Miríade escrita por Melry Oliver


Capítulo 12
12. Beira-mar




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Puxei os cabelos para frente, enquanto o seguia pelas calçadas arborizadas da orla de Beacon Cove, as vezes eu me via o olhando de rabo de olho mais na maior parte do tempo eu me concentrava simplesmente em manter o equilíbrio sobre as rodinhas, o silêncio entre nós já estava me incomodando, eu queria conhecer a pessoa por trás de um superstar, eu queria respostas, eu queria conhecer Michael Campion.

Michael possuía aquela atração inicial de alguém absurdamente linda.

Eu tinha que me lembrar que nem tudo o que reluz é ouro, mas que a vista era agradável isso sem dúvida nenhuma.

A beleza dele ofuscava qualquer um que pudesse se aproximar, e a ofuscada da vez era eu, entretanto ele parecia não dar a mínima se mostrava tão genuíno nas ações com um  charme aparentemente nato de alguém que aprendeu desde cedo a viver sob um holofote.

Para uma boa observadora era perceptível que por trás de toda essa cordialidade havia algo diferente, talvez eu não tivesse esbarrado nele em um bom dia...

— Decepcionada? Perguntou em um tom divertido.

Levei o indicador da mão direita aos lábios numa tentativa de acompanhar seu raciocínio, mas o que encontrei foi incertezas.

— Desculpe?

Será que ele havia percebido alguma coisa?

Diante dos meus olhos eu o vi encurtar a distância entre nós e levantar a mão.

— Apareceu uma expressão bem aqui. – Ele tocou na minha testa.

Eu sentia o meu coração bater tão forte que a intensidade das batidas poderia ser sentida sobre a minha blusa sem ao menos encostar a mão.

A aproximação de Michael fazia eu me preocupar se de algum a maneira maluca ele pudesse ouvir as batidas frenéticas do meu coração, ainda bem que eu não era dessas pessoas que corava.

— E você deduziu que eu estou arrependida?

Numa expressão difusa  ele removeu a mão.

— Geralmente eu sou bom em analisar as pessoas, no entanto você está fazendo eu rever o meu conceito.

O que ele queria dizer? Será que ele estava me achando uma pessoa difícil de lidar?

Enquanto as suas palavras me davam o que pensar nós seguíamos pela orla ajardinada, por ali também havia os ciclistas, corredores, casais e pessoas com cachorros.

— O que acha de caminharmos na praia?

Não recusei o convite, em um dos bancos eu tirei os patins, Michael  se livrou do new balance e revelou os pés mais branquelos que os meus, quase sorri, segurei os patins ao me levantar e seguíamos até a faixa de areia, o ambiente praiano permanecia com poucas pessoas por ali.

Percorríamos a marina ainda em passos lentos, eu me sentia estranha e um pouco intimidada pela presença dele, o vento de um dia de sol balançava os meus cabelos, ao olhar em sua direção notei a movimentação dos seus fios loiros.

Eu estava me sentindo estranha, com aquela sensação de que havia algo de diferente... E ele? Parecia não está presente, com a vista longe e os pensamentos perdidos no horizonte.

—  Suponho que não conheça o Espírito da Tasmânia? Perguntou alheio.

— Que seria? O induzi, ele sabia a minha resposta.

— O navio que vai para a Tasmânia. – Apontou em direção a majestosa embarcação  que continha escrito na lateral numa faixa vermelha “Spirit of Tamania”  ancorado a alguns metros dali.

Isso era bem legal.

A brisa soprava contra nós e atiçava os nossos cabelos, Michael parecia não se importar em nossa caminhada a beira mar e eu estava apreciando a terna sensação de leveza.

Eu não era curiosa mais ali estava a minha oportunidade de saber mais sobre ele, qual era a chance de eu tropeçar nele outra vez?

Sem pensar muito eu disse.

—  Você é Australiano.

Sua mirada de soslaio se tornou divertida.

—  Onde mora atualmente? Continuei.

Sorriu pequeno ao dizer.

— Nos Estados Unidos. – Ele não revelou a localização exata, controlei a expressão.

