Os heróis subiram as escadas, ainda atônitos.

Dpamian comia seu caldo, todo enrolado no colo da irmã mais velha.

Arthur se sentou ao lado dos dois, também se servindo. Deixou uma das mãos entre as omoplatas da mulher, sentindo o quão forte o coração dela batia.

—Como você está, campeão?

— Ele não está ouvindo.-Daintness fez mais cafuné no caçula.-A borrachinha do aparelho ficou molhada e gelada, fez ele ter dor de ouvido.

—Ah... Entendo. Você está bem?

—Sim. Só preciso colocar Damian na cama antes de conversarmos, tá?

— Eu sempre posso esperar você cumprir seus deveres de irmã mais velha protetora.

Os outros também se acomodaram e jantaram o caldo feito pela moça.

Damian sabia que estava se comportando como um garotinho, agarrado como estava ao pescoço da irmã. Mas ele não se importava nem um pouco.

Daintness esperou ele entrar em sono profundo, ligou a babá eletrônica que ela tinha colocado ali contra a vontade do irmão quando ele teve pneumonia há alguns anos, e saiu do quarto, deixando uma fresta da porta aberta.

A questão foi dar de cara com seu pai no corredor. Não só Bruce, como Diana e Clark estavam ali. Arthur estava devidamente sentado no quarto da mulher de cabelos coloridos, mas seu pai adotivo não precisava dessa informação.

—Pois não?

—Você vai se explicar?

—O Batman realmente precisa que eu conte em detalhes o que eu fiz? Bruce, estou começando a achar que subestimei sua inteligência.

— Para com isso, Daintness!

Dicky colocou a cabeça pra fora de seu quarto, assistindo a discussão. Viu a postura de derrota da irmã, e o olhar aflito do pai.

—Parar com o que, Bruce? Estou tão cansada disso... você acha que eu leio mentes? Diga, exatamente, o que quer que eu saiba!

— Para de afastar de você! Tem feito isso desde que reatou os laços com o Coringa!

— Eu sempre tive laços com o meu pai. Joseph Kerr é, e sempre foi, meu pai. E eu nunca deixei de ama-lo. Você tem sua casinha reservada sentir do meu amor, Bruce. Mas não esqueça que você não é meu pai biológico, e eu não nasci amando você. Na verdade, eu deveria odiar você por ter tirado o meu pai de mim. Mas nós já tivemos essa conversa.

—O que você fez lá foi monstruoso!

— Eu não sou um dos seus Robins! Eu não fui treinada pelo grande Batman. Você quis me tratar como sua garotinha frágil presa numa gaiola de ouro. Eu não sou sua garotinha. Eu sou a princesa do Submundo, a herdeira do trono do Coringa. Eu não sou uma de suas mocinhas, Bruce.-A moça deu as costas, indo para seu quarto.-Agora, se me dá licença, eu preciso de um banho. Saio da mansão pela manhã, depois que o meu irmãozinho acordar e eu conseguir conversar com ele sem que ele caia no choro. Boa noite, Liga da Justiça.

•~~•

Sobrou para Arthur assistir Daintness desmontar.

Ele estava sentado sobre a privada, aproveitando a vista enquanto ela se banhava. Ela estava suja de suor, sangue e fuligem.

Parecia tudo bem, até ela cair de joelhos, com o rosto escondido nas mãos, e começar a soluçar baixinho. Arthur não pensou duas vezes antes de se meter dentro do boxe e tirá-la de lá, afinal o banho já estava finalizado e ela estava apenas aproveitando um pouco mais da água quente.

Secou a moça e a colocou sentada na cama, apenas para tirar suas roupas molhadas, vendo-a se deitar em posição fetal, ainda chorando.se acomodou junto dela, trazendo-a para seu peito. E aguardou a moça dormir.

Quando saiu do quarto para buscar uma jarra com água para quando ela acordasse, depois de colocar um blusão na moça e vestir uma bermuda, deu de cara com Bruce do lado de fora.

O Cavaleiro Negro apenas deu uma olhada feia para o herói, antes de entrar no quarto e se ajoelhar ao lado da cama, mexendo nos cabelos coloridos.

Aquaman encontrou Dicky na cozinha, lendo alguma coisa da faculdade.

—Deu de cara o papai, não é?

—Ele estava montando guarda na porta.

—Papai escuta Daintness chorar estando do outro lado de Gotham. É assustador.-O rapaz deu um sorriso triste.-Quando ela e Jason eram crianças, uns dois anos depois que o pai trouxe a Daintness pra casa, nós estavamos fazendo ronda... Do nada ele largou tudo, entrou no carro e veio voando pra casa. Jason tinha feito alguma coisa que fez Daint chorar, e de alguma forma o pai sabia que ela estava chorando.

