Miríade escrita por Melry Oliver


Capítulo 10
10. O retorno




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À volta pra casa foi feita a bordo do transporte público, havia muitas garotas com faixas e pulseiras numa confirmação de presença ao show no Rod Laver Arena, também compartilhavam alguma coisa no celular e sorriam muito. Meg era  comunicativa e ainda estava agitada por causa do show, sua narrativa descrevia toda a apresentação do evento como se eu não tivesse assistido, seu empolgamento a fazia parecer um desenho animado, ela estava irredutível, e não aceitava as minhas tentativas de mudar o rumo da conversa, o tão mencionado Michael Campion.

Eu também guardaria boas lembranças ou ao menos parcialmente, ah! por que no final tinha que ter acontecido aquilo? Já não sabia o que tinha de errado comigo, minhas tentativas de ser social sempre acabavam fora do controle, recentemente eu havia passado situações no mínimo inesperadas.

  — Ah que show inesquecível! Expressou contente. — Vou lembrar pra sempre do meu Michael. – Ela fez um coraçãozinho com as mãos unidas, uma imagem tão bonitinha...

A fisionomia infantil ganhou um brilho nos olhos espertos, como se tivesse pensamentos divertidos e até peraltas.

— Eu vou me lembrar também do seu bonito rosto.  – Meg riu, não. A garotinha gargalhou na minha frente.

Fiz uma careta boba pra ela que ainda ria, Meg se mantinha em pé ao meu lado no seu estado atual de empolgação não queria  se sentar.

— A garota da música, é igual ou se parece com você. – Comentou pensativa mexendo nos meus cabelos.

Pacientemente eu lhe disse.

— Você quer ouvir a minha opinião?

Olhos atentos e curiosos me fitavam de volta.

— Quero sim.

Procurei as palavras certas, não poderia dizer meias verdades, minha personalidade não era assim, pausei por um instante para organizar o pensamento e dizer a ela o que eu acreditava.

— Eu acho que a garota descrita na canção, não é igual a mim, porque as chances de existirem duas pessoas completamente iguais não sendo gêmeas é praticamente impossível. Então vamos para a segunda opção... Que seria?

Esperei ela responder.

— A garota da música se parecer com você?

Que garotinha esperta.

— Existem muitas pessoas parecidas no mundo, sabia? Mesmo sem serem parentes, assim como também a pessoas que tem as mesmas características que outras possuem.

Certa vez vi uma reportagem  na TV que abordava esse assunto, a existência de pelo  menos 6 pessoas com traços físicos semelhantes em todo o mundo.

Esquisito eu sei.

— Entendi mais a escolhida foi você. – Ela tocou na ponta do meu nariz.

Sorri sem mostrar os dentes.

A inocência de uma criança é algo que não se deve ser tirada jamais, a infância é uma fase inesquecível da vida, e mesmo sendo estimada tem prazo de tempo para dar lugar a um novo caminho.

Se Megan queria ver por esse lado, sem problemas.

Ainda não tinha me descido aquela cena com tanta garota loira no lugar e miram logo nessa aqui?

Descemos na nossa estação, a levei para casa e entreguei em mãos a Sra. Payne, ela suspirou aliviada em vê-la.

Será que ela pensava que eu não sabia cuidar de uma criança?

— Tchau Garota Campion, foi mágico eu gostei muito. – Megan me abraçou e beijou no rosto. — Obrigada por ter ido comigo, não teria sido o mesmo sem você. – Tive que sorri.

Depois de mil agradecimentos da Sra. Payne fui para casa sobre as alamedas e árvores frondosas, até cantei uma canção baixinho devido ao meu estado de espírito.

Assim que cheguei eu avisei a minha mãe e fui para o meu quarto, eu precisava de um bom banho. Deitei-me na cama limpa e cheirosa e me cobri com as cobertas macias, não sei ao certo quando dormi, todavia, eu sabia que estava dormindo geralmente quando estou sonhando a luz ambiente em que estou é diferente, não é clara como o dia nem escura como a noite, tudo era parcial.

A casa confortável de sala ampla abrigava participantes de uma festa com muita gente expressivamente alegre, eu não conhecia aquela casa, com a exceção da minha mãe e do meu irmão eu não reconhecia nenhum rosto que eu via.

Todos estavam em clima festivo e sorriam com frequência, envolvidos com a confraternização, no meio disso o meu eu do sonho estava se preparando para participar de um concurso unissex, o percurso do desfile seria  andar por duas pontes conectadas a duas ruas públicas.

No sonho eu estava ansiosa, e me preocupava cada vez mais na medida em que a minha vez se aproximava com a volta do antecessor, sair com o objetivo de concluir o percurso, inicialmente eu achei que seria fácil, visto de fora parecia ser uma caminhada curta, no entanto entre as pontes e ruas eu me vi perdida, visto que os demais pareciam todos iguais, perambulando em tentativas de conseguir acertar o caminho de volta.

Uma aflição gélida tentava me dominar, e um grito de desespero ameaçava emergir, entretanto de alguma maneira eu conseguia manter a calma, deveria ter se passado minutos, ousava dizer até horas a fio em que eu estava no mesmo ciclo de perdição.

Quando o cansaço já despontava notei que havia algumas pessoas que me olhavam alertas, continuei tentando voltar para onde eu estava antes, mais pontes mais ruas erradas. O cansaço físico veio à tona de maneira intensa ao ponto da minha respiração acelerar e minhas pernas começarem a protestar, até então eu não tinha me dado conta que segurava uma bolsa  pela alça.

Fui em direção a um desconhecido que parecia ir para o mesmo lugar que eu, o meu cansaço era intenso se ao menos eu tivesse uma ajuda, todavia ele negou e se afastou as pressas, de alguma maneira eu tinha o conhecimento que não poderia simplesmente abandonar a bolsa.

Eu também sabia que era depois, na verdade bem mais tarde, eu tinha a impressão que havia passado muitas horas naquele universo alternativo, ficava cansada e depois já não mais...

Corria pelas vielas e ainda sim eu não conseguia achar o caminho de volta, em mais uma das minhas inúmeras tentativas eu escolhi seguir pela ponte até chegar a uma rua, mentalmente eu fiz um desenho em formato de T em minha cabeça, dobrei a direita o mais rápido que eu pude em linha reta, vi a segunda ponte e continuei. Cheguei à estrutura do evento com pouquíssimas pessoas nos arredores, eu me aproximei do fluxo centralizado, o resultado  foi a minha desclassificação.


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