Dimensional Disclaimer escrita por Harper


Capítulo 1
Metal & Shadows


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Aquela noite estava estranha. Não haviam estrelas no céu, o vento era frio o bastante para fazer um urso polar tremer e foram com esses pensamentos que o jovem Leo acorda, sua cabeça doendo. Ele se sentia cansado e enjoado, como se tivesse sido atropelado por um rolo compressor. Bem, era assim que ele se sentia todo dia, mas não era isso que importava no momento. Depois de finalmente notar os arredores, acaba fazendo uma careta. Que lugar era aquele?

Com um suspiro, o rapaz se levanta, dando uma olhada em volta com seus olhos cansados e sonolentos. Ele deveria estar surpreso ou algo assim? Afinal, não era a primeira vez que se encontrava em uma situação como aquela, a única coisa que deveria se perguntar era: por que em uma floresta? Não tinha uma floresta em Tatsumi Port Island, ao menos não que ele soubesse. E o clima não estava tão acolhedor como sempre esteve nas vezes em que tinha ido ao Dream World. Será que tinha algo de errado? Ele deveria ir investigar?

— Hnrg...

...talvez devesse deixar isso de lado por enquanto. Havia se esquecido de que as idas ao Dream World eram sempre em dupla, além de que ele reconhecia aquela voz.

— Akira? – Leo pergunta, buscando o rapaz com os olhos, não demora para encontrar o corpo do mais alto, não muito longe de onde estava. Ele não devia ter percebido ele ali já que estava distraído com seu monólogo mental.

Leo se aproxima de seu amigo e se ajoelha ao seu lado, enquanto o outro se sentava no chão. Ele esfregava a cabeça com uma das mãos, e Leo logo nota que ele devia estar sentindo o mesmo que ele sentiu quando acordou ali.

— Urgh... Leo? É você? – Ele pergunta, com a voz grave e rouca devido ao sono e a dor de cabeça. Leo se sente aliviado ao ver que seu amigo estava bem.

— Queria não ser, mas sim. – Soltou um suspiro desanimado, logo voltando a olhar em volta.

— Onde nós estamos? – Akira perguntou confuso, também olhando em volta. – Isso não parece com o Dream World.

— Eu... eu tinha pensado a mesma coisa. Esse clima não é... estranhamente reconfortante... e está frio. Muito frio. – Leo abaixa a cabeça, deixando novamente o seu pessimismo tomar conta. Eles estavam em perigo, não estavam? Eles sempre estavam em perigo. - Acho que estamos com problemas...

— Oi. Não fica assim, não deve ser nada tão grave do tipo. – Akira dá um leve tapa nas costas de Leo, que soltou um gemido dolorido em troca. Como sempre, o rapaz estava emanando energia. – É só uma floresta. Eu tenho CERTEZA de que tinha algo assim na ilha.

— ...sério?

— Claro, oras! Vem, levanta, vamos tentar sair daqui! – E com suas palavras animadas, Akira se levanta em um pulo o que assustou Leo por um instante. Havia estendido uma mão pra ajudar o outro a se levantar. – Vamos voltar logo, os outros devem estar nos esperando.

Leo olha para a mão de Akira. Ele ainda não estava se sentindo confortável com a situação, mas estar com seu amigo ali fazia as coisas ficarem melhores... ok, não tão piores assim. Agarra a mão de Akira e logo ele se levanta, cambaleando de leve já que ainda estava meio zonzo por conta da dor de cabeça, mas não era nada que o impedisse de caminhar um pouco.

— Vamos.

E em silêncio, os dois elementaris buscam um jeito de sair daquela floresta. Akira era quem guiava o caminho, e Leo, por mais que gostasse do amigo, não podia deixar de sentir a sensação de que não estavam indo a lugar nenhum, e que só estavam andando em círculos feito dois patetas. Eles já não tinham passado por aquela árvore antes? Aquela pedra parecia familiar. Oh céus, eles estavam perdidos, não estavam? Leo engole a seco. Se aquilo era uma armadilha, eles já estavam mortos.

