Dimensional Disclaimer escrita por Harper


Capítulo 2
What is Strogonoff? Baby don't hit me, no more!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo não editado. Eu queria ter feito a edição antes de postar, mas como ontem fez 2 meses desde que abandonei essa fanfic na poeira, resolvi não adiar mais. Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770742/chapter/2

Estava escuro. O corpo de Leo tremia, seus olhos observando aquela pilha recém-formada de pedras. Ele sentia as suas lágrimas quentes descerem pelo seu rosto enquanto o vento frio da noite batia na sua pele exposta, causando arrepios por conta do contraste ao calor da adrenalina da luta que havia acabado de ter.

— Akira...

Sua voz saiu apertada, machucando a sua garganta quando finalmente conseguiu pronunciar o nome do seu melhor amigo. Ele não conseguia enxergar nada direito, sua visão estava borrada pelas lágrimas e suas mãos sangravam, tanto pelo esforço usado em batalha quanto pelo atrito de suas mãos ao concreto, enquanto ele procurava em desespero pelo corpo de seu amigo. Os soluços sufocados que saíam de sua garganta faziam sua respiração vacilar.

— Você... você está aí...?

O garoto pergunta. Ele sentia algo quente molhando seus joelhos, e ao dar uma rápida olhada para baixo ele pode ver o sangue que saía por baixo da grande pilha. Seus soluços pareciam querer sair com mais força.

— A-Akira, eu... eu sei que... que você está aí... Akira... Akira, não me abandone... Akira...

As lágrimas não paravam de descer pelo seu rosto. Suas mãos doíam de tanto tirar aquelas pedras, sua garganta doía pelos soluços contidos e ele se recusava a acreditar que seu amigo, seu melhor amigo, era agora um pequeno pó amarelo, que se desfazia com o vento. Isso fez Leo chorar descontroladamente. Ele sabia o que aquilo significava, ele conseguia sentir sua mente vacilando, as suas memórias com ele lentamente desaparecendo. Isso não podia acontecer. Ele não podia deixar isso acontecer. Ele não podia esquecer.

— N-não.. não me deixe...

Ele não podia esquecer.

— A-Aki... ra...

Ele não podia esquecer.

— P-por favor... e-eu sei... que você está vivo...

Ele não podia esquecer.

— E-eu não quero... não quero te esquecer, Akira...

Ele não podia esquecer...

— Akira...

Ele não podia... esquecer...

— AKIRA!

Mas ele esqueceu.

—---------

Corpo molhado em suor, olhos lacrimejantes e gritos abafados, foi assim que o jovem Aldinni acordou aquela manhã. Sua respiração estava ofegante, sua cabeça girava e o bolo na garganta não o deixava respirar. Colocando as mãos na cabeça, o pequeno albino tentava controlar sua respiração, em uma tentativa de evitar um ataque de pânico. Mordendo o lábio inferior, acabava por franzir sua testa enquanto tentava entender. Mas que merda... não bastava toda aquela situação, ele ainda tinha um sonho como aquele...? Aquela droga de lugar queria foder com a sua mente, não era possível.

— Leo? – Era a voz de Akira.

Leo levanta a cabeça na direção do seu amigo, enquanto secava o suor do rosto com as mãos. Com Akira, estava a garota da noite passada. Os dois estavam sentados no chão segurando pratos com algo que lembrava uma sopa, e entre eles uma pequena fogueira com a panela que deve ter fervido o alimento. Leo pareceu confuso por um instante, visto que ele não sabia para onde olhar, se para Akira, a garota ou a fogueira com o ensopado. Ele se sentia desconfortável, mas felizmente Akira quebrou o silêncio.

— Cara... tá tudo bem?

— Hm? – Leo olha para o seu amigo com uma cara confusa. – Sim... eu acho... por que?

— Ah, sei lá... você estava tipo...

— Você estava se debatendo, como se estivesse tendo um puta sonho ruim. – A loira se meteu na conversa, para o que Akira logo concordou.

— Eu fiquei preocupado, pô. Até pensei em ir te acordar, mas cê acordou antes.

O jovem albino coça a cabeça por um instante, meio envergonhado. Ele não queria matar o clima tendo que dizer que sonhou com seu amigo sendo morto, então o que fazer?

— Não... não foi nada... só um pesadelo... – Ele diz com um suspiro. Aquilo não era mentira, então não ia se sentir mal por mentir. Se levanta, um pouco tonto antes de caminhar até a rodinha e se sentar. – Onde arrumaram isso?

Akira queria saber um pouco mais do tal sonho, mas ele resolveu deixar de lado, já que Leo não parecia querer falar disso. Ao ouvir a pergunta, ele apenas dá de ombros.

— Não se preocupe com isso. É comida, é o que importa. – E com essas palavras, o rapaz deixa o seu prato no chão e pega um novo, o enchendo com o ensopado. – Aqui, cê precisa comer.

Leo não queria comer, mas ele decide obedecer. Sabia que ficar com fome iria ser desvantajoso mais para frente. Não pode deixar de olhar para a garota loira de um jeito desconfortável, enquanto pegava o prato com Akira. Felizmente, ela não pareceu notar o olhar, já que estava no meio de uma conversa com o moreno.

— Você disse que veio de onde mesmo? – Ele perguntou antes de voltar a comer.

— Highschool of Gods. – A garota disse. – Você sabe, a escola de treinamento para jovens meta-humanos.

— Meta-humanos? – Akira pareceu confuso por um instante. – O que é isso?

— Super-humanos. Pessoas com super-poderes! Sabe...? Você não conhece o termo? – Agora ela quem havia parecido confusa. – Ah, espera, você é um daqueles que usa minuns? Se for o caso, é uma escola para minuns.

Akira parecia na mesma. A loira só pareceu mais confusa.

— Não? Nada? Nunca ouviu falar mesmo? – Akira fez que não. – Mas você conhece a Highschool of Gods.

— Não...?

Os três ficaram em silêncio por um instante. A garota não sabia o que dizer, Akira parecia confuso e Leo não estava entendendo bem o que eles estavam dizendo, mas pelo que pegou ele decidiu que era hora de se meter.

— Você disse que era uma escola para super-humanos, mas você sabe que pessoas com poderes não existem. – Akira tossiu de leve ali do lado. - ...com alguns casos a parte.

Akira pareceu satisfeito com a resposta, diferente da loira que fez que não.

— Não são só alguns “casos a parte”, o mundo todo sabe que meta-humanos existem. Eles existem, são poderosos e por essa razão que eles vão para a HSG, para serem heróis, que nem eu, que nem o grande Mighty 100!

Leo se sentia tonto. A garota parecia ter saído de um anime de super-heróis pelo jeito que ela falava... digo, bradava todas aquelas informações.

— Nós nunca ouvimos falar de nenhum Mighty 100...

— COMO ASSIM VOCÊS NUNCA OUVIRAM FALAR DO GRANDE MIGHTY 100!? – A loira grita, o que fez com que a tontura de Leo piorasse em 200%.

— D-desculpe... não precisa gritar comigo, eu só... eu só acordei agora, eu nem sei o que estou pensando direito... estou com um pouco de sono... – O garoto mal disse isso, a sua barriga roncou alto. A moça, que parecia querer dizer mais coisas acabou se calando, e Akira inclina a cabeça pro lado. O olhar dos dois fez Leo corar e se encolher, mais ainda quando eles caem na gargalhada.

— Ou com fome! – Akira diz em um tom alto, antes de dar um tapão nas costas do amigo. Leo solta um gemido dolorido.

— Podemos falar disso depois, você precisa comer! – Incentivou a loira enquanto indicava o prato de Leo que estava cheio ainda.

— A-ah... e-eu não estou com tanta fome... – Aquilo era tanto verdade quanto mentira. Por mais que ele afirmasse não estar faminto, o seu corpo estava, mas Leo não sentia vontade de comer.

