Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 27
Momentos Roubados


Notas iniciais do capítulo

E aqui vamos nós para mais um pouquinho do trio juntinho.
Confesso que fazer a Jenny e a Kelly se conhecerem não estava nos meus planos, mas isso aqui acabou por brotar nessa minha mente insana.
Espero que gostem.
Boa leitura!!



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— Eu não acredito!! – Kelly disse emburrada. – Isso não pode estar acontecendo!

— Eu te avisei, filha...

— Não venha com o famigerado “Eu te avisei, filha”, para cima de mim!! – Kelly disse revoltada, olhando novamente para o placar.

A essa altura da noite, eu estava sentada em uma das cadeiras, vendo os dois jogarem a quinta partida. Até aqui, estavam empatados. E Jethro tinha uma vantagem considerável sobre Kelly na partida de desempate, o que fazia a garota ficar ainda mais nervosa, isso e o fato de que Jethro é incapaz de não contar vantagens sobre o placar.

E lá foi mais uma bola... e o quinto strike de Jethro. Kelly quase teve um AVC de tanta raiva...

— Eu vou conseguir virar isso! Eu virei a segunda partida... – Kelly disse determinada quando veio pegar uma das pesadas bolas.

Ela se encaminhou para a pista, a bola levantada na altura do pescoço, concentradíssima no alvo. A pequena corrida até que....

STRIKE!!!! – Ela gritou, e metade do lugar olhou em direção a ela.

— Mas você ainda está atrás no placar. – Jethro fez questão de lembrar a filha

— Um ponto, pai... um mísero ponto. – Ela disse e abriu espaço para que o pai fizesse a jogada.

Kelly olhava com expectativa para bola até que ela acertou os pinos e...

— Nove!!! Só derrubou nove!!! – Ela gritou e começou a pular ao lado do pai. Jethro, por sua vez, encarava o único pino de pé no final da pista. Achei que ele mandaria o sapato só para ter o prazer de vê-lo cair.

— Empate Kelly. Estamos empatados. – Jethro garantiu e pegou a próxima bola para que a filha pudesse jogá-la.

Estava observando os dois brincarem entre si enquanto jogavam... já que eu, bem, como uma tragédia anunciada, eu fui realmente a última colocada... mas não estava nem aí, esses dois, nessa felicidade, era tudo o que eu queria e precisava ver. E, na minha distração total, não percebi uma senhora que se aproximou e se sentou do meu lado...

— Com licença, senhora... – Ela me chamou. E por conta do “senhora”, eu levei um tempo para perceber que era comigo que ela queria falar.

— Ahn... oi! – Eu disse um tanto assustada com a aproximação. Não era comum esse tipo de coisa por aqui.

— Me desculpe me aproximar assim, mas eu gostaria de te parabenizar pela linda família que você tem. Foi muito difícil não prestar atenção em você, seu marido e sua filha durante essa noite... Vocês realmente tem um elo muito forte.  – Ela continuou.

E eu petrifiquei.... aquela não era a minha família...

— Ah... eu agradeço o elogio, mas a garota não é minha filha. – Eu me desculpei.

— Mãe, nem sempre é quem traz o bebê ao mundo, algumas mães são aquelas que aparecem quanto a gente menos espera. E você, minha cara, pode não ter percebido, mas aquela menina te vê mais como uma figura materna do que como amiga. Além do mais, você e o pai formam um casal muito bonito. Serão muito felizes, eu tenho certeza. – E dizendo isso, ela se levantou, me desejou boa noite e foi embora.

E eu fiquei ali, olhando para a porta.

— O que raios acabou de acontecer aqui? – Eu me perguntei internamente. Mas antes que eu pudesse processar tudo o que a senhora inglesa me disse, minha atenção foi novamente tomada para a pista número 8, onde pai e filha brigavam ponto a ponto para ter a vitória da noite.

— Estamos separados por um ponto! Um ponto e esta é a última jogada de cada um. Se prepare Marine, eu deixei o meu melhor para o final. – Kelly anunciou indo para a pista.

Neste momento vi que Jethro me olhava curioso. Ele não precisou dizer nada, eu sabia o que ele queria saber. Ele queria saber o que a senhora disse para mim.

Fiz sinal de que não era nada importante e mandei que ele ficasse de olho na jogada de Kelly.

Ele se virou na direção da filha, mas notei que metade da atenção dele estava em mim.

— E é outro strike!!! – Kelly comemorou.

— Vai ter que torcer para que eu derrube oito ou menos pinos... e isso não vai acontecer, Kells. – Jethro deu um peteleco no nariz da filha e foi fazer a jogada.

Até eu me levantei para ver.... será que Kelly teria essa sorte? Contudo....