— Akira... – Tenta comunicar a outro sobre o seu desconforto e desconfiança, mas logo para ao ver o moreno levantando a mão no ar.

— Achei.

— O quê?

— Achei! Ahá, eu sabia! – E sem mais palavras, ele agarra o pulso de Leo e começa a puxá-lo, o que o fez soltar um grito devido ao susto.

— A-Akira, calma!

E depois de algumas corridas e tropeçadas e “meus pés estão doendo!”, os dois chegam em uma rua familiar. Digo, não era tão familiar assim, mas confirmava uma teoria que Leo havia descartado mais cedo: eles estavam mesmo em Tatsumi Port Island. Isso não mudava que Leo ainda estava embasbacado de saber que tinha mesmo uma floresta na ilha e ele só estava descobrindo isso agora.

— Mas... mas como...?

— Eu disse pra você ficar calmo, não disse? Ainda estamos na ilha.

— E por que estávamos em uma floresta!? Isso não faz sentido!

Akira olha para Leo em silêncio. O albino sente uma gota de suor descer pelo seu rosto, enquanto o moreno apenas sorria.

— Lembra quando eu sugeri de que devíamos sair pra beber um dia?

— ... – Ele se lembrava. – Não.

— Sim.

— Urgh... – Se dissesse que não fazia sentido estaria mentindo. Ele tinha começado a se sentir bem mais cansado agora com aquela suposição de Akira, que ao contrário dele, parecia feliz.

— Ufa, ainda bem que foi só isso! Por um instante eu achei que nós tínhamos sido sequestrados e, sei lá, fomos abandonados pra morrer. – Ele ria feito uma criança, enquanto Leo suspirava. – Será que a Himari foi com a gente?

— Eu... tenho minhas dúvidas... – Himari não era dessas coisas, mas ele também não era e olha onde estavam agora. Que vontade de voltar ao passado e se bater.

— É né. Ela é certinha demais pra essas coisas. Se bem que seria divertido... – Dizia enquanto um sorriso crescia em seu rosto. – Hehe... imagina as possibilidades...

— Akira... não...

— É piada, relaxa. Vamos voltar, se perceberem que saímos do dormitório pra fazer merda, o professor mata a gente.

Akira, como sempre, estava descontraído e feliz. Leo já não estava tão confortável assim, já que para ele alguma coisa ainda parecia errado. Akira começa a arrastá-lo pelas ruas, e isso o poupava o trabalho de prestar atenção no caminho já que queria se concentrar em seus pensamentos. Alguma coisa estava diferente, mas o quê? As ruas estavam calmas e tranquilas, e mesmo que estivesse tarde, Leo não entendia por que todas as lojas estavam fechadas. Ele já havia passado por ali antes e se lembrava de que haviam duas lojas naquela rua que eram 24h e mesmo elas estavam fechadas. Também não havia ninguém passando por ali... Tatsumi, mesmo sendo pequena, ainda era um local movimentado, sempre havia alguém na rua não importava quão tarde estivesse. Tinha alguma coisa errada e, podia ser o seu pessimismo falando, mas ele sentia que não era só isso. E então... tudo faz sentido.

— Akira?

— Oi! – O garoto olha para trás, ainda seguindo em frente. Leo olha para ele por um instante antes de voltar a olhar para cima.

— O céu... ele sempre foi roxo?

— O quê? - E com isso, Akira para de andar para seguir o olhar de Leo.

Leo olha para Akira, esperando que aquilo fosse uma ilusão de ótica e que aquilo era só algo que seu pessimismo havia criado para enganá-lo, mas pelo olhar assustado de seu amigo ele soube na hora que não era isso.

— Cara, o céu tá roxo! – Akira exclama enquanto olhava para cima. Leo solta um suspiro.

