Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 22
23


Notas iniciais do capítulo

Oiii



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× Capítulo 23 ×

Eles ainda se beijavam e o sol já se pondo quase no fim quando Christian teve de ser o responsável da situação.

— Nós realmente precisamos ir - falou ele enquanto Ana ainda segurava em sua nuca e não o deixava se afastar. - Já está escurecendo e Seattle não é o melhor lugar para se estar num barco quando está prestes a chover - ele completou.

— Uhum - ele murmurou beijando- o novamente.

Christian riu e a apertou contra si.

— Vamos embora - foi firme e então a virou para o timão. - Segura e não solta - sussurrou em seu ouvido, levando suas mãos para o enorme volante.

Ana sentiu cada centímetro de seu corpo se arrepiar.

Não demorou até o catamarã estar atracado novamente na marina e Christian elogiar Ana por saber - bem, segurar o timão. Logo estavam a caminho da casa da garota, e com a pista vazia, chegaram rápido.

— É melhor eu entrar antes que eu fique resfriada - Ana comentou, mas apenas beijou Christian novamente.

Eles estavam há bons dez minutos parados com o carro ao lado da casa da garota, e nenhum dos dois estava a fim de se desgrudar.

— Hum - Christian resmungou enquanto mordia seu lábio inferior.

De repente Ana se afastou, e Christian e a seguiu, ganhando uma risada da morena.

— Hey, espera - ela pediu ainda rindo.

— O que foi?

— Estamos namorando? Por que se não estivermos você não pode me beijar, sou uma garota de família, não sou qualquer uma.

Ele riu alto.

— Depois de me beijar praticamente a tarde inteira você diz isso? Grande moça de família.

A garota semicerrou os olhos.

— Você me respeita, Grey - ameaçou.

Ele balançou a cabeça e riu novamente.

— Bom, se você me pedir com jeitinho, talvez eu aceite - falou.

A garota abriu a boca em indignação.

— Como é? Quer que eu te peça em namoro? Que audácia.

— Então vamos continuar vivendo em pecado - sussurrou contra seu rosto, arrastando os lábios para seu pescoço.

— Não, Christian. Não é assim que funciona - falou ela, se desviando dele.

Christian olhou em seus e sorriu.

— Então, eu estou esperando meu pedido.

Ela riu e bufou ao mesmo tempo.

— Namora comigo - resmungou.

Christian se afastou.

— Isso não foi um pedido decente, sou um homem de família e não é assim que funciona - ele fez drama.

Ana balançou a cabeça.

— Quer saber, eu que não quero mais namorar com você - ela se estressou e então abriu a porta do carro.

Não havia nem chegado ao assoalho da casa quando Christian a agarrou pela cintura.

Ele a virou para si e puxou sua nuca. Ana perdeu o fôlego quando mirou em seus olhos, a respiração engatada na garganta, o coração disparado.

Era demais para ela.

Algum dia aquilo iria parar?

— Você não vive sem mim - acusou ele.

A garota suspirou com os lábios alheios se arrastando por seu pescoço. Christian a segurava tão firme, que ela ao menos conseguia se mexer, ficando apenas a mercê dele.

Engoliu em seco quando ele voltou a encará-la.

— Nós podemos só decidir isso - ele sussurrou.

— Como assim?

— A partir de agora eu decreto que sou o namorado de Anastacia Steele - declarou ele.

A garota riu.

— Isso foi tão formal - murmurou ela ainda rindo.

— Com você tem que ser.

Ela sorriu e então fez uma careta.

— Está chovendo - reclamou já se sentindo completamente molhada.

Os dois encararam o céu e então um ao outro.

— Vai ser a coisa mais clichê do mundo - acusou Christian.

Ana passou os braços por seu pescoço e ficou na ponta do pé, os lábios já quase tocando os dele.

— Eu amo clichés - declarou antes de tocar os lábios nos dele.

Foi um beijo rápido, mas intenso, na chuva, todo molhado. Era um beijo de verdade.

Os dois se afastarão antes de perderem o ar, mas mesmo assim estavam ofegantes quando olharam nos olhos um do outro.