— EU NÃO ACREDITO!!!! – Ela choramingou. Jethro fizera um strike. O que significava que terminaram empatados.

— Empate? – Pai e filha olharam para o placar e depois de um para outro.

Eu não entendi o motivo de tanto espanto, não era uma partida de brincadeira?

Não, não era. E os dois sabiam disso...

— Vamos ter que remarcar outra partida para desempatar esta. – Kelly clamou.

— Concordo com você pela primeira vez na noite...

Olhei para o placar na parede.... é, tendo em vista o tempo que ficamos por aqui, até que os dois fizeram bastante pontos. O suficiente para...

Ganharem o troféu de maiores pontuadores da noite.

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  - É o meu segundo troféu de primeiro lugar da noite! – Kelly se gabou. – E agora é internacional! – Ela cantarolou.

Nosso troféu, Kelly.

— Ih, pai... para de chorar o leite derramado! Meu troféu e ponto final. – Ela garantiu.

— Eu só acho que faltou uma coisa... – comecei.

— O que? Nossos nomes aqui? – Kelly respondeu rindo do banco de trás.

— Não. Uma coisa muito mais importante.

Kelly e Jenny olharam para mim com surpresa.

— E o que seria, Jethro? – Jen perguntou do meu lado.

— Um troféu de consolação para o pior da noite. – Falei encarando os olhos verdes de Jen, que só sibilou do meu lado e virou a cara. Kelly, por sua vez, gargalhou alto.

— Pai... nem que seja no boliche, o senhor ganha da Jenny! E é por isso que eu te amo!

Jen ficou muda, como se a conversa não a incluísse.

— Vou aceitar essa sua virada de casaca como um pedido de desculpas por ter ficado ao lado da Jen durante a tarde.

— O que eu posso fazer? Só torço para quem está ganhando. – Kelly deu de ombros no banco de trás e Jen a encarou.

— Muito bom saber disso... sua vira-folha! – Foi o que ela disse para Kelly.

— Às ordens! – Kelly brincou e desceu do carro. – E amanhã, qual é a programação? – Ela foi perguntando enquanto entrávamos no apartamento.

Olhei para Jen para ver se ela tinha alguma programação. Ela parecia pensar enquanto desabou no sofá e tirou os saltos – que Ducky a tinha mandado não usar.

— Se não estiver chovendo, por que não tentamos alguns dos parques? Tem um monte para se escolher nessa cidade...

— Só se rolar piquenique! – Kelly respondeu animada pulando no sofá.

— Só se a mocinha levantar cedo! – Eu disse.

— Isso foi jogo sujo! Não brinque com a quantidade de sono que cabe dentro de mim! – Ela reclamou e imitou Jen, sentando, por fim, no sofá oposto ao dela.

— Qual você quer ir, Kelly? – Jenny perguntou.

— Para mim, qualquer um! – Kells respondeu feliz.

— Ajudou muito. – Jen suspirou. – Londres tem uma infinidade de parques!

— Escolha o que mais te agrada! – Minha filha disse prática.

— Escolha um que não tenha nenhuma armadilha para turistas. – Eu pedi.

Jen estava pensando.

— Tudo bem... até pela manhã eu devo ter escolhido. Até lá, - ela se levantou – boa noite para vocês dois. – Jen se despediu e foi para o quarto.

— Acho que eu vou fazer o máximo... eu tô tão cansada que parece que fui atingida por um caminhão... – Kelly disse. – boa noite, papai. – Ela me deu um beijo na bochecha e foi para o quarto, carregando o troféu junto com ela.

E eu fui deixado sozinho na sala. Por que a Jen teve que ser tão puritana e resolver fingir que nós dois não dividíamos o mesmo quarto?

Esperei até ter certeza de que Kelly estava mesmo dormindo e, ao invés de fazer o caminho para o “meu” quarto, fui para o Jen. Kelly acorda tarde e dorme feito uma pedra de qualquer jeito mesmo.

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Eu não conseguia dormir de primeira... e duvido muito que conseguiria. Estava deitada olhando para o teto, me perguntando por onde andava o meu sono - e estranhando estar dormindo sozinha, - quando a porta do meu quarto foi aberta.

— O que raios você está fazendo aqui? – Pulei da cama e sibilei em direção à Jethro que entrava sorrateiramente pela porta.

— Kelly acorda tarde! – Ele deu a pior das desculpas.

— Fora! – Eu disse o empurrando na mesma direção em que ele tinha vindo.

— Jen.. – Ele firmou o corpo e eu acabei batendo a cabeça nas costas dele.

— Eu já disse Jethro! Não enquanto ela estiver aqui! – Tentei manter a voz firme, mas eu tinha acabado de perceber que a minha insônia repentina era causada pela falta dele ao meu lado e a presença dele aqui não estava ajudando em nada...