— É... e não é só o céu... olha para a lua... – Ele aponta para o satélite, agora um tanto mais tenso. Em vez do tom branco e pálido de sempre, a lua estava verde. Akira engole a seco.

— Então nós estamos mesmo no Dream World!? Mas que droga! Será que não podemos ter um descanso por um minuto nessa merda!?

— Ei, fique calmo, isso vai chamar a atenção dos reapers. – Leo tentava se manter tranquilo, mas era difícil quando ele próprio sentia vontade de gritar. – Precisamos pensar em um plano de combate. Trouxe algo com você antes de ir dormir?

— Não, eu... – Akira fica em silêncio por um instante. Pela cara dele, ele estava tentando lembrar se tinha mesmo trazido algo com ele antes de dormir, mas não teve tempo de completar o seu raciocínio já que um estrondo alto foi ouvido. Ele se calou na hora. – O que foi isso?

E mais estrondos seguem o anterior. Leo e Akira se entreolham. Akira estava preocupado e Leo estava com medo, mas eles não tinham tempo de pensar no que fazer: um reaper estava se aproximando, e se eles se descuidassem, os dois iriam morrer. Akira logo entra em posição de combate, enquanto Leo olhava em volta, procurando materiais para improvisar um arco. Seja quem fosse, eles não iam ser pegos de surpresa, não daquela vez...

...ou era o que achavam, até uma garota alta aparecer. Ela parece ter por volta de 19 anos, seus cabelos eram longos, loiros e ela os prendia em um rabo de cavalo. Usava um casaco preto de couro com detalhes em amarelo, as mangas estavam dobradas até um pouco antes do cotovelo, e no resto dos braços uma luva longa sem dedos. O casaco estava aberto e deixava o tronco da garota exposto, mostrando um cropped laranja meio decotado. Também usava uma calça marrom colada, com um cinto acoplado a um coldre sem arma e botas de caubói que iam até o joelho. Tinha uma faixa azul amarrada em uma das coxas. Para detalhe final, ela usava um longo cachecol laranja, que voava por conta do vento e óculos escuros, apesar de já ser noite. Ela parecia ser o tipo de pessoa que você gostaria de andar no recreio, se não fosse pela aura sombria e escura que a rodeava.

Leo e Akira se entreolham de maneira confusa. A mesma coisa se passava pela cabeça dos dois naquele momento: quem era aquela garota? Ela não era uma reaper, eles teriam lembrado de vê-la no meio da comoção se esse fosse o caso.

— Uh... dona? – Akira resolveu puxar assunto com a garota desconhecida. – O que está fazendo aqui? Não sabe que é perigoso?

A garota não respondeu. Por um instante, Akira ficou tenso, mas então ele decide relaxar, o que fez com que Leo ficasse tenso.

— Akira? – Ele pergunta meio confuso com o ato do amigo. Ele ia mesmo baixar a guarda tão fácil assim?

— Calma, bro, ‘xá com o Akira aqui. Ele é bom com as garotas. – E com um grande sorriso no rosto, ele começou a se aproximar da loira.

— Akira??? – Leo queria morrer.

— Sabe, quando alguém normal aparece por aqui, é porque ele está com problemas. Que tal falar pro pai o que houve, hein? – Pergunta enquanto passava um dos braços pelos ombros da moça. – Eu e meu amigo ali podemos te ajudar.

— Akira, volta aqui! Você não sabe quem ela é! – Leo tentava avisar o seu amigo que parecia estar flertando com o perigo.

— Cara, relaxa, ela é só uma menina comum! Tá que tem esse negócio envolta dela, mas não somos ninguém pra ficar julgando e ela até que fica charmosa assim. Né, moç-- - Sem aviso prévio, a garota deu um soco no rosto de Akira. Ele foi jogado longe, atravessando a parede de uma loja de conveniências que estava por perto e mais umas três paredes que estavam logo atrás. Leo soltou um grito.

— AKIRA! – Ele exclama olhando na direção da loja destruída, mas não demora a voltar a sua atenção para quem realmente precisava.

