Eu não respondi que amava ele também. As palavras não saiam da minha boca. Mas com toda certeza o sentimento era recíproco. Só sei que abri a boca várias vezes na tentativa de falar algo, no entanto não consegui. Então apenas sorri, coloquei minhas mãos sobre os seus ombros e me aproximei.

Tive que ficar na ponta dos pés para poder encostar meus lábios nos de Chat, mas valeu a pena, pois nunca senti uma sensação tão boa.

Ele ficou surpreso de início – também não me imaginava tomando a iniciativa –, porém logo retribuiu e passou seus braços ao redor da minha cintura, me trazendo para ainda mais perto.

Era estranho, mas ao mesmo tempo incrível. Uma sensação muito boa estava tomando conta de mim e eu tinha certeza que Chat sentia isso também. Parecia que eu estava aonde deveria estar.

— Eu também amo você, Chat. – disse assim que nos separamos. – Amo muito. Mas você não tem medo de estarmos vivendo uma mentira? – perguntei receosa.

O loiro pegou a minha mão e colocou sobre o seu peito, fazendo com que eu sentisse as batidas do seu coração.

— Isso parece uma mentira pra você? – encarei Chat e o puxei para um abraço apertado. Escorei minha cabeça em seu peito e fechei meus olhos.

— Parece bem real pra mim.

***

Acordei apressada, mas assim que desci as escadas para tomar um café da manhã rápido, minha mãe tinha dito que era feriado.

— Você podia ter olhado o calendário. – ela brincou e eu ri.

— Tem razão. Vou me lembrar de fazer isso da próxima vez. – tomei o café da manhã com calma e depois voltei para o meu quarto.

Como estava muito inspirada pelo que aconteceu ontem comigo e com Chat, comecei a desenhar alguns vestidos no meu caderno. Pretendia fazer algum hoje e quem sabe usar em um encontro com ele.

Depois de um bom tempo desenhando, fui interrompida pela voz da minha mãe, vinda do andar de baixo:

— Marinette, seu amigo está aqui!

— Já estou indo! – um sorriso tomou conta do meu rosto ao pensar que Chat estava aqui, ao mesmo tempo que estranhei o fato de ele estar usando a porta da frente.

Para falar bem a verdade, eu não me importava que ele entrasse pela janela do meu quarto ou até pela porta da padaria. Estar com ele era a coisa mais importante para mim.

Desci as escadas correndo e parei em frente a porta. Respirei fundo e a abri, dando de cara com...

— Adrien?                    

— Oi. Você não respondeu a minha mensagem, então pensei em vir aqui pra ter certeza se estava tudo bem.

— Eu... Eu acho que precisamos conversar. – ele me encarava atento – Eu não gostei de como me tratou e gostei menos ainda de que você não percebeu isso sozinho.

— Marinette...

— Não, me deixa falar por favor. Eu gosto muito de você, Adrien. Mas não acho que esteja preparado para um relacionamento. – falei com sinceridade, tendo todo o cuidado para não ser rude, afinal, não era a minha intenção.

— Como assim?

— Para estar num relacionamento, você precisa confiar e ter confiança, precisa ouvir e ser ouvido. Acima de tudo, precisa admitir os seus erros e se redimir. Não acho que isso funcione quando se trata de nós dois. Só amor não basta. – seus olhos verdes me encaravam com seriedade.

— E-Eu não sabia. Desculpe. – olhou para baixo.

— Tudo bem. Só achei que era melhor dizer isso antes de que se tornasse algo mais sério. – Adrien olhou para mim novamente.

— Acha que seria melhor não nos vermos mais?

— Na verdade, acho melhor a gente não tentar um relacionamento. Mas ainda quero que sejamos amigos, é claro, se você quiser também. – segurei sua mão e dei um sorriso amigável.

Adrien era muito importante para mim e ainda gostava muito dele. Não queria simplesmente jogar tudo fora, mas também não queria continuar algo que só faria com que a gente se afastasse ainda mais no futuro.

