Quarta-feira.

 

Acordei bem mais cedo do que de costume para levar Lúcio para fazer a inscrição na escolinha de futebol. Depois de toda aquela enrolação, explicações e com a autorização do meu tio, consegui coloca-lo para jogar. Fiquei alguns minutos conversando com a professora dele e depois fui para escola. Perdi o primeiro tempo como já esperava, então fui até a cantina. Estava vazia só com alguns poucos alunos espelhados por ali. Depois de pegar uma barra de cerais, voltei a andar quando uma voz família disse:

 

_Matando aula?

 

_Ed. Não, não estou. Tive que levar meu irmão menor para se inscrever na escolinha de futebol.

 

_Ah. Está seguindo os passos do Lucas?

 

_Não sei. Ele disse que era por que o meu pai foi jogador e por que o Lucas é jogador, mais eu não acreditei muito nisso.

 

_Nós homens temos razões que só nós mesmos conhecemos.

 

_Não entendo mais... Deixa pra lá. E você? O que está fazendo aqui?

 

_Matando aula.

 

Rimos os dois.

 

_Quer sentar e conversar?

 

_Eu adoraria.

 

Eu nunca parei para ter uma conversa de verdade com o Eduardo. Ele sempre foi, O cara pra mim, então eu mais babava do que me preocupava em saber sobre ele.

 

Nessas duas horas de conversa descobri que ele é um garoto normal como qualquer um. Tem problemas com os pais, que são separados, tem medo de não passar no vestibular e mais uma nova aventura: ele estava apaixonado pela Lenora.

 

_Lenora?! - quase gritei.

_Sim.

– Lenora a chefe do jornal da escola?

– Ela mesma.

– Uau!

– Por que o espanto Anne?
  

Ela não é meio – na verdade muito – "Seria" pra você?

_Eu não acho. Ela é linda. - ele disse com os olhinhos brilhando.

_Por que não vai falar com ela?

_E o que eu vou dizer? ''Oi, meu nome é Eduardo, prazer.''

_É...

_Não! Eu não posso dizer isso. Ela vai me achar um idiota.

_Ed, você não é idiota. Você é... O Eduardo! O gato mais gato dos gatos. O garoto mais popular do colégio. O conquistador, o fodão! Você é você.

_Ela não vai se interessar por alguém assim. Ela é do tipo que gosta de caras com conteúdo.

 

Hei, pera aí! Eu gostei de você! Mais revendo os fatos bem que você tem razão.

 

_Arf... - ele estava mesmo amando? Então talvez eu deva... _Ed?

_O que?

_Por que não entra pra equipe de jornalismo?

_Eu vou fazer o que lá?

_Não sei. Eu conheço uma menina... Juli! Ela é da parte esportiva; eu posso dizer a ela pra falar mais sobre você. Por exemplo: posso pedir a ela que faça uma matéria sobre os jogadores. Mais vendo o lado mais pessoal deles. Tipo, a escola, família, amigos, e etc. E ela pode começar por você.

_Mais o que isso vai ajudar?

_Nenhum artigo do jornal deixa de passar pela Lenora. Ela vai ler e ficar caidinha por você. Na verdade, pelo seu lado legal, maduro e família. Exatamente o que você quer que ela saiba sobre você. Vai dar certo.

_Você acha?

_É só falar com a Juh.

_Você faria isso?

_Claro.

 

Ele deu um big sorriso e depois me abraçou. Nunca vi ninguém tão feliz por uma garota antes. Achei muito fofo.

 

_Grr! Grr! - alguém pigarreou e eu e Ed nos separamos para ver quem era.

_Brian?

Eu o encarei e ele não disse nada. Atrás dele estava a Vitoria que nos olhava com cara de jaca.

_Olha quem está aqui. - Eduardo disse se levantando e encarando Brian de forma desafiadora.

_Meninos! - eu me levantei. _ Nada de briga. O Brian agora é meu amigo Ed.

