Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 5
Velhos conhecidos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo com fanart procês
Postei essa arte e outras no meu instagram:
@lais.lh



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O dia estava lindo lá fora. Os pássaros cantavam pela manhã e o céu estava de um azul muito puro. A luz do sol que entrava pela janela batia na madeira e dava um tom levemente alaranjado ao quarto. Fazia tempo que Dipper não acordava com tanta disposição tão cedo.

Ele não era do tipo que gostava de cantar, mas parecia impossível não fazer isso nessa manhã enquanto escovava os dentes e trocava de roupa. Voltou ao quarto e pegou o seu boné de costume, pronto para descer as escadas. Não sabia que horas eram, mas deviam ser nove e pouco. O fato de Mabel já ter descido era um pouco incomum, pois geralmente ele acordava com ela fazendo barulho por ali.

Dipper sentou-se na cama e começou a pensar em todos os modos que ele já havia acordado na cabana por causa de sua irmã. Às vezes ela estava cantando no banheiro enquanto escovava os cabelos, outras vezes simplesmente abria e fechava gavetas até ele acordar para reclamar. Houve até uma vez em que ela tropeçou no quarto e Dipper acordou com ela xingando, e uma em que suas amigas sentaram em cima dele sem querer. Agora ele estava rindo, mas lembrava-se de ter ficado muito bravo.

O que será que ele podia fazer hoje? Se o tivô Ford estivesse ali poderia até pensar em jogar Masmorras, Masmorras e mais Masmorras, mas ninguém fora ele curtia o jogo. Não tinha importância. Com o tempo que estava fazendo, uma atividade ao ar livre como ir à piscina ou até jogar minigolfe parecia perfeita. Dipper só não queria era ir pescar, de jeito nenhum. Só o Stan mesmo pra gostar de ficar parado em um barco por um século esperando um peixe morder a isca.

Num humor quase tão bom quanto o de Dipper, Mabel entrou com tudo no quarto justo quando ele estava saindo.

— Oi, Dipper! Hoje a gente vai entregar aqueles folhetos, lembra?

— Nossa, já? — o garoto espantou-se, quase automaticamente decepcionado. Tinha esquecido completamente de Will e seus cartazes, e tinha a esperança de fazer alguma coisa que estivesse com vontade hoje.

— Ah, é mesmo. — Mabel revirou os olhos e ajeitou os folhetos que carregava, ressentida. — Esqueci que você considera o Will um monstro ou algo assim. — Quando virou para o outro lado, no entanto, os dois se olharam ao mesmo tempo no espelho grande encostado na parede do quarto. A distância entre eles parecia maior que o normal, e o semblante de ambos era triste. A cena inteira parecia deprimente.

Tudo pareceu perder o sentido. Por que, afinal, estavam brigando? Eles costumavam se dar tão bem. Dipper suspirou. Era sempre uma droga quando estavam brigados, porque toda vez que encontrava alguma coisa legal ou pensava num comentário divertido se lembrava de que não estavam se falando e Mabel o ignoraria.

— Mabel... A gente tá brigando por uma coisa tão estúpida, né?

A menina encarou o irmão, meio triste.

— É verdade. Desde quando a gente guarda rancor desse jeito?

Ele deu uma risada desajeitada.

— Eu sei. Somos os gêmeos Pines: Nem o fim do mundo nos separa, mas brigamos por causa da nossa opinião sobre uma pessoa — ironizou.

— Dipper... Eu não quero que o Will se torne o nosso próximo Tyler.

O garoto ficou levemente surpreso ao lembrar-se daquilo. Tyler era... Uma longa história.

— Nem eu.

Poucos segundos depois Mabel ficou alegre de repente, coisa que fazia como ninguém. Sem aviso, passou o braço esquerdo ao redor do pescoço de Dipper e tirou o boné dele. Os dois ficaram de frente para a janela do quarto.

— Esquece isso. Não importa o que for, mano, nós ainda somos os gêmeos Pines. — Ela acenou em direção à paisagem ensolarada atrás da janela com a mão direita. — Depois de tudo o que nós passamos, não é uma briga boba que vai nos separar. E se você já desistiu da Wendy para eu ficar com o Ginga e me tirou de uma prisão paradisíaca, acho que posso ignorar as suas paranoias.

— Obrigado, eu acho. — Dipper riu.

Mabel o soltou e colocou o boné de volta na cabeça dele depois de bagunçar seus cabelos.

— Abraço esquisito de irmãos? — Ela abriu os braços.

— Abraço esquisito de irmãos.

Mabel levantou um pouco o queixo para manter a cabeça acima do ombro do irmão enquanto o abraçava.