— Eu te amo - disse ele.

Ana mordeu o lábio inferior, o coração nem sendo mais coração.

Ela era completamente apaixonada por Christian, não queria nem pensar em ficar sem ele em hipótese alguma. Mas era difícil dizer um 'eu te amo' sem antes colocar seus pensamentos em ordem. É que ela pensava demais em tudo antes de qualquer coisa.

E sabe, eles tinham tempo. Tinham tempo para ela dizer.

Ela sorriu minimamente e Christian beijou seu rosto.

Ele não estava pressionando, ela sabia, ele apenas disse o que sentia. E ela amava aquilo.

Mas está tudo bem mesmo?

— Você não tem que dizer de volta - ele disse como se lesse seus pensamentos. - Não se preocupe com isso.

Ana balançou a cabeça e sentiu mais um beijo em seu rosto.

Os pingos de chuva pareciam se tornar mais gelados a cada segundo e ela já podia sentir um espirro vindo caminhando para si.

— Eu tenho que entrar - falou ela.

Christian balançou a cabeça e lhe deu um beijo rápido, logo a garota se virou e correu até a porta. A morena se virou para Christian novamente, acenou e sorriu antes de entrar em casa.

Nossa, ela poderia cantar de felicidade.

Mas foi só virar o hall que a vontade de cantar passou... E a felicidade.

As pessoas que se amam se separaram também, essa é a verdade do mundo. E isso não quer dizer que as pessoas não se amam.

Hoje em dia pode se tornar uma coisa muito corriqueira, digo, a separação, o divórcio. Pais separados é uma coisa tão comum quanto pais casados, ou até mais. É tão mais fácil encontrar uma pessoa que foi criada pelo padrasto e a mãe do que pelos próprios pais juntos.

As pessoas não têm paciência para casamento. Se está ruim elas simplesmente trocam. Não tentam, não se empenham, não lutam para dar certo. Não acho que a gente tem que aceitar tudo, não acho que temos que cruzar os braços para algo errado que pode nos fazer mal. Mas um casamento exige uma dose de sacrifício, uma dose grande às vezes. O casamento não é descartável como agem por aí. Um casamento não é um pedaço de papel que se acaba com outro pedaço de papel que pode ser jogado fora. A gente tem é que lutar por ele.

Diariamente.

E os pais de Ana lutaram por anos. Sabe, não é fácil você ter uma filha doente e ainda ter tempo para o seu casamento. E casamentos precisam de atenção, a cada momento, a cada briga é preciso uma reconciliação de verdade, a cada discussão é preciso uma solução, a cada mentira é preciso mostrar o arrependimento. Só que para dar atenção é preciso tempo, e tempo era uma coisa que os Steele nunca tiveram. Mas sabe, eles lutaram sim. Eles lutaram quando Carla sofreu um aborto bem na época de recém-casados, lutaram quando descobriram sobre a doença de 

Ana, quando a garota tinha que passar dias e dias entubada. Eles lutaram quando tiveram uma recaída e Ray teve uma aventura fora do casamento. É sério ninguém podia falar que eles não tiveram paciência para o casamento, que não se esforçaram para concertar os problemas. Mas a paixão desgasta, o amor está ali, mas a paixão é fundamental também E não existia mais paixão em Carla e Ray Steele.

Ana não sabe quando aconteceu, talvez toda a situação houvesse acrescentado a mais um motivo.

Enfim, as malas de Ray estavam no chão perto do pé da escada, Carla com os braços cruzados recostada no corrimão e o clima mais tenso possível.

Aquela era a cena da separação. Ana já havia visto em mais filmes do que pode contar. Então sabia, naquele momento, o cara ia para um hotel e a mulher se embebedava em seu quarto. Não importava filhos ou animais de estimação, era o tempo deles ali.

E Ana tinha vinte anos, ela tinha um namorado, e até um bebê que não era seu dentro da barriga, mas ela não estava preparada para ter pais divorciados.

A garota ficou parada, seus pais a encarando quando foi percebida sua presença.

— Não, por favor - pediu ela, quase que a voz não saindo.

