Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 55
Recomeços


Notas iniciais do capítulo

E vamos falar um pouco de um dos males que afligem as mulheres? Temos, né?
E para dar uma aliviada, temos Sophie sendo a fofa da vez e Abby a curiosa...
E sim, teremos uma conversa por chat. Estranho para os dias de hoje? Sim, mas lembrem-se que era 2005... (só os dinossauros sabem o que é isso..)
E, deem as boas vindas à Ziva David!! E para Cynthia, sim até a assistente da Diretora tem direito de aparecer!
No mais, aproveitem!
Boa leitura!



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Eram muitas coisas para me acostumar, para que eu me inteirasse em tão pouco tempo. O assassinato de Kate foi um assunto que durou por semanas, não porque as pessoas se importavam com ela, mas somente porque ela fora morta por um terrorista, e histórias assim vendem, infelizmente.

Fui bombardeada por perguntas de todos os tipos envolvendo este tema, até que perdi a paciência, pedi que tivessem respeito não somente com a memória da Agente Todd, mas, principalmente, com relação à  família dela, eles ainda estavam passando pelo luto de terem perdido uma filha, uma irmã.

E dentre inúmeras entrevistas e reuniões no Congresso e operações que eu tinha que acompanhar e muitas vezes ser a aquela responsável por dar a ordem final, meu primeiro mês como diretora passou e eu estava passando mais tempo no escritório do que em casa.

Eu era a nova atração de Washington. O novo bichinho do zoológico e todo mundo queria seu momento do meu lado, era a primeira mulher a ser diretora de uma agência armada.

Acontece que a grande maioria das pessoas que adorava enaltecer o meu sucesso, eram as primeiras a me criticavam à portas fechadas, isso em dias bons, nos dias ruins eu era obrigada a ouvir insinuações de todos os tipos, a mais comum, um sussurro ou outro quando eu passava, sempre me perguntando com quem eu dormira para poder chegar ali. Em reuniões para a discussão dos fundos para a Agência eu notei que, muitas vezes, quando me levantava, a maioria dos homens me olhavam do pescoço para baixo e nunca prestavam atenção ao que eu falava. Eu ignorava os olhares e os comentários como podia, até que um certo dia, um mês e meio depois que tinha voltado para Washington, fui obrigada a escutar:

— Sabe, Diretora Shepard, talvez a NCIS pudesse ter o maior fundo e orçamento entre todas as agências, bastava você saber pedir com jeitinho. – O dito senador, de quem eu nem sabia o nome, me disse.

— Pedir com jeitinho? – Falei espantada. – Você quer que eu peça com jeitinho para os meus seguranças e para a Polícia do Capitólio entrarem aqui e te prenderem por assédio sexual contra a Diretora de uma agência federal? Você quer? – Respondi ríspida e no tom de voz mais ameaçador que consegui.

O senador deu um passo atrás, me encarando assustado.

— Saia da minha frente. – Ordenei. – E mais um comentário desses perto de mim, ou sobre mim, que chegar aos meus ouvidos, o processo que eu vou mover contra você vai arruinar a sua carreira. – Alertei-o e saí andando com a cabeça erguida até meu carro, mostrando que nenhuma daquelas palavras havia me atingindo.

Todavia, a mais pura verdade era a de que elas tinham, não era para ter, mas atingiram. Eu tive que lutar para ser aceita em um mundo tipicamente masculino e quando eu consegui vencer todos eles, quando eu estava sentada no alto, sendo a mulher que mandava em todos eles, tiveram que vir e usar do fato de que eu era mulher para me chantagearem. Eu não pulei de cama em cama para chegar até onde estou. Para falar bem da verdade, tinha seis anos que eu não sabia o que era ter um encontro, ter uma pessoa do meu lado. Minha filha e meu emprego tomavam todo o meu tempo, isso e o fato de que eu ainda não tinha esquecido o grande amor da minha vida. Eu tinha que ser forte, não só por mim, mas também por minha filha, para ser o exemplo dela, e enfrentar esses machistas, mostrando para eles que mulheres são tão competentes quanto eles. Às vezes chegam a ser até melhores.

E foi só quando eu estava na segurança do meu carro que parei para pensar sobre o que seria de mim se descobrissem que eu tinha uma filha, e que na certidão de nascimento dela não constava no nome do pai. Eu iria passar da mais nova sensação de D.C. para a pária da sociedade antiquada e conservadora em menos de uma noite. Minha sorte era a de que ela sempre constou nos meus registros pessoais que são inacessíveis pelos funcionários. Somente o alto escalão do governo sabia disso, e eu esperava que ninguém tivesse a péssima ideia de usar a minha filha contra mim. Porque se o fizessem, eles não sabiam a guerra que estariam comprando. Eles iriam conhecer quem eu era de verdade e o que eu era capaz de fazer para defender a minha filha.