A garota pegou impulso, antes de se atirar na direção de Leo, e foi um movimento tão forte e preciso, que o local em que ela estava anteriormente havia quebrado. Leo se joga para o lado antes que a loira pudesse atingi-lo, e fez bem, já que ela impactou tão forte contra um prédio que a construção toda havia desabado em cima dela. O garoto aproveitou a chance para correr até a loja em que Akira foi jogado, a preocupação tomando conta de seu corpo.

— Akira? Akira!? – Ele exclamava enquanto escavava os escombros. Logo ele consegue encontrar o outro elementari no meio da pilha de pedras, que estava com uma ferida na testa que sangrava. – Akira!

Colocando o braço dele sobre seu ombro, Leo ajuda Akira a se levantar. Apesar de estar zonzo, ele não tinha se machucado muito. Eram essas as vantagens de estar no Dream World.

— Não podemos ficar aqui por muito tempo, temos que nos esconder! Se aquela garota nos achar, nós estamos perdidos! – Leo dizia desesperado, enquanto o outro dava uma olhada em volta.

— O quê? Não... nós não podemos nos esconder, Leo. – Akira conseguiu se recuperar até que rápido. Ele se livrou do aperto do amigo e se ajoelha em frente aos escombros, começando a buscar algo entre as pedras.

— Você quer tentar lutar contra aquele monstro!? – Leo perguntou incrédulo. – Ela quase te matou!

— Mas nós não podemos fugir! Eu não sei se aquela garota é um reaper ou uma shadow, mas se ela pertencer a esse lugar então você sabe o que vai acontecer se fugirmos! Nós não queremos isso, né? Isso sim é se meter em perigo desnecessário! – Akira olha para trás, ainda com uma pedra na mão. Ele parecia irritado.

— Eu... eu sei... mas...

— Se você sabe, então vamos lutar. – Akira se foca na pedra que ainda segurava, agora com as duas mãos. Suas mãos começaram a tomar uma coloração mais acinzentada e logo toda a sua pele exposta deu a impressão de estar mais forte e dura. Ele olha para Leo, e mesmo com seus olhos sendo agora literalmente pedras, dava para ver o quanto ele estava empolgado. – Eu estou pronto.

Leo não estava. Mas ele entendia o ponto de Akira. Mesmo se ele não quisesse lutar, Akira ainda iria mesmo assim, e considerando a força da outra menina, sabia que não podia deixar ele ir sozinho. Acaba abaixando a cabeça, um suspiro saindo de seus lábios em seguida.

— ...eu vou precisar de um arco. – Ele disse, não muito confiante, mas decidido. Isso fez Akira sorrir.

Os sons altos de passos seguidos de pequenos terremotos voltam a serem ouvidos, o que indicava que a loira estavam se aproximando deles. Acabou o tempo da conversa fiada, era agora ou nunca.

— Eu vou distraí-la. Tenta não voltar depois de eu morrer. –Akira ria enquanto Leo fez uma careta. Ele correu para fora do local, já que precisava dar tempo para seu amigo encontrar uma arma para lutar.

Ele logo dá de cara com a garota de antes, quase trombando com ela. Pela posição em que estava, dava para ver que ela estava pronta para destruir a loja que estava com Leo, o que o fez agradecer por ter saído a tempo.

— Hey, dona! Não foi legal isso que você fez! – Com isso dito, Akira corre na direção da garota e retribui o soco que ela havia dado nele alguns minutos antes. Mas isso não parece tê-la afetado muito, já que só fez os seus óculos voarem para longe e ela cambalear pra trás. Akira engoliu a seco, mas isso não o abalou. – Se não tinha gostado da cantada era só falar, poxa.