— Não é o que parece, baixinho. – A garota pega a concha da mão de Akira e começa a encher o próprio prato, antes de coloca-lo na frente de Leo. – Tó.

— Não... – Ele olha para o prato da moça se sentindo meio enjoado. – Eu não estou afim...

— Blasfêmia! – Exclama Akira, antes de pegar a sua concha de volta e encher o próprio prato, colocando ele junto ao prato da outra menina na frente de Leo. – Você precisa se alimentar! Como pretende ser saudável e forte se não come nada?

— Aí baixinho, teu amigo tem razão. – E pegando sua colher, a garota pega um pouco do ensopado de Leo e aproxima a colher da boca dele. Ele tentou recuar, mas não conseguiu ao sentir que o braço de Akira estava pelos seus ombros, o impedindo de desviar. – Você precisa comeeer~

— E-eu... – Leo se sentia encurralado. – E-eu não quero mesmo...

— Não diga isso, Leo! Come! – Akira o aproxima mais da colher, o que fez Leo tremer.

— Vamoooos~ você tem que comer... – A garota encosta o utensílio nos lábios de Leo. Suor descia pelo rosto do garoto, que estava em pânico.

— Come, Leão!

— Cooome. Cooooome. Cooooooome!

— E-eu... – Mas ele não pode dizer mais nada. Os gritos dos outros dois soaram mais alto.

— Come! Come! Come!

Leo se sentia encurralado. Ele não podia escapar. Aqueles gritos de incentivo eram altos demais para não serem escutados ou ignorados e aquela colher melando o canto da sua boca era impossível de se desviar. Ele não tinha mais chances. O garoto fecha os olhos e abre a boca. O ensopado quente desce.

*.......*

Leo sentia que ia vomitar. Depois daquele prato, Leo também comeu os pratos de Akira e da garota, entre os coros animados dos dois enquanto ele era alimentado feito um bebê. Ele estava tão cheio que se se mexesse ele sentia dor, se respirasse sentia dor, se fechasse os olhos se sentia dor. Se era essa a sensação de estar satisfeito, nunca mais iria querer sentir isso de novo. Enquanto morria no chão, Akira recolhia os pratos, enquanto a loira terminava de comer o resto do ensopado para que pudessem se livrar da panela.

— Ah sim. – Akira diz do canto dele, o que fez Leo temer temporariamente pela sua vida. Por favor, que não fosse outra ideia mirabolante. – Leo, eu te apresentei a Lin?

— O... o quê...? – Leo se senta entre gemidos doloridos no chão, antes de olhar para Akira. Ele parecia aéreo. – Quem... quem é Lin?

— Lin! – Akira aponta para a garota que para de comer ao ver que a atenção se voltou a ela. Ela levanta a cabeça para Leo com um sorriso, engolindo a comida que estava na sua boca.

— Oi! – Ela acena para o garoto com um sorriso radiante. Leo cora de leve enquanto acena de volta. – O nome é Gyan Mei-Lin, mas pode chamar de Lin!

— P-prazer, Lin... – Leo pode ver que Lin era bem animada. Isso podia fazer ser difícil de lidar, mas ele conseguia lidar com Akira, então esperava que não fosse um grande problema. – Eu me chamo...

— ...Leo, sim, sim, eu sei, o Akira me contou de você. – Ela o interrompeu, enquanto deixava a panela já vazia no chão, que Akira logo catou.

— Ah... ele disse, foi? – Leo olha para o amigo, que só lhe deu um sorriso caloroso antes de voltar a fazer suas coisas.

— Sim! Ele me disse o quanto vocês eram super bestie buddys e como ele estava feliz de ter alguém tão incrível para poder contar. – Leo sentiu suas bochechas queimando.

— A-ah... é mesmo?

— E quanto você é bom com arco e flechas. – Akira disse, enquanto colocava a mão na cabeça do amigo. Leo levantou o olhar para ele, com um sorriso encabulado... antes de ser surpreendido por um puta abraço de urso. – Melhor colega de todos. Te amo, Leão.

— U-uh... A-Akira... – Leo tenta se livrar do abraço, mas ele é novamente surpreendido quando sente que Lin também se juntou ao aperto.

— Eu quero um abraço também! – Choramingou a garota.

Leo se deixou ser abraçado pelas duas criaturas forçudas por um segundo. O abraço deles era quente e confortável... mas que foi ficando desconfortável depois de um tempo. Ele não ia se livrar do aperto porém, mas ao ouvir aquele “creck” e não ter certeza se foi das suas costas ou de alguma outra parte do seu corpo, ele tentou se desvencilhar.

— O-ok, ok, chega... gente... – Ele diz, tentando sair do abraço sem muito sucesso. – Por favor... chega...

— Ok, chega de amor. – Akira o solta finalmente, antes de lhe dar uns tapinhas carinhosos na cabeça. – Te amo, mas ainda prefiro mulheres, então foi mal cara. Talvez na próxima.

Lin gargalha enquanto Leo cora o bastante para confundirem o seu rosto com uma cereja.

— A-Akira! – Meu deus, o que Lin ia pensar deles? Akira era inconsequente demais. O albino solta um suspiro, antes de Lin também soltá-lo do abraço. – Ok, já que nós terminamos de comer, podemos voltar aquele assunto?

— Que assunto? – Akira perguntou antes de... jogar os utensílios de cozinha por uma janela. Barulho de vidro quebrando pode ser escutado lá fora. Leo decide não questionar.

— Uh... – Não, Leo. Você não vai questionar. Não. – Highschool of... Titans?

— Gods. – Lin corrigiu.

— Gods. – Leo se corrigiu. Akira resolveu se sentar na rodinha, já que ele terminou de “limpar” tudo. – Bem, Lin, não sabemos de onde você veio, mas de onde nós viemos nunca ouvimos falar dessa tal escola.

Lin bufa de leve.

— A HGS é uma das escolas mais famosas do mundo. Vira e mexe ela passa na TV, como que vocês nunca ouviram falar?

— Nós não ouvimos. Não podemos fazer nada, mas se ela é tão famosa assim, então... – Leo segura uma das mechas do cabelo, a esfregando de leve. – Ela é recente? Sabe a quanto tempo inaugurou?

— Claro, já tem uns... 15 anos, por aí. – A garota responde após contar rápido nos dedos.

— 15 anos? – Akira pareceu surpreso. – Se ela é tão famosa e já está por aí há 15 anos então nós com certeza teríamos ouvido falar dela!

— Sim... eu pensei nisso, mas... – O albino faz uma careta. Algo nessa história toda não estava certa, e Lin não parecia estar inventando também. – Lin, você... já ouviu falar sobre Tatsumi Port Island?

— Nunca vi mais gordo. – Ela responde, negando com a cabeça. Isso fez Akira e Leo se entreolharem por um instante.

— Para nós, Tatsumi Port Island seria o mesmo que essa sua escola. – Leo inclina um pouco a cabeça, desconfiado. – Você nunca ouviu falar nela? Mesmo?

— Eu juro! Nunca nos meus longos 15 anos! – Lin levanta as mãos, como que para mostrar que estava desarmada.

— Leo... cara... não acho que tem por que duvidar dela... – Akira diz para o seu amigo.

Leo solta um suspiro, coçando o queixo. Lin realmente parecia suspeita, mas novamente, não sentia que ela estava mentindo. Ele não sabia bem o que fazer, já que não confiava plenamente nela, mas não havia razão para desconfiar dela também, então ele decidiu dar um voto de confiança... por enquanto.

— Certo... certo. Você parece estar falando a verdade. – Apesar de dizer isso, ainda dava para ver a incerteza em sua expressão. – Vamos tentar pensar em outra coisa.