— Ela não vai saber... até porque o quarto dela é bem longe deste e ela dorme feito uma pedra! – Ele se virou para mim e tentou me abraçar pela cintura.

— Não! Agora saia! – Eu disse abrindo a porta.

Como o bom teimoso que ele era, Jethro passou por mim e se deitou na cama e, de lá, me encarava com um sorriso zombeteiro e um olhar traiçoeiro.

Eu tinha duas opções: ou voltava para a cama ou poderia deixa-lo no quarto e seguir para o dele...

— Nem pense em fazer isso. – A voz dele causou arrepios na minha pele.

— E por que você acha que eu faria algo que você quer? – Retruquei, ainda com a porta aberta e de olho no quarto de Kelly no fim do corredor.

— Porque é meu aniversário. – Foi a resposta que ele me deu. – E você me deve um presente.

— Eu. Te. Devo. Um. Presente?! – Minha voz saiu um pouco mais alta do que deveria.

— Sim. – Ele sorria em minha direção. E daquele sorriso não sairia nada de bom.

— Se eu não me engano, eu preparei uma surpresa para você. Uma que você jamais esperaria. Não vejo como eu posso estar te devendo um presente, ò senhor aniversariante...

— Simples. Você resolveu ser puritana e sair do quarto.

— Isso se chama ter um pingo de senso e respeito pela sua filha. Não se esqueça que ela não sabe até onde nós fomos. Ela pode ter uma ideia, mas não sabe a verdade! – Respondi.

Jethro não me respondeu. Apenas sorriu de lado. Aquele sorriso que me derrubava.

— Fora da minha cama. – Ordenei da porta.

— Não.

— Jethro....

— Jen... eu não vou sair, e se você sair eu vou atrás de você e quando eu te alcançar, você vai gritar ou começar a rir, aí a Kelly vai escutar, sair do quarto e perguntar o que está acontecendo... e eu vou deixar para você responder...

É claro que ele iria jogar o abacaxi para que eu o descascasse.

Encarei Jethro com o pior olhar que eu conseguia impor. Ele nem se importou, apenas bateu na cama mostrando o meu lugar.

Uma parte de mim queria muito correr para a cama e me enroscar nele e dormir ouvindo o seu coração bater, mas a outra parte me dizia que eu não poderia fazer isso, pois a filha dele estava a metros de distância, e eu deveria respeitar isso.

Dei uma olhada para o corredor em direção ao quarto de Kelly, nenhum barulho era ouvido, as luzes estavam apagadas...

— Ela acorda tarde, Jen. Nem vai saber... – Ele me tentava.

Mordi o lábio inferior. Poderei mais um pouco. E, quer saber, meu mais sincero dane-se. Fechei a porta, trancando dessa vez, e corri para a cama. Fui recebida com o maior dos sorrisos por Jethro, que tinha os baços abertos já me esperando.

— Só dormir... pelo amor de Deus! Ela pode acordar tarde, mas tenho certeza de que ela não é surda. – Eu falei, e tive a certeza de que minhas bochechas estavam vermelhas.

— Como quiser, Jen. – Ele respondeu no meu ouvido enquanto me abraçava me levando a deitar sobre o seu peito. – Mas, me diga só uma coisa, por que você está com o rosto queimando?

Droga!!!

— Boa noite, Jethro! – Ignorei a pergunta e me ajeitei no peito dele.

— Mas eu bem que queria saber.... suas bochechas e seus olhos sempre te entregam, Jen. Sempre!

Como que para provar a teoria dele, eu senti meu rosto ficar ainda mais quente. E ele, bem, Jethro caiu na risada.

— Boa noite, senhorita puritana. – Ele disse beijando o topo da minha cabeça.

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 - Olha só quem foi que caiu da cama hoje!!! – Saudei os dois viciados em café que já estavam na cozinha, já toda arrumada para podermos ir para sei lá onde!

— Bom dia, filha, só me responde uma coisa, desde quando dez e meia da manhã é cair da cama? – Papai veio com o seu já famoso sermão.

— Hoje é domingo, Jethro, deixa ela dormir mais um pouco. – Jen respondeu por mim, enquanto ela mesma tentava esconder um bocejo.

— Você duas juntas é garantia de dor de cabeça! – Papai saiu balançando negativamente a cabeça. – Uma sempre defendendo a outra...

— Tá vendo o que tenho que aguentar? – Jen sorriu na minha direção.

— Eu aguento isso há dezesseis anos... bem-vinda ao clube! – Levantei a mão e ela me cumprimentou com um toquinho.

— Tenho pena de você! – Ela continuou mais alto, como se quisesse que papai ouvisse.

— Eu não sou surdo! – Foi o que ele disse de algum lugar no apartamento.