Não adiantaria o que falasse, eles não fariam aquilo por ela.

— Eu sinto muito, querida - Ray murmurou. - Eu venho te ver todos os dias, prometo.

E ele se foi.

Assim. Rápido e sem despedidas. Ele pegou as malas e se foi.

Carla olhou Ana uma vez e então subiu as escadas. 

A morena ficou ali, parada.

O casamento de seus pais havia acabado, seu pai havia ido embora.

Ana estava bem, não precisava mais de seu pai tão perto, não precisava mais de ninguém tão perto. Então seus pais não estariam ali, juntos, como sempre estiveram.

Ela não precisava mais... Eles não estavam juntos porque ela não precisava mais.

Ana sentiu as lágrimas descerem por seu rosto sem conseguir evitar.

Eles não estavam juntos por que ela não precisava mais que eles estivessem... Há quanto tempo eles estavam juntos por que ela precisava deles?

Quatro dias depois, Ana nem precisava falar com sua mãe para saber que ela não havia saído do própria nos últimos dias, e, na verdade, ela tinha medo de ver o que iria sair de lá quando acontecesse.

A garota não via sua mãe há quatro dias. E nem seu pai.

Quatro dias e Ana tinha mudado.

Tudo pode mudar num segundo, imagina em quatro dias.

De repente Ana tinha se tornado a responsável. Ela pedia a Julieta para levar a comida da mãe no quarto todos os dias, e mesmo que a bandeja viesse do mesmo jeito depois, ela ainda insistia. Ela não ligou para seu pai, ele também precisava de um tempo.

Okayela era bem grandinha para lidar com aquilo.

Pelo menos ela dizia a si mesma quando precisava deitar na cama sabendo que nada estava bem de verdade.

Christian estava tentando, ele ligava e mandava mensagem o tempo todo, ele também tirava ela de casa - mesmo que o máximo que ela quisesse ir era até o jardim do quintal.

É que era difícil para Ana também. Tudo mudou.

Inclusive seu corpo.

De repente ela tinha a visão - até no espelho - de que tinha um ser dentro de si. Sua barriga realmente havia dado um levante na cosia toda, e ela também sentia o bebê dentro de si. Ele parecia dar voltas e alguns chutinhos, que mais a faziam lembrar de soluços do que realmente chutes.

Aquilo a assustou.

Como faz quando você tem um ser dentro de si, e nem ao menos o conhece, não... Não o quer?

As vezes Ana queria desaparecer, ela queria dormir até o fim da vida. Mas as vezes ela queria apenas viver, acordar e tudo ser diferente. E as vezes ela desistia. Como naquela noite.

Era um daqueles momentos em que a morena não sentia nada e sentia tudo ao mesmo tempo.

Um paradoxo sentimental.

Grávidas tem isso, não é?

O relógio já passava das 23h e a morena estava deitada de costas na cama, os olhos encarando hora o teto hora a janela, a casa completamente silenciosa, de forma que mesmo a pista sendo longe, ela podia ouvir alguns carros passando rápido.

Foi depois de um suspiro alto que ela decidiu.

Queria comer algo.

Queria muito.

Queria comer um hambúrguer do Mets com bastante ketchup e batatas.

Ana mirou o relógio e então o celular em cima da cama.

O Mets não entregava em casa, e ela não iria sair àquela hora.

Puxa, mas queria muito.

Tudo bem, aquilo era um desejo então, por causa da gravidez.

A garota mordeu o lado interno da bochecha e se sentou na cama.

Ela tinha um namorado, e iria servir para aquilo.

Christian atendeu no terceiro toque, e Ana roía as unhas do polegar.

— Ana - a voz rouca denunciava que ele estava dormindo.

— Quero comer um hambúrguer do Mets. Não, eu quero dois - foi rápida.

— O quê?

— Quero dois hambúrgueres do Mets. Você pode comprar para mim?

Então Christian finalmente pareceu entender o que ela queria, dando um bufo e voltando a deitar na cama.

— Eu amo você, mas não vou sair essa hora para comprar hambúrguer porque você está a fim de comer - ele murmurou.

