Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 21
22


Notas iniciais do capítulo

Oiii ♥



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× Capítulo 22 ×

Algumas pessoas fazem com que sua risada fique um pouco mais alta, o seu sorriso mais brilhante e sua vida muito melhor. Christian com certeza era essa pessoa para Ana. A morena todos os dias sentia como aquela ligação entre eles ficava maior, como se acostumaram tão bem um ao outro. Como ele respeitava seus enjoos de sensibilidade, suas esquisitices e sempre ria de seu senso de humor meio arrogante as vezes.

O dia 10 de setembro amanheceu com o sol disposto e feliz, o que foi uma surpresa pois a noite passada até havia chovido. Mas aquele dia estava dando as boas vindas aos vinte anos de Ana, e provavelmente lhe mostrando que dali para frente seria melhor.

Pelo menos era o