Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 10
Alguns conselhos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto. Em compensação, o próximo será enorme hahahah
Boa leitura :)



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— Tivô Ford? Você tá aí?

Dipper tinha pegado o elevador atrás da máquina de salgadinhos e chegado ao segundo andar do subsolo. Quando perguntara sobre Stanford, Stanley disse que o irmão provavelmente trabalhava em seu escritório, mas o lugar estava tão monótono que aparentava o contrário. Dipper bateu mais algumas vezes na porta de madeira maciça. Depois de um tempo sem ouvir resposta, ele girou a maçaneta que, para sua surpresa, não estava trancada e abriu com um rangido.

Quando deu o primeiro passo, porém, o chão tremeu com o peso de uma jaula de metal imensa que desabou sobre Dipper.

— Aaaaaaa!! — Ele quase caiu com o susto. Em seguida pôs a mão no peito, ofegante. — Ai meu Deus, eu ainda estou vivo?

— Dipper? — Stanford largou o que estava fazendo para socorrer seu sobrinho. — Por que chegou sem avisar? Eu teria desativado a armadilha!

— Mas eu tentei avisar!

Assim que o tio avô digitou certo código e girou a manivela ligada a uma corrente larga e pesada, a jaula de metal voltou para o seu devido lugar no teto. Dipper soltou a respiração, aliviado, e olhou para o ambiente ao redor. Estava assim como se lembrava: havia um grande tapete retangular no chão, paredes escuras cheias de estantes com livros antigos e um grande monitor ao fundo da sala. Uma escada em espiral levava para os outros andares.

— Pensei que não estava mais por aqui — Ford comentou e riu brevemente. — Sua irmã estava falando daquele luau como uma doida.

— Ah sim, eu ainda preciso ir me arrumar, mas faço isso rápido. — Ele se lembrou de como Mabel conseguia ser exagerada às vezes. — Eu só vim ver como você estava antes.

Ford encarou o sobrinho neto por um segundo, estranhando a atitude, mas não disse nada a respeito. O semblante do tio avô estava visivelmente cansado, com gotas de suor na testa.

— Estou bem... Só ocupado desmontando o portal dimensional lá debaixo. Separando algumas peças para vender, dando um fim em outras... — Ele olhou para as próprias botas, as mãos nos bolsos do jaleco que usava. — Não quero que diga pra ninguém porque vai os deixar assustados, mas… Eu tenho certeza de que alguma coisa não está certa. Eu sei bem qual era a situação do portal quando saí da cabana, e não era essa.

O garoto engoliu em seco.

— Sério?

— Agora, a passagem do portal está restaurada, como nova, mas o painel de controle está completamente destruído, quase... como se alguém tivesse estragado de propósito. — Ford ajeitou os óculos, voltando a olhar para o sobrinho neto. — Não sei quem anda passando por aqui, mas não é um bom sinal.

Dipper sabia que o tio avô ia perceber que alguma coisa tinha acontecido depois daquele show que ele e o Bill deram no laboratório uns dias atrás. Tinha demorado, até.

Pense, Dipper, pense.”

— Isso é, de fato, meio assustador. Mas… alguns dias atrás, eu tirei os seus diários daqui e os escondi no esconderijo da floresta. Eu também mudei a senha da máquina de salgadinhos para uma mais difícil. O Soos te disse, não é? Então não acho que ainda tenha um grande perigo.

O cientista balançou a cabeça negativamente, segurou os ombros do sobrinho e olhou em seus olhos. A luz do ambiente refletia em seus óculos, lhe dando um ar sombrio.

— Escuta, Dipper... — Olhou de um lado para o outro, perturbado. — Se você souber de mais alguma coisa sobre o portal, encontrar qualquer coisa estranha que seja, preciso que me conte. Não apenas porque eu estou pedindo, mas você, mais do que qualquer um, sabe do perigo que corremos. E tenho a impressão de que uma senha mais segura numa máquina de salgadinhos não será o suficiente para conter alguém que está tentando construir o portal.