— Droga, Dipper, quando foi que você ficou tão alto, hein? — ela comentou quando os dois se soltaram. O outro agora era pelo menos cinco centímetros mais alto que ela.

— Haha, hormônios, maninha.

— Isso não é justo! Vocês meninos e sua trapaça.

Dipper deu de ombros.

— Eu sei, mas não é como se eu pudesse controlar. De qualquer forma, altura nem é importante hoje em dia. Bem... — Ele balançou a cabeça de um lado para o outro, pensativo. — A menos que você seja o Gideão e precise alcançar cocos em uma ilha deserta, claro.

— Hehehe, seu bobo — a garota brincou, jogando o corpo para o lado do irmão.

— Viu? É isso que você deveria ter me dito quando percebeu que era mais alta que eu. “Gêmea dominante”, fala sério!

— Cara, eu era uma pirralha de doze anos, okay? Eu sou diferente agora.

— Eu também. Me tornei o gêmeo dominante. — Dipper piscou para ela.

Mabel empurrou o irmão.

— Ora, eu ainda posso te dar uma surra se quiser!

— Ah é?

Ela atirou um travesseiro na cara de Dipper, que cuspiu e tossiu penas. Mabel riu.

— Você vai ver! — Dipper agarrou outro travesseiro, pronto para arremessá-lo.

Alguém entrou pela porta.

— E aí, pessoal, vam... — Soos foi atingido em cheio quando Mabel desviou do golpe.

E assim se iniciou uma guerra de travesseiros que durou alguns minutos. Com toda a certeza, essa foi a guerra mais pacífica da história.

 

 

 

Em uma das ruas asfaltadas nos arredores de Gravity Falls, onde as construções começavam a rarear para dar lugar aos pinheiros e via-se uma mansão semelhante a um castelo no topo de um morro ao longe, uma mulher atarefada parou por um instante para observar um cartaz fixado no poste mais próximo. Surpreendeu-se ao ser abordada quase instantaneamente por um sujeito gordo que usava uma camiseta verde com estampa de ponto de interrogação.

— Com licença, senhora, você por acaso viu o rapaz do cartaz em algum lugar? Ele é mais ou menos deste tamanho, é magro e tem cabelo loiro...

— Tipo aquele menino ali? — ela apontou para um rapaz que estava atrás dele e batia com a descrição.

O homem atrapalhou-se todo.

— É... Sim! Bem... Na verdade estamos procurando alguém que o conheça porque...

A mulher não estava entendendo mais nada. Por que procurariam por alguém que estava ali com eles? Outro menino de boné chegou para intervir.

— Licença, Soos... — ele pigarreou e se dirigiu à mulher. — Este garoto do cartaz apareceu na nossa casa dizendo que perdeu a memória. Nós decidimos abrigá-lo, mas precisamos achar a família dele. Você não sabe nada sobre isso?

Ela balançou a cabeça negativamente e desculpou-se antes de continuar andando. Dipper suspirou.

— Soos, será que não era melhor você ficar na Cabana do Mistério? — disse, tentando ser educado. — Quer dizer, será que a Melody consegue cuidar de tudo sozinha?

— Nah, a Melody vai ficar bem. — Ele fez um gesto com a mão, despreocupado. — Eu sei quando precisam de mim em outro lugar. Além disso, eu pedi pra minha vó ficar no caixa hoje.

— Você o quê?

A conversa dos dois foi interrompida por uma voz feminina.

— Olá, Dipper, pessoal. — Era Pacifica Northwest. Ela se aproximou do grupo de braços cruzados, o cabelo loiro claro batendo nas costas. — O que está acontecendo? Eu vi vocês passeando perto da minha propriedade, isso é meio incomum.

A história dos gêmeos Pines com Pacifica com certeza era um tanto complicada, mas atualmente Dipper acreditava que não houvessem ressentimentos quanto ao passado. O que não quer dizer que ainda não trocassem farpas de vez em quando.

— Sua propriedade? — Mabel estranhou. — Pensei que você e sua família estivessem morando de aluguel para aquele velho McGucket depois que ele comprou a mansão...

Pacifica irritou-se.

— Por que não vai cuidar da sua própria vida, espertinha? Aproveita e cuida desse seu cabelo ressecado, pra variar.

Dipper revirou os olhos.

— É bom te ver de novo também, Pacifica...

A loira o ignorou.

— Voltando ao assunto, eu vi vocês distribuindo uns folhetos e colando uns cartazes por aí. Quem é o novato? — Ela apontou para Will.

Soos e o garoto sem família tinham voltado a colar cartazes em qualquer superfície disponível.