— Voltando ao assunto, KELLY – Jen destacou o meu nome – me diga o que você faz para evitar de acertar um sapato na cabeça dele?

Eu queria muito começar a rir, mas meu pai tem o incrível dom de aparecer do nada atrás de mim, então me contive a falar a verdade e tentar me manter séria.

— Eu o mando para o porão.

— E ele vai? – A ruiva sorria como se soubesse que ele estaria ouvindo.

— Ninguém me manda para o porão! – Papai reclamou.

— É uma pena que não tenho um porão aqui, senão nós poderíamos trancá-lo lá e sair para fazer algumas compras... – Jen disse pensativa. E bem nessa hora papai apareceu atrás dela, eu me mantive calada, senão iria sobrar um tapão para mim também, contudo, contrariando tudo o que eu já tinha visto, Jenny conseguiu abaixar a cabeça bem na hora que a mão do meu pai iria acertá-la...

— Por essa o senhor não esperava, não é pai? – Eu disse para ele que olhava como se quisesse matar a Jen.

— O que você acha, Kelly? – Foi a resposta que recebi.

Jen, por sua vez, ria com gosto.

— Não ache que você é tão silencioso assim, Jethro...

Eu balancei a cabeça vendo como ela o encarava, com um sorriso vitorioso, e ele, bem, só posso traduzir aquele olhar como: se você acha, Shepard...

— Oi... eu detesto interromper a guerrinha particular de vocês dois, mas... onde nós vamos mesmo?

— Hyde Park.

— Você vai nos levar para o maior parque de Londres, Shepard? Eu pedi sem turistas! – e meu pai reclamou pela milionésima

— Exatamente por isso que vamos para lá! Por ser maior, é menor a probabilidade de sermos interrompidos por turistas, não que nós não somos, mas tudo bem...

— E vai rolar o piquenique, né? Porque nem chovendo está! – Eu olhei pela janela, tudo bem, era novembro, em nenhum lugar do hemisfério norte teria sol e calor, mas o dia não estava tão feio assim....

— Está disposta a encarar o frio? – papai me perguntou.

— Preparadíssima! – Eu respondi.

— Então temos que arrumar as coisas... – Jen disse não muito certa enquanto vasculhava o tempo lá fora.

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— Eu disse que era armadilha para turista! – Jethro estava furioso.

— Como eu iria saber que justo hoje teria uma apresentação da Orquestra de Londres tocando as melhores trilhas sonoras de filmes?

— Por que era o seu dever saber disso, Jen? – Ele me fuzilou com os olhos. E eu, muito madura, mostrei a língua para ele.

— Pai.... – Kelly choramingou. – Não foi tão ruim assim! Eu adorei a trilha sonora e o piquenique! Aliás, eu adorei o dia todo...

— Viu, pelo menos sua filha concorda comigo!

— Como não foi tão ruim assim, Kelly? Será que você se esqueceu que foi atropelada por um bando de crianças e adolescentes quando tocaram a trilha daquele filme?

Star Wars, Jethro... Star Wars. Pelo amor de Deus! – Eu levei minhas mãos para o céu... onde será que ele estava escondido que não sabia reconhecer a trilha sonora de um dos filmes mais famosos?

— Que seja, Jen! Olhe o que fizeram com ela! – Ele apontou para a filha.

Segui suas mãos e meus olhos pousaram em Kelly, e a pobrezinha estava de dar dó, toda coberta com terra, seu cabelo estava mais sujo ainda, se levarmos em conta que agora chovia forte e estávamos tomando aquele banho frio, mas o que mais chamava a atenção era o chantilly espalhado pela blusa, pelo rosto e braços, frutos dela ter sido empurrada por uns cinco garotos que passaram correndo e, bem, ter caído de cara em cima do bolo com cobertura de chantilly que ela tinha escolhido para levar.

— Pai... eu estava no lugar errado e na hora errada. Aquelas crianças só queriam chegar mais perto do palco e não me viram... – Ela tentava defender os cinco meninos que voaram por cima dela quando os primeiros acordes do tema de Star Wars começaram a tocar. – E tirando isso, foi tudo perfeito. Bem, não contava com essa chuva...

Na verdade, ninguém contava, nem os londrinos que agora tentavam se proteger a todo custo do temporal que despencou de uma hora para outra.

— Kelly não venha defender aqueles meninos!

— Mas o senhor não precisava ameaça-los! São crianças! – Ela protestou.

— Que não têm educação. – Jethro retrucou.

— Vamos parando, por favor! – Tive que intervir. - O dia estava perfeito até aqui... vamos continuar assim? – Pedi para os dois. E obtive a mesma resposta, uma encarava exata vindo de dois pares de olhos idênticos.

— Que seja... – Me dei por vencida e os dois voltaram para a sua guerrinha muda.

