Entre as Cortinas Dramione escrita por monalizacaetano


Capítulo 1
Escuridão


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, esta é a primeira fic que escrevo, então tenham paciência.

Avisos importantes: havia postado essa fic, mas a apaguei pois mudei muita coisa. Tenho alguns capítulos prontos, então caso gostem, continuarei a postar (desta vez pretendo finaliza-la), provavelmente toda quinta feira postarei capítulos novos.
Sim, se trata de uma dark fic. A ideia de "Entre as Cortinas" surgiu justamente do questionamento a respeito de como seria a vida de Hermione caso seus pais viessem a falecer durante a guerra.



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— Me desculpem, eu devo ir agora. - disse para si mesma e, principalmente, para eles.

 

Os dedos curtos e finos tocavam a imagem dos rostos esbranquiçados, camadas grossas de poeira acumulavam-se em toda parte: móveis, decorações, batentes das janelas. A escuridão que o crepúsculo, lentamente, proporcionava, fazia com que sombras formassem imagens engraçadas na parede descascada: caso fixasse o olhar poderia supor encontrar um cachorro, uma gravata ou um homem de chapéu, depois, forçando os olhos para enxergar melhor, descobriu que na verdade se tratava da sombra do abajur, da velha comoda de canto e da TV. A conta de água e luz não havia sido paga nos últimos dois meses, não por falta de dinheiro, os pais lhe deixaram uma boa economia, mas sim porque não havia diferença entre claro e escuro, quente ou frio, não para ela.

O cheiro do quarto, ainda que fechado há, ao menos, cinco meses, era familiarmente doce e quente, misturado ao odor de mofo e falta de limpeza. Caso pudesse ou desejasse defini-lo, poderia dizer que cheirava à café e lírios. Notou que este aroma parecia menos acentuado quando comparado com a semana anterior, provavelmente haveria de morrer ao longo dos próximos dias na medida em que a casa era reaberta e revisitada, desaparecer, como eles próprios: duas figuras em uma ridícula fotografia emoldurada que, ela tinha certeza, jamais seria capaz de informar o que foram aquelas vidas, o amor que compartilharam ou a profundidade e complexidade de todas suas escolhas.

Talvez ela representasse isso tudo, talvez ela fosse a concentração e resultado da grande maioria das escolhas feitas por aquelas duas pessoas. Se este fosse o caso, onde quer que estivessem ambos estariam decepcionados além do que seria possível. Ao imaginar-se a síntese da vida de seus pais, mais uma vez, teve certeza de que algo terrivelmente errado havia ocorrido em suas vidas. Em algum momento que não saberia definir, as escolhas precipitaram-se para erros que desembocavam no presente. Este presente tinha gosto forte de amargo que não lhe saía da boca, talvez nunca saísse.

Podia ver com clareza desde que receberá alta do antigo hospital bruxo próximo à casa dos Wesley: suas profundas falhas estendiam-se e criavam grossas raízes em todos os aspectos de sua vida. Falhou como amiga, falhou como combatente, falhou, miseravelmente, como amante e filha. Tudo o que lhe restava, para além da dor de ser exatamente quem é, era a certeza da sua absoluta inutilidade para o mundo bruxo ou trouxa. Como vincos em uma antiga árvore dos jardins de Hogwarts, todas as vezes em que refletia, ambas certezas se tornavam ainda mais claras e reais, quase sensíveis ao toque. Se olhasse e investigasse atentamente seus braços, pernas, rosto e mãos seria capaz de tocá-los, gravados sob sua pele. Ao observar suas veias através da pele quase translúcida, como se buscasse se certificar de que por dentro ainda corria sangue, ela não havia secado ainda, não pode deixar de notar o quanto emagreceu, em uma espécie de susto, verificou que as pessoas ao seu redor tinham alguma razão sobre o que diziam: ela definhava. Não eram necessários espelhos ou médicos para constatar o que se tornava dia após dia mais perceptível. Era como se o corpo respondesse à tudo que sentia, como se a castigasse, como se buscasse saída ou quisesse se desprender da alma que, obrigatoriamente, abrigava. Uma imagem quase agradável lhe ocorreu: todos os seus pecados tornar-se-iam visíveis à luz do dia, para que pudesse ser devidamente punida, devidamente descartada. Quase sorriu.