A garota avança em Akira, tentando lhe dar outro soco, mas ele segura a mão dela e a torce, forçando-a a ficar de costas pra ele. Ele ia desferir uma cotovelada no meio das costas da loira, mas ela foi mais rápida e deu um chute para trás, atingindo uma das pernas de Akira que soltou um pequeno grito de dor. A loira aproveitou a distração para girar o corpo com um dos braços estendidos, na intenção de acertá-lo de lado, e ela conseguiu. Logo Akira acabou sendo jogado longe mais uma vez, mas não havia sofrido tanto dano quanto antes.

Se levantando do meio de escombros destruídos, o rapaz coloca a mão sobre uma barra de metal. Ele absorve a consistência da barra e fica na posição de luta. Não havia mais sinais de um sorriso brincalhão e descontraído no seu rosto.

— Eu devia ter trazido as minhas luvas... – Ele reclama consigo mesmo antes de voltar a correr na direção da loira.

Por um tempo, era quase impossível para Akira acertar a garota. A loira parecia prever os movimentos de Akira, ela sempre segurava o punho dele quando ele ia lhe dar um soco, e no momento que iria lhe desferir chutes, ela sempre pulava alto o bastante, sem falar do momento que quase havia quebrado a sua perna, isso porque seu corpo todo estava revestido em metal.

“Essa menina não é humana... ela não pode ser. Eu até duvido que seja uma reaper.” – Pensa desesperado, enquanto ainda tentava acertar algum golpe nela. – “Onde caralhos tá o Leo?”

Não era o momento certo para pensar isso, já que por conta da distração, a loira agarrou o pescoço de Akira e o atira contra o chão, o que o pegou de surpresa. Ela sobe em cima dele e começa a soca-lo no rosto, e mesmo com seu corpo inteiro sendo 100% metal, ele ainda sentia dor. Estava imobilizado, e os socos dela parecia ficar cada vez mais fortes. Juntando as duas mãos e as levantando, a loira se preparava para dar seu golpe final, e mesmo sendo meio burro, ele entendeu na hora que se aquilo o acertasse a sua cabeça iria ficar parecendo uma latinha de refrigerante pisada. Ele precisava pensar rápido, seus braços procuravam algo que poderia estar ao lado do seu corpo, e ao sentir uma pedra, o rapaz aproveita para acertar o rosto da garota com ela, o que a desnorteou. Ele deu um soco na boca do estômago dela e uma cotovelada o que a fez cair para o lado. Akira aproveitou para escapar, com a respiração ofegante e seu corpo doendo. A loira se levantava lentamente do chão, e por um segundo Akira achou que seus ataques haviam surtido efeito nela, mas se viu enganado quando ela avança na sua direção. Ele estende as mãos na frente do seu corpo para tentar segurá-la antes que ela avançasse mais, mas ela acabou ajoelhando no chão, soltando um grito de dor. Akira ficou sem entender, mas ao ver que o joelho da garota sangrava, ele percebeu o cabo de uma flecha saindo dali. Isso só podia significar uma coisa...

— Desculpe a demora! – Era a voz de Leo. Olhando na direção dela, dava para ver que uma silhueta albina se destacava entre os apoios de uma ponte. Felizmente para Leo, havia uma loja de armas por perto, e usando os seus poderes, ele havia feito algumas flechas de caça usando metal como ponta. Era super efetivo.

— Leo! – Akira grita com um sorriso. O ataque surpresa havia ajudado muito, e até o fazia pensar que poderia ter a chance de dar a volta por cima.

Voltando a atenção para a garota, ela estava se levantando lentamente, enquanto olhava na direção de Leo. Agora que Akira não estava ocupado demais tentando não morrer, ele podia perceber como os olhos dela eram vazios e sem vida. Isso só fez ele ficar mais convencido ainda de uma teoria que havia desenvolvido silenciosamente: ela estava possuída. A loira se abaixa para poder arrancar a flecha do joelho, mas ela não foi rápida o bastante e acaba sendo atingida por outra flecha, dessa vez no ombro. Mais sangue saem de seus ferimentos, mas além dos gemidos que sua voz gutural soltava, não parecia que estava realmente afetada com aquilo. Ela se prepara para avançar na direção de Leo, mas é interrompida já que Akira havia se atirado em cima dela, segurando a sua cabeça com força. Ele bateu a cabeça dela contra o chão, sem medo de feri-la por conta daquela resistência monstra que ela tinha. A garota tentou resistir, mas ele decidiu que seria melhor não parar. O chão lentamente começou a quebrar, e quando pareceu que iria desmoronar de vez, a loira finalmente parou de resistir, e com um suspiro aliviado, Akira a larga antes de cair no chão.

