Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 8
7


Notas iniciais do capítulo



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× Capítulo 7 ×

Foi de repente - e ele mal se despediu - que Christian fora embora dizendo que tinha um compromisso importante. Dizer que não entendeu nada seria um eufemismo para Ana.

Christian caminhou pelo corredor apressado, a cabeça a mil.

Naquela tarde, pela primeira vez, ele entrou no quarto de Mia. Ao menos percebeu o que estava fazendo, até que se viu olhando o corpo da irmã na cama. Ela estava imóvel, o peito subindo e descendo era a única coisa que se movia e via vida nela.

Ela parecia estar dormindo, em sono profundo, sem expressão alguma, as marcas e os hematomas do acidente já estavam se curando.

Somente quando ele chegou bem perto, sua mãe o notou.

— Ah, oi, querido - ela saudou enquanto secava os olhos com um lenço. - Onde estava?

Claro que sua mãe não julgava o fato de você nunca entrar no quarto, e ali parecia bem-disposta a não fazer daquilo uma situação grande.

— Dando uma volta - respondeu, sem conseguir desviar os olhos da garota na cama.

Sua mãe suspirou profundamente, ela segurava a mão de sua irmã de forma delicada, como se um movimento errado colocasse tudo a perder.

Ele entendia.

Mia nunca pareceu tão frágil.

Ele não concordava e nem discordava sobre a doação do órgão, ele apenas não queria ter aquele peso sobre os ombros, não queria ser uma das pessoas que passariam a vida se perguntando "e se ela acordasse algum dia?", mas também não queria ser a pessoa que sentiria a morte de uma garota de dezenove anos a cada dia que Mia não acordasse.

Ele não queria que Ana morresse. Ele não queria que sua irmã morresse.

Ele não queria que aquelas duas coisas estivessem sim em suas mãos. Ele sabia que se conversasse com seus pais, se os explicasse tudo, eles iriam aceitar, mas ele não iria fazer aquilo. Não conseguia.

Era sua irmã ali.

No outro dia, Ana sentiu lá no fundo que não deveria esperar por Christian naquela tarde, a forma que ele foi embora no dia anterior a deixou com um pé atrás.

Mas ele foi, no mesmo horário. E daquela vez foi diferente. Ela não se assustou, mas deveria. 

Porque daquela vez ele levou um buquê cor de rosa e um pedido de desculpas - que ela ao menos entendeu, mas disse que tudo bem, porque estava mesmo tudo bem para o que quer que ele precisasse que ela o desculpasse - ele levou também aquele sorriso de canto e contou algumas histórias engraçadas. E eles riram tanto, tanto, tanto que a barriga chegou a doer.

Uma despedida ou não, Ana não conseguiu se focar naquilo. Era difícil quando tinha Christian Grey ao seu lado, segurando sua mão de um jeito que nunca fizera antes e lhe sorrindo o tempo inteiro - também de um jeito que nunca fizera.

Ana não acreditava em almas gêmeas ou frutas pela metade - geralmente era pela metade apenas porque ela havia comido - mas ela tinha a sensação pura e forte de que eles se pertenciam, de alguma forma. Sabe, que eram o amor da vida um do outro.

Exagerado, ingênuo, e com certeza infantil. Mas quem se importava? Ela tinha dezenove anos e nunca nem tinha beijado alguém.

Ele a deixava super sem jeito - ela confessou a si mesma. Ah, qual é! Olha para ele, não tem como olhá-lo e não sentir um friozinho na barriga, sentir o coração disparando só de saber que aquele sorriso era para você. Ou ficar imaginando coisas de um futuro que provavelmente nunca aconteceria.

Ela se apaixonou rápido, como nos livros clichê, como naqueles filmes antigos... Ela só esperava que o final fosse bom também... E é claro, que aquela porra não fosse escrita por John Green e muito menos Nicholas Sparks.

      A garota mirou atentamente o buquê cor de rosa no criado mudo. Era o segundo dia que Christian não aparecia.

Não era sua obrigação, ela sabia disso. Mas você não pode entrar na vida de alguém e sair sem dar satisfações. Não se faz uma coisa dessas.

Ainda mais com alguém preso num hospital.

Ana sempre fez o possível para não parecer a vítima. Sabe, ela não precisa de privilégios só porque tem o coração estragado e provavelmente nunca terá uma vida normal. Mas ela era a vítima, ela tinha privilégios. Afinal, se ela não os tivesse, o que ela teria na vida?

Mesmo que fizesse de tudo para não ser a coitadinha da história, era difícil pensar racionalmente quando você queria uma coisa e não podia ter.

Então ela estava frustrada naquela tarde, quase noite, vergonhosamente seus olhos chegavam a arder quando ela pensava a fundo. Por isso, ela não o fazia. 

Christian tinha compromissos, ele era um grande empresário, ele tinha família também, tinha uma vida totalmente diferente da de Ana, sabe, ele tinha cosias a fazer. Enquanto a morena só tinha na agenda exames marcados.

Foi de repente, ela passava os canais na TV a cabo do quarto, e seus pais entraram alvoroçados.

Ana tinha treze anos quando foi cobaia de um experimento fármaco, era uma das drogas feitas com pura adrenalina, faziam seu coração bater mais rápido, de uma forma que não implicava com os outros órgãos ou funções de seu corpo. As famosas pílulas vermelhas que ela tomou durante seis meses inteiros, logo no primeiro dia seu coração batia como um ventilador ligado no um, e naquela semana ela até mesmo aprendeu a andar de bicicleta. Foram seis meses tendo de acordar às 04h da madrugada para engolir a pílula. Porém, seu organismo teimoso do jeito que era, se acostumou rápido, e combateu todo o efeito da adrenalina, o que fez com que antes mesmo que a substância chegasse ao coração, fosse dissolvida. Foi no dia 19 de abril que ela tomou sua primeira pílula, e no dia 25 de setembro, ela teve uma parada cardíaca intensa. No dia 24 ela tinha feito uma apresentação, dançou Lago do Cisne junto da companhia que havia começado a fazer parte. Seus pais estavam tão felizes, que ela apenas queria que aquela noite durasse a vida inteira.

Foi a última vez que ela vira seus pais felizes de verdade, e o sorriso durara mais do que segundos. Então, quando seus pais simplesmente entraram em seu quarto, com sorrisos sinceros com direito a lágrimas que Ana tinha certeza que eram de felicidade, a garota sentiu seu coração bater mais rápido - olha a ironia.

— O que aconteceu? - a garota se agitou, esquecendo a TV.

— Filha - sua mãe a abraçou, e seu pai logo envolveu as duas.

— Gente, o que esta havendo? - ela insistiu.

— Eles aceitaram - seu pai respondeu.

Ana afastou a cabeça para poder olhar nos olhos de seu pai, mas foi sua mãe quem a esclareceu.

— Vão desligar os aparelhos da menina, o transplante é amanhã.

× ×

 


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Notas finais do capítulo

:(



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