Immortals escrita por MartaTata


Capítulo 1
Immortals


Notas iniciais do capítulo

Eu não acredito que estou a postar aqui. Wow.

Parece que foi ontem que este era o meu site predileto. Os problemas de 2014-2015 fizeram-me quase desistir da escrita e consequentemente, perdi tanto alcance.

Atualmente estou mais no Wattpad e Spirit. Houve tantas coisas na minha vida e eu em vez de vos atualizar, fundi um desabafo meu ao meu jogo e mangá favoritos - Black and White. Muitas coisas mudaram e achei mais do que justo escrever as mudanças todas do ponto de vista das personagens de BW, misturando os nossos universos.

Sinto tanta saudades de os escrever, mas parece-me que toda a gente desapareceu. Bem... Se vocês estiverem aí, sei lá, digam qualquer coisa.

Eu só sinto a vossa falta.



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Nunca sei como começar a escrever diários. Eu perco o interesse e duvido que isto vá durar mais do que um dia, mas vale a pena o esforço.

Sou uma miúda de letras e nunca duvidei nem por um segundo. Comentários como “vais trabalhar no McDonalds” não me afetam; até brinco com isso; não que eu seja uma nulidade a matemática, mas também nunca fui brilhante. Ciências sempre foi uma desgraça. Física e química até escapava, mas não vamos compará-la ao do ensino médio.

Sei como o curso de humanidades é desvalorizado, mas é claro que é. Dizem que é mais fácil por não ter nem matemáticas nem ciências; maioria dos adolescentes que vão para lá é para ‘fugir’ aos números. Isso deixa-me triste, porque português é uma coisa tão bonita e importante, mas tão mal ensinada ao longo dos anos.

Não estou aqui para dizer muito sobre isso agora, eu acho que vou elaborar isso mais à frente – claro, se isto realmente chegar a mais de três dias, isso já seria uma vitória. Estou aqui porque tudo o que eu faço na vida é escrever, escrever, escrever.

Não é preciso ser-se um génio para saber o que eu quero fazer da minha vida. Criar ficções, escrever livros e conseguir sobreviver disso já era a maior vitória que eu poderia obter durante o meu trajeto. Sei das probabilidades, é claro que eu sei. Sou de humanidades, mas ser de humanidades não é sinónimo de burrice.

Se tu que leste isto achas que é um sonho estúpido, de alguém que não ser mexer um dedo para ganhar dinheiro, então fecha estas páginas porque não acho que tenhas o direito de as ler. Na verdade, eu garanto-te que vou mexer mais dedos que tu, a teclar, enquanto eu escrevo o meu grande objetivo – o meu primeiro livro. De qualquer das maneiras, peço apenas que não me desprezem ao ponto de ridicularizarem o que eu almejo. Apenas isso.

Agora que esse ponto está assente, podemos ser amigos?

Percebi que tenho andado um bocado sozinha e acho que isso me faz uma pessoa secante. Na verdade, eu acho que é essa a visão que muita gente tem de mim e isso deixa-me triste porque eu acho que sou tudo menos aborrecida. Na verdade, quando as pessoas me entendem eu consigo fazê-las rir muito e fazer alguém rir é uma vitória diária enorme, para mim. Sou boa a escrever, excelente com palavras e a minha vertente comunicativa permite-me ser mais sociável e muito, muito extrovertida. Isso é bom. No entanto, tens desvantagens como te martirizares constantemente porque a escrita vai sempre sair melhor que a fala ou porque não consegues simplesmente parar com o ciclo constante de fazer amigos e achares que cada pessoa que te diz ‘olá’ é alguém a ser estimado.

Assusta-me um pouco, não minto, isto da faculdade. Eu tenho dezassete anos e em menos de quarenta e oito horas eu tinha descoberto que entrei, inscrevi-me e fui logo às aulas por entrar um pouco mais tarde que os restantes alunos – os motivos não importam.

Sinto-me distante de toda a gente e ao mesmo tempo, mais próxima a mim. A minha mãe avisa-me tal e qual como todos os outros que me estou a isolar e tenho plena consciência disso, só não consigo evitá-lo. Sei que, se eu quiser, faço amigos com uma facilidade tremenda em cada esquina de corredores escolares e talvez seja um desperdício eu estar a deixar oportunidades escaparem. Eu fico bloqueada e eu não entendo.

Eu só quero escrever.

É tudo o que me resta.

Chego a ficar trancada em casa dias e dias a fio, a escrever, escrever, escrever. Planejo durante as aulas os meus projetos, histórias, as minhas personagens. Choro com elas quando elas se sentem mal e rio quando estão felizes. Todas elas são partes de mim. Eu não consigo abdicar delas; isto consome-me ao máximo, talvez esteja a tornar-se doentio, mas eu não consigo parar, eu simplesmente não consigo. Eu chego a não almoçar para escrever, eu chego a não dormir para o fazer. Escrever é a minha vida. É a minha dependência.

As minhas personagens são os meus amigos ideais.

É a verdade onde eu quero existir.

Eu tento explicar isso tantas e tantas vezes. Tento argumentar, explicar o meu ponto de vista, porque é que literatura é tão importante, como a comunicação é a base da sociedade mas ninguém me ouve ou acredita em mim. Depois, eu choro. Sinto-me sozinha. Já tenho as lágrimas nos olhos a escrever isto e tudo o que eu queria era um mísero abraço de alguém que está longe e não mo pode dar. Eu não entendo.