O garoto concordou com a cabeça, se sentindo mal imediatamente por ter de mentir para seu tio avô. Dentre todas as pessoas do mundo, Ford era uma das que ele mais admirava e se preocupava. Houvera situações em que ele considerou largar tudo para continuar os estudos de Ford, e outras em que via o reflexo de si mesmo no tio avô. Por isso era realmente doloroso trair a sua confiança desse jeito, mas Dipper não tinha escolha. Caso contasse a verdade, Ford nunca entenderia. Se às vezes até ele não entendia os próprios motivos para manter Bill Cipher hospedado ali, quanto mais o arqui-inimigo dele.

— Entendo, mas não sei de nada. Não tenho motivos pra esconder nada de você — respondeu Dipper, olhando para baixo com o peso da culpa. Depois, em uma tentativa de compensar as mentiras, acrescentou — Quer ajuda para desmontar o portal? Você parece cansado.

Stanford sorriu.

— Eu ia adorar ajuda pra carregar umas caixas mais tarde, mas não quero que você perca sua festa. — Deu um tapinha no ombro do outro. — Vai lá, garoto. Se cuida.

— Pode deixar. Quero ver quem vai se meter comigo. — Dipper brincou, flexionando o braço. Ele não era o que as pessoas chamariam de fraco, mas seus músculos com certeza não intimidavam.

O tio avô riu.

— Sabe, garoto, vou te contar um segredo. A força não conta tanto quanto as pessoas pensam em uma luta corpo a corpo.

— Não brinca!

— É sério. Sabe, o Stanley sempre foi mais forte do que eu, e adivinha quem conseguia se manter no nível dele nas lutas?

Dipper levantou uma sobrancelha, deduzindo que Stanford se referia a si mesmo. O outro continuou.

— Às vezes alguns golpes bem treinados já podem te dar uma vantagem com relação a uma pessoa que não sabe nada sobre técnicas de luta. As artes marciais procuram usar a força da outra pessoa contra ela mesma, e usam muito do elemento surpresa: Agir antes que o outro perceba o que você vai fazer.

— Interessante.

— Aqui, segure o meu braço direito desta forma.

Dipper seguiu a instrução do tio avô, prestando atenção.

— Vamos fingir que você está tentando me atacar. Você espera que eu tente puxar o meu braço, certo? Mas fazer o que o outro espera não adianta, porque ele já está preparado pra isso. Ao invés disso...

Stanford segurou a mão de Dipper com a mão livre, o impedindo de soltar, e fez um movimento com o pulso que torceu o braço dele. Dipper dobrou os joelhos num impulso para não se machucar.

— Ai! Calma! — O garoto riu, massageando o pulso depois que seu tio avô o soltou. Em seguida se posicionou para outra tentativa.

Os dois não viam o tempo passar enquanto treinavam esse e mais outros golpes algumas vezes. Era bem fácil se divertirem juntos, pois tinham muitos interesses em comum. Eventualmente, Dipper teve que se despedir para voltar ao seu quarto.

Enquanto vestia uma roupa para o Luau, ele lembrou-se de Ford e a culpa voltou a pesar sobre sua cabeça. Uma amizade tão incrível, com alguém que ele gostava tanto, posta em risco porque ele tinha decidido acobertar o pior inimigo de Ford bem debaixo de seu nariz.

Subitamente, lembrou-se do porquê tinha ido ao subsolo. Queria ter pedido desculpas em nome de Bill, em algum ponto, por ter sido desrespeitoso durante o jantar na noite anterior, mas acabou tão compenetrado na conversa que se esqueceu completamente. Talvez, se mostrasse que se importava com Will e conseguisse fazer com que Stanford não o odiasse, o demônio teria menos chance de ser detectado pelo cientista.

As coisas que o Bill o obrigava a fazer...


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