Será que ele pensava que eu era uma Stalker?

Morar nos E.U.A deveria ser um conforto já que a maioria dos grandes nomes do cinema e da música vivem lá.

—  Está em turnê?

Um brilho atravessou seus olhos.

Será que ele estava me achando intrometida?

— Sim. Eu fiz um show recentemente no Rod Laver.

Ah não!

Michael me olhou ansioso.

— E qual é o nome da sua turnê?

Ele franziu os lábios numa falsa expressão de desgosto, as mãos fizeram caminho até os bolsos do moletom. — Acabei de confirmar que não faço parte da sua lista de canções favoritas . – Não era uma pergunta.

Sorri culpada.

—  Eu não tenho um artista favorito.

Ele parou brevemente surpreso e me lançou um olhar curioso, parei de andar também, sentir a necessidade de explicar.

— Geralmente eu gosto de uma canção de cada cantor. – Dei de ombros.

Eu poderia mentir para conquistar seu afeto, mas eu não era assim, e não queria ser alguém que agia por conveniência.

— Uma garota difícil de agradar. – Comentou quase sério.

—  Você vai sobreviver.

Ele riu ao mesmo tempo em que levantava a mão para remover os fios da testa, lentamente voltou a seriedade ao me olhar nos olhos profundos e enigmáticos. – Eu nunca mais veria uma mirada azul do mesmo jeito.

Já tínhamos percorrido mais da metade do caminho à beira mar quando ele disse.

— Essas perguntas deveriam ser de mão dupla. – Descontraiu ao jogar os fios loiros para trás e sorri fraco.

Hm. Seria o justo, ele devia ter pensado que eu sou uma intrometida e está  sendo  gentil ao demonstrar interesse.

— Certo. – Sorri pequeno.

— Certo. – Retribuiu o sorriso. — Quer ir a um café comigo?

Parei de andar mais uma vez, com uma ideia em mente.

— O que você acha de nos sentarmos aqui na praia? Perguntei genuína.

Ele pareceu incrédulo por segundos como se absorvesse as minhas palavras, seu pomo de adão desceu e subiu.

— É uma ótima ideia.

A poucos passos me inclinei para me sentar sobre a areia, Michael fez o mesmo e se moveu ao meu lado.

A brisa do dia era agradável, as ondas quebravam na areia, o voo das aves era visto em pequenos pontos no céu, o horizonte mesclado com o azul da água.

Eu queria guardar aquele momento, suspirei feliz.

— Vamos começar por você. – Exigiu sem espaços vazios, mas sorria solene.

Aquela mirada centrada possuía uma força difícil de explicar, ele pressionou os lábios.

Dobrei os joelhos e posicionei as mãos sobre eles.

— Tudo bem. O que você quer saber?

Michael queria saber sobre o meu gosto pela música, contei-lhe que não tinha um especifico, tudo dependia da letra do arranjo da canção, entretanto geralmente vacilava entre R&B, pop e rock.

— Como artista e principalmente como ser humano você demonstra uma sensibilidade incrível diante do público.

— Os shows que eu faço vão muito além de um momento musical, eles fazem parte da minha história, fazem parte da minha emoção em levar a minha música as pessoas que se sentem através dela ligadas a mim, e isso faz parte de mim como ser humano, um show nunca é igual a outro, e o de quinta-feira não foi exceção.

Aquele sorriso... Se eu pudesse guardava numa fotografia, não conseguir me conter e sorri de volta, no entanto as coisas seguiram por um caminho diferente, a fisionomia serena dele foi mascarada por uma nova emoção, o meu sorriso morreu.

— Destinee eu não tive a intenção de deixá-la deslumbrada com o que eu lhe disse, só quero que entenda o quão importante é pra mim cada concerto musical e aquela noite na arena trouxe à tona sentimentos adormecidos, eu preciso te dizer que inexplicavelmente sinto como se já tivesse a encontrado antes...

O que poderia ser pior?

Eu tentar enganá-lo ou simplesmente dizer a verdade?