Buscou se recordar do que havia feito durante todo aquele dia, enquanto este avançava para o seu fim entre as árvores ressecadas pelo outono do lado de fora, o vento assoviava e a escuridão que tomada o quarto não era amigável ou reconfortante, ao contrário, aumentava uma espécie de agonia que rondava a casa. Acordou após as 13 horas, sentia fome mas não se alimentou, não acreditava ser realmente necessário. Desde o dia em que retornou para sua casa, após longas semanas no maldito hospital, as cortinas dos quartos e de toda a casa foram mantidas fechadas, o que trazia a incomoda sensação de não se saber se era dia ou noite, se lá fora fazia sol ou não. A incomoda sensação de que, do lado de dentro, não havia viva alma. Para ela, esta sensação era em parte verdade e, portanto, não a incomodava.

Sua casa deixou de possuir vida no momento em que seus pais a abandonaram.

Naquele mesmo dia sua decisão foi tomada após um banho, era o primeiro que se permitia experimentar em alguns dias, a pele estava ressecada, assim como os cabelos. A água fria não permia que aquele fosse um momento minimamente agradável. O banho parecia mais uma de suas punições. Não se importava. Vinha germinando e deixando crescer a insistente ideia, como se fosse uma planta, há muito tempo, no principio timidamente ainda que permanente, a mesma alimentou-se como pode e agora, naquela semana em especial, era tão grande e apetitosa quanto uma macieira, repleta de frutos prontos para a colheita. Era quase possível imaginar uma torta ou qualquer outro prato apetitoso feito a partir da frondosa árvore que Hermione cultivava em seu interior.

Não acreditava estar precipitando-se, teve tempo suficiente para se assegurar de que não se tratava de sentimento passageiro, ela apenas gostaria de descansar e a verdade era que o momento nunca foi tão propício. Obviamente Harry, Rony e toda sua família ficariam tristes, no entanto, e apegava-se com determinante força a este pensamento, após o choque e luto todos conseguiriam seguir suas respectivas vidas. Não apenas a seguiriam como também estariam livres de um peso, naquele momento e realmente acreditava que para sempre, ela seria como um inoportuno convidado de uma longa e bonita festa, desejando sempre ir embora o mais rápido possível. Por que não ir de uma vez, portanto? Por que martirizar e embaraçar todos ao seu redor com sua sempre deprimente presença? Seus pais jamais suportariam sua partida, no entanto, eles não poderiam senti-la agora. O que gostaria de acreditar era: não era imprescindível na vida de ninguém e isso, ao fim e ao cabo, não era algo necessariamente ruim.

Ainda que negassem, todos haveriam de concordar: ela jamais seria a mesma. Jamais poderia se perdoar ou perdoar a qualquer um pela morte de seus pais. Ela estava quebrada, a guerra a havia quebrado em milhares de pedacinhos indecifráveis, e não havia nenhum feitiço de reparo suficientemente eficiente, era permanente. Em determinado momento as pessoas deixariam de se penalizar e seguiriam seus caminhos, ela no entanto continuaria presa, após cinco meses, estava presa. Lembrou-se de Harry, lembrou-se de que ele também perdeu seus pais e ainda assim sobreviveu, a verdade era que nunca foi tão forte e valente quanto o amigo, ainda que o fosse, passou muito mais tempo e gerou muitas mais recordações junto de seus pais do que Harry jamais pode.

Todos os dias estes pensamentos a inundavam e a submergiam, era cada vez mais difícil voltar a superfície quando se afogava em sua própria mente. Agora acreditava já ser o suficiente, acreditava que realmente já havia lutado o suficiente. Deveria apenas despedir-se apropriadamente de seus pais e, para este fim, passou o que sobrou do dia no quarto que lhes pertencia. Colheu uma muda de roupa de cada um e, pousando ambas na cama, deitou-se no meio. A tarde passou veloz demais, o cheiro de seus perfumes e do próprio comodo era tudo que lhe restava e estavam também esvaindo-se. Percebeu que já era hora, já passava da hora. Demorou-se mais alguns segundos na pequena fotografia, depositou um beijo no rosto de cada um, guardou as roupas sem saber exatamente o porquê, qual era a real importância de tê-las fora ou dentro do guarda roupa? Talvez fosse sua inegável índole organizada e metódica, mesmo na atual situação, gostaria de manter o mínimo de ordem lógica.

 

— Eu realmente devo ir agora. - disse novamente, agora ainda mais decidida.