— Akira! – Grita a voz de Leo. Ele tinha aproveitado que Akira tinha conseguido o controle da situação com o seu ataque surpresa para sair da ponte, e agora ele corria até os dois com o arco em mãos e uma aljava cheia de flechas nas costas. – Você está bem?

O rapaz fez um top com a mão enquanto sua pele lentamente ia voltando ao normal, deixando o metal de lado para voltar ao seu tom bronzeado. Ele tinha uns machucados aqui e ali e seu estava inchado devido aos socos que havia recebido antes, mas felizmente não parecia ser nada de grave. Só devia doer mesmo.

— Essa garota... era bem mais forte... do que eu esperava... – Ele diz com um tom exausto. – Talvez ela não tivesse gostado mesmo das minhas cantadas.

Leo solta um suspiro. Francamente, como ele conseguia pensar em fazer piadas em um momento como esse?

— Urgh... eu disse para você não lutar contra ela... – Akira apenas sorri.

— Foi mal...

Então os dois ficam em silêncio. Leo havia se sentado ao lado de Akira e passava um lenço por cima dos ferimentos que sangravam, tentando estanca-los. Já o outro, olhava para a garota desmaiada, com um olhar pensativo. Ela parecia bem menos perigosa e ameaçadora agora que estava desmaiada, e aquela aura obscura que a rodeava também tinha sumido. Isso servia para comprovar a sua teoria. E com isso em mente, ele se levanta.

— Akira? – Leo pergunta, meio confuso.

— Nós não podemos ficar aqui, cara. – Ele explica. – Se mais gente como essa louca aparecer, estamos fodidos. Não posso lutar outra luta com meu corpo assim.

— É... bom ponto... – Leo segura uma mecha do seu cabelo, um tanto nervoso. Ele olha para a garota, notando que seu corpo não tinha sumido mesmo depois de ter sido derrotada. Ele ia comentar isso, mas ver Akira a pegando no estilo noiva o fez ficar confuso por um instante. – O que está fazendo?

— Eu tô pegando ela pra deixar em um local seguro? – Explica, meio confuso com a reação do outro. Leo não pareceu feliz.

— Você vai tentar salvar a garota que quase matou a gente!?

— É, não podemos deixar ela assim, pô! Ela nem parece mais do mal, e você não gostaria que fosse você que fosse abandonado, né?

— É, não... mas... se fosse comigo, eles teriam me matado logo no primeiro golpe... – Solta um suspiro, enquanto o outro o encarava de modo desaprovador. Leo acabou baixando os olhos. – O quê? Você sabe que é verdade...

— Não começa, cara. Mas falando sério, nós não podemos deixar ela aqui. Olha só pra ela, talvez ela nos ajude quando acordar.

Leo ainda parecia inseguro e acaba olhando na direção da loira, meio preocupado. Acaba soltando mais um suspiro.

— Ok, ok... eu vou confiar em você. – Não tinha como não fazê-lo. Akira era seu amigo, e dizer isso o fez sorrir feito uma criança.

Leo se aproxima de Akira, que segurava o corpo da garota ainda. Ele retira as flechas que havia atirado nela há pouco tempo e as coloca de volta na aljava. Teria estimado que ela ficaria algumas horas desmaiada, devido aos ferimentos e a perda de sangue, mas estranhamente, assim que as flechas foram arrancadas deu para ver as feridas da loira se curando magicamente. Os amigos se entreolham em silêncio, mas eles decidem não perguntar. Era hora de sair dali.