Minha mãe sempre dizia que não existia mentira que seja para o bem, eu não tinha feito nada de errado, então vamos aos fatos.

O encarei diretamente nos olhos, o jeito que ele me devolvia o olhar  trazia a sensação de intimidação outrora perdida, eu não me importava ou não queria me importar com isso.

— Certo. Mr. Campion.

O olhar especulativo me sondava, ele estava esperando...

— Era eu.  – Fui direta.

Ele riu.

— Tão rápido.

Continuei o encarando, agora confusa.

— Eu soube assim que coloquei os olhos em você que se tratava da mesma garota da Arena.

Então por que ele simplesmente não me perguntou?

Michael Campion estava jogando comigo...

E curiosamente eu estava gostando dessa aventura de final de semana.

Michael não possuía vergonha em perguntar  absolutamente nada, isso sim era ser confiante.

 Sobre o meu prato favorito, eu não tinha uma resposta especifica, simplesmente gostava de comer mais coisas do que outras, assim como  eu também não tinha uma única cor para favoritismo eu também não tinha pra fins alimentares, também mostrou interesse pela a minha vida estudantil.

—  Acho que todas as escolas têm alguma semelhança, seja aqui ou do outro lado do mundo...

Isso o deixou pensativo, quase consternado.

Ah.

Acho que dei uma bola fora.

— Me desculpe eu não, eu não...

Fiquei perdida nas palavras.

Michael sorriu pequeno.

— Você não tem culpa, eu que não sou muito normal, tenho aulas com professores particulares.

— Isso não me parece ruim.

— Por que acha isso?

— Ao estudar em aulas particulares você não escuta o barulho adolescente a sua volta.

— Eu sinto falta disso. – Falou saudoso.

Desse jeito ficava difícil tentar animá-lo.

Como eu já tinha consultado o google e sabia algumas coisas  sobre ele, eu tinha que tomar cuidado com o que diria, já pensou se ele achasse que eu era uma fã lunática?

Seja o que fosse eu não pagaria para ver.

— A sua vida sob os holofotes parece ser agitada, aparentemente nem um pouco monótona.

Ele estava inclinado e denotava consternação

— Eu faço o que eu amo, cantar é mais do que uma profissão de vida é ser todos os dias um homem apaixonado pela arte que escolheu.

Lábios pressionados olhos baixos, Michael parecia distante.

Eu precisava entender o que se passava com ele, toquei em seu braço em afago.

— Está tudo bem?

Ainda de cabeça baixa ele segurou a mão que o tocava, o seu toque deixou a minha pele quente como se tivesse sido atiçada e pela primeira vez depois da sua mudança repentina Michael Campion voltou a me olhar.

Havia tanta emoção, tanta intensidade, tanta ternura naquelas esferas oceânicas...

— O que estar acontecendo com você? Em um gesto impensado levei a mão ao seu rosto.

Michael se inclinou em direção a minha palma, lentamente fechou os olhos.

— Eu preciso te dizer uma coisa, espero que não me ache um lunático. – Ele abriu os olhos. — Eu me sinto muito bem na sua companhia Destinee de uma maneira que eu não me sentia há algum tempo.

Ele encarou a mão que nos mantinha unidos.

— E devo isso a você, por ter aparecido no momento certo, apesar da minha falta de paciência em te esperar como você merecia.

— Michael, eu...

De um jeito delicado ele me silenciou, sua mirada parecia me atravessar... Era como se... Como se ele estivesse vendo algo dentro dos meus olhos que o atraísse.

— Eu preciso te dizer o que se passou comigo, somente assim você entenderá os meus sentimentos.

Engoli em seco e assenti.

—  Ter visto você na arena foi a melhor coisa que me aconteceu aqui. – Ele sorriu.

Delicadamente a sua mão veio para a lateral do meu rosto em uma caricia.

— Me diz que não tem namorado. – Sussurrou.

A adrenalina corria sob a minha pele, eu estava tendo emoções que jamais sentir em toda a minha vida.

— Eu não tenho. – Murmurei baixinho.

Lentamente Michael se inclinou sobre mim, era como se tivesse me dando a oportunidade de recusa.