_Amigo? - ele olhou pra, mim e eu afirmei com a cabeça – Certo. Tomem cuidado vocês duas. - ele me beijou na bochecha, sorriu, olhou para Brian e depois pra mim. _Obrigada Anne. Até mais.

 

Dito isso, sumiu no meio da multidão. Me virei e fitei Brian que parecia um pimentão de tanta raiva.

_O que foi isso? - Brian perguntou com um tom de voz furioso.

_Ele só estava agradecendo o favor que eu vou fazer a ele.

_É ASSIM QUE VOCÊ DEIXA OS CARAS TE AGRADECEREM?!

Ele gritou e eu fiquei paralisada, enquanto todos a nossa volta estavam nos olhando.

_Por que você está gritando?

_Por que – ele hesitou. Estava com uma expressão indescritível. Ele bufou, deu as costas e saiu batendo pé.

_Oque. Foi. Isso. - Vick disse pausadamente enquanto eu tentava processar uma resposta.

_Eu não-Eu não sei.

 

Passamos o intervalo inteiro sem sinais de Brian, oque me deixou preocupada. Depois de comermos, era hora da

aula de informática. Depois de estudarmos o professor nos deixava navegar a vontade, então aproveitei para pesquisar sobre distúrbios de personalidade. Encontrei algo interessante sobre possessividade.

 

_...Uma pessoa dominadora. Quer mandar na outra pessoa e ser dono/a. Não admite compartilhamento com mais ninguém e fica de marcação cerrada... Talvez seja isso que ele tenha. - pensei comigo mesma.

_Anne? - Vitoria gritou da porta.

_O que?

_Temos que ir, a aula já acabou.

_Senhora Queen – chamei a moça da biblioteca. _Como faço pra imprimir esse artigo?

 

***

 

Depois que aula acabou vi Brian entrando em carro grande e preto, provavelmente indo pra casa. Ele estava furioso comigo disso eu tinha certeza. Depois da explosão dele eu tinha que saber mais sobre esse problema, então fui até a casa do Thomas, ele não era psicólogo mais era médico.

 

Bati na porta e logo depois ouvi um ''eu atendo'' abafado e já sabia de quem era. Assim que Nicolas me viu abriu um enorme sorriso, ele ficou meio que sem saber o que fazer então eu disse:

 

_Oi.

 

_Oi.

_Seu pai está? - eu disse rápida e ele fez uma expressão desanimada.

_Ah, meu pai?

Eu sorri meio nervosa.

_Não precisa ficar assim, tô brincando. Entra.

_Tudo bem com você? - eu perguntei meio sem graça.

_Tudo bem sim.

Silêncio constrangedor.

_Pode sentar ir ao escritório dele.

 

Contei toda a historia ao Thomas. No final ele me olhava e parecia estar analisando cada palavra que eu disse:

_Veja Annelise, eu não sou psicólogo mas está evidente que esse seu amigo pode ter algum distúrbio. Mas quero que analise bem a situação, que pode ser somente ciúmes.

_Eu fiquei assustada Thomas. Ele parecia possuído.

_Eu aconselho que peça aos pais dele que o levem a essa psiquiatra. - ele disse me entregando um papel com um número e um nome Doris. _E fique longe do rapaz. Se ele tiver mesmo algum distúrbio pode machucá-la ou até mesmo por sua vida em risco.

Ai, meu, Deus.

_Obrigada Thomas.

 

Sai da casa do Thomas apavorada. O que eu faria agora, com um maluco atrás de mim? Entrei em casa muito assustada e com medo, a primeira pessoa que vi foi Lucas. Corri deixando a mochila no chão e indo abraça-lo.

 

_Está tão feliz assim em me ver?

_Sim. - respondi sincera.

_O que foi?

_Precisamos conversar.

 

Ele me fitou preocupado, contei a ele a historia do Brian, contei tudo e foi ótimo me senti muito aliviada.

 

_Annelise eu quero você longe desse cara. Temos que falar com o diretor da escola. Temos que falar com os pais desse cara.