— Não que eu esteja "a fim" de comer, eu meio que mataria alguém para isso, na verdade. Eu poderia morrer para comer - ela foi sincera.

Era estranho, parecia uma necessidade.

Deus, ela só queria comer se não nunca mais poderia ser feliz!

— Você está com desejo? - Christian questionou do outro lado, totalmente confuso com as palavras exageradas da garota.

— Sim - ela respondeu rápido. - Isso com certeza é um desejo. E como você é o tio da coisinha dentro de mim, você tem mais do que obrigação em realizar o meu desejo. Porque desejos são do bebê e não da pessoa que está carregando ele.

Ana fechou os olhos com força quando percebeu o que disse.

Aquela era mais uma coisa que havia acontecido. Não era ruim, não era fé forma má, mas Ana chamava o bebê de "coisinha" em seus pensamentos, e às vezes saía em voz alta sem querer.

— Sem pressão, né - Christian ironizou, ignorando a forma que ela falava do bebê.

Ele sabia que não era de um jeito ruim, mas, qual é, imagina ter uma criança dentro de si - da forma que ela teve - fazendo seus hormônios enlouquecerem. 

— Christian, ainda quero comer - Ana falou quando ele não respondeu.

Christian suspirou.

— Ta'! - bufou. - Eu já estava dormindo, eu estou cansado, e você quer me tirar da cama para ir do outro lado da cidade por causa de um hambúrguer - ele fez drama.

A morena revirou os olhos.

— São dois hambúrgueres - corrigiu. - E não esquece das batatas, por favor. Não demora.

— Você está muito mal acostumada, eu não deveria ir - falou, pela audácia da garota.

— Mas você vai porque eu estou pedindo e você não resiste a mim - ela foi convencida.

Christian riu e disse que estava saindo.

Quarenta minutos mais tarde, Ana estava completamente acordada, o desejo ainda ali, não escutava mais os carros na pista, o relógio marcava 00h26min. Uma batida na porta da sacada a fez levar um susto por todo o silêncio em que estava.

A garota se levantou, coçou os olhos e arrumou o cabelo, abriu a cortina da porta para confirmar se era mesmo quem esperava que fosse e então a abriu.

Okay, ela admite, o cheiro de Christian misturado com chuva era incrível, mas o cheiro que vinha do saco de hambúrguer era melhor.

Pelo menos, naquele momento.

— Oi, Romeu - brincou Ana enquanto puxava o outro pela mão. - Nossa, está chovendo muito - comentou enquanto fechava a porta.

— Eu sei - Christian resmungou, balançando a cabeça fazendo o cabelo resmungar água para todo lado.

Ana riu, se afastando pelos pingos gelados.

— Tira essa roupa - falou, voltando a se aproximar, tocando sua jaqueta.

Christian lhe entregou os hamburgueses e a caixa com o copo de coca cola.

A garota abraçou a comida e sentiu o cheiro bom.

— Você é o amor da minha vida - declarou.

— Está falando comigo ou com o hambúrguer? - Christian questionou, retirando a jaqueta.

Ana sorriu e ficou na ponta dos pés para tocar os lábios nos dele num selinho.

— Você, com certeza é você - ela respondeu.

Christian a puxou pela cintura, não a deixando se afastar novamente, os lábios ainda grudados.

— Christian, ta' molhado - reclamou ela, tentando sair dos braços do outro.

Christian se afastou minimamente, tirou a camisa e voltou a apertar Ana contra si.

A garota perdeu o fôlego quando ele a beijou, sentindo-o com a mão em sua nuca e a outra na cintura, o peito frio transpassava para Ana, mas os arrepios provavelmente não eram pelo corpo gelado.

— Hum - a morena resmungou. - Minha comida vai cair - disse ela, virando o rosto para que ele parasse de beijá-la.

Estava começando a ficar tonta.

Christian revirou os olhos e segurou a caixa com o copo.

— Eu estou começando a ficar raiva de hambúrguer - murmurou ele enquanto caminhava em direção a cama.

Ana riu.