Estava tão presa nestes pensamentos que mal notei Stanley me chamando.

— Para onde, senhora?

Consultei o meu relógio, eram dezessete horas.

— Pode me levar para casa, por favor. – Pedi.

Eu tinha sido drenada depois desse comentário machista e não queria ter que encarar ninguém no NCIS, muito menos Jethro, que parecia cada vez mais curioso com a minha vida e comigo. Assim, liguei para Cynthia e disse que o expediente estava encerrado, ela também já poderia ir para casa.

Chegando em casa, fui recebida por Sophie e sua costumeira chuva de perguntas, ela sempre queria saber de tudo, nas primeira semanas como eram todos e como era o prédio, e eu era obrigada a descrever tudo com todos os detalhes, depois que ela ficou satisfeita, passou a ter como hábito sempre querer saber como foi o meu dia, se eu tinha trabalhado muito, se a MCRT tinha me dado trabalho, se todos tinham me respeitado.

A esta última pergunta, eu vacilei. Quis mentir para ela, mas não consegui.

— Não, filhota, nem todo mundo respeitou a mamãe hoje. – Falei quando ela estava sentada em meu colo e eu passava a mão em seus cabelos.

— Como não, a senhora é a diretora! Todo mundo tem que te respeitar! – Ela me respondeu injuriada ao saber disso.

— Sabe, Soph, acontece que nem todo mundo é educado e muito menos respeita as pessoas. Sempre vão ter aqueles que querem te tratar mal só para conseguirem algo de você.

— Como assim algo? – Às vezes eu detestava que minha filha fosse tão curiosa.

— As pessoas vão sempre querer que você faça alguma coisa para que elas possam fazer algo que elas são obrigadas as fazer. Como se fosse uma troca.

— Não entendi.

— Imagine que você tem que ajudar a Noemi. Eu não te mando fazer isso sempre?

— Manda. E eu faço. – Ela me assegurou.

— Sim, você faz, porque você me respeita e respeita a Noemi. Porém, vamos imaginar que você não nos respeitasse, e para ajudar a Noemi – que é a sua obrigação. – você dissesse para ela que só o faria se ela fizesse um bolo para você.

— Ah! É como se eu chantageasse a Noemi! – Sophie entendeu o contexto.

— Sim. E isso aconteceu com a mamãe hoje, as pessoas que são obrigadas a ajudar o NCIS, disseram que só fariam se a mamãe fizesse algo em troca. Algo muito ruim que a mamãe não quer comentar.

Sophie me abraçou apertado como que querendo me consolar.

— E isso acontece com todos os diretores?

Pensei sobre o assunto. É claro que não, eu era a única mulher ali.

— Não. Só vem acontecendo comigo.

— Por que a senhora é mulher e os homens não gostam de receber ordem de mulheres? – Sophie falou.

Eu senti orgulho a minha pequena feminista.

— Isso mesmo.

— Então eles podem parar com isso, porque a senhora vai ficar muuuuiiiiiitoooooo como Diretora. Eles gostando ou não.

Era por momentos assim que eu agradecia aos céus ter escolhido ficar com Sophie.

— É eles vão sim. Vão ter que me aguentar. – Eu abracei mais apertado a minha filha e dei um beijo na cabeça dela. – Sophie?

— Sim, mamãe? – Ela me olhou curiosa.

— Vamos aproveitar que cheguei mais cedo e vamos ver como está a reforma da nossa casa?

— É a senhora quem vai dirigir? – Ela pulou do meu colo.

— Claro!

— Podemos ir ouvindo música?

— O que vamos ouvir hoje?

— Não sei, qualquer coisa que dê para cantar! Para a senhora poder ficar feliz! – Ela respondeu animada.

Nem me preocupei em trocar de roupa ou arrumar Sophie, peguei as chaves do carro, dispensei meu detalhamento de segurança e fui para Georgetown, não via a hora de poder voltar para casa e ter espaço para todas as nossas coisas.

No caminho, como Sophie me pediu, liguei o som do carro, pluguei um pendrive com todas as nossas músicas favoritas e fomos cantando, eu, finalmente, deixava a persona da diretora para trás e virava a mãe despreocupada que só queria passar um tempo com a filha.

Nossa casa ainda ia demorar uns bons cinquenta dias para ficar pronta, a boa notícia era a de que os quartos só faltavam mobiliar e Sophie se empolgou em ver três paredes pintadas de rosa clarinho e a quarta pintada de roxo bem escuro, além de começar a falar onde os móveis iriam ficar.

No meu quarto não foi diferente, ela também quis me ajudar a planejar onde os móveis iriam ficar e como eu faria com meu closet. Se eu bobeasse, minha pequena iria virar arquiteta e decoradora de interiores, além de estilista pessoal.