—Acho que, pra ela, estar brigada com ele é muito duro. Daintness fala bastante dos pais dela. Tanto Bruce quanto Joker.

— Ela sempre amou muito o pai de sangue. Pra maioria das pessoas é estranho que minha irmã ame o Coringa mais do que ama o Batman...

—Pela sua forma de falar...-O herói finalmente achou a jarra.-Você parece entender.

—Eu fui a várias das visitas que ela fez ao Coriga. Nunca confiei deixar minha irmã entrar no Arkhan sozinha.

— Ela sabe disso?

—Sabe. Enganar aquela baixinha é quase tão difícil quanto mentir pro pai.

—Devo entender como um aviso?

—Cara, você transa com a filha do Batman e do Coringa. Precisa de mais algum aviso?

•~~•

Bruce estava ali, sentado no tapete do quarto da filha, acariciando os cabelos coloridos. Lambendo as próprias feridas, como diria Alfred, se tivesse presenciado aquelas cenas.

Era algo tão contraditório para o herói. A dualidade da menina que ele havia criado, sua própria divergência de emoções...

Estava orgulhoso pela genialidade dela, com medo da frieza, arrependido por ter tentado se enganar, feliz e aliviado por ela estar em casa, com ciúmes de Joker e Aquaman...

Eram sentimentos demais para que o Cavaleiro das Trevas de Gotham pudesse digerir.

E, ainda assim, ele só queria que a menina acordasse para pedir desculpas. Só pra ver a filha sorrir, não se importava de estar certo ou errado. Ele só queria os laços com sua menina de novo.

Só queria ser pai dela outra vez.

•~~•

A decisão final foi de que Daintness iria com Arthur para a Baía da Anistia. Ela precisava de um tempo de seus pais, o herói e o vilão, e queria levar o irmão caçula com ela. Porém, Estelar e Asa Noturna se responsabilizaram pelo Robin, para que ele pudesse permanecer na Torre dos Titãs.

Não que a moça tenha gostado, mas Damian convenceu a irmã de que tudo ficaria bem.

A viagem foi bem tranquila, nas motocicletas de ambos, ouvindo música no sistema de som que Bruce instalou na moto da filha pouco depois de compra-la.

A pequena cidade não fez alvoroço, mas Daintness sentia os olhares dos moradores. Era estranho, em Gotham os olhares de repúdio ou o fato de não repararem nela já havia se tornado rotina. Mas aquele tom de curiosidade maldoso não era familiar.

Foram até o farol, onde o pai de Arthur terminava de por a mesa para o café da tarde, enquanto uma linda mulher loira os aguardava na porta.

Atlanna abraçou seu filho com vontade, beijando o rosto de traços fortes, antes de olhar a moça que o acompanha.

—Mamãe, esta é Daintness. A moça de quem lhe falei.

—Entendo.-A rainha fez um movimento elegante com a mão, como se permitisse a aproximação da outra mulher.-Daintness Wayne, estou certa?

—Majestade... Prazer em conhecê-la... Sou Daintness Quinzel Kerr Wayne.

—Sou a Rainha Mãe Atlanna. Meu filho falou de você.

—Querida? Artur chegou com a namorada?-O senhor Curry veio secando as mãos nonpano de prato cor-de-rosa, o que fez a menina sorrir, lembrando de seu pai turrão e a samba-canção de unicornios.-Senhorita Wayne! Que prazer. Você é realmente linda.

Arthur viu, com prazer, sua digníssima namorada ficar cordinha. E o fato das bochechas dela ficarem lilás plantou uma pulguinha atrás da orelha de Atlanna.

—O prazer é todo meu, senhor e senhora Curry.

—Vamos entrar? Eu fiz um café da tarde. Arthur me contou que a senhorita é uma chef. Vai me ensinar alguns truques?

—Quantos quiser!

•~~•

Os dois entraram na gruta, Arthur se atirando na água sem pensar duas vezes, vendo a namorada retirar a saída de praia, ficando apenas de biquíni.

Daintness se sentou na grande pedra chata que havia ali, colocando os pés dentro d'água. Arthur se acomodou com os braços apoiados nas coxas da mulher de cabelos coloridos.

— Sua mãe não gosta de mim.

—Minha mãe está intrigada com você. Acho que você não é o que ela esperava. Afinal ela fez meu pai pesquisar tudo o possível sobre Bruce e o Batman, acredito que ela esperava uma bonequinha.

—Bonequinha? Para amarrar você? Bonequinhas costumam fugir de homens como você.

O mestiço deu uma gargalhada, se apoiando na pedra para roubar um beijo.

—Nesse caso, vem aqui dentro... E pode vir sem esse biquíni.

—Arthur!