O que estava pensando? Que eu tentaria fugir dele?

Toquei suas mãos posicionadas em meu rosto, vendo-o  tocar seus lábios nos meus.

Fui atingida por uma cascata de emoções, o contato dos nossos lábios  pressionados, foi despertando em mim um prazer lúdico e um bem estar, o sangue pulsava em meu corpo numa reação a adrenalina, me sentia envolvida pelo beijo  cadenciado, me sentia em chamas e completamente envolta de volúpia.

O puxei mais como se assim eu pudesse ter mais... Eu queria mais, o jogo havia mudado ao invés de puxá-lo pra mim o empurrei contra a areia, o contato dos nossos corpos, o toque dele em minha cintura, o impulso do desejo crescia dentro de mim...

Consciente dos meus arquejos Michael libertou a minha boca indo para o meu pescoço numa trilha de beijos, respirei fortemente envolvida por ele, minhas mãos foram para seu tórax numa caricia.

— Não faz isso. – Suplicou.

Eu travei desperta do encanto, completamente envergonhada, onde eu estava com a cabeça? Para agir daquela maneira eu literalmente o ataquei.

Meu Deus!

Fui salva pelo toque  de “we will rock you do celular do Ethan que eu trazia comigo, minha mãe não me deixaria andar por aí sem nenhum meio de contato e como ainda estava sem um, a contra gosto Ethan me emprestou.

Me afastei mais rápido  que o Usain Bolt, tirei o aparelho do bolso, a expressão de Michael era de sobrancelha arqueadas de uma forma sugestiva nos olhos indícios de uma chama de fogo.

A ligação era de Sarah, fiquei preocupada.

— Eu preciso atender é a minha mãe. – Esclareci com o dedo no botão de aceitar.

— Claro.

Levei o celular a orelha.

— Oi mãe.

— Você sabe que horas são Destinee Maire Haas? Ela estava exaltada, seu tom de voz revelava estresse.

— Mãe eu...

— Onde você está afinal?

— Na praia...

— Tinha que ter me avisado Destinee eu já estava preocupada com você!

— Eu estou bem.

— Vá para o estacionamento estou te esperando no carro.

— Mas eu...

— Agora! – Ordenou.

Suspirei designada.

— Já estou indo.

Puxa! Por que ela estava tão irritada? não deve ser tão tarde, finalizei a chamada.

Eu ainda me sentia envergonhada pelo meu comportamento, mas tentava não  deixar transparecer.

— Tudo bem eu já entendi, você precisa ir.  – Disse compreensivo.

Sorri agradecida.

— Sim.

Fiquei de pé.

— Quer que eu a acompanhe? Ofereceu ao meu lado.

— Não precisa.

— Poderia me passar o seu número de contato? Perguntou gentilmente. Ponderei por um segundo eu estava sem celular desde o momento que destruir um novinho, o que poderia fazer era lhe passar o residencial, decidi por estender a mão.

A solidez do material foi posicionada na minha palma, sem pestanejar registrei meu número no celular moderno dele e o devolvi para o dono, o sorriso sem dentes a mostra surgiu no rosto pálido, eu evitei fazer uma careta diante do seu sorriso bonito, seria no mínimo estranho uma atitude assim.

Me aproximei dele e o abracei, o contato com o corpo macio e másculo dele me trouxe certa sensação de familiaridade, o que foi esquisito. Michael pareceu surpreso ao devolver o abraço se mostrou gentil na ação, o meu rosto se encaixou na curva do seu pescoço eu sentia respiração dele em meus cabelos, e tive a impressão que ele os beijou levemente quase sem realmente tocá-los.

Um tempo depois Michael se inclinou para pegar os meus patins na área e me entregar.

— Adeus. – Murmurei baixinho, os pegando.

— Tchau Destinee.

Me afastei de Michael indo em direção a um caminho que me levaria da praia para a urbanização da cidade, já alguns passos de distância eu ouvir seu timbre rouco me chamar.

— Destinee?

Virei para vê-lo.

— O nome da minha turnê é Inesquecível garota.


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