Ficamos mais um tempo na casa, vendo o que ainda faltava e tentando imaginar como iriamos mobiliar os demais cômodos, quando meu celular tocou.

Olhei para a tela. Era Jethro.

Deus, por favor, não diga que ele deixou outra agência nervosa hoje! Pedi mentalmente.

— Shepard. – Atendi.

— Oi, Jen. – A voz dele estava calma. Dei uma conferida no relógio, já passava das sete da noite, não parecia que ele estava no escritório.

— Em que posso te ajudar, Jethro? Algum problema? – Era seguro tratá-lo pelo primeiro nome, ou segundo..., Soph não estava por perto.

— Só queria saber se você estava bem, passei no seu escritório e sua assistente me disse que você foi mais cedo para casa...

— Reunião complicada. – Tentei cortar o assunto. – Pura política.

Jethro fez um barulho estranho do outro lado da linha.

— Por que você escolheu isso, Jen? Saiu de campo e foi parar na burocracia?

— Porque alguém tem que balançar a árvore do dinheiro, Jethro. E eu sou boa em política.

— E é mulher. – Ele completou.

— E você está dizendo que eu não posso fazer isso, por que eu sou mulher? – Saí de dentro da casa e fui para perto do carro, Sophie corria na calçada atrás do cachorro da vizinha.

— Não, Jen. Você é capaz de fazer isso, e fazer muito bem. Resta saber se te respeitam.

Como ele sabia?

— Vão ter que se acostumar comigo, Jethro. Eles querendo ou não. Eu vim para ficar e não vai ser nenhum comentário machista, misógino ou chauvinista que vai me tirar do meu cargo!

Escutei a risada dele.

— Essa é a minha Jen. – Ele falou. – Você está em casa? Estou na porta.

Agradeci aos céus por não estar lá.

— Na verdade, estou em casa, na que estou reformando. Sinto muito se você perdeu a viagem, Jethro.

— Se quiser passar em Alexandria, a porta está aberta. – Ele me ofereceu, e eu senti que tinha algo mais por trás de suas palavras.

— Obrigada pela oferta, mas vou ter que recusar. Ainda tenho trabalho para fazer, fica para outro dia. – Agradeci. Dei uma olhada por sobre o ombro e vi Sophie vindo para a minha direção. – Até amanhã, Jethro, boa noite! – Me despedi antes que minha filha me perguntasse quem estava na linha.

— Boa noite, Jen. – E ele desligou.

Menos de dez segundos e Sophie, toda suada e descabelada por correr atrás do cachorrinho, chegou.

— A gente já vai para casa?

— Acho bom, né? Você está precisando de um banho! – Falei com ela, e acenei para a senhora dona do cachorro agradecendo-a por deixar a minha filha brincar com o animal de estimação dela.

Coloquei minha filha no assento e prendi o cinto, ela já cantarolava Yesterday dos Beatles.

Porém, a calma durou pouco.

— Mamãe? – Ela começou e eu sabia que vinha bomba por aí.

— Solte a bomba, Sophie.

— Não é uma bomba, eu só queria saber onde a Kelly morava antes de ir para a faculdade.

Respirei fundo. Eu estava mais perto do que Jethro da casa dele. Não custava nada passar de carro na porta da casa. Assim, desviei um pouco do caminho e me dirigi para Alexandria.

Na rua que tinha vista para o Capitólio, eu diminui a velocidade.

— É nesta casa aqui que ela cresceu, Soph. – Apontei para a casa.

Sophie ficou encarando a casa.

— O papai ainda mora aí? Se mora, podemos bater e ver se ele atende? – Ela pediu animada.

— A senhorita está vendo que está tudo apagado?

— É mesmo... não deve ter ninguém.

— E mesmo se tivesse, Sophie, eu não iria deixar você ver o seu pai nesse estado em que você se encontra. Ele ia pensar que eu te criei no meio do mato! – Falei para ela, que olhou para si mesma.

— É eu tô bem suja.... não ia dar certo! – Ela falou com um sorriso.

— Não ia, podemos ir?

— Sim. Mas depois podemos voltar?

— Qualquer dia desses. – Não dei certeza.

Três quarteirões depois, estava parada no cruzamento quando Jethro passou por nós. Como sempre, ele dirigia loucamente e não tenho certeza se me viu.

Tinha sido por muito pouco dessa vez.  Ou talvez, já estava passando da hora de trazer o assunto Sophie à tona entre nós. Era injusto com ela ficar inventando desculpas sobre a ausência do pai quando os dois estavam a poucos quilômetros de distância.

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 LabQueen: Eu preciso de informações, Kelly. Não faça isso comigo!