Depois de quase quinze minutos escondidos dentro de um coreto, a chuva deu uma trégua... não parou, mas era calma o suficiente para não nos encharcar.

— Nada mais de passeios por hoje. – Jethro deu o ponto final.

— Mas pai!! É domingo! E estamos no meio da tarde!! Não pode fazer isso! É a minha primeira vez fora do país, eu mereço ver mais de Londres do que isso! – Kelly reclamava na orelha dele enquanto tomávamos o caminho do metrô.

— Não só posso como fiz! – Ele disse encerrando a conversa.

Kelly olhou para mim desesperada, pedindo por ajuda.

— Não seja tão chato e ranzinza, Jethro... Por que acabar com a festa tão cedo? Olha, podemos ir para o apartamento, Kelly toma um banho, e depois, podemos ir para qualquer outro lugar que não seja a céu aberto... – Tentei soar diplomática.

Kelly faltou pouco dar pulinhos de alegria. Jethro suspirou fundo, ainda com raiva.

— E onde seria isso? Será que podemos ver uma peça de teatro? – Kelly se empolgou. Particularmente eu gostei da ideia...

— Não, teatro não. – Jethro respondeu imediatamente.

— Madame Tussauds? – Kelly deu outra alternativa, já se empolgando.

— Por que não? E de lá um jantar? Bem tranquilo, não, Jethro?

  - É pai.. não corremos o risco de ser atropelados por ninguém!

— Vocês duas são terríveis juntas. Vão me arrastar para um Museu?

Eu olhei para Kelly que me olhou de volta.

— Sim, vamos! – Respondemos juntas e Jethro só suspirou aceitando a derrota.

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 Eu tinha uma ideia de que Kelly e Jen juntas em uma mesma cidade não sairia nada de bom, e não saiu. Eu fui arrastado para todos os lugares que turistas frequentam, desde o Big Ben até Museu de cera. Claro que Kelly estava amando cada segundo, mas os dois primeiros dias dela aqui precisavam ser assim? E justo nesses lugares?

Mas não teve jeito, o complô foi armado antes que eu pudesse dizer alguma coisa. E olha que elas me disseram que era pelo meu aniversário... Então, depois de andar por mais de três horas dentro de um museu, vendo as estátuas de pessoas famosas – para Kelly e para Jen -, agora eu estou aqui, esperando há quase uma hora as duas se arrumarem para que possamos ir jantar. E pelo que Jen me mandou vestir, elas iriam me enfiar em algum lugar chique...

— Ainda vão demorar muito? – Gritei em direção onde elas estavam.

— Pelo amor de Deus, Jethro! É a quinta ou sexta vez que você pergunta. Estamos quase prontas.

— Vocês estavam quase prontas da última vez que perguntei.

— Pai... quase é quase. Não nos apresse, por favor! – Kelly respondeu dessa vez.

— Que horas que é a reserva?

— Às vinte uma e trinta. Não estamos nem perto da hora, então, Jethro, seja um bom e paciente menino que daqui a pouco estaremos aí.

— O seu “daqui a pouco” dura quase um dia, Jen. Será que pode ser mais específica?

Eu sabia que ela ficaria uma fera com a quantidade de perguntas que eu estava fazendo, mas, sinceramente, eu não dava a mínima. Não tinha nada para fazer e as duas ainda estavam se arrumando. Foi quando eu fui surpreendido por um pé de sapato de salto (muito alto) sendo arremessado na minha direção.

— Se continuar reclamando, o próximo eu vou mandar para acertar na sua testa e deixa-lo aí!! – uma Jen maquiada e vestida em um robe apareceu sibilando da porta do quarto. – Agora devolve o sapato! – Ela exigiu.

— Você arremessa o sapato em mim e quer que eu o devolva para você? – Sorri para ela, só para ver Jen ficando vermelha de raiva, talvez não tenha sido uma boa ideia...

— Eu preciso te lembrar, Leroy Jethro Gibbs que nós compramos o par, e não só um pé? – Ela balançou perigosamente o outro pé na mão direita dela.

— Não... – eu não faço ideia do motivo de tê-la respondido.

— Ótimo, porque assim você sabe que de onde esse pé saiu, o irmão dele está esperando, não é? Então traga o sapato aqui e agora!!

Eu poderia ignorá-la, vê-la ficar ainda mais vermelha de raiva, tinha muito tempo que eu não fazia a Jen ficar assim. Mas aí eu lembrei onde brigas assim terminavam, e decidi não arriscar...

 - Aqui está o seu sapato, Madame. – Entreguei o sapato para ela.

— Da próxima vez que ficar de gracinha, Gibbs, eu arremesso esse sapato e o cravo no meio da sua testa. – Ela me ameaçou e voltou para o quarto, fechando a porta atrás de si.