 

Apoiou-se na escrivaninha e, medindo cada uma das palavras da forma mais doce que pode, escreveu à Harry, Rony e Gina. Não escrever seus porquês, os amigos os sabiam melhor do que ela jamais poderia descrevê-los, resumiu-se em pedir perdão por toda a mágoa que lhes causaria. Nos parágrafos finais buscou demonstrar de todas as formas possíveis que sua decisão não era, e jamais seria, culpa de alguém. Isso era bastante importante, não suportava a ideia de que alguém se imaginasse culpado por suas falhas, estas eram seu fardo e apenas seu.

Desceu as escadas rumo à cozinha. Antes de subir ao quarto dos pais, havia separado diversos comprimidos que encontrará nas gavetas da casa: antidepressivos receitados à ela no mês passado, remédios para dor de cabeça, alergia e mesmo os utilizados pelo pai para o tratamento de asma, todos serviriam. Encheu uma jarra de água e pegou o último copo limpo do armário, a louça se acumulava na pia e aparadores, criando crostas de sujeira que alastravam um terrível cheiro por toda a casa. Sentou-se junto as cartelas e, vagarosamente, retirou cada capsula de sua respectiva embalagem. Respirou fundo: era aquilo mesmo que desejava? Algo próximo à dúvida se aproximou, no entanto, era tarde demais para repensar ou retornar, além disso, retornar exatamente para o que? Ingeriu junto a um gole de água um achatado e esverdeado comprimido que manteve em sua mão. Aliviada, notou que poderia prosseguir. Cada capsula, coloridas e de diversos tamanhos e formas, era engolida com maior facilidade que a anterior e logo tudo acabaria. Após algum tempo, ela não saberia dizer exatamente quanto, já havia sorvido metade dos remédios presentes na mesa, e em decorrência disso começou a sentir o mal estar de toda aquela intoxicação.

Era como estar bêbada pela primeira vez, imaginou-se em uma das festas de Hogwarts, no entanto, não havia música, alegria ou pares de dança. Sua cabeça pesava e sua mente passeava por acontecimentos aleatórios, como aquela terrível noite na mansão Malfoy, quanto foi torturada. As primeiras alucinações surgiram rápido demais, não conseguia controlar apropriadamente seus membros, os olhos semi serravam-se, a garganta e estomago ardiam como fogo, mais do que tudo, sentia uma terrível vontade de vomitar. Sabia que não deveria ceder a este último sintoma, caso contrário, teria de recomeçar todo o processo de ingestão dos remédios. Esta não era uma alternativa.

No entanto, e agora praguejava contra o próprio corpo, a vontade agigantava-se frente a sua perseverança. Ainda que o corpo estivesse de acordo que já era hora de partir, ainda que ele de bom grado tenha participado do cultivo da ideia de suicídio, agora, inesperadamente, ele a traía, virando-se contra ela: lutava para sobreviver, ainda que uma sobre vida, ainda que nada mais do que respirar. Não pode mais conter o enjoo, cambaleando e reunindo todas as forças que lhe sobraram, correu até o banheiro ao fim do corredor da cozinha. Seu corpo, no entanto, finalmente pareceu ceder ao acordo: ela caiu junto a porta, batendo com força a cabeça no piso frio.

Ainda que a ânsia estivesse mais presente do que nunca, não haviam forças para levantar-se ou mesmo vomitar, sentia o gosto de sangue, resultado provável da ingestão de todos os remédios. Agora restava esperar, os segundos transmutavam-se em horas e tudo parecia acontecer devagar demais. Logo não haveria mais consciência ou qualquer pensamento, qualquer pesar ou dor. Sentia os sobressaltos das alucinações que avolumavam-se, poderia jurar que vira seus pais descerem as escadas e preparem o café como faziam aos finais de semana, rindo como se nada houvesse ocorrido, incapazes de perceber que sua filha estava caída aos seus pés. Notou que a dor se espraiava para outras partes do corpo e os olhos escureciam com maior velocidade, estava de fato acontecendo.

Pode ver, no que provavelmente era mais uma alucinação, um rosto conhecido aproximando-se e chacoalhando-a com uma força desnecessária enquanto gritava outro alguém, parado na porta da cozinha. Estranhou tamanha realidade naquela alucinação, o que poderia ser um indício de que logo ela perderia os sentidos. Antes de tudo escurecer completamente e seus olhos finalmente se fecharem, poderia jurar que viu Harry e Gina adentrarem sua casa, correrem até ela, se desesperarem com Hermione caída e desacordada no escuro e frio corredor.  


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Notas finais do capítulo

O Draco aparece logo, logo, prometo! Caso gostem, me digam o que acharam ;)

Até semana que vem, beijinhos!