobre os casamentos e sei que ele te criou sozinho. Só por isso, eu acredito, que ele não seria capaz de ignorar Sophie. Pense nisso, Kelly. Seu pai pode ser teimoso, cabeça-dura e durão, mas ele não abandonaria uma criança. Não mesmo.

E agora mais essa.

Chefinha: e qual é o seu plano?

MossadNinja: não tem plano, Kelly. Como você já falou, não cabe a nós entregar a existência do Pingo de Gente. Somente Jenny pode contar sobre ela agora.

Chefinha: eu espero que seja logo.

MossadNinja: tem que ser, mais tempo, menos tempo..

Chefinha: é dia, mais dia, menos dia, Ziva!

MossadNinja: que seja! E se um dia alguém da imprensa descobrir sobre a Sophie, seu pai vai ficar sabendo sobre a existência dela pela TV? Não pode!

Chefinha: você tem razão. Não há nada que possamos fazer.

MossadNinja: só torcer.

Chefinha: posso te fazer uma pergunta?

MossadNinja: claro.

Chefinha: por que você se importa?

MossadNinja: porque a sua irmã merece conhecer o pai, ela adora vocês dois, adora mostrar as memórias dela e dizer que vai contar para o pai quando o conhecer. Ela merece ter esse direito.

Chefinha: obrigada por se importar, Ziva. É bom saber que tem alguém que defende a minha irmãzinha comigo.

MossadNinja: tudo pelo Pingo de Gente. Até qualquer dia, Kelly!

Chefinha: até!


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Notas finais do capítulo

E sim... Tony desconfia! Ele é chato, até meio infantil, mas também é esperto o nosso Agente Muito Especial!
Agora, mesmo que obrigado, toda a MCRT está envolvida no plano de juntar Jibbs, claramente isso não vai dar 100% certo.. mas vai render cenas engraçadas.
Muito obrigada por lerem e fiquem seguros e saudáveis!
Até o próximo capítulo.
Contagem Regressiva para Gibbs e Sophie se encontrarem: 02 capítulos.
Sim, está chegando a hora e o capítulo já está pronto!



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