Lin abaixou a cabeça. Apesar de tudo, toda essa desconfiança em cima dela conseguiu deixa-la meio para baixo. Akira coloca a mão sobre o ombro da moça como se esperasse que isso fosse confortá-la de alguma forma. E então, os três ficam em silêncio... Outra forma. Como eles iriam pensar nessa outra forma, como que seria essa outra forma? Era tão difícil... Leo deixa escapar outro suspiro.

— Olha... – Lin acaba quebrando o silêncio. – Eu gostaria de agradecer a vocês.

— O que?

— Agradecer pelo quê? – Leo e Akira pareciam confusos.

— Ah, vocês sabem, por terem... me salvo daquela coisa. – Movimenta as mãos ao redor do próprio corpo, mimicando a aura maligna.

— Você sabia da possessão...? – Leo pergunta com certa cautela.

— Não, mas o seu amigo me contou do que houve. Cê sabe, a luta e porradaria e como eu detonei vocês dois e os fiz chorar feito criancinhas de tanto medo.

Leo olha para Akira que ri, meio encabulado.

— Ela queria saber de todos os detalhes, poxa... e eu dei né...

O albino sabia que ele deve ter exagerado em vários detalhes da história, mas mais uma vez ele decide não questionar.

— Você não precisa agradecer a gente. – Leo diz, desviando o olhar.

— Preciso sim! Ainda mais porque... se ele estava mesmo certo e eu fui pra cima com tudo... sei lá. Eu achei que vocês iam me deixar pra morrer... – Lin abaixou um pouco a voz enquanto coçava a nuca.

Havia um pouco de medo na voz da garota, que deixou Leo com um sentimento estranho. Ele queria dizer algo para ela, mas Akira acabou indo mais rápido, ao apertar de leve o ombro dela.

— Oi, não diga isso. Nós somos heróis, nós jamais iriamos deixar alguém pra morrer. Ainda mais uma mulher tão sexy com você. – Ele pisca um dos olhos.

Era naquele momento que Leo iria contribuir para o diálogo e tentar dizer algo construtivo, mas a cantada acabou com todas as suas esperanças de sequer tentar algo e logo ele solta um suspiro desapontado. Lin, pelo contrário, acaba soltando uma gargalhada.

— Valeu, eu acho. Você também é sexy se me perguntar. – Ela retribui os gestos adicionando finger guns. Leo respira fundo. Ele não merecia isso. Não merecia ficar ouvindo aquilo. Sentia como se estivesse segurando uma vela, das grandes ainda.

— Então... – Ele diz meio alto para chamar a atenção dos outros dois, o que dá certo. – Nós devíamos arrumar uma maneira de sair daqui.

— Boa ideia! Oi, Lin, você tá aqui a mais tempo, não tá? Sabe como sair daqui?

A loira cutuca o queixo por um instante. Os dois garotos olham para ela com certa expectativa, para serem desapontados ao ver ela fazendo que não.

— Eu não lembro de muita coisa enquanto estava na minha forma “demoníaca”, então se eu descobri algo enquanto vagava pela cidade eu já devo ter esquecido. – Akira solta um leve tsc. – Mas eu lembro de algo antes... não sei se é muito útil, mas parecia ser um deserto. Lá pela fronteira da cidade, eu acho.

— Um deserto? – Akira acaba olhando para Leo. – Você se lembra se tinha algum deserto na nossa Tatsumi?

— Uh... eu... acho que não... mas eu nem lembrava que aqui tinha uma floresta, então minha memória não é muito confiável.

— Então temos uma pista! Porque eu também não lembro se tinha um deserto em Tatsumi! – Ele pareceu animado, diferente de Leo.

— É... uma pista meio duvidosa. – Ao notar como isso pode ter soado acabou olhando para Lin em desespero. – Não quero dizer que está mentindo ou algo assim! Só porque nenhum de nós lembra, não quer dizer que não estava aqui antes... digo, olha para a floresta...

— Aqui tem uma floresta?

— Tem, mas não é o que importa agora. – E mais uma vez ele segura a sua mecha, meio pensativo.

— É, tu tá certo Leão, mas se estava aqui antes ou não, não muda que ainda é uma pista. E ainda é a única que temos, não podemos reclamar.

— Mendigos não reclamam de esmola?

— Isso. Não entendi bem esse termo, mas é bem isso.

— Não pode ser seguro sair se aventurando dessa forma... – Leo tenta argumentar.

— Então nós vamos ficar sentados aqui esperando que algo mágico aconteça pra servir de sinal pra caírmos fora? Não podemos ficar aqui, Leão, não sonha.

O silêncio se seguiu mais uma vez, deixando o clima meio tenso. Leo não queria se arriscar ou arriscar o seu amigo, mas ele sabia que ele tinha razão. E não podia negar que ele mesmo tinha visto uma falha no seu argumento no momento que abriu a boca. Mais um suspiro acabou saindo.

— ...certo. Eu sinto que isso vai dar errado, mas nós não temos escolha de qualquer forma...

— Então nós temos um plano? – Lin pergunta de modo animado.

— Temos! – Responde Akira, igualmente animado.

E depois de alguns gritos de guerra que Leo definitivamente não se juntou porque ele queria ou algo assim. Para se preparar para a noite no deserto, o trio resolveu pegar emprestado algumas coisas das lojas, aproveitando que a cidade estava abandonada e que aquela nem era a cidade deles mesmo, então pff, quem liga.

Cada um deles se encarregou de pegar algo diferente para terem mais suprimentos. Leo carregava uma mochila com três sacos de dormir, além da comida e água que eles definitivamente iriam precisar no meio do deserto. Akira carregava uma mochila com as armas, dentro dela algumas dinamites e sacos de pólvora, munição para armas, algumas flechas reservas, minérios e um par de luvas de boxe. Lin, de alguma forma, recuperou os seus óculos escuros, e em sua mochila carregava... roupas. E um pack extra de suprimentos. E finalmente depois de se preparem e arrumarem tudo, os três meteram o pé na cidade em direção ao tal deserto, Lin indo na frente para guiar o caminho.

Diferente da Tatsumi de sempre, as ruas estavam bem calmas e silenciosas... e isso era agoniante. Leo tentava acompanhar os seus amigos, já que ele quem estava ficando para trás por conta de seu condicionamento físico, mas era difícil porque sempre se distraia quando notava algo diferente na cidade. Teve uma hora porém que ele notou algo estranho... algo que deveria estar ali, mas no momento não estava. Isso fez ele parar de seguir a dupla para encarar aquele grande e florido campo vazio, enquanto sentia a agonia dentro de si gritar que havia algo de errado. Akira demorou um pouco para notar que Leo não estava mais seguindo ele, e ao se virar para trás para poder procura-lo, logo nota o albino distante. Ele segura o ombro de Lin, fazendo ela parar de andar.

— Oi? – A garota se vira confusa para o moreno.

— Foi mal, mas você podia esperar um pouco?

— Por que? Aconteceu alguma coisa?

— Só... eu tenho que resolver um negócio. Não vai demorar.

Lin olha para o rapaz por um momento, antes de fazer que sim e caminhar para uma árvore ali perto, para descansar um pouco. Akira aproveita para voltar até onde Leo estava parado, encarando o tal campo florido em silêncio. Ele mesmo encara esse campo por um tempo, antes de cutucar Leo de leve, o que o fez tremer um pouco devido ao susto.

— Ah... Akira... – Ele pareceu um pouco mais aliviado.

— Oi... tá tudo bem, cara? – Akira perguntou, enquanto colocava a sua mão sobre o ombro do albino, que soltou um suspiro.

— Nem tanto... – Leo coça um pouco a cabeça, enquanto olhava para o campo. Ele notou que seu amigo pareceu meio confuso, então ele apontou. – Aqui costumava ficar o Happy Castle... lembra?