_Calma Lu. Nem sabemos se ele tem mesmo isso. Eu preciso fazer ele conversar com a psiquiatra.

_E como vai fazer isso?

_Eu esperava que você me ajudasse.

Meu irmão respirou fundo e pensou.

_Temos que falar com essa psiquiatra.

_E depois? O Brian nunca vai conversar com ela.

_Podemos disfarça-la, como uma pessoa comum.

_Isso. Ele vai pensar que estão só conversando quando na verdade ela esta o avaliando.

_Isso mesmo.

Eu sorri feliz mais logo depois lembrei de uma coisa.

_Não diga nada ao Matt.

_Hum? Por que?

_Não quero que ele se preocupe.

_Ele já está preocupado.

_O que?

_Nós conversamos na segunda-feira.

 

Flash back on.

 

_O que deu nela? - Lucas perguntou assim que me viu subir.

_Está estranha. - Matt disse preocupado.

_Deve ter brigado com alguma amiga. - Lucas deu de ombros.

_Não. Eu sinto que não.

_O que acha que é?

_Vou a escola dela. Talvez seja...

 

Flash back off.

 

_Talvez seja? - perguntei curiosa.

_Eu não sei ele não terminou a frase, só subiu pro quarto.

_Será que ele já sabe?

_O Matt é mais inteligente que nós dois juntos Annelise. A vida o ensinou a ser assim. Se ele sentir que à algo errado com você, e que esse algo tem a ver com o Brian, ele ira tirar satisfações com ele.

 

Meu estômago deu várias voltas ao ouvir meu irmão dizer isso. Era uma sensação angustiante. Alguma coisa de muito ruim vai acontecer se eu não tomar providencias logo. Eu estava a ponto de chorar quando meu irmão me abraçou e disse sorrindo:

 

_Tudo bem. Não precisa ficar com medo. Nós somos muito mais fortes juntos.

 

Eu ri. Com certeza já ouvi isso várias vezes em meus mangás, animes também em filmes e novelas, mais só agora percebo que é a mais pura verdade.

 

_Ownn que amor! - Matt gritou ao chegar

_Bobão. - eu corri e o abracei.

_O que aconteceu? - Matt perguntou ao Lucas.

_Nada. Só esta vamos lembrando dos nossos pais. ele mentiu.

_Era por isso que você estava mal amor?

_Era. - menti me afundando mais em seu abraço. Não queria olha-lo, por que se o fizesse contaria toda a verdade.

 

Quinta-feira.

 

Quando cheguei a escola estava tudo calmo. Calmo até demais, pensei. Procurei com os olhos Brian mais não o vi. Eu tinha que fazer as pazes com ele ou  ele não aceitaria conversar com a psiquiatra. Enquanto eu o  procurava, Lucas estava no consultório falando com Doris.

 

Depois de uns 15 minutos de procura, finalmente o vi chegar em seu carro preto. Corri até ele e o abracei, ele não correspondeu ao meu abraço o que me deixou nervosa.

 

_Oi.

_Oi.

_Eu queria pedir desculpas por ontem. Fui muito idiota. Me perdoa? - dei um beijo em sua bochecha bem demorado. Ele sorriu vitorioso e disse:

_Tudo bem. Mais não quero você perto daquele cara.

_Do Eduardo?

Ele me fitou impaciente.

_Tá bem.

 

Ele segurou firme minha mão e voltamos a caminhar lado a lado como se nada tivesse acontecido. No intervalo ele veio me buscar na sala. Vitoria ficou nos olhando assustada e antes de descermos ela disse:

 

_Anne?

_Sim?

_Vamos no banheiro?

_Vamos.

Brian ficou com raiva, senti isso no olhar dele.

_Eu já volto. - falei dando outro beijo na bochecha dele só que dessa vez mais rápido.

Vick segurou minha mão e fomos rápido para o banheiro.

_Eu to começando a ficar com medo desse cara. - ela disse jogando o fichário na pia.

_Calma Vitoria. Eu quero te pedir uma coisa.

_O que?

_Fique longe de mim e do Brian.