Eu sei que sou diferente dos demais estudantes. Pode parecer clichê, mas parte-me o coração ao ver o meu grupo de amigos de infância, que me salvaram de um ano infernal de alguns problemas e hospitais, aqueles mesmos amigos irmãos fiéis que foram crescendo lado a lado comigo, evoluindo sem nunca largarmos as mãos uns dos outros agora gostarem só de beber e fumar em cada canto da cidade. Eles já não correm no shopping comigo enquanto causamos o caos. Eles já não gostam de ser expulsos de lojas de maquilhagem enquanto nos pintamos na cara uns aos outros. Eles já não querem fazer corridas de triciclos para crianças na Sport Zone e ficar amigos dos empregados que nos iam também expulsar e acabaram por filmar.

Eles cresceram.

Eu não.

Eu achava que me ia sentir melhor a admitir isto, mas eu acho que desta vez não resultou. Curioso. Estou a tentar manter o tom sério e sincero enquanto já estou a chorar e a vista está desfocada. Sempre que estamos juntos, eu tento tanto falar com eles e não consigo porque meia hora depois já está tudo a beber, a ouvir música e ninguém mais acha piada às minhas piadas. Sei que nenhum deles me odeia, obviamente. Sei que ainda gostam de mim, mas que me acham a criançola que entrou demasiado cedo na faculdade e vai morrer virgem por namorar há cinco anos e ainda ser realmente virgem. Por nunca ter experimentado um pingo de álcool ou um tragar de um cigarro ou charro. Por ainda gostar de vestir roupas fofas e chamativas, ser muito fixa ao passado e ainda achar que os mesmos amigos meus que tinham treze, catorze anos continuam os mesmos. Sou ingénua e não o nego, mas eu sou aquela miúda que não importa a idade que terá e o quão madura ficará; eu não consigo largar a criança dentro de mim que ainda acorda cedo nos dias dos lançamentos dos novos jogos de Pokémon e corre para a frente da Fnac, vendo-a abrir e sendo a primeira a comprar o jogo. Não consigo largar a pirralha que ainda adora fazer coleção de peluches e bonequinhos para a prateleira, que ainda ama Toy Story e Lilo & Stitch, que é viciada na Disney e Nintendo, que ainda dorme abraçada a ursos gigantes e tanto gosta de ler Harry Potter como ver anime ou ir a eventos geeks.

Eu gosto de mim assim. Não sou de festas; depende também. Gosto de festas em casa de amigos, todos a jogarmos ou simplesmente a fazermos qualquer coisa como conversar enquanto bebemos Coca-cola a jogar ao ‘eu nunca’ ou ao quarto escuro. Não gosto de discotecas, música alta – se for o meu gosto musical tudo bem – com letras mais pornográficas que a minha vida inteira ao longo dos meus quase dezoito anos. Não gosto de fumo de tabaco, ele faz-me tossir e admito que fico assustada de andar sozinha no meio do nada à noite, então também fujo dessas situações. Não gosto de álcool e para além de ser intragável, não me entra na cabeça como é que há pessoas que entram à socapa, criam identidades falsas e fazem trinta por uma linha por algo tão desagradável. Eu sei que sou a errada porque a minha faculdade faz-me questão de me relembrar isso a cada passo que eu dou, quando vejo grupos de amigos a combinarem faltar às aulas para as praxes ou irem sair ao Bairro Alto.

Ouço algumas fofocas de amigos meus da faculdade – sim, eu também tenho alguns amigos – sobre como foi ótimo dormir com um rapaz que conheceram há trinta minutos atrás. Eu não me importo, eu divirto-me até a fofocar um pouco e acho divertido falar sobre a vida pessoal, ter essa intimidade. Cada um dorme com quem quer, beija as bocas que quiser; quem sou eu para julgar, quero é que sejam felizes.

Só não quero que me impinjam isso.

Pode parecer hipócrita e egoísta, mas eu estou dividida entre deixar toda a gente viver as suas vidas – refiro-me aos meus amigos do coração, aqueles que eu vivi os melhores anos e verões da minha vida – ou tentar ressuscitar as crianças interiores deles. Descobri que me divirto mais a falar com professores do que com eles e isso fez-me chorar. Descobri que vou passar o meu aniversário de dezoito anos sozinha, enquanto o de dezassete foram uns vinte melhores amigos meus do grupo passear pela Expo, entre cafés de jogos e parques de diversões.

Quando ele ainda estava aqui, ao meu lado.

Quando eu ainda o podia abraçar.

Eu não consigo admitir para mim própria. Nem vou rever isto, eu só estou a desabafar. Eu precisava, acho eu. Eu tenho de aceitar que os tempos mudaram e que toda a gente toma rumos diferentes na vida. Só que eu não consigo. Eu quero-os de volta de uma maneira tão necessitada que vocês não fazem ideia. Tenho um álbum de fotografias deles que eu fiz e que vou guardar para todo o sempre no meu coração e prateleiras importantes, ao lado dos meus jogos de Pokémon.

Eles crianças podem ter morrido dentro deles, agora adultos.

Mas dentro de mim, serão imortais.


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