— Ele chegou à Cabana do Mistério uns três dias atrás, dizendo que perdeu a memória — disse Mabel. — Pode chamá-lo de Will. A gente tá ajudando ele a encontrar a família dele.

A garota pareceu levemente surpresa.

— Uau, e vocês estão batendo de porta em porta até encontrar alguém que o conheça?

— É. — Dipper deu de ombros. — Não é como se você fosse entender.

— Não é isso. — Pacifica revirou os olhos. — Eu tipo, super acho que vocês deviam ajudar ele, mas desse jeito vai dar muito trabalho. Por que não vão para uma estação de televisão logo e gravam um anúncio?

Os gêmeos olharam um para o outro. Não é que era uma boa ideia?

— Valeu pela dica, Pacifica — agradeceu o garoto, sorrindo.

— É, vamos tentar fazer isso.

— Ora, não há de quê. — A loira pôs as mãos no quadril, orgulhosa.

— A propósito, já que você está aqui... — disse Dipper, com um plano em mente. — Será que você não sabe onde está o Fiddleford McGucket?

Dipper estava convencido de que Will estava escondendo alguma coisa, mas talvez Mabel tivesse razão. Talvez Will realmente fosse uma vítima.

— O velho maluco? — Pacifica franziu as sobrancelhas. — Por quê?

Neste instante, o trio espantou-se ao ouvir a voz alta e esganiçada do ex-mendigo. Viraram-se e encontraram-no na porta de uma das casas, falando com Soos.

— O quê? Se eu conheço um menino adolescente loiro que nem esse aí atrás de você?

Will olhava para o velho com um olhar assassino, de braços cruzados.

— Haha, até parece. — Fiddleford bateu no joelho enquanto ria. — Nunca vi ele na vida! Agora, se me dão licença, eu tenho alguns projetos para terminar.

E bateu a porta na cara dos outros. Dipper olhou de relance para Mabel, e sabia que os dois estavam pensando na mesma coisa: A arma da memória.

Já depois de conversar e com um plano em mente, não demorou para que eles invadissem o portão e se infiltrassem no quintal da casa. Chegando lá, apertaram o botão de uma máquina que mais parecia um auto-falante gigante e pularam em um arbusto quando o som ensurdecedor de uma sirene invadiu o ambiente. McGucket saiu pela porta dos fundos em alguns segundos, furioso e tapando as orelhas.

— Argh, mas que engenhoca maldita! — Ele começou a dar pontapés na coisa. — Eu juro que se você fizer essa porcaria mais uma vez eu te desmonto e vendo todas suas peças!

A sirene parou depois de um chute violento, que amassou a lataria da máquina e a fez soltar fumaça. O velho virou de costas para voltar para casa, mas no mesmo instante os gêmeos pularam em cima dele. Os três rolaram no chão.

— Ahhhh!! São os guaxinins de novo!! — Fiddleford gritou e tentou se soltar, mas estava imobilizado no chão. — Calma, Georgia, eu vou pagar sua pensão!!

— O que você fez com o Will, nariz de berinjela?? — Mabel exigiu a resposta, sentada em cima do velho.

— Você reconstruiu a arma desintegradora de memórias, não é? — Dipper acusou enquanto puxava o braço do pobre homem para trás.

— O quê?? Não! Eu juro, eu não fiz nada! Me larguem, crianças idiotas!

— Quanto será que demora pra eu quebrar este braço? — o garoto ameaçou.

O chapéu que McGucket usava tinha ido parar longe, e agora era possível ver sua careca enquanto seu rosto era espremido contra o chão.

— Eu vi ele pelado no meio da rua uma vez, tá bom?? Só isso! — ele grasnou. A mente de Dipper clareou ao se lembrar do que Will havia dito sobre ter acordado sem roupa nenhuma na floresta, e a reação das pessoas. — Agora saiam de cima de mim antes que eu ligue pra polícia!

Temendo ter pegado a pessoa errada, os irmãos se levantaram. Dipper pegou o chapéu para devolver ao velho, que o arrancou das mãos dele com raiva.

— Você realmente não sabe de nada? — perguntou Dipper, já sentindo remorso.

— O que aconteceu com o Will, então?

McGucket estava mais furioso do que nunca.

— Não quero saber! Deem o fora da minha casa!

Os gêmeos tentaram pedir desculpas enquanto o velho os enxotava do quintal, e saíram bem a tempo de ele bater o portão em suas costas. Os dois se apoiaram no muro e soltaram a respiração.

— Essa foi terrível, né? — disse Mabel, ainda ofegante.

— Gloriosamente terrível — concordou o outro.


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