Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 1
A chegada




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Junto ao chirriar das corujas e cricrilar dos grilos, o vento uivava ao passar veloz por entre os pinheiros da pequena cidade de Oregon, carregando consigo folhas caídas em meio à noite. Pinheiros de troncos maciços agigantavam-se na floresta, bloqueando a passagem de grande parte da parca luz do luar. Debaixo deles, havia segredos ocultos que, se revelados, teriam o poder de enlouquecer até a pessoa mais sóbria.

Em meio a essa imensidão sombria, um garoto tentava, de alguma forma, amenizar seu frio enquanto andava, por entre os troncos, em direção à única fonte de luz visível. Seus olhos semicerrados quase não conseguiam enxergar naquele breu. Por que tinha decidido voltar para a floresta? Ele se lamentava. Devia ter pensado na possibilidade dessa noite ser pior que a anterior. Agora estava mais perdido, com mais frio e mais cansado do que achou ser possível. Sua única opção era seguir aquela luz desconhecida e esperar que o acolhessem. A que ponto tinha chegado?

O rapaz ergueu o pescoço e avistou o bico pontudo de um totem de madeira atrás dos galhos de um pinheiro. Bom sinal. Continuou andando em sua direção, as pernas exaustas, até que alcançou uma clareira e vislumbrou a construção de onde vinha a luz: Uma imponente cabana construída de toras de madeira, cujo telhado, íngreme e cheio de musgos, exibia uma placa com os dizeres “Cabana do Mistério”.

Pensou em dar meia volta, mas seu estômago revirando e fraqueza nas pernas o impediram. Não era hora de ser exigente.



Dipper Pines não podia ceder à tentação de fechar os olhos enquanto assistia TV. Sabia que, caso isso acontecesse, cairia em um sono profundo como Mabel, Soos e até o porco. O programa tratava de pessoas que tentavam encontrar fantasmas em lugares ditos mal-assombrados, mas ninguém estava realmente interessado e sua atmosfera parada e silenciosa acabou funcionando como um sonífero.

Mabel estava deitada com a cabeça apoiada nas pernas do irmão. Ele não queria deixar, mas ela insistiu tanto que Dipper acabou cedendo. Soos estava com a cabeça caída para o lado no sofá, roncando, enquanto abraçava Ginga. Embalagens de salgadinhos e latinhas de Pitt Cola estavam espalhadas pelo chão. Aquele era só mais um dia das férias de verão na Cabana do Mistério.

Os gêmeos tinham vindo de ônibus até Gravity Falls, como sempre faziam no verão, e foram recebidos com comemorações por Soos e as amigas de Mabel, Candy e Grenda. Reencontrar-se depois de quase seis meses era sempre uma alegria. Tivô Stan e Ford, no entanto, ainda estavam viajando em uma de suas aventuras no Stan O’ War II, e tinham dito que voltariam por volta da segunda semana de Dipper e Mabel por lá.

Depois de matar a saudade, contudo, ninguém poderia negar que as férias de verão estavam um tanto paradas. Lógico que existiam as festas, os visitantes na Cabana do Mistério e os festivais, porém faltavam os grandes mistérios com os quais Dipper costumava passar horas quebrando a cabeça antigamente. É fato que, em muitas dessas aventuras, eles correram risco de morte, mas Dipper aprendera na prática que poucas coisas aproximam mais as pessoas do que correr perigo com elas. Criava uma sensação de parceria que não poderia ser obtida de outra maneira a não ser pela adrenalina e o instinto de sobrevivência em bando.

Este seria o terceiro verão que passariam lá desde quando os gêmeos fizeram treze anos e acabaram com os planos de Bill Cipher, uma criatura maligna de outra dimensão. A alta ocorrência de estranhezas em Gravity Falls atraíra o demônio, que desejava instaurar o caos no mundo a partir desta pequena cidade isolada. Felizmente, o seu controle não saiu de lá e a criatura foi aniquilada para sempre. Ou assim todos esperavam.

Agora Dipper e Mabel completariam dezesseis anos ao fim do verão e já estavam no primeiro ano do ensino médio. Mabel, que estava tão preocupada com a mudança, tinha conseguido se enturmar rápido na escola nova. Para a surpresa de Dipper, ela até tinha arrumado um namorado por lá. Já ele tinha outras prioridades no momento e tentava não ligar para o fato de que a maioria de seus colegas estavam interessados em alguém ou namorando. Pelo menos tinha alguns amigos e notas boas.

Sob o comando de Soos, os negócios na Cabana do Mistério continuavam indo bem. Apesar de o faz-tudo ter, definitivamente, menos habilidade em mentir do que o tivô Stan, isso era menos necessário por conta das novas atrações genuínas que conseguiram. A avó de Soos, que todos chamavam de Abuelita, continuava vivendo na casa, e a namorada dele vinha com mais frequência agora que trabalhava lá.

A divagação de Dipper foi interrompida por uma ventania forte que quebrou um galho no lado de fora. O uivo do vento era amedrontador, e os sons que a casa fazia ao ser castigada por ele davam a impressão de que ela iria ceder a qualquer momento. Então a TV começou a chiar, a imagem irreconhecível, e Dipper xingou. Será que o vento mexeu com a antena parabólica?

TOC, TOC, TOC.

O garoto virou prontamente na direção do barulho, assustado. Era a porta da frente.

Quem poderia ser a esta hora da noite? Seu corpo gelou. Talvez fosse apenas uma impressão, e, na verdade, fosse só o vento. A cabana vivia fazendo barulhos estranhos. A pessoa do outro lado da porta, no entanto, bateu de novo impacientemente. Dipper tentou se levantar, mas sentiu o peso da cabeça de Mabel sobre seu colo. Colocou a cabeça dela sobre uma almofada antes de continuar.

— Quem é?

— Por favor, me deixe entrar! — respondeu uma voz masculina do outro lado. — Estou com frio.

Dipper se aproximou para ouvir melhor.

— Qual é seu nome?

A voz do outro lado demorou pra responder.

— Eu... Eu não sei.

Outra pausa.

— Como assim?

— Eu não sei qual é meu nome. Perdi a memória e acordei aqui fora. Eu não tenho família, não tenho onde ficar. Por favor, me ajude.

O garoto Pines olhou de um lado para o outro. Como queria que Soos estivesse acordado para tomar as decisões por ele. Se a casa fosse assaltada agora, a culpa seria somente dele, que caiu no papo de um ladrão no meio da noite. Seria inventada essa história de perder a memória? Por outro lado, e se fosse mesmo verdade? Ele se imaginou na mesma situação. Perdido, sem lar, sem ninguém e rejeitado por todos.

— Olá? Você tá aí? — disse o outro.

Dipper suspirou ao tomar a decisão.

— Pode entrar. — Ele disse, abrindo a porta.

Do outro lado havia um garoto magro, mais ou menos da sua idade, com roupas em trapos, se encolhendo de frio e cabelos bagunçados ao vento.

 


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada para você que resolveu dar uma chance pra minha história e leu até aqui!

Já tenho boa parte dos capítulos pronta para postar. Vou postando no meu ritmo, e espero poder postar pelo menos uma vez por mês. Este capítulo é um pouco curto, já que é a introdução, mas o meu padrão é mais ou menos 2 mil palavras por capítulo.

É meu primeiro projeto grande de fanfic. Se você olhar no meu perfil tenho apenas histórias curtas, então isso é meio que um desafio.

O que vocês fariam se estivessem no lugar do Dipper e batessem na sua porta?



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