A morena se sentou na cama e colocou um dos travesseiros em seu colo, Christian prontamente a ajudou a desempalar tudo o que precisava e quase riu alto quanto a garota deu a primeira mordida.

Os sons de satisfação que vinha de Ana mais parecia que ela estava comento um pedaço do céu e não algo carregado de colesterol ruim.

Porém, mais rápido do que comer os dois hambúrgueres, foi eles saíram de Ana. A garota pareceu vomitar o que comeu no mês inteiro, de forma que deixou Christian preocupado

— Eu não preciso ir para o hospital - disse ela, já na pia do banheiro, limpando a boca.

Seu rosto estava molhado de suor, e sua pele estava mais fria do que o normal.

— Eu estou bem, é que eu comi demais. Os enjoos já pararam, mas eu exagerei.

E como exagerou.

Christian suspirou pela teimosia da morena, mas acatou seu pedido depois que ela escovou os dentes e lavou o rosto, já parecendo mais corada e menos apática.

Ele ajudou a garota a voltar ao quarto e deitar na cama, a luz já apagada, e tudo sendo iluminado apenas pelo abajur.

— Eu tenho que ir, ainda vou trabalhar em algumas horas - disse ele, ajoelhado ao lado da cama, o rosto na direção do dela.

A menina sorriu travessa.

— Durma comigo - pediu.

Christian inclinou a cabeça para o lado e sorriu maliciosamente.

Ana sentiu o rosto ficar vermelho.

— Dormir de verdade, deitar e fechar os olhos. Quer dizer, está muito tarde e não é bom ficar por aí, à noite, perigo e tudo mais.

— Na hora de ir para o outro lado da cidade comprar hambúrguer não perigoso, né? - ele ironizou.

Ana mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça em negação.

— Vai ser melhor, você vai dormir mais. Sem contar que você é o chefe, não importa chegar atrasado - insistiu ela.

Christian olhou o relógio e então de volta para Ana.

A garota sorriu largo quando ele levantou a coberta de cima de si, logo dando espaço para que ele se deitasse.

— Tenho que te dizer: não consigo dormir civilizadamente com alguém - Ana avisou quando ele deitou ao seu lado. - Eu mexo muito e acabo sempre batendo na outra pessoa, ou a empurrando até que caia no chão. Meus pais sempre reclamavam quando eu dormia com eles.

Christian franziu o cenho.

— Pode tentar me manter na cama, por favor? - falou.

A garota balançou a cabeça e se virou se lado, ficando de frente para ele.

— Obrigada por ter feito o que pedi mesmo tão tarde - falou quase num sussurro, o silencio pedindo aquilo.

Christian se virou para ela, deu beijinho em na ponta de seu nariz e sorriu.

— Não precisa agradecer. É difícil dizer não para você.

Ana deu uma risadinha baixa e o beijou rapidamente.

— Isso é porque você me ama - ela disse, convencida.

Christian riu e mordeu o lábio inferior, abriu a boca e voltou a fechá-la.

— Pra caralho - admitiu, logo voltando os lábios para os dela.

Mas tudo muda em um segundo, e em menos do que um também. 

O relógio já passava das 2h, e Ana ainda beijava Christian, até que ele se afastou para olhá-la. Os olhos azuis completamente brilhantes, os lábios vermelhos, as bochechas coradas e o cabelo bagunçado.

Com certeza não existia no mundo uma mulher mais bonita do que Anastacia Steele.

Ainda assim, ele sabia que não era certo ultrapassar os limites com ela.

A vontade era imensa, quase impossível de controlar quando ela estava agarrada a ele daquele jeito, mas era preciso. Ela ainda estava confusa, era uma mudança e tanto em sua vida. E ele tinha que esperar. Não era um sacrifício tão grande assim, nem chegava a ser um sacrifício.

O problema começava quando Ana nem ao menos sabia que estava provocando além do limite de controle. A garota vestia um short curto demais e uma camisa que mais parecia um vestido - ela parecia só ter aquele tipo de roupa para dormir - e tinha uma das coxas por cima da cintura de Christian, quase subindo em cima dele. As mãos do mesmo não eram uma coisa controlável, elas já estavam por dentro da camisa da garota e a outra apertando sua coxa.