— Oh sim. – Akira permanece em silêncio por um instante. Normalmente ele não sentiria nada, mas logo ele percebe... quantas memórias já não tinha tido ali, no Happy Castle, com seus amigos? Se lembrava de quando ele, Leo e Jill vinham até ali para poder treinar e depois ir comer bolo. Se lembrava até quando a Tama decidiu se juntar a eles! O moreno olhava para aquele campo, achando estranho a falta daquele edifício enorme e colorido... ele estava triste. - ...até mesmo o Happy Castle sumiu?

— Sim.

— Que merda, cara.

— ...sim.

— Nem os fantasmas respeitam mais a nostalgia. – O comentário fez Leo rir um pouco. Isso fez Akira sorrir orgulhoso, ao ver que tinha animado o amigo. Logo ele bagunça o cabelo dele com a mão. Leo ainda estava para baixo, mas não parecia mais tão deprimido assim.

— Desculpe... eu só... estava pensando....

— Em coisas ruins?

— Sim... não... talvez... – Leo brinca com uma mecha de cabelo enquanto tentava se organizar. Ele não sabia como colocar seus pensamentos para fora. – Eu... talvez esteja perdido, Akira...

— Perdido? – O garoto não pareceu entender bem o que seu amigo quis dizer. – Mas Leo, você não está perdido. Você tem eu, né? Nós estamos nos virando!

— Não, não é isso, Akira. É só... – Ele solta um suspiro, antes de abaixar o olhar. – Eu só... acho que... estamos sozinhos...

— O quê? Sozinhos? – Ele ia dizer o que havia dito anteriormente, mas entendeu rápido que não foi naquele sentido que ele quis dizer. – Como assim, cara?

Leo fecha os olhos. Ele respira fundo mais uma vez, antes de olhar para o seu amigo, com o olhar doído.

— Os outros, Akira. Nico, Jill, Himari... onde elas estão? Você sabe... nós quase nunca resolvemos os nossos problemas sozinhos. Estamos sempre contando com elas, de alguma forma, mas agora... – Ele coloca a mão no rosto, parecendo perdido. – E se... na verdade... elas abandonaram a gente, Akira? E se... elas tiverem achado que somos um peso e... foram embora? Eu... eu...

Leo parecia que iria chorar. Seus olhos lacrimejaram um pouco, ele abaixou a cabeça, eram sensações tão fortes, o pequeno albino sentia que iria explodir. Akira entrou em desespero por um instante, ele não sabia o que fazer com seu amigo naquele estado. No pânico, ele acabou por abraça-lo, o que pegou Leo de surpresa.

— Olha, cara... não fique assim, ok? As meninas não fariam isso. Elas adoram a gente, não sei onde elas estão agora, mas tenho certeza de que estão preocupadas e procurando a gente. Não precisa ficar assim, ok? Elas jamais nos abandonariam. – Ele disse enquanto dava alguns tapinhas nas costas do amigo. – Vai ficar tudo bem.

Leo ficou em silêncio por um instante... ele não sabia se podia confiar no que o amigo dizia, mas ele também não podia deixar o seu pessimismo vencer aquela. Como ele era idiota, tinha achado mesmo que suas amigas, pessoas que ele contava e confiava, mesmo não tanto quanto Akira, iriam realmente abandoná-lo? Devia ser aquele lugar. Estava o deixando louco. Limpando as lágrimas que queriam descer, Leo corta o abraço, parecendo um tanto mais confiante, em sua própria medida. Se continuasse pessimista, era aí que as coisas não dariam mesmo certo.

— Eu confio em você, Akira... – Ele começou dizendo, e parecia que ia dizer mais, mas Akira o interrompeu, passando o braço pelos seus ombros.

— Claro que confia! Eu tenho razão, poxa! – Ele riu, riso que contagiou Leo um pouco. – Agora vamos! Não podemos deixar uma dama esperando!

O albino faz que sim, enquanto Akira o puxava pelas ruas. Não demora para os dois toparem com Lin, que estava sentada debaixo de uma árvore com as coisas. A garota os olha por um segundo antes de levantar, uma expressão preocupada no rosto.

— Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais, só uns problemas, mas o pai aqui resolveu. – Akira diz com certo orgulho de si mesmo, enquanto Leo suspirava. – Podemos ir agora.

Akira havia soltado Leo, e começou a andar na frente do grupo. Lin olha para o albino por um instante antes de se aproximar dele.

— Hey, tá tudo bem mesmo? – A garota realmente parecia preocupada. Isso confortava Leo por alguma razão.

— S-sim... eu estou bem, não é nada. – Ele afirma. Lin não parecia acreditar muito nisso, mas ela decide respeitar as palavras do rapaz.

Com a reunião do trio, Lin volta a liderar o grupo enquanto Akira conversava com Leo sobre coisas bobas. Não que Leo fosse muito de small talk, mas aquilo estava conseguindo o distrair, e esse já era o plano do Akira. Lin prestava atenção na conversa deles um pouco, já que ela não tinha nada melhor para fazer, e não demorou muito para que os três logo chegassem. Parecia ser uma divisória, de um lado a floresta e do outro o deserto, tendo apenas uma grande linha reta. Os três se entreolham por um instante.

— Lin? Você... sabe o que é isso? – Leo pergunta um tanto confuso. A loira fez que não.

— Eu não me lembro disso estar aqui... – Lin comenta enquanto se ajoelhava próxima a linha. Ela analisava com um olhar crítico, tentando lembrar se já tinha visto aquilo antes em sua memória, mas isso só a deixava com dor de cabeça. – É... não acho que isso estava aqui antes, mas sei lá. Minha memória não é muito confiável.

— Então... nós continuamos? – Leo pergunta, parecendo novamente incerto se deveriam ou não prosseguir. – Não é perigoso?

Os três permaneceram em silêncio por um tempo. Lin parecia nervosa. E então...

— É melhor.

E chegando a conclusão, o trio faz seu caminho pelo deserto. Estava na cara de que seria uma jornada longa, era um deserto afinal e eles não eram conhecidos por serem curtos, como uma trilha. Logo as horas foram se passando, uma, duas, três, nem dava para saber direito, mas uma coisa era certa: estava quente. Não parecia ter fim, Leo estava com as pernas cansadas, a pele queimada, suado e sedento. Ele cai no chão, após soltar uma grande bufada de ar, que chamou a atenção dos outros dois. Akira correu para perto do seu amigo.

— Cara, tá tudo bem? – Ele perguntou, preocupado, ficando mais ainda com a falta de resposta. Porém...

— S.... sim.... – Leo finalmente respondeu. Suspiros aliviados preencheram o silêncio momentâneo.

— Ele precisa beber água. Aqui. – Lin entregou a sua própria garrafa para Akira, que acabou aceitando sem pensar duas vezes.

Leo bebeu quase todo o conteúdo, mas não era um problema. Ele parecia estar passando mal, afinal, com esse calor e as roupas que estava usando, surpreendente que não tivesse pegado uma insolação mais cedo.

— Acho melhor pararmos um pouco. – Akira sugeriu, enquanto alojava Leo em seu peito. Lin balançou a cabeça, como se concordasse com o moreno.

— Fica de olho nele, eu vou olhar os arredores. Com sorte, sei lá, encontramos uma sombra e descansamos por alguns minutos antes de seguir viagem.

— Bele.

E assim, cada um com seus objetivos definidos, eles se separaram por alguns instantes. Akira ficou para trás, usando seu corpo para fazer sombra ao seu bro, Leo estava morrendo e Lin prosseguiu em busca de uma sombra, a mísera que tivesse. Quanto menos tempo o albino ficasse debaixo do sol, melhor. Porém, a loira não precisou caminhar muito, não por ter encontrado uma sombra para se abrigar, mas por ter algo que chamou a sua atenção.

— Mas que...

Se aproximando da proeminência em meio a terra, Lin acaba vendo um par de pernas. Ou, bem... pareciam um par de pernas. Ela arqueou a sobrancelha e se aproximou um pouco mais.