Chefinha: Que tipo de informação, Abby?

LabQueen: Qualquer uma que me dê esperanças de que o seu pai vai poder ser feliz. Eu vi como ele olha para a Diretora.

Cocei meus olhos, estava no meio de um plantão de setenta e duas horas, não estava mais aguentando ficar de pé, e agora mais essa.

Chefinha: e como ele olhou para a Jenny?

LabQueen: Como se ele já tivesse feito mais do que só conversar.

Chefinha: Você está andando muito com o Tony, Abbs.

LabQueen: Tony começou uma aposta, ele tem certeza de que os dois já foram algo no passado e agora está fazendo uma aposta de quando eles vão, bem... você me entende.

Céus, essa era uma imagem que eu não queria na minha cabeça agora.

Chefinha: não aposte nisso. Nada vai acontecer.

LabQueen: Como você tem tanta certeza? O que você sabe?

Chefinha: Vamos dizer que eu sei que os dois foram muito mais do que parceiros. E não conte isso para o Tony. Porém acho muito difícil que eles voltem ao que eram antes. As coisas não terminaram muito bem e tem alguns problemas não resolvidos.

LabQueen: ELES REALMENTE FORAM NAMORADOS?!!!

Eu podia ver que Abby estava eufórica e a imaginava pulando para cima e para baixo.

Chefinha: Sim, foram.

LabQueen: Então podemos fazê-los ficar juntos novamente.

Chefinha: São dois teimosos que não vão assumir os erros. Esquece.

LabQueen: Nem que eu tenha que trancá-los em algum lugar. O MTAC é um bom lugar, é a prova de som, é escuro, tem muito espaço e poucos objetos que possam ser considerados mortais.

Chefinha: A coisa é muito mais séria do que um término mal explicado, Abby. Vai por mim.

LabQueen: O QUE VOCÊ SABE QUE EU NÃO SEI, KELLY GIBBS? ME CONTE OU EU VOU CHAMAR O TONY PARA ESSE CHAT!!!

Respirei fundo... ela que chamasse o Tony, eu não iria falar da existência da minha irmã.

LabQueen: KELLY?!!!

Chefinha: Tenho que ir, hora da ronda no hospital. Nos vemos qualquer dia!.

E saí do chat. Abby vai me deixar doida!

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Fiquei pensando no que Jen falou. Se ela disse que estava ocupada, por que passou pela minha casa? Tinha mudado de opinião e o não fora do trabalho ia cair, ou tinha acontecido algo muito mais sério na reunião do Capitólio e ela precisava de companhia para beber?

Fiquei com aquilo na cabeça a noite toda, até que resolvi que a confrontaria logo cedo.

Queria poder dizer que consegui dormir. Porém não. A garota ruiva que tinha sumido por um tempo, tornou aparecer. Para ser mais franco, desde que Jen retornou, a pequena tem aparecido com frequência nos meus sonhos. E sempre com a mesma frase:

— Quando o senhor vai me conhecer, papai? Estou esperando.

E toda vez era a mesma coisa, quando eu finalmente chegava perto dela, para poder conversar, eu acordava. Olhei para os lados, crente que ainda poderia ver um resquício de seus cabelos vermelhos e não vi nada. Dei uma olhada no relógio, já era um horário aceitável para poder ir para o Escritório.

Eu nem tinha terminado o meu primeiro copo de café quando entrei e já ouvi a reclamação de Tony. O que acontecera dessa vez?

Não precisei perguntar, logo vi quem era o problema.

Ziva David estava de volta.

— Bom dia, Gibbs. – Ela me saudou, sentada na mesa que era de Kate.

— Levante daí.

— Então vou me sentar aonde?

— Como assim?

— Ela disse que agora faz parte da equipe. – DiNozzo me informou. McGee permanecia calado.

Olhei para David.

— Parece que a Diretora Shepard não te informou da minha chegada... – Ela disse um tanto sem jeito.

Olhei para o quarto andar, o que Jen queria com isso?

— Não, ela não me informou. – Respondi, subindo as escadas de dois em dois degraus.

Entrei no MTAC, que era onde ela gastava a grande parte das manhãs. E lá estava ela, na primeira fileira de cadeiras, copo de café do lado, pastas no colo.

Passei por ela e tomei o assento do seu lado.

— Bom dia para você também, Jethro. – Ela falou.

— O que Ziva David faz aqui?

— Ela é a Oficial de Ligação entre o NCIS e o Mossad, e vai ficar na sua equipe. – Ela respondeu sem me olhar.

— Ela é uma assassina, não uma investigadora de cena de crime.

— Ensine-a então. – Finalmente ela me olhava.

— Tire ela da minha equipe.

— Eu quero que ela aprenda com o melhor, Jethro. – Ela me respondeu com um sorriso.