— A gente precisa dormir - disse ele, quase voltando atrás.

Ana apoiou o queixo em peito e inspirou o ar profundamente, completamente sem fôlego.

Christian não estava muito diferente.

— Eu não estou com sono ainda - murmurou ela um minuto depois.

Christian riu e segurou em seu queixo, fazendo-a encará-lo.

— Mas nós precisamos dormir - insistiu.

Ana abaixou a cabeça até encostar os lábios nos dele, forçando a língua em sua boca, logo tendo Christian não resistindo a ela novamente.

O beijo era lento e ao mesmo tempo profundo, era sexy e dizia muitas coisas.

Ana se apoiou com o braço ao lado da cabeça de Christian, sentindo a mão quente dele em suas costas, pressionando-o contra si enquanto a outra permanecia em sua coxa. Até que ele a virou de costas na cama, o corpo em cima do seu, tomando cuidado para não colocar o peso em cima dela. Ana levou as mãos ate as costas largas de Christian, deixando a ponta das unhas arranhar de leve a pele enquanto beijava seu pescoço dessa vez. A morena soltou o ar num gemido quando Christian se moveu em cima de si, esfregando o corpo no dela, deixando-a arrepiada e excitada.

Ele voltou a beijar seus lábios, puxando seu lábio inferior com os dentes enquanto subia a mão por dentro de sua blusa, a ponta dos dedos tocando sua barriga, e então seu seio. Ele apertou em cheio, o tamanho perfeito para sua mão. Então desceu os lábios para seu queixo, mordendo de leve com os dentes, logo estava em sua clavícula, e depois sua blusa até deixa-la exposta, nem mesmo ficou apreciando, beijou o seio direito e o esquerdo.

Ana gemeu quando sentiu os lábios dele, colocando uma das mãos na boca para não acordar a casa inteira.

Ela se contorcia enquanto Christian continuava, sem parar por nem um segundo, deixando-a completamente louca. Ele voltou os lábios para sua boca, nem deixando-a respirar, levantando seu joelho até sua cintura, encaixando seus corpos, e Ana já nem sabia mais quem era. Christian se moveu novamente em cima dela, ainda beijando-a, apertando sua coxa e pressionando o corpo contra o da morena.

Ana fincou as unhas em suas costas quando sentiu o membro duro contra sua intimidade, mesmo por cima das roupas, era tudo tão intenso e excitante.

Mas então ele parou.

— Está tudo bem - ela sussurrou quando ele a encarou.

Christian tocou a testa na sua e inspirou o ar profundamente.

— Não dá-  falou num suspiro.

Ana tocou em seu rosto e ele fechou os olhos.

— Por quê? Por que você sempre para? - questionou ela.

Ele voltou a abrir os olhos.

— Eu só quero que você estava certa disso, tenha certeza.

— Christian, eu amo você. 

— Você nunca conheceu outro cara, Ana.

— E por isso você não acredita em mim?

Ela não ia admitir, nem ia der dramática ao ponto de ficar magoada, mas aquilo havia doído. 

— Não é isso, amor, eu acredito em você. E eu também te amo. Eu quero você, não faz ideia do quanto. Mas podemos esperar.

Ana franziu o cenho, ajeitou a blusa e Christian se deitou ao seu lado.

Uau, há um segundo estavam realmente... Quentes, e agora estavam bem frios.

Tudo muda num segundo, e em menos foi que um também.

— É por causa do bebê, não é? - ela murmurou. - Eu sei, é estranho para mim também.

— Isso não tem...

— Claro que tem, Christian. E está tudo bem. Eu não me importo.

Ele a olhou de soslaio e percebeu que ela realmente não se importava, era estranho para ela também, afinal.

— Às vezes parece que nem é verdade, que ele não está aqui. Mas aí eu o sinto se mexendo dentro de mim, ou me fazendo ficar com vontade comer mato.

— Mato?

— É, eu queria muito comer a grama do jardim, mas me controlei. Não vou comer chão de jeito nenhum.