“Talvez alguém tenha morrido aqui...”, foi o que havia pensado, mas podia ter sido todo aquele sol na sua nuca que estivesse fazendo ela pirar, mas ela teve a impressão daquele pé (ou o que ela assumia que fosse um pé) se mexer. A moça deu um pulo para trás.

— O queeee?

A medida que os segundos passavam, ela foi ficando cada vez mais curiosa. Resolvendo matar a charada de uma vez, decide se aproximar daquelas... bem, ela se aproxima da proeminência no chão. Talvez ela devesse cavar... mas acabou se lembrando de suas unhas. Tsc. Ela ia mesmo estragar o seu belo esmalte da marca limitada cor Dandelion nº15 cavando na terra para achar um corpo morto? Nem a pau, Juvenal. Vamos ir do jeito mais fácil. Estalando o pescoço, Lin segurou aquelas pernas e usando toda a sua força, que cá entre nós não era pouca, e a puxou para fora, revelando...

— Meninos, venham aqui! – A garota gritou, visando chamar a atenção dos outros dois rapazes.

E funcionou. Leo e Akira se aproximaram, Leo um pouco mais recuperado. Akira estava sem camisa, exibindo seu belo peitoral cheio de tatuagens, pois como toda boa história que se preze é necessário fanservice. A camisa, para quem está se perguntando, estava servindo de chapéu improvisado para Leo, que estava em um estado meio morto. Pelo menos não era completamente morto.

— O que foi? – Perguntou o moreno.

— Olhem só o que eu... – Lin acabou abaixando o olhar, para o belo abdômen do rapaz. Acabou ficando em silêncio por alguns instantes antes de subir os olhos novamente. – 6 pacotes?

— Com certeza.

— Sexy, cara. – Ela levanta o punho e o estende no ar. Akira sorri e retribui o gesto, os dois fazendo o famoso fist bump. Leo revirou os olhos.

— Você dizia? – O rapaz perguntou com a voz meio rouca. O rosto dele estava vermelho, não dava para dizer se era por conta de Akira ou se era o sol.

— O que? Ah, sim! – E se lembrando que a história precisava prosseguir, Lin apontou para o chão onde havia... um porco.

Bem, não era um porco. Parecia um porco, mas ao mesmo tempo não parecia um porco. Ele tinha uma forma redonda, a maior parte do seu corpo era laranja, com o topo da cabeça incluindo as orelhas em um marrom escuro. Esse mesmo marrom envolvia uma parte do corpo do porco que parecia um maiô de wrestling, além de algo que pareciam mini-asas amarelas no que seriam as alças do maiô, e sem falar do rabinho preto que era enrolado e felpudo na ponta. Ele usava uma calça preta com faixas brancas no calcanhares, uma touca preta e uma máscara preta, bem parecido com a roupa de um ninja. Para completar o visual, ele também tinha uma katana nas costas. Os três estavam estáticos, já que nunca antes haviam visto antes algo tão majestoso como aquela... o que quer que seja aquele animal. Mas uma coisa era certa: com certeza não era um porco.

— Oh, caros senhores e senhorita, aqueles a quem devo a honra de meus serviços por terem me libertado desta superfície traiçoeira. Agradeço pela minha alma samurai de tal gentileza e garanto que este ato não passará despercebido. – Disse o porco. Digo, o não porco. Esse... esse bicho.

O trio se entreolhou por um instante. Eles pareciam confusos.

— Isso é um porco?

— Não... acho que é um javali.

— Gente, por favor, é óbvio que é um leitão.

— Isso não tem cara de leitão.

— É um javali.

— Nem fodendo que é javali!

— Então é um porco.

— Mas é grande demais para ser um porco!

— E você já viu um porco?

— Não, você já?

— Não comecem vocês dois...

Era a batalha interna para saber o que é aquilo. E até agora estava tudo bem. O porco... eh... javali... leitão... o suíno, pronto, olhava um de cada com os olhos curiosos. Talvez por nunca ter visto um humano antes, talvez por estar impressionado com tanta estupidez junta em um só local, talvez nenhum dos dois. Você não está na cabeça dele para saber.

— Com vossa licença de estupendas senhorias. – O suíno diz, conseguindo por sua vez chamar a atenção dos três patetas.

— O porco fala?

— Ele falou agora há pouco, né... e é um leitão.

— Parem! – Leo se impôs, finalmente, o que chamou a atenção dos outros dois e o desviaram da possível briga que teria com sucesso. O albino suspira. Ele quem teria que fazer tudo, pelo visto. Não teria problema se ele não estivesse nervoso. – Senhor... javali. Eu posso, hm... perguntar o seu nome?

— Oh, meu jovem donzelo. – O diz com uma voz até que doce, não era esperado de um... uh... porco? – Este quem vós fala teme em lhes dizer que nunca chegou a ser nomeado por aquela que ele carinhosamente chama de mestra. Sou apenas um errante, em busca de um rumo para cumprir aquilo que move minha vida.

— Ooookay... você está em uma jornada? – Akira perguntou confuso com todo aquele palavreado. O talvez leitão fez que sim.

— Uma jornada de descobertas! Eu busco por aquilo que poderá me tornar forte, poderoso, que me transforme em algo para deixar a minha mestra a salvo do destino cruel que a condena! Eu devo! – Disse o possível javali, em um tom dramático.

Leo, por alguma razão, acabou sorrindo. Era meio... sei lá, fofo ver aquela pequena criatura motivada daquele jeito. Ele não era o único a sentir isso, do jeito que Akira e Lin choravam no fundo.... realmente chorando. Talvez fosse meio exagerado chorar por uma razão assim, mas não tem como culpa-los.

— Isso é... muito bom, senhor javali. Eu... realmente espero que consiga atingir o seu objetivo. Mas falando nisso, por q--

— Você! – E com um pulo, Akira se joga para frente. Leo foi interrompido com sucesso. – É sério o que você disse? Você quer ficar forte?

— Akira... – Leo tentou falar com seu amigo sobre o recente incidente, mas infelizmente ele já havia perdido a vez.

— É o meu maior desejo, vossa grandeza. – Disse o suíno, agora sendo ele quem interrompeu o mais baixo do trio.

— ENTÃO DEIXA COM A GENTE! – O rapaz exclamou alto. Leo soltou um suspiro, enquanto Akira abraçava os ombros de Lin. – Você não podia achar ninguém melhor do que a gente para te treinar, cara!

— O musculoso aqui disse tudo! – Lin parecia tão animada quanto o outro, ao ponto de dar alguns tapas amigáveis no peito dele. – Se confiar na gente, você vai virar o leitão mais forte do mundo!

— Gente... – Leo tenta chamar a atenção mais uma vez. – Eu acho que nós deveríamos nos focar em—

— Fariam isto pela pessoa que o vós fala? – O eu não tenho mais ideia a esse ponto pergunta, seus olhos brilhando. Brilham mais ainda quando os dois metidos a coach acenam com a cabeça.

— Com certeza! – Disseram em uníssono. Era tão sincronizado, nem dava para acreditar. Leo suspira.

— Você está pronto, porco? Porque vamos começar agor--

— Calma! – Depois de ser interrompido várias e várias vezes, Leo finalmente conseguiu se impor. Os três olham para o albino que soltou um suspiro, o suor descendo pelo rosto. Como estava cansado.

— Cara? Tudo bem?

— Sim, sim, só... olha, senhor javali... – Ele começou a falar, aproveitando que a gritaria foi cessada. – Como que você acabou daquela forma? Soterrado, eu digo.

Estava tudo bem, até o sorriso no rosto do suíno sumir. Leo não era nenhum especialista, mas dava para ver que não vinha coisa boa dali.

— Isso é... um conto terrível de minha pessoa, jovens senhores e bela donzela. Mas a verdade é que... eu fui atacado.