— Nós deveríamos ir para o dormitório. – Akira dá a sugestão, que Leo concorda com um aceno de cabeça.

Junto com a garota desmaiada, eles começam a andar na direção da escola de Tatsumi. Akira parecia de boas com tudo, mas Leo não parava de olhar na direção da garota. Ele ainda não entendia bem o que aconteceu, e sentia que a qualquer momento ela ia acordar e matar os dois em um piscar de olhos. Ao chegarem na rua da escola, eles ficam em silêncio, parecendo confusos. Que estranho... a escola não estava ali.

— O dormitório... ele não ficava aqui? – Leo perguntou, parecendo confuso.

— Deveria... não só o dormitório, mas a escola também. – Akira disse enquanto olhava ao redor. Será que haviam errado o caminho? – Vamos tentar ir por aqui. Talvez tenhamos nos confundido.

Leo fez que sim. Eles começaram a andar, os dois parecendo perdidos e sem rumo. Os lugares que eles iam durante o dia pareciam estar lá como sempre estiveram, mas não dava para dizer o mesmo sempre que eles tentavam seguir alguma rota para a escola. Leo parecia frustrado.

— Mas o que está acontecendo...? – Ele esfregava sua mecha incansavelmente. – Tudo parece estar no local de sempre, tudo menos a escola. Por que isso...? Eu não estou entendendo mais...

O elementari maior deu uma olhada em volta. Ele podia não ser o mais esperto da dupla, mas depois dos acontecimentos de hoje e da luta com a garota, ele havia pensado em algo que agora que parava para ver melhor, não parecia tão impossível assim.

— Hey, cara... eu acho que nós não estamos no Dream World.

— Como? – O albino olha para Akira, confuso.

— Digo... não tem shadows pelas ruas. O clima não tá tão estranho como quando vamos pra lá, tudo sempre parece algum tipo de sonho, e é mesmo um sonho, mas isso... isso não parece um sonho. É real. Real demais. E você já viu essa garota? Na hora da luta ela não parecia nem humana e nem um reaper, parecia uma shadow, mas agora...

Leo olha para o seu amigo. Ele parecia surpreso de que seu amigo havia conseguido chegar a todas essas conclusões sozinhos, mas não podia negar que ele tinha razão sobre isso.

— Você... acha que ela estava sendo possuída...?

— De início não. Aí eu vi os olhos dela... eles não pareciam olhos de uma shadow normal. E agora que essa aura sumiu depois que ela desmaiou, eu posso afirmar que sim.

O silêncio domina por um momento. Tudo parecia ter ficado bem mais tenso com todas essas suposições.

— O que nós vamos fazer então? – Finalmente, depois de um certo tempo, Leo pergunta.

— A gente devia... esperar pra ver se acordados. É a única forma que temos de saber se estamos ou não no Dream World, mas não podemos ficar aqui parados na rua. Vamos tentar achar algum abrigo temporário, já que o dormitório sumiu.

Leo fez que sim. Era a única opção que eles pareciam ter no momento. Não demora para o silêncio voltar a tomar conta, já que não havia muito a ser dito por agora. Eles voltam a andar pela cidade, enquanto procuravam algum lugar seguro para se abrigarem. Akira não queria dizer em voz alta, mas ele estava começando a se cansar. Querendo ou não, ele estava frágil por conta da luta e ainda era ele quem estava carregando a garota desmaiada. Felizmente, ele não precisou dizer nada já que Leo havia notado isso. O garoto segura a manga do seu amigo enquanto apontava para um prédio abandonado qualquer.

— Aquele lugar parece bom pra passarmos a noite. – Ele disse, chamando a atenção de Akira. O rapaz concorda e os dois caminham até o prédio.

