Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 3
A Redação




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***

 

As férias mais extraordinárias

Por Anne Shirley Cuthbert

Essas foram, com toda a certeza, as melhores férias que tive em meus dezessete anos de vida. O primeiro episódio que justifica essa afirmação é meu aniversário. Pela primeira vez, eu, Anne Shirley Cuthbert, tive uma festa de aniversário!

 Diana, minha melhor amiga, me deu sapatos de festa e Marilla e Matthew me deram o mais belo vestido verde que já vi! De Ruby, outra amiga querida, ganhei um chapéu novo com um lindo laço vermelho, pra combinar com meu cabelo, e de Gilbert um maravilhoso livro da Jane Eyre que eu desejava há tempos!

Juntas, eu e as meninas reconstruímos nosso clube, e agora ele está ainda mais aconchegante. Não demorou nem um mês pra ficar pronto, pois contamos com a caridosa ajuda de Matthew, Bash e Gilbert. Depois, eu e Diana ficamos hospedadas na imensa casa de Tia Josephine, e devorei o máximo que pude de livros da biblioteca dela no curto período de duas semanas em que ficamos lá. No último dia, ela deu uma festa, e nunca me diverti tanto! Mas o melhor de tudo é que pude matar as saudades de Cole. Ele está se tornando um artista cada vez melhor, e me enche de orgulho ver suas obras.

Ainda depois, quando cheguei, teve o aniversário de Marilla. Nós fizemos uma pequena comemoração, só para os vizinhos mais próximos. Eu mesma preparei o bolo. Nessa noite, pude usar o lindo vestido e sapatos novos que ganhei, e dancei seis vezes: uma com Matthew, uma com Jerry, outra com Bash, duas com Gilbert e uma com o marido de Rachel, a melhor amiga de Marilla. Aliás, Marilla ficou tão feliz naquela noite! E vê-la feliz me deixou ainda mais feliz! Não consigo sequer imaginar como será ficar longe dela durante a faculdade. É por isso que me comprometo a aproveitar bem a companhia dela e de Matthew em cada dia desse ano. Vou sentir tanta saudade! Saudade das festas da Tia Josephine, de ir pra escola com Diana, de ouvir as histórias românticas de Ruby, de competir com Gilbert na soletração e das aulas divertidas da Srta. Stacy no geral... Resumindo, sentirei saudade de tudo em Avonlea. Desejo que esse ano letivo passe bem devagar. Verdade seja dita, as férias poderiam ter sido mais longas.

Terminei de ler e olhei pra turma. A professora sorria, mas Diana me olhava de olhos arregalados, como se quisesse me alertar sobre algo.

— Muito bem, Anne! – disse a Srta. Stacy.

Ela e a turma aplaudiram educadamente, mas tive a impressão de que eles queriam rir.  Estava prestes a me sentar quando acidentalmente troquei um olhar com Gilbert Blythe. Ás vezes isso acontecia. Nessa, ele me olhava com aquele sorriso de canto irritante. Devia ter gostado da minha redação. Desviei o olhar do dele há tempo de ouvir barulho de choro e ver Ruby sair correndo da sala. Imediatamente, eu e Diana fomos atrás. Os alunos deram risadinhas.

Quando alcançamos nossa amiga, ela estava sentada no gramado, o rosto nas mãos, chorando feito uma condenada. Diana me lançou outro olhar de alerta.

— Anne – ela disse, antes que nos aproximássemos de Ruby. – Dessa vez acho melhor você ficar aqui enquanto eu falo com ela.

— Por quê?

Agora me olhava com pena. – Ela está assim por causa da sua redação.

— O que tem minha redação? É tão ruim assim que a fez chorar?

— Eu acho que você devia relê-la. Sabe quantas vezes citou o nome do Gilbert?

Paralisei. Eu não havia tido tempo pra revisar. Tive de ajudar Marilla quando cheguei em casa e só pude escrever de noite. Ainda estava tão empolgada que fui escrevendo sem nem pensar no que escrevia, apenas despejando as palavras no papel. Será que eu citava mesmo tanto assim Gilbert? Será que dava destaque a ele? Seria por isso que ele sorriu convencido pra mim quando terminei de ler?

Enquanto Diana ia consolar Ruby, eu ergui o papel em minha mão e reli. Parecia que... parecia que eu e Gilbert éramos um casal! Assustada, amassei o papel e corri até as meninas.

— Ruby, me perdoe! Por favor, me perdoe! Eu não tive a intenção de soar daquela maneira, é que eu não tive de tempo de revisar o que escrevi, ou teria mudado! Eu juro!

A garota me olhou. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, e seu queixo tremia. Ela respirou fundo.

— Agora ficou claro que ele gosta de você. To-todos já perceberam isso fa-faz tempo, mas eu me neguei a enxergar. Como fui ce-ce-cega! – ela balançou a cabeça. – Não desejo mais Gilbert Blythe! Se você gosta dele Anne, nã-não se sinta im-im-impedida por mim. Tudo o que eu que-quero agora é... é... – ela fungou – esquecê-lo!

Sem saber o que responder, fiz o que Diana já fazia: abracei Ruby.


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