E mais uma vez ele estava certo.

— Oh não! Quem ousa machucar meu futuro aluno? Eu vou quebrar o vagabundo na porrada! – Lin brada, batendo os punhos um contra o outro.

— Não, senhorita, não faça isso, pelo bem de vossa integridade física! – Ele implorou, quase ajoelhando em frente a garota. – Peço-lhe humildemente para que não o faça!

— Ok cara, relaxa, mas de quem tu tá falando? – Perguntou Akira, parecendo um pouco impaciente com toda aquela enrola. O leitão(?) treme.

— Eu falo dele... o mestre traiçoeiro e enganador, o que rasteja entre nossos pés sem que percebamos para nos embebedar em seu veneno, tão forte quanto uma montanha e tão extenso quanto o mar, aquele que não hesita em lhe apunhalar pelas costas quando você menos espera!

O javali(?) parecia falar em enigmas. Os três se entreolharam com uma expressão confusa.

— Sua perversidade é tão grande que me faz tremer, que não teve escrúpulos em oferecer a mulher aquela fruta que lhe causou tanto sofrimento e acabara com a sua vida e a de seu adorável marido e amante. E pensar que até hoje ela vive, ainda cometendo seus pecados... brrr, eu chego a tremer.

— Ok, ok... – Akira segurava o queixo pensativo. Até que ele finalmente parece chegar a uma conclusão. – Não tenho ideia do que esse porco tá falando.

Leo solta um suspiro.

— Isso é uma cobra... eu acho. – Ele tinha certeza, mas não queria parecer muito convencido. Akira soltou um “ah”, como se finalmente tivesse entendido.

— Ah, só isso? Achei que era algo mais sério. – Lin balançou a cabeça de modo negativo, o que fez com que aquele que não sabemos o que é ainda a olhasse de modo descrente.

— Senhorita! Não ouse dizer tais balbúrdias sem excrúpulos! É uma criatura horrenda, perigosa, ela não hesitaria em nos machucar! – O parece-um-leitão estava com todo medo, era possível ver suas pernas tremendo. – Agora que lhes avisei, seria melhor movermo-nos de lugar, antes que ela nos ache. Caso contrário será o nosso...

Enquanto dizia, um leve tremor pode ser sentido. Quatro pares de olhos atentos acabaram olhando para o chão nesse mesmo instante, e como em sincronia, o tremor voltou, mas dessa vez bem mais potente.

— O que foi isso!? – Perguntando com certo medo, Leo se agarrou em Akira que parecia preocupado.

— Oh não... – Os três humanos acabaram olhando para o talvez-um-javali, que por sua vez tremia em medo. – Ele nos achou...

E em frente ao grupo, um buraco enorme começou a ser escavado. Saindo de dentro dele, estava lá, uma enorme lacraia. Seus olhos eram verde limão, sua carapaça era da mesma cor, porém mais escura com detalhes em vermelho. Leo e o pode-ser-um-porco gritaram de medo. Akira segurou o seu amigo com mais força e Lin ficou em posição de ataque.

— É o nosso fim! – Exclamou o suíno enquanto se encolhia.

E como para reforçar as palavras do mesmo, a lacraia gigante avançou.

***

Cinco minutos. Esse foi o tempo que se passou desde a aparição da lacraia gigante. Com a ajuda de Lin, Akira a chutava de volta para o buraco o corpo morto da “cobra”, e logo os dois suspiram aliviados. A batalha poderia ter sido mamão com açúcar, mas o cansaço de andar horas debaixo no sol pareceu ter ampliado com aquela luta. Leo estava abraçado ao ninja apavorado, que tremia por conta dos acontecimentos. Limpando o suor do rosto, Akira olha para a garota loira, que parecia descontente.

— Ei. Tudo bem aí?

— Não muito. – Ela solta um suspiro, antes de esticar a perna. Havia um rasgo na calça, no joelho. – Esse desgraçado rasgou a minha calça! Era a minha favorita!

Akira riu um pouco, fazendo a garota bufar um pouco. Então ele a deu alguns tapinhas nas costas, tentando relaxá-la.

— Pelo menos ficou estilosa.

— ....é. Ficou, né? – Ela pareceu um pouco mais conformada, enquanto encarava a sua nova estilização. Não tinha ficado tão ruim mesmo.

— Ei, caras! – Akira exclama, virado para trás. – Matamos a cobra, podem se aproximar!

E foi o que eles fizeram. Leo suspirou aliviado, e a criatura indefinida logo se apressou em passos rápidos, os seus olhos brilhando como nunca.

— Vossos amados senhores... – Ele começou a falar, sua voz implorando mais do que nunca. – Se não for pedir muito, por favor me treinem. Me torne em um guerreiro tão magnífico como vossa senhorias, me transformem em um homem!

Aquilo soou estranho. Lin e Akira se entreolham por um instante enquanto Leo balançava a cabeça, afinal, eles não iriam fazer aquilo, certo? Eles tinham uma missão que deveria ser priorizada... certo? Certo...?

— CONTA COM A GENTE!

E lá se foi a missão.

***

A esse ponto, Leo apenas desistiu de tentar convencer os três que eles deviam continuar seguindo, então ele apenas pegou as bagagens e começou a montar o acampamento. Quanto aos três patetas? Bem...

— 998... 999... 1000! – Akira berrou na cara do suíno, que se deixou cair no chão.

Haviam três horas que o treinamento deles havia começado e ele já tinha feito 1000 agachamentos, 1000 polichinelos e agora 1000 flexões. Não preciso dizer que com dois treinadores entusiasmados, nosso querido animal de espécie indefinida que lembra um porco estava acabado. Porém...

— Ah... meus mestres... eu vos agradeço muito pela oportunidade, e pelo descanso...

— Ainda não! Antes de descansar, hora do treinamento final! Precisamos saber se você é FORTE! – Lin exclama, com os punhos fechados na frente do corpo. Seus olhos brilhavam, como duas chamas acesas.

— C... como assim, senhorita...? – O possível porco perguntou, com medo de onde aquilo iria dar.

— Lute comigo! – Ela demandou. – Essa é a única forma de saber se estamos chegando em algum lugar!

— O quê?

— Lute!

— Mas...

— Sem mas! Só lute comigo!

— Eu não posso fazer isso, minha bela dama...

— O quê!? Por que não...?

— Está contra minhas normas ferir uma dama.

E com isso, Lin ficou em silêncio. Um silêncio mórbido. Respirando fundo, a garota estala os dedos de uma das mãos, olhando para o talvez leitão de um jeito maligno. Ele não pareceu gostar disso, e nem Akira, mas no momento que ele foi se intrometer, Lin levantou a mão na frente dele, o impedindo de prosseguir.

— Hey, gato, se importa de nos deixar a sós? – Ela perguntou, com um tom estranho na voz. O corpo de Akira arrepiou.

— A vontade, linda. – E sem pensar duas vezes, ele caiu fora, voltando para perto de seu amigo que estava ocupando apanhando das barracas.

Leo, que resolveu que seria melhor para sua sanidade e garganta, montar o acampamento enquanto os três patetas estavam ocupados. Infelizmente, ele era um bom-em-nada, então a arrumação estava um caos, a barraca nem parecia uma barraca, e ele só estava olhando para ela de um jeito desolado até escutar os guinchos de um porco no abate. Ele queria se virar para trás para saber o que caralhos estavam acontecendo, mas Akira chegou por trás dele e passou o braço por cima do ombro do rapaz, evitando que o mesmo fizesse isso.

— Hey cara. Montando o acampamento? – Ele pergunta, mesmo que fosse óbvio. Leo assente.

— Sim... já que vocês estavam ocupados e... – Os gritos deixavam o albino inquieto. Ele queria muito olhar para trás, mas Akira não o deixou.

