Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 2
Tomando chá com Ruby e Gilbert




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***

 

Como era primeiro dia de aula, a Srta. Stacy passou atividades de revisão de matemática, para relembrarmos o conteúdo passado. Ao fim do dia, pediu para casa que escrevêssemos uma redação sobre como foram às férias. Achei uma atividade infantil para quem já está no último ano da escola, mas a Srta. Stacy disse que é pra exercitarmos nossa caligrafia e gramatica. Ela diz que vai corrigir erro por erro, e que teremos de ler na frente da turma. Eu logo fiquei entusiasmada. Adoro quando os professores nos mandam escrever! Adoro redações! Adoro criar histórias! Fiquei tão empolgada que mal podia esperar chegar em casa pra começar a escrever. Mas também mal podia esperar pra começar as aulas extras que tinha com a Srta. Stacy, depois que todos iam embora.

— Anne – ela me chamou quando todos começaram a se levantar para irem pegar os chapéus e casacos. – Pode vir aqui?

Eu e Diana trocamos um olhar de despedida.

— Até amanhã, Srta. Barry!

Ela sorriu. – Até, Srta. Cuthbert!

E enquanto ela se dirigia para a saída, eu me aproximei da mesa da Srta. Stacy.

— Sei que é incomum, mas estou me sentindo um pouco indisposta hoje. E como Gilbert faltou, podemos deixar pra começar as aulas extras amanhã?

— É claro...

— E não querendo abusar de você, mas será  que poderia passar na casa dele a caminho da sua e entregar as atividades de hoje?

Hum... Ruby não ia gostar disso... Ruby!

— Sim, com certeza! Obrigada, Srta. Stacy!

Sem lhe nem esperar por resposta, peguei a folha da mão dela e corri em direção a saída. Pra minha sorte, Ruby ainda estava lá, colocando o casaco, meio cabisbaixa. Ela tinha ficado amuada o dia todo porque Gilbert faltara.

— Tenho algo que vai alegrá-la! – falei, sorrindo.

Ruby se virou, um tanto curiosa, outro tanto ainda jururu. – Você me comprou um vestido novo?

— Não, é muito melhor que isso! Meu presente pra você é a oportunidade de levar a atividade de Gilbert até a casa dele.

Ruby abriu um sorriso maior que a Lua e me abraçou apertado. – Obrigada, Anne! É o melhor presente que me deram hoje!

Ela me soltou e pegou a folha. Tinha um sorriso radiante no rosto, mas ele vacilou.

— Espera – disse ela. – Eu não posso ir sozinha. Você vai comigo? Por favor?

— Não seria melhor se você fosse sozinha? Pense só, terá um momento a sós com ele!

Ela arregalou os olhos e fez aquela cara que faz quando está prestes a chorar. – Eu não posso. Não vou conseguir falar. Vou ficar muda. Você precisa ir comigo, Anne! Eu te imploro!

Respirei fundo e forcei um sorriso. – Claro... Tudo bem.

Ruby deu um pulinho de alegria. Eu vesti meu casaco e peguei meu chapéu. Não estava nem um pouco ansiosa pra ir à casa de Gilbert Blythe com Ruby e vê-la bajulando ele. Mas, como uma boa amiga, deixei que ela me arrastasse até lá.

— Por que será que ele faltou hoje? – ela perguntou, enquanto caminhávamos.

— Talvez esteja doente.

— Oh! Nesse caso, vou me oferecer pra fazer uma sopa pra ele. Você me ajudaria?

— Acho que não é preciso. Se ele estiver mesmo doente, Bash e Mary devem estar cuidando dele.

— Não tinha pensado nisso... Oh, Anne, estou tão ansiosa para vê-lo! Será que ele vai reparar que estou usando um laço novo? Ou que agora uso corpete?

— Isso seria muito indecente da parte dele.

— É verdade – ela concordou, sorrindo. – Mas se ele não reparar, vou ficar triste pelo resto da semana!

Eu também usava corpete agora, e preciso dizer que odeio. Marilla não me deixa usar tão apertado quanto as outras meninas usam, porque ela diz que já sou muito magra, mas ainda é apertado e ainda é irritante. E meus seios ficam meio sufocados aqui dentro, a parte de cima exposta... Enfim, detesto corpetes. O pior de tudo é que tenho certeza que Gilbert reparou que passei a usar. Ele não fez muita questão de disfarçar na primeira vez que me viu com um.

— Anne? Quantas vezes será que eu bato na porta?

Olhei para Ruby, despertando dos meus devaneios. Ela estava com um sorriso tão grande e animado quanto o meu durante a manhã.

— Duas – falei. – Duas é o essencial.

Ela assentiu e deu duas batidas na porta. Demorou um pouco, mas Gilbert abriu.

— Anne... – disse. – E Ruby. O que fazem aqui?

— Viemos trazer seu dever de casa! – Ruby estendeu a folha, sorrindo exageradamente. – Como você está?  Quer que eu te faça sopa?

— Hã... não precisa, mas obrigada, Ruby. Aliás, obrigada por me trazerem a lição. Vocês querem entrar?

— Não...

— Sim...

Gilbert franziu a testa. Eu e Ruby tínhamos falado ao mesmo tempo. Ela me olhou, suplicante. – Anne...

— Tá – revirei os olhos. – Queremos.

Ela foi a primeira a entrar, eu a segunda. A esposa de Bash, Mary, fez chá para nós e enquanto tomávamos, Ruby explicou para Gilbert sobre como fazer a tarefa de casa. Ele ouvia com atenção, mas me olhou umas 17 vezes (eu contei). Estava começando a ficar incomodada com aquilo, e agradeci silenciosamente a Deus quando finalmente acabou e nos despedimos.

— Até mais, senhoritas – disse Gilbert, parado no portal. – Vejo vocês amanhã na escola.

Respondi educadamente, Ruby um pouco cabisbaixa. Na verdade, o caminho todo até a parte em que nos separamos, ela pareceu cabisbaixa. Eu não entendi. Ela estava tão alegre quando estávamos na casa de Gilbert, e de repente ficou assim. Quando nos despedimos, ela mal me olhou.


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