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Anne ficou hospedada na mesma pensão que sua amiga Priscila. Era limpa, aconchegante e respeitável, e as refeições eram boas. Na parede de seu quarto estavam coladas três fotografias. A primeira era uma das raras e poucas de Matthew e Marilla, que ela os fizera tirar para que pudesse levar consigo.  Deu trabalho convencê-los, pois Matthew achava estranho e Marilla um gasto desnecessário, mas Anne implorou tanto que cederam. A segunda fotografia era de Diana Barry, e a terceira de Gilbert Blythe na época em que viajou com o pai. Era a única que ele tinha para lhe dar, disse quando ela pediu. Havia outra, uma de si próprio ainda bebê, com toda a família, mas aquela era particular demais. Então, pediu uma de Anne também, mas a única que ela possuía estava em Green Gables, em uma bela moldura oval na parede.

— Sinto muito – ela disse. – Muito mesmo.

— Não precisa se incomodar, aqui há tantos fotógrafos que com certeza teremos uma foto antes do fim do ano letivo.

Ela esboçou um sorriso, mas estava com a mente longe, já planejando separar uma quantia do dinheiro que lhe era mandado de Green Gables para pagar pela fotografia. De maneira nenhuma deixaria que Gilbert pagasse, ele que estava tão apertado economicamente. A pensão em que ele estava hospedado ficava do outro lado do bairro, e Anne não gostava muito dela. Era mais ou menos limpa, pouco aconchegante e pouco respeitável, e as refeições não pareciam apreciáveis, mas Gilbert dizia que era mil vezes melhor que a comida que lhe davam no navio onde trabalhou com Bash. Na verdade, ele vivia comparando tudo na pensão ao navio, de modo que lhe parecia um paraíso e Anne acreditou que ele estivesse à vontade. E realmente estava.

Graças aos estudos pesados e o cansado, só conseguiam ter disposição para saírem uma vez na semana, sempre à noite. Às vezes exploraram alguma parte nova da cidade, ás vezes tinham refeições, frequentemente faziam piqueniques no parque. Gilbert gostava de tomar café á noite, e de inicio isso pareceu estranho a Anne, mas ela logo se habituou. Uma vez ao mês eles se davam ao luxo de ir a uma cafeteria ou sorveteria. Anne pagaria tranquilamente, já que não tinha outras despesas, mas Gilbert ficava incomodado, então era um luxo mensal, e cada um pagava sua parte.

Aos finais de semana retornavam a Avonlea, e ela contava todas as suas aventuras a Diana, que ficara noiva do Sr. McDavid e a convidara para ser madrinha, o que Anne prontamente aceitou. O casamento ocorreu dois anos antes do dela com Gilbert, quando os dois estavam de férias da faculdade. Foi o mais lindo casamento que Anne presenciou, e no qual mais chorara, embora escondido para que Diana não soubesse. Ao fim da festa, quando Gilbert a encontrou, perguntou-lhe:

— Seus olhos estão vermelhos. Esteve chorando?

— Sim. Fiquei emocionada com toda a cerimônia. Você não a achou encantadora? Eu achei. Diana foi à noiva mais linda de todas as noivas que já vi, e o modo como o Sr. McDavid a olhava... Nunca o vi tão apaixonado!

— Logo será a nossa vez – disse Gilbert. – Imagino o quanto ficará emocionada nesse dia.

— Oh, eu não chorarei. Não mesmo, iria estragar a maquiagem, e quero estar perfeita durante toda a cerimônia. Só depois, num intervalo antes da festa começar, é que me permitirei chorar, e Diana retocará minha maquiagem de modo que ninguém perceba, como fiz por ela hoje.

Gilbert engoliu a vontade de rir e bebericou um gole de sua taça de champanhe. Ás vezes, Anne não tinha ideia do quanto era engraçada.