Já dentro do estabelecimento, enquanto Akira ajeitava a garota ainda desmaiada, um brilho pelo canto do olho acabou chamando a atenção de Leo. Ele resolveu deixar o acampamento improvisado que estava montando de lado para se aproximar do tal brilho. Ao chegar perto o bastante, ele acaba descobrindo que era só uma moeda, mas... ele logo nota que aquela não era uma moeda qualquer.

— Isso é... é a cara da Himari...?

— É a cara de quem? – Akira pergunta se debruçando atrás de Leo, que solta um grito assustado o que quase joga a moeda longe. – Eita, foi mal!

— Não faz mais isso! – Ele pede meio que gritando enquanto se recompunha. Havia apertado a moeda com um pouco de força para evitar que a jogasse longe, e isso meio que incomodou a sua mão por conta da frieza do pequeno objeto. Soltando um suspiro, ele abre a mão. Akira logo pega a moeda curiosamente. – Essa moeda... olha quem está na cara, no lugar presidente.

— Tô vendo e... não, pera. Essa aqui é a Himari? – Akira pareceu incrédulo por um instante. – Eu não sabia que a nossa amiga era famosona assim pra ter a cara dela em uma moeda!

— Akira, não. – Leo apenas pega a moeda de volta dele, antes que o outro fizesse alguma merda. Em resposta, Akira fez um biquinho. – Isso deve ser só uma coincidência bem estranha. Eu vou guardar ela só por precaução.

— É, e a Himari vai adorar saber que a gente achou uma moeda com a cara dela quando acordamos.

— ...isso foi irônico?

— Não.

Leo suspira mais uma vez. Akira apenas ri. Leo guarda a moeda em seu bolso, e se deixa sentar com as costas apoiadas em uma parede, perto do acampamento improvisado, e Akira o imita. Os dois ficam olhando para a garota desacordada, cada um perdido em meio aos seus próprios pensamentos.

— ...nós deveríamos aproveitar. – Akira diz do nada, tirando Leo de seus devaneios.

— Hm? – Ele olhou confuso para o seu amigo. - Aproveitar? Como assim?

— Ah, você sabe. – Então ele aponta para a loira. Leo apenas acompanha a mão do outro, confuso. – Não é sempre que nós ficamos presos num prédio com uma garota bonita.

— ... – Leo demorou um pouco para entender a insinuação, mas sinceramente? Ele preferia não ter entendido. - ...Akira?

— Não é uma boa ideia? Ela nos atacou, nós merecemos nos divertir um pouco. – Ele diz no mesmo tom que alguém normal diz “deveríamos ir na praça tomar sorvete”. Leo apenas entrou em pânico.

— O quê? O quê!? Você ficou louco!? Nós não podemos fazer isso, Akira, isso é crime! Meu deus do céu, meu deus do céu, no que é que você está pensando! – O albino pôs a mãos na cabeça, enquanto olhava ao redor como se procurasse ajuda. O que ele devia fazer, devia chamar a caixa forte? O presidente? A polícia? Akira apenas gargalhou, o que deixou Leo mais em pânico ainda. Ele estava mesmo ficando louco?? – Do que é que você tá rindo!?

— Foi piada! Piada, cara, relaxa! – Leo não relaxou. Akira apenas deu uns tapas nas costas dele. – Eu não vou fazer isso, eu só queria quebrar esse clima.

— Que jeito mais sem graça de quebrar o clima, eu achei que você tinha pirado! – Akira deu um sorriso inocente, enquanto Leo suspirava. Que maravilha. Ele não sentia que queria ficar mais acordado depois dessa. – ...eu vou dormir.

— Hehe. Ok, cara, boa noite.

— Boa noite.

E cada um se ajeitou do melhor jeito que pode no chão frio do local. Os dois estavam cansados, então não demorou muito para cada um dormir assim que fecharam os olhos. Nesse instante, apenas uma coisa passou pela cabeça dos dois antes que apagassem de vez: que o amanhã não fosse tão complicado quanto foi hoje.


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