Christian sorriu.

— Eu só quero que isso acabe logo, que ele saia daqui e... Eu não sei.

Ele se virou para e ela já o encarava.

— Do que tem tanto medo?

Os olhos da menina se encheram d'água e seu peito apertou.

— Ainda falta cinco meses. Eu não quero passar mais cinco meses com um bebê dentro de mim, ontem eu estava gostando dele se mexendo. Isso é horrível.

— É horrível você gostar dele se mexer?

— Claro, Christian. E se eu começar a gostar de mais coisas que ele faça? E se começar a gostar dele? Seria uma catástrofe. Ele não é meu para eu poder gostar.

A essa altura Ana não havia mais conseguido segurar as lágrimas de escorrerem por seu rosto. Aquele era o principal medo, aquele era o centro de tudo: ela querer ficar com o bebê.

Ele não era dela. Antes mesmo de saber de todo procedimento, ela já sabia que não era dela.

E nunca poderia ser.

Christian limpou suas lágrimas com o polegar e a puxou contra si, abraçando-a.

Não era como se ele pudesse fazer alguma coisa. O bebê também não era dele, e mesmo que tenha sido uma injustiça sem fim, o bebê também não poderia ser de Ana. E Mia havia feito uma inseminação artificial, em todos os casos, o bebê era de Grace e Carrick.

— Eu sinto muito - sussurrou ele.

Ana passou um dos braços por sua cintura e assim ficou, até que sua respiração se tornou regular.

No outro dia Ana acordou já se espreguiçando. Sua cabeça doía um pouco, provavelmente porque havia chorado, mas não havia mais acordado desde que dormiu abraçada a Christian. Muito clichê, mas era verdade, ela nunca havia dormido tão bem em toda a sua vida. Christian fazia uma diferença e tanto em sua cama. Porém, a garota se virou para o lado e não o encontrou.

O biquinho em seus lábios se formou sem hesitação, ela era manhosa e não gostou de acordar sem Christian se havia dormido com ele. Mas seu sorriso se abriu do mesmo jeito quando percebeu o mesmo sentado na cadeira da escrivaninha, terminando de colocar os sapatos.

— Bom dia - ele saudou.

Ana bocejou e suspirou.

— Bom dia - respondeu. - Eu quero dormir mais - resmungou.

Christian riu e seguiu até ela, se ajoelhado no chão para ficar em sua direção.

— Tudo bem, eu tenho que trabalhar - murmurou, tocando em seu cabeço gentilmente.

A garota balançou a cabeça enquanto coçava os olhos.

— É a coisinha mais fofa acordando - disse ele.

Ana bufou.

Não gostava quando a chamavam de fofa.

— Eu não sou fofa - resmungou.

— É sim - Christian insistiu, beijando a ponta de seu nariz. - Volte a dormir, eu te ligo mais tarde.

— Ta' - a palavra quase não saiu do tão arrastada, Ana quase em seu sono novamente.

Nenhum dos dois estava a fim de voltar ao assunto de ontem, e nem tocar nele, então apenas ignoravam.

Mas quando Christian se levantou, quando Ana fechou os olhos, aconteceu.

Não havia como Ana comparar aquilo, nunca tinha sentido algo parecido, mas provavelmente se assemelhava a uma agulha grossa e grande entrando num ponto específico de seu ventre.

Ela chegou a perder o fôlego e nem conseguiu gritar o som que ficou preso em sua garganta.

Ela apertou com força o travesseiro abaixo de si e mordeu o lábio inferior, quase sentiu o gosto metálico de tanto que enfiou os dentes, até Christian perceber.

Não durou um segundo inteiro tudo aquilo.

— Ana - ele voltou a se ajoelhar ao seu lado.

— Está doendo, está doendo muito - ela levou a mão até a barriga, mais abaixo, onde doía mais do que tudo.

Christian retirou a coberta de cima dela e se assustou com o que viu.

Sangue. Muito sangue.

As coisas mudam num segundo, e podem mudar em menos de um também.

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Notas finais do capítulo

Oooi, terraqueos, tudo de boa? Tudo legal?



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