— Eu te ajudo! Vai ser mais rápido assim! – Logo Akira larga o seu bro e se põe a trabalhar com afinco.

O menor estava tão intrigado e dividido, mas para poupar esforços ele decide que seria melhor se não se virasse, decisão que pareceu agradar Akira. Depois de alguns minutos, a barraca estava montada. O albino parecia orgulhoso de seu trabalho, mesmo que tivesse tido ajuda para isso.

— Valeu... – Ele agradeceu ao seu bro, que retribuiu o gesto com um dos seus famosos sorrisos.

— Que nada, cara! Amigos estão aqui pra ajudar! – E dizendo isso, Akira passa a mão pelo peito desnudo, olhando para cima. O céu estava escurecendo, havia algumas estrelas surgindo enquanto o sol se põe. Uma leve brisa fria assopra, fazendo ambos se arrepiarem. Sem pensar duas vezes, Leo retira o chapéu improvisado e o entrega a Akira, que pareceu não entender. – O que?

— Pega. – Leo disse, com o seu rosto levemente corado. – N-não... não está mais sol... e-eu... eu não preciso mais...

— Não, cara! Pode ficar, não prec-- - Mas Akira é interrompido, ao Leo tacar a camiseta na cara dele.

— P-precisa! Deserto! Fica frio de noite! N-não pode ficar sem... uma camisa... vai pegar um resfriado... – Ele explica timidamente, ainda com o rosto vermelho.

Akira não parecia entender, mas após a explicação, ele resolve pôr logo a camisa de uma vez. Ele não era do tipo que seguia as regras, mas era a primeira vez em tempos que ele via o amigo tomando uma atitude para alguma coisa sem precisar de incentivo. Ele sentia que, como parceiro, estava fazendo um bom trabalho em ajudar Leo com sua estima! Isso o deixava feliz.

— Ok, cara! Aqui estou! – Akira diz enquanto erguia os braços, agora com a camiseta posta. Com um suspiro aliviado, o albino balança a cabeça.

— É... melhor assim... – Ele murmurou. Ver Akira desnudo daquela forma estava o deixando bastante desconfortável por alguma razão, então agora que ele já havia se coberto, ele estava se sentindo mais aliviado. Porém, finalmente ele notou. – Os guinchos pararam...

E foi só ele dizer isso que Lin chega, com um provável javali semi-morto debaixo dos braços, logo o largando no chão. Leo parecia horrorizado, Akira só estava confuso mesmo.

— Você... v-você matou ele!? – Perguntou, assustado com a brutalidade da outra enquanto via o melhor amigo cutucar o corpo do animal.

— Eu não matei ele! Eu só estava ensinando uma lição! – Ela explica, como se fosse algo bem simples. O suíno geme de dor.

— N-nunca mais... subestimar vossa senhoria... – Ele disse em meio a areia, para o que Lin concordou balançando a cabeça.

— Sim.

Depois de alguns minutos de bagunça e gritaria, Lin começou a preparar uma fogueira enquanto Akira pegava alguns ingredientes para começar a cozinhar. Leo cuidava dos ferimentos do porco(?), que parecia um pouco mais renovado após a surra, o que era estranho. Talvez isso tenha aberto novas portas para o mesmo. E então...

— Sabe, eu estive pensando. – Começou o moreno, enquanto ele cortava uma cenoura em pedaços para dentro de uma panela. – Tu é forte, cara.

— O senhor acha? – O suíno pareceu animado, da maneira que os olhos dele brilhavam.

— Acho sim, com toda certeza. Eu nunca vi um cara tão forte e determinado como tu antes. O que acha, Lin? – Ele perguntou para a sua companheira, que estava sentada com as pernas abertas, observando os outros.

— Que você tem razão. – Ela balança a cabeça de modo afirmativo. – Você fez um grande progresso hoje, leitão! O jeito que continuou persistindo naqueles exercícios mesmo quando queria cair quase me fez chorar! Quase.

— É... é mesmo? – Ele parecia emocionado. Leo soltou um suspiro.

— Claro, pô! Tu evoluiu, cara! Acho que você finalmente é digno! – Akira apontou a sua colher de pau para seu recém-pupilo, o que deixou Leo confuso.

— Digno? Digno de quê? – Ele até havia parado o que estava fazendo para entender direito o que seu melhor amigo falava.

— Digno de ser nosso true bro! – O mais alto disse em um alto tom. Lin se levantou e apontou para o javali(?).

— Você me orgulha, cara! Estou falando sério! Bem vindo ao time! – E com os braços abertos, ela se jogou em cima dos dois. Leo soltou um gritinho de susto, enquanto o porco(?) soltou um de alegria.

— Porra, não me deixem de fora! – E com isso, Akira se juntou ao abraço, que apertou com força.

Uma coisa era certa: que aquele bonding time era mágico... e que Leo não iria sentir seus ossos pelos próximos minutos.

— Espera! – Lin exclama, largando o abraço. Os outros, com exceção de Leo que estava gratos, pareciam confusos. – Você precisa de um nome?

— Um nome? – O inocente ninja perguntou, parecendo mais animado ainda. – Vossa graça pretende dar um nome a um incompreensível ser como eu!?

— É o plano, e sem exageros, cara. Só não podemos te chamar de leitão para sempre. – Ela explicou com simplicidade.

— Boa ideia, cara! E ele é um porco. – Contestou Akira, parecendo irritado.

— Javali... – Esse foi Leo, que estava ocupando tentando reavivar os músculos. Lin apenas dá de ombros.

— Na mesma. Enfim, temos que pensar em algo! Algo que combine com você! – Ela aponta para a criatura, que teria dado pulinhos se não fosse pelos ferimentos.

— Como o quê? – Ele perguntou, animado para finalmente ter um nome.

— Que tal... – Ela ia dizer, se no momento sua mente não tivesse dado um branco. Então, ela ficou quieta, estalando os dedos. – Alguém tem uma sugestão?

— Puppy?

Um silêncio tomou conta do acampamento, antes de três pares de olhos olharem para Leo. O rapaz corou um pouco com a atenção.

— É... é só... filhotes... eles são fofos e adoráveis como ele e... a-achei que seria apropriado e...

Antes que o rapaz pudesse concluir sua lógica, Akira começou a rir enquanto Lin colocava uma mão em frente aos lábios, tentando conter o seu riso. O suíno por sua vez estava indiferente, já que ele só queria logo um nome.

— Que fofinho... parece uma garotinha apaixonada! – Akira comentou enquanto esfregava a nuca de Leo, que estava constrangido.

— Deixa ele. Foi uma boa, mas Puppy não serve. Para esse cara, que atravessou um deserto, enfrentou uma cobra gigante e sobreviveu, e agora está destinado a se tornar um guerreiro... precisa de um nome másculo! – Ela exclamou, antes de apontar para o moreno. – O que você sugere?

Akira foi meio que pego de surpresa. Mas, segurando o queixo, com um ar pensativo, não demora para que chegasse a uma conclusão.

— Strogonoff!

— O quê? – Leo olhou para ele com uma cara que obviamente dizia “é sério?”. – Eu não acho que...

— É perfeito! – Mais uma vez Leo é interrompido, surpreendendo um total de 0 pessoas. – Esse nome... ele soa tão bem... eu não sei a razão, mas ele é tão... másculo...

— É claro que é! Começa com istrongui, istrongui significa forte! – Akira explica animado, enquanto a loira fazia que sim.

— MAS É CLARO!!! É o nome perfeito para ele! O que você acha? – Ela se vira para o suíno, que até agora só observava tudo.

— ...é perfeito! – Ele afirma, o que fizeram os outros dois pularem de alegria.

— Então é isso! A partir de hoje você se chama Strogonoff!

— Todo mundo comigo: Stro-go-noff! Stro-go-noff!