— Quero sim. – ele sorriu e me puxou para um abraço – Desculpa, Marinette.

— Tudo bem. Está tudo bem.

***

Tirei um cochilo durante a tarde. Quando acordei estava me sentindo mais leve.

A conversa com Adrien mais cedo foi incrível, consegui resolver as coisas com ele, e acredito que tenha sido melhor assim.

Decidi mandar uma mensagem para Chat e contar o que tinha acontecido. Ele provavelmente ia adorar a notícia.

Procurei o contato dele, mas não o encontrava de jeito nenhum.

— Será que eu apaguei sem querer?

Depois de cerca de cinco minutos procurando sem sucesso, cai na real de que ele poderia ter sumido novamente. E isso fez com que meu coração batesse mais rápido e o nervosismo tomasse conta de mim.

Arregalei os olhos e sai procurando qualquer coisa no meu celular, mas não achava nada. Logo fui para o Facebook, digitei “Chat Noir” e nada.

— Não, não, não! – num ato desesperador, liguei para Alya.

— Alô?

— Alya! – comemorei por ela ter atendido – Você conhece o Chat?

— Quem?

— O Chat Noir.

— Quem é esse?— nesse momento, já senti os meus olhos arderem com lágrimas prontas para sair deles.

— Alya, pelo amor de Deus! Você não está brincando comigo, está?

— Marinette, do que você está falando?

— O Chat... Ele, ele sumiu!

— E quem é Chat?

— O garoto que eu amo, Alya. – nesse momento meu rosto já estava encharcado – Desculpe te incomodar, eu... Eu ligo depois. – desliguei sem esperar a resposta da minha amiga e levantei da cama.

Corri na direção na minha escrivaninha, abri a gaveta e procurei meu diário. Assim que o encontrei, folheei até a última página escrita. A última frase, dizia: “Parece bem real pra mim”.

Sentei no chão do quarto, continuando a folhar o diário e comecei a chorar como um bebê. Não era possível ter acontecido de novo. Estava tudo perfeito! Por que de novo?

Ainda folhando, lia algumas partes aleatórias que faziam com que eu chorasse mais ainda, até que uma me chamou atenção.

“- É complicado. É que existem diferenças entre o que eu quero e o que de fato é.

— Existem?

— Sim e eu aprendi da pior forma. Também aprendi que perfeição não existe.

— Então para que algo exista, precisa ter um defeito.”.

Refleti por alguns segundos e logo corri para pegar uma caneta. Arranquei com pressa todas as páginas escritas do meu diário e nas páginas que sobraram, comecei a escrever sobre Chat Noir.

Escrevi o quanto o amava, o quanto era tudo pra mim e o mais importante: Seus defeitos e imperfeições. Afinal, todos temos defeitos e imperfeições. O meu erro desde o início, foi pensar que Chat não teria.

Terminei de escrever e olhei em volta, esperando que algo aconteça. Mas aparentemente nada mudou. Peguei meu celular e procurei o contato de Chat... Nada.

Deixei meu corpo cair para trás e fiquei ali atirada no meu tapete felpudo.

Como eu pude pensar que daria certo?

— Marinette, liga a televisão! – minha mãe gritou do andar de baixo.

— Por quê?

— Rápido, liga! – ela apareceu pela escotilha do quarto. Me arrastei até o controle remoto sem pressa e liguei a televisão.

— "Em seguida, não perca imagens exclusivas do cometa que está passando pela terra". – voltei toda a minha atenção para a reportagem. – "Cientistas afirmam que aqui em Paris teremos uma visão muito boa desse fenômeno". – um clarão veio da rua, fazendo com que eu me levantasse e fosse correndo pra varanda.

— O que está acontecendo? – ouvi minha mãe dizer e ir atrás de mim.

Eu vi ele.

Vi o cometa e ele estava perto.

Muito perto.

As pessoas na rua começaram a correr desesperadas. Minha mãe gritou e me puxou, mas eu segurei no parapeito e fiquei ali.

O clarão ficou tão forte, que eu só fechei os olhos e me deixei ser atingida.