Definitivamente eu estou cercado por malucas.

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— Eu não acredito que ele trouxe o sapato! – Disse assim que Jen entrou no quarto.

Verdade seja dita, nós duas estamos prontas já faz um tempinho, contudo, papai nos perturbou tanto que resolvemos dar um chá de cadeira nele.

Acontece que da brincadeira de fazê-lo esperar acabamos por irrita-lo um pouquinho mais, e ele ficou mais impaciente ainda, o que levou Jen a ter uma ideia.... a belíssima ideia de apostar se ele devolveria um par de sapatos depois de ser ameaçado ou não.

Eu, como boa filha, e o conhecendo há mais tempo, disse que não, ele não devolveria. Já Jen apostou que sim....

E pela cara de feliz que ela entrou no quarto, eu tinha perdido.

— Eu não consigo acreditar nisso!

— Mas eu te disse, uma boa ameaçada na integridade física dele e ele faz o que você quiser. – Jen confabulou.

— Isso é bem novo para mim... – Fui sincera.

— Nada... ele faz isso o tempo todo. E hoje ele mereceu, está mais chato do que o normal.

Ouvimos os passos de papai de um lado para outro na sala. Ele, agora, tinha perdido o restante da paciência que ele não tem...

— Acho melhor você sair primeiro... – Disse para Jen.

— Tudo bem... ela só passou um batom nos lábios e saiu. Quando eu presumi que ela estava na sala, só escutei:

— Eu disse que era rapinho, não disse?

— Se você está falando... – Foi a resposta curta e mal-humorada de papai.

— Eu estou afirmando, Jethro... – Jen falou.

— Que seja, onde está Kelly? – Papai mudou de assunto.

— Estou aqui! – Me apresentei.

Papai nos olhou de cima embaixo... e eu pude ver na cara dele que ele estava me achando muito chique ou muito arrumada ou não tinha gostado nada do fato de eu estar maquiada e me equilibrando em um salto quase tão alto quanto o de Jenny.

— Então vocês duas vão assim? – Ele perguntou por fim.

— Sim. – Nós duas respondemos.

E ele nos pegou e no guiou para a porta, do mesmo jeito que tinha feito no aeroporto, era domingo à noite e estávamos saindo para comemorar o aniversário dele!!

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 Nunca quatro dias tinham passado tão rápido. Apesar de ter sido arrastado para cada canto que foi possível dessa cidade, de ter sido obrigado a usar uma roupa cara que eu não tinha comprado, ter ido jantar no restaurante mais famoso de Londres e depois ter sido obrigado a servir de carregador de sacolas, posso dizer que não me arrependo de nada disso.

Talvez eu tenha exagerado, Kelly não ficou o tempo todo como turista, passamos bons momentos juntos, afinal, foi para isso que ela veio, não é?

O que me lembra, que eu ainda tenho que interrogar um certo alguém sobre como ela conseguiu trazer a minha filha para o outro lado do mundo sem que eu soubesse.

Mas tudo acaba, e Kelly tinha que voltar para casa, ela não poderia ficar perdendo mais aulas. E esse era o pior momento.

Se já foi difícil deixa-la naquele aeroporto há onze meses atrás, hoje a despedida era dupla. Não era só para mim que ela dizia adeus. Era para Jen também.

Foi estranho e ao mesmo tempo reconfortante como as duas se deram bem e se defenderam desde o primeiro momento. Talvez isso se deva ao fato de que elas vêm conversando por cartas e alguns telefonemas há um tempo, mas, Kelly nunca foi de ser tornar tão apegada a alguém tão rapidamente quanto ela se apegou à Jenny. E posso dizer com toda certeza que a reciproca é verdadeira. Eu vi Jen ficar nervosa enquanto estávamos a caminho do aeroporto na sexta-feira, e estou vendo como ela está chateada de ter que ajudar minha filha a fazer as malas para voltar para casa.

Verdade seja dita, o voo de Kelly só partiria dentro de oito horas, mas o clima dentro desse apartamento, que até ontem à noite era de alegria tinha mudado.

— Papai,  - Kelly me gritou do nada. – o senhor viu o meu celular?

Por que eu não me surpreendia com o fato de Kelly ter perdido alguma coisa?

— Tem certeza que não está na cozinha? Foi lá que eu vi você mexendo nele...

— Cozinha?! – Ela correu até a sala e me olhou pensativa. – Ah, céus!!! Eu não acredito que fiz isso! – E correu para perto da geladeira.

— O que foi? – Jen correu para a sala onde eu estava.

— Nada. Só a Kelly sendo Kelly. – Eu respondi.

— E isso seria? – Ela retrucou de volta.