Eu até poderia aceitar a israelense depois disso, mas eu não deixaria Jen vencer uma briga com tanta rapidez.

— A equipe é minha, eu escolho os agentes. E nem mesmo você, Di-re-to-ra, vai determinar quem vai ficar lá.

— Regra #18 – É melhor buscar pelo perdão do que pela permissão. – Jen recitou uma das minhas regras. E a imagem dela escrevendo todas elas em um pedaço de papel veio à minha mente. – Um dia você vai me agradecer a presença de Ziva, Jethro.

— Você não está raciocinando direito, Jen.

Ela sorriu irônica e levou o copo aos lábios, estava vazio e ela fez um bico. Resolvi irritá-la e tomei um gole. Ela acompanhou o copo com muito interesse.

Quando abaixei o copo, ela o tomou de minhas mãos e deu um gole generoso.

— Esse café é meu. – Reclamei,

— Era.

— Jen.

— Jethro. Você pode buscar outro quando bem entender, eu estou presa nessa sala pelas próximas quatro horas, sem poder sair.

— Foi você quem escolheu isto. – Tentei irritá-la ainda mais, mas ela estava de bom humor.

— A Ziva fica na equipe, Jethro, e trate-a bem. – Ela me alertou enquanto eu me encaminhava para a saída.

Cheguei na sala do esquadrão, Ziva estava sentada na mesa que pertenceu à Kate.

— David, comigo. – Ordenei.

Ela se levantou, jogou a mochila velha no ombro e me seguiu.

Quando entramos no elevador esperei que este descesse um pouco e o parei e Ziva começou:

— Bem, Gibbs, eu vou ter que mandar a minha mudança de volta. Desculpa por isso. Eu... – interrompi o falatório dela dando um tapa na parte de trás da cabeça dela.

— Ei! – Ela respondeu surpresa.

— Você está na equipe, agradeça à Diretora por isso. Mas sou eu é quem mando aqui. Não ela. Você irá fazer o que eu mandar. E, de início só irá observar.

— Tudo bem! – Ela concordou.

Apertei o botão de segurança e o elevador começou a se mover. Voltamos ao andar, McGee e Tony olhavam para nós.

— E você vai me entregar todas as suas armas.

Ziva começou a tirar a arma de fogo e algumas facas e colocá-las na minha mesa, achando que em enganava quando disse ser a última.

— Eu disse todas.

Ela suspirou e tirou outra arma e colocou sobre a mesa com cara feia.

— E a faca que está na sua cintura.

— Mas como?! – A israelense disse surpresa, porém me entregou. Devolvi essa para ela.

— Regra #09: Sempre carregue uma faca.

Ziva assentiu e se sentou, olhei para cima, Jen sorria na minha direção. Quatro horas no MTAC, sei... e eu caí nessa e perdi um copo de café.

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Eu tinha prometido a mim mesma que não voltaria nem tão cedo à Washington. Estava precisando de um tempo para mim e para Henry. Acontece que minha irmãzinha estava no mesmo país que eu, a mulher que eu considerava a minha segunda mãe, também. Ou seja, estava praticamente impossível de ficar longe.

Era a última semana de férias de verão para minha irmãzinha, Sophie começaria na escola na próxima semana, e eu me formava em quatro semanas. Além de que já estava devidamente inscrita na Academia Naval, as coisas ficariam meio tumultuadas daqui para frente.

Assim, aproveitei que tinha juntado três plantões e tirei uma semana de folga, iria aproveitar a presença de Jen para escolher a minha roupa para a formatura de uma vez.

Não muito certa se a casa das ruivas já estava pronta, fui para o estaleiro. Minha presença lá surpreendeu a Tony, mas era eu quem estava ainda mais surpresa. Já tinha uma substituta na mesa de Kate.

— Quem é você? – Perguntei direta.

A moça, que tinha cara de não ser americana, me olhou espantada.

— Você é a filha de Gibbs, não é? – Ela perguntou com seu estranho sotaque.

— Eu perguntei quem você é e por que está na mesa da Kate?

— Estou vendo que é sim, a filha dele. Eu sou Ziva David. – Ela respondeu me estendendo a mão.

Retribui o cumprimento. Ziva David. Esse nome não me era estranho...

— Foi você quem... – Estava para perguntar se tinha sido ela quem matara Ari, quando papai me interrompeu.

— Kelly? – Ele estava surpreso em me ver. – Você não falou que vinha.

— Eu quis fazer surpresa. – Falei sincera. – Oi para o senhor também. – Retribui o abraço. – Oi Tim, DiNozzo. – Cumprimentei os dois rapazes.

— Surpresa? – Papai me olhou.

— E entregar isso! – Mostrei os convites da formatura.