E assim, o cântico de Strogonoff começou a ecoar. Leo suspira enquanto ele ia para perto da fogueira, querendo se aquecer. Depois de mais gritos e comemorações, finalmente o grupo, com seu mais novo membro, o Strogonoff, conseguiu jantar. E como sempre, o ensopado do Akira estava divino. O cara sabia cozinhar, senhoritas, ele é bom pra casar.

— Eu estou tão feliz... – Disse Strogonoff, com o seu prato vazio logo ao seu lado.

— De nada, cara! Ninguém merece andar por aí sem um nome! – Lin disse com certa alegria, enquanto Akira concordava.

— Não, não pelo nome, vossa graça. Apenas... estou feliz por ter encontrado um grupo tão animado e forte. Se não fossem por vocês, aquela criatura malina teria acabado comigo a tempos. – Ele explicou, o que acabou gerando alguns olhares empáticos. Leo passou a mão pela nuca do ninja, que sorriu um pouco. – Me fazem lembrar de uma jovem dama que eu vi passar por aqui mais cedo.

E com isso, a empatia se tornou curiosidade.

— Jovem dama? – Leo perguntou, querendo saber mais.

— Oh sim, sim. Eu estava junto de uma jovem dama, antes de nos separarmos por conta do incidente da cobra. Não ficamos juntos por muito tempo, por conta disso, ela aproveitou a primeira oportunidade para escapar. Não a culpo porém, era para que minha pessoa fizesse a mesma coisa, mas minhas pernas.... – O pobre suíno soltou um suspiro. - ...são curtas demais.

— Quem é essa jovem dama? Ela disse como se chamava? – Akira resolveu perguntar também, agora que parecia que eles finalmente tinham uma pista para continuar seguindo. Será que era uma de suas companheiras? Himari? Jill? Charlie? Ou será que...

— Nico, eu me lembro bem. Dura como uma rocha, persistente como a grama que continua a nascer no chão, mesmo após ser pisada várias vezes. Uma donzela admirável.

Leo e Akira se entreolhavam com certa empolgação.

— Conhecemos a figura! Ela é nossa amiga! – Akira exclamou, quase deixando seu prato cair. Isso pegou Lin e Strogonoff de surpresa.

— É mesmo? Por aquele que fala por vós lá em cima, eu não sabia!

— Não, não, tudo bem, só... ela disse para onde estava indo? – Leo pergunta, agora se sentindo um pouco mais ansioso.

— Se me recordo bem, para um local chamado... Fest City. Eu decidi segui-la antes de nos perdermos em meio a confusão no deserto.

— Fest City...? – Lin perguntou, antes de segurar o queixo com uma das mãos.

— Lin? Já ouviu falar desse canto aí? – Akira perguntou, se virando um pouco para a moça, que responde fazendo que não.

— O nome só me parece familiar. – Ela explicou.

— Talvez... talvez seja importante. – Disse Leo, agora que ele pensou um pouco. – Para alguém sem memórias ter que lembrar disso... e ainda veremos a Nico. Isso... isso é bom, não é...?

Por um instante o silêncio tomou conta. Talvez pela hesitação de Leo ou talvez por não terem certeza se aquilo era mesmo algo bom. O albino abaixou a cabeça, envergonhado.

— É algo bom sim. – Akira reafirmou, antes de dar alguns tapinhas nas costas do amigo. – Vamos reencontrar ela e o resto da galera. Não se preocupe.

Leo sorriu um pouco antes de fazer que sim. E depois do jantar, Lin se encarregou de achar mais coisas para a fogueira enquanto Akira ia limpar os utensílios que ele usou para cozinhar, deixando o menor do grupo junto de Strogonoff, aproveitando para ver se os curativos estavam em seus devidos lugares. Até que os dois estavam se dando bem, Strogonoff era legal e Leo por mais que fosse meio ankward estava gostando da companhia do ninja.

— Você... tinha dito mais cedo que havia uma mestra? – Perguntou tentando puxar assunto.

— Oh... oh sim, eu tenho uma bela mestra. – Strogonoff sorriu um pouco, enquanto o que pareciam ser lembranças boas inundavam a sua mente.

— Como ela era? – O albino perguntou enquanto se ajeitava no chão, interessado. Os olhos do suíno brilharam um pouco.

— Magnífica. Ela é apenas a pessoa mais incrível e forte que eu já conheci.

— Oh, eu entend—

— Ela é tão doce e amorosa, a maneira que ela trata a todos ao redor e lida tudo com um sorriso me admira!

— Ah, ela—

— Sem falar de seus dotes naturais! Nunca vi nenhum humano tão perfeito, boas notas, cozinha bem, o seu jeito de falar e cantar...

— Uh, Strogon—

— As vezes eu sonho em poder ser um humano apenas para poder cortejá-la. Eu já disse o quanto ela era magnífica? Ah, isso me lembra uma história, mestre Leo, em que...

E com isso, Strogonoff começou a falar. Leo soltou um suspiro, agora que notou que abrir a boca para interrompe-lo não daria em nada, e resolveu ouvir as tais histórias sobre a mestra do javali até cair no sono. Enquanto ele falava o rapaz se perguntava se ela era mesmo tudo isso que o ninja tanto insistia em dizer. E pensando nisso, vamos mudar o nosso foco um pouco... para um lugar distante, um belo quarto que pelos enfeites é obviamente de uma pessoa rica. No meio do quarto, uma cama enorme, onde havia uma garota, deitada. Ela se remexia sem muito descanso, sua venda quase saindo dos olhos e o suor que descia pelo corpo molhando o seu pijama cor-de-rosa. Não demora muito para a mesma se sentar na cama, com um grito, a venda de olhos tendo caído pelo seu pescoço.

— Urgh... – A garota gemeu, com uma das mãos na cabeça, que aproveitou para passar pelos longos fios brancos de cabelo. – Aquele pesadelo de novo...

E com um suspiro pesado, a mesma joga os lençóis de lado para se levantar, colocando as pantufas de coelhinho. Caminhando de um jeito preguiçoso até a sua escrivaninha que ficava ao lado da janela, ela puxa um caderninho com um coração na capa, antes de abrir em uma página em branco. Puxando uma caneta do canteiro, se pôs a escrever.

***

“X de janeiro, 20XX

Querido diário, eu tive aquele pesadelo mais uma vez. Eu nunca realmente cheguei a descrevê-lo por aqui, mas sinto que se não puder escrever ele não vai parar nunca.

O dia estava comum como sempre, eu estava no jardim fazendo um piquenique. Não demora para o céu escurecer, e eu arrumo minhas coisas acreditando que seria apenas uma simples nuvem de chuva.

Era bem mais assustador do que isso.

As nuvens negras e tempestuosas pareciam abrir um buraco no céu, que começaram a sugar tudo e todos para algum lugar. A grama, as árvores, os pássaros... nada escapava. Em pânico, eu comecei a correr, mas ela era mais rápida do que eu e acabei sendo sugada junto.

Eu sei que há mais coisas, mas eu não consigo me lembrar, e minha cabeça dói sempre que eu tento me lembrar.

Não sei mais o que fazer, meu caro diário. Estou sozinha e com medo, eu quero parar de sonhar com isso mas não importa o quanto eu tente, parece impossível.”

***

Ela parou aí. A garota sentia seus olhos lacrimejando, mas sabia que precisava ser forte. Já lhe disseram uma vez que não seria um pesadelo que iria assustá-la, e ela queria acreditar nisso. O problema é quando pensava naquele que lhe havia dito tal coisa... a moça olha para uma foto em cima da escrivaninha, ela com um suíno de espécie indefinida vestido de ninja, brincando de festa do chá. Seus olhos lacrimejam mais uma vez, mas ela não limpa as lágrimas que nem fez antes. Apenas olhou para a janela, enquanto elas desciam pelo seu rosto.

— Onde está você, porquinho...?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dimensional Disclaimer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.