— ACHEI!!!! – Kelly apareceu com o dito cujo na mão. – Acredita que eu coloquei o celular dentro da geladeira? E olha que eu não estou nem de jetlag ainda!! – Ela olhava para o aparelho em sua mão.

Jen ficou parada olhando de Kelly para a direção da geladeira e depois para mim.

— Isso é ser Kelly! – Eu respondi a cara espantada dela.

— Mas é claro! – Ela riu. – Quem nunca colocou algo por engano dentro da geladeira, não é? – Ela me olhou.

— E isso é só o começo...

— Imagino... ontem ela não saiu procurando o brinco? Sendo que os dois já estavam na orelha dela? – Jenny deu de ombros e ia se sentando no sofá quando...

— JEN!! Me ajuda aqui!! Acho que a mala não vai fechar!!

— Boa sorte... – Falei para Jen que tinha se levantado e ia em direção ao quarto de Kelly.

— Obrigada..., mas eu sei me virar muito bem com malas! – Ela piscou para mim.

— Acho bom! Pois ela chegou com uma e está voltando com três!

— Jethro, aprenda uma única coisa, é praticamente impossível não comprar nada quando se viaja! – Jen parou no meio do caminho para brigar comigo.

— Ou você quer dizer: é impossível para você se controlar quando faz compras?

— Isso também! Agora me deixe ir socorrer a sua filha, se eu precisar de uma forcinha eu te chamo!

— Jennn essa mala não vai fechar!!! – ouvi Kelly reclamar desesperada.

— Para que foi comprar tanto ontem? – Eu gritei para minha filha. E ela, em um segundo apareceu na sala só para me responder.

— Sem querer ser chata, mas já sendo... se eu não conseguir levar tudo, o senhor vai ter que levar quando voltar...

Eu parei para pensar em tudo o que foi comprado ontem pela manhã, era muita coisa. E eu não carregaria nada daquilo...

— Jen, quer que eu ajude a fechar e a carregar essas malas? – Me disponibilizei.

— Não disse Kelly? Uma pequena ameaça e ele faz tudo o que a gente quiser!!! – Jen disse feliz quando entrei no quarto para ajuda-las com as malas.

E mais uma vez eu fui pego no complô dessas duas. Eu ia sentir falta disso. Ah, eu iria.

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 - Bem, é a minha hora, né? – Kelly disse balançando o próprio corpo para frente e para trás.

— Ainda tem uns minutinhos. – Eu disse. – Pelo telão ainda não abriram o portão.

Nós três olhamos para o telão que nos dava as informações dos voos que estavam para partir com uma cara triste, depois de quase quatro dias vivendo em uma bolha, era hora de cada um de nós voltarmos para o mundo real.

Kelly estava voltando para casa, depois de uma mini férias em Londres. Jethro e eu tínhamos que arrumar nossas coisas e fechar o apartamento, partiríamos para Paris dentro de dois dias. Os dias livres de preocupação já estavam fazendo falta.

— Droga... eu detesto despedidas... – Kelly começou com os olhos azuis cheios d’água.

— Vem aqui filha. – Jethro puxou a filha para um abraço apertado. E começou a falar algo no ouvido dela.

Dei um passo para trás e os deixe às sós. Não queria começar a chorar vendo a despedida deles. Doía só de pensar pelo que Kelly e Jethro estavam passando agora. Não que eu não estivesse chateada, é só que... a quem eu quero enganar? Era doloroso para mim dizer adeus para aquela garota também!

Depois de alguns minutos às sós, os dois vieram para perto de mim, Kelly com cara de choro e Jethro tentava esconder a tristeza de ter que se despedir da filha mais uma vez, e em pleno aniversário.

 - Agora não tem jeito... já abriram o embarque... não tem como vocês chegarem até o portão comigo, não? Sei lá... mostrem seus distintivos, vai que liberam... – Kelly olhava para os próprios pés ao dizer isso.

— Acho difícil, Kells, mas posso tentar.

— Você sendo o pai dela consegue, tenho quase certeza. – Eu disse com um meio sorriso.

Como previsto, a segurança liberou Jethro para escoltar a filha até o portão de embarque. Eu, por outro lado, fiquei no saguão.

— Jeenn! – Kelly me abraçou chorando e eu não consegui conter as minhas lágrimas. – Obrigada por tudo! Por essa ideia louca que você teve, por arrumar tudo para que eu viesse ver meu pai, por cada presente, e.. bem, obrigada por estar aqui com a gente!! Eu vou sentir falta de tudo o que aconteceu aqui... – Ela soluçou.

— É para isso que eu guardei isso aqui para o final. – Eu falei para ela.

Kelly deu um passo atrás e me olhou espantada.

— Qual é a surpresa da vez? – Ela disse, agora abrindo um sorriso.