— Finalmente! Espero que tenha festa! – Tony falou assim que passei o dele.

— Não vai ser um festão, Tony. – Respondi ao maior festeiro que conheço ao entregar o convite de McGee.

Dei uma olhada no número de convites, eu tinha um só para Sophie, mas achei estranho e completamente grosseiro excluir Ziva.

— Aqui, Oficial David. – Entreguei o dela.

Ziva ficou espantada, porém agradeceu.

— Abbs e Ducky estão lá embaixo? – Perguntei.

— Como sempre. É só seguir a música alta. – Papai me respondeu.

Não deu outra, o elevador nem tinha aberto as portas e fui recebida pelo rock que Abby escutava.

— Abby! – Chamei.

— ABBS!!! – Tive que gritar, e só assim Abby deu um giro e finalmente me notou.

— Acertei o sobrenome, mas errei no primeiro nome. E no gênero! – Ela falou.

— Que doideira é essa, Abby? – Perguntei assim que meus ouvidos pararam de zumbir.

— Tenho uma coisa para o Gibbs. Estava chamando-o mentalmente e, foi você quem apareceu. – Ela falou um tanto desanimada.

— Bem, não vou demorar. Só vim te entregar isso. Quero você lá, hein?

Abby pegou o convite.

— YEAH!!! Parabéns, Kelly!! – Ela me deu um abraço de urso, e por alguns segundos perdi o ar.

— Me solta. Eu não estou respirando! – Pedi.

— Epa! Quase que mato a formanda. Quem mais vai?

— Todo mundo.

— Você convidou a Oficial David?

— Sim, não a conhecia, mas ela estava lá, achei falta de educação não fazer isso.

— Mas ela está ocupando o lugar da Kate! – Abby chiou.

— Ela está na mesa da Kate. Ninguém pode ocupar o lugar que era dela. Só tinha uma Kate.— Informei.

— Você gostou dela, da Ziva?

— Não tive tempo de conversar com ela, mas sei que foi ela quem matou o Ari. E você não vai espalhar isso para ninguém. – Alertei. – Assim, ela já tem o meu respeito e minha gratidão.

Abby pensou um pouco.

— Você está certa. Tenho que dar uma chance para ela.

— Todos temos. – Falei. E o elevador fazia barulho quando terminei. – Acho que a conexão que você queria funcionou agora! – Brinquei quando papai apareceu na porta do laboratório. Ele me olhou interrogativamente. – Coisas de Abby, pai! – Falei e saí rindo.

Minha penúltima parada era na Autópsia. Ducky e Jimmy estavam terminando com alguém, porém, entrei do mesmo jeito, cadáveres não me incomodavam.

— Oi Ducky, Oi Jimmy! – Os saudei.

— Oi, Kelly! – Jimmy respondeu com um sorriso.

— Olá, minha querida! O que te traz até o último subsolo?

— Minha carta de alforria da faculdade, Ducky! – Respondi brincando quando mostrei os convites.

— Oh! Isso é uma boa notícia! – O escocês me falou.

— Sorte a sua, Kelly, eu ainda tenho um tempo pela frente.

— Boa sorte! – Disse para Jimmy.

Observei Ducky por mais tempo, ele queria falar alguma coisa.

— Senhor Palmer, faça o obséquio de levar aquelas amostras para a Abigail, por favor.

— Claro, Doutor Mallard. Tchau Kelly.

— Adeus, Palmer. – Respondi para ele e me virei para Ducky. – O que foi?

— Vai convidar a Jennifer?

Mostrei o convite para ele.

— Tinha um para Sophie, mas passei para a Ziva, tadinha, ela ficou olhando com uma feição estranha enquanto eu entregava os convites de Tony e McGee.

— Fez bem, nem todos a receberam muito bem por aqui.

— Eu sei. Notei que Abby ainda não se afeiçoou a ela.

— Ainda não, Abigail é como você e seu pai, não gosta de mudanças. E falando em mudanças. Como está Sophie? Ainda não tive tempo de ir visitá-la.

— A última vez que a vi foi há três semanas. Vim nesta semana porque quero aproveitar a pequena! Ela está animada de estar por aqui. Vou vê-la hoje. Espero que Jen a leve na minha formatura.

— Acho difícil, minha criança. Ela e Jethro estão andando em círculos aqui dentro, não acho que tenham conversado sobre nada.

— Como assim, andando em círculos, Ducky? – Essa era uma informação nova.

— Algo aconteceu, não sei o que foi entre os dois. E desde a volta de Jennifer, Jethro parece um pouco menos propenso a dar tapas na cabeça e, pelo que ouvi Anthony dizer, sempre arranja uma desculpa para ir até a sala da Direção.

Eu não queria criar esperanças, mas já estava fazendo isso.