— Bem melhor assim! – Eu falei apontando para o sorriso, e entreguei a última lembrança.

Jethro, que agora abraçava a filha, aproveitando os últimos segundos ao lado dela, olhou desconfiado para o embrulho.

— Eu não tenho tempo de abrir agora, mas assim que eu entrar no avião, eu vou abrir! – Kelly disse com um mais de animação na voz.

— Espero que te deixe mais feliz! – Eu dei outro abraço na garota que tinha virado parte da minha família. – Tenha uma boa viagem de volta, Kelly! E eu quem agradeço você ter entrado de cabeça na minha ideia!

— Ideias malucas iguais a essa, pode me chamar que eu sempre vou topar!

—Ah, eu sei que vai! – Sorri de volta vendo como ela abraçava o último presente.

A última chamada para o voo direto com destino à Washington soou nos alto-falantes do aeroporto.

— Tchau Jen! – Ela me abraçou apertado, quase me deixando sem ar. – A gente se vê quando vocês voltarem para os EUA.

— A gente se vê, Kells – Dei um beijo na testa dela e Jethro a puxou para o portão da sala de embarque. A última visão que tive dela foi ela me acenando um adeus enquanto tinha as bolsas revistadas.

Eu sabia que Jethro ficaria pela sala de embarque até que o avião dela decolasse, ou talvez até que ele não pudesse mais ver um sinal dele no céu acinzentado da Inglaterra. Sabendo que a única saída que ele tinha era pelo portão de desembarque, fiquei esperando por ele lá. E foi impossível não reviver o momento em que ele viu a filha há quatro dias atrás.

— O tempo é injusto. – Suspirei falando comigo mesma. – Quando se quer, ele passa devagar, quando a gente tem muito o que viver, ele voa e nem percebemos...

Estava sentada em um café quando ele apareceu, não tinha a melhor das expressões, ou melhor dizendo, estava lutando para manter a fachada séria, mas eu já o conhecia bem demais para saber que ele só precisava ser deixado sozinho e em silêncio.

Então, peguei a chave do carro no bolso dele, entreguei o copo de café que tinha comprado para ele e o guiei para fora do aeroporto o abraçando de lado.

Todo o caminho de volta para o apartamento foi feito em silêncio. Não tínhamos que fazer nenhum plano para os próximos dias, não tínhamos uma visitante empolgada com cada luz que via, era só ele e eu de volta para o nosso mundo cheio de mentiras e perigo.

Ao chegar no apartamento, não foi diferente. Já era tarde, o voo que Kelly pegou era praticamente o último do dia para os EUA, então não tinha mais nada o que fazer a não ser dormir, ou ficar ali, olhando para a TV desligada, como Jethro estava fazendo.

Por alguns segundos eu fiquei sem saber o que fazer. Eu não consegui decifrar em sua expressão vazia o que ele queria. Mas ele percebeu a minha indecisão e me puxou pelo braço e me parou na frente dele. E eu entendi o que ele queria. Passei meus braços por trás do seu pescoço, o abraçando, e o trouxe para perto de mim, deixando que ele descansasse a cabeça em minha barriga, seus braços envolvendo a minha cintura. A cena me lembrou em muito nós dois em Marselha, na manhã do aniversário de morte de Shannon.

Ficamos assim por um bom tempo, tempo suficiente para que minhas pernas ficassem dormentes. Até que ele levantou os olhos e me encarou.

— Obrigado. – Foi a única palavra que saiu dos lábios dele.

— Não há de que. – Dei um meio sorriso a ele. Ele não precisava me dizer sobre o que ele me agradecia. Eu sabia que era sobre tudo. – E a propósito, feliz aniversário, Jethro. – Disse beijando a sua cabeça.

Ele me abraçou ainda mais forte e murmurou em minha barriga:

— Eu não comemorava o meu aniversário há sete anos.

Entendi o recado e não falei mais nada. Nem era preciso, só o levantei e o guiei para o quarto. Era tarde e de nada valeria ficar acordado remoendo lembranças dolorosas do passado.

E, ao contrário de todas as noites em que passamos juntos, apenas dormimos, ele abraçado a mim, e eu fazendo carinho em seus cabelos que começavam a ficar grisalhos, torcendo para que ele tivesse uma noite calma e sem pesadelos.


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Notas finais do capítulo

E Kelly se foi... os dois ficaram arrumando as coisas para Paris. Sim.. a próxima parada de Gibbs e Jenny é lá.
Só um avisinho. Eu tento revisar todos os capítulos, alguns são lidos até mais de uma vez, mas erros sempre ficam. Então, se alguma coisa muito grotesca saltar aos olhos ou até mesmo se algo ficou confuso, podem avisar que eu reviso de novo!
Muito obrigada por lerem. E até o próximo!!



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