— Mais alguma coisa?

— Eu vi Jennifer parada no corrimão do quarto andar, olhando para a sala do esquadrão. Quando pensou que ninguém a observava, ela abriu um sorriso na direção de seu pai.

Ok, isso já era demais.

— Ducky, isso pode não ser nada. Ou pode ser tudo. Eu não vou ter esperanças de que eles possam voltar. Sophie é um assunto delicado.

— Sim, a pequena ruiva é um assunto delicado, mas creio, minha querida, que assim que Jethro a conhecer, que a ver pela primeira vez, muita coisa vai mudar. Ele não será capaz de resistir a ela. – Ducky me garantiu e iriamos continuar, porém Jimmy estava de volta.

— Espero os dois lá, hein? Não faltem! – Intimei a dupla.

— Vai para onde, agora?

— Agora, Ducky. Vou sair do último subsolo e ir para a Sala do Trono! – Brinquei enquanto esperava o elevador.

Antes de entrar, pude ouvir Palmer dizer:

— É muito interessante ver alguém que não teme nem o Agente Gibbs nem a Diretora.

Eu ri, se Palmer os conhecesse bem, ele não diria isso.

Menos de um minuto depois, estava no quarto andar. Dei uma olhada para baixo, era realmente imponente a vista, agora olhar para lá e saber que é você quem dirige tudo isso... deve dar uma sensação de orgulho e dever cumprido.

Passei devagar pelo corredor, até dar de cara com a porta. Eu já tinha estado ali, porém estava tão mal com a morte da Kate, que não tinha percebido o detalhe:

O nome e o cargo.

Jennifer Shepard – Diretora do NCIS.

— Nossa... – Falei sozinha.

— Boa tarde! – Uma moça chamou a minha atenção e eu nem a tinha notado.

— Ah! Oi! Boa tarde! – Falei sem graça. – A Jen... digo, a Diretora Shepard está lá dentro? – Apontei para a segunda porta

A moça, que li se chamar Cynthia, me disse que sim e me perguntou.

— Tem hora marcada?

— Precisa disso? Ela está ocupada?

— Ela sempre está ocupada.

— Ah! Depois eu volto. Diga a ela que a Kelly...

Nessa hora a porta foi aberta.

— Pode entrar, Kelly. Eu não estou em reunião. – Jen me disse. – E Cynthia, quando Kelly aparecer, a menos que eu esteja em reunião, ela sempre poderá entrar, tudo bem?

— Sim, senhora. Me desculpe, senhorita...

— Ah! Gibbs. Kelly Gibbs! – Estendi a mão para cumprimentar a assistente de Jenny.

— Você é filha do Agente Gibbs? Nossa, que diferença!

Olhei espantada para Cynthia depois para Jenny que tentava segurar o riso.

— Eu te explico, Kelly. – Ela me deu passagem e eu entrei no escritório. Dei uma olhada em volta e vi as fotos que tinham sido transformadas em quadros. Reconheci todas.

— Londres e Paris. – Falei assim que as reconheci. – As fotos que você tirou! – Me animei. – Apesar de que Paris ocupa a grande maioria.

— Pelo menos alguém notou. – Jenny disse com um sorriso, me guiando até o sofá que tinha no canto, logo em cima, tinha um quadro enorme da vista aérea de Paris.

— Londres é onde Sophie nasceu. Deveria ter mais. – Informei.

— Eu sempre gostei mais de Paris. Mas parece que Sophie prefere a capital inglesa, não que ela não goste de Paris, mas não gosta tanto quanto eu.

— Ela morou lá...

— Sim, e amava cada pedaço daquela cidade cinzenta. – Jenny riu. – A que devo a visita?

— Isso! – Entreguei feliz o convite.

— Mas já? – Jen se espantou com o passar do tempo.

— Sua filha já tem cinco anos, Jennifer Shepard! – Falei dando um tapa na cabeça dela. – Falando em nomes completos, gostei da placa na porta! – Disse, me levantando e indo até a enorme janela que havia atrás da mesa dela.

— Queria que fosse só Jenny. Mas não podia! – Ela respondeu sem tirar os olhos do convite, ela foi a única que leu os agradecimentos. – Obrigada por lembrar de mim!

— De nada! Queria ter colocado uma certa pessoinha aí...

— Ela teria ficado muito feliz, mas vai ficar feliz quando eu mostrar para ela. E depois, Academia Naval?

— Sim. Me inscrevi na semana passada. Vou soltar a bomba na Formatura. Espero que papai não dê um treco.

— Eu tenho quase certeza que vai dar! – Jenny riu.

— Unh... Jenny falando no papai... – Eu comecei para ser interrompida pelo próprio.

— Senhora, me desculpe! Ele nunca bate! – Cynthia disse quando papai parou no meio da sala e olhando feio para nós duas.

— Jethro nunca vai aprender a tratar uma porta como uma porta, Cynthia, não é sua culpa. – Jenny respondeu com seu tom de Diretora e eu encarava os dois. – Viu por que Cynthia disse o que disse, Kelly?

— Acho que entendi. – Eu, por outro lado, tinha começado a rir.

— O que posso fazer por você, Agente Gibbs? – A ruiva se levantou do sofá e veio para a mesa dela, assumindo a fachada de Diretora.

— Pode cortar o papo de Diretora, Jen. Só estamos nós três. – Papai foi direto e se jogou na cadeira que tem na frente da mesa dela. Eu fiquei atrás dos dois, de costas para o porto, só vendo os dois “andarem em círculos” como Ducky tinha dito.

— Então... pode falar, Jethro. – Jenny cruzou os braços e encarou meu pai.

—  Em comemoração à formatura de Kelly, o pessoal quer sair para jantar. E Abby me mandou aqui para te chamar.

— Eu acho uma ótima ideia!! – Me animei e recebi dois olhares de que eu tinha atrapalhado. – Continuo achando uma ótima ideia.

Jenny deu uma olhada para a papelada na frente dela. Depois para mim.

— Que horas?

Nesse momento ouvimos Cynthia reclamar na antessala:

— Pelo amor de Deus! Quantos anos vocês têm?

Corri para a porta e a abri, na mesma hora, Tony, McGee, Abby e até Ziva caíram dentro da sala.

Meu pai olhou torto para a equipe, Jen tinha uma expressão cansada.

Abby foi a primeira a se levantar e correr para o centro da sala, mesmo não tendo sido convidada.

— Às oito da noite. Dá para você ir, Diretora? – Ela perguntou animada.

Com tantas testemunhas, eu não achava que ela fosse negar.

— Sim, Abby, eu vou. Porém...

Abby não esperou Jenny terminar e abraçou McGee que era quem estava mais perto.

— Abby, a Diretora não terminou de falar. – Eu a informei.

— Oh, me desculpe.

— Regra #06, nunca peça desculpa... – Quatro pessoas falaram ao mesmo tempo.

— Pois não... – Abby nos ignorou.

— Da próxima vez, por favor, nada de ficar espionando atrás da porta para saber a minha resposta.

— Tudo bem! Eu venho pessoalmente! – Abby falou.

— E o mesmo para vocês três!! – Ela informou aos três que estavam na porta.

— Sim, senhora.  – A equipe de meu pai respondeu.

— Mais alguma coisa? – Jen perguntou.

— É sexta-feira... podemos ir embora mais cedo? Para dar tempo... – Tony começou e Ziva deu uma cotovelada nele.

— Por mim, podem. A menos que vocês tenham algum relatório para terminar, mas isso é com o Agente Gibbs.

— Chefe? – Tony não iria desistir.

— Vão! – Ele nem olhou para os três que voaram porta afora com medo de papai voltar atrás.

— Está benevolente hoje, pai? – Perguntei sem acreditar no que ele tinha acabado de fazer?

— Culpa sua.

— Minha?!

— É.

— Mas eu não fiz nada!!!

— Kelly, toda santa vez que você aparece, ninguém trabalha. Vocês sempre inventam de ir a algum lugar!

— Não foi minha ideia sair para jantar! – Me defendi.

— Kelly... – Ele me encarou.

— Vocês dois têm certeza de que vão começar a discutir sobre um jantar aqui e agora? – Jen nos interrompeu.

Olhamos para ela.

— Eu sou imune a essa encarada. – Ela disse com um sorriso de canto. Eu desisti de tentar intimidá-la, papai não. – Jethro, você pode colocar medo na sua equipe e na sua filha, não em mim. – Ela se levantou e começou a arrumar as coisas.

— Vai aonde? – Papai perguntou, todo possessivo.

— Para casa. Vou deixar esse trabalho lá e me arrumar. Kelly, me mande o endereço por mensagem, por favor. – Ela falou já vestindo o casaco.

Vi meu pai concordar com a cabeça. Talvez, só talvez, Ducky tenha razão. Basta só um empurrãozinho. E eu tenho a ajudante perfeita!


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Notas finais do capítulo

Vocês não acharam que eu iria deixar passar a oportunidade de fazer a equipe espionar atrás da porta, acharam?
E sim, eu sou ruim... Jenny e Gibbs andam em círculos, e o paizão fica sempre no quase para conhecer a caçula...
Alguma ideia do que pode sair desse jantar?
Fiquem seguros, lavem as mãos, limpem o celular, cuidem de suas famílias e nos vemos no próximo capítulo.
xoxo
Quando será que Gibbs e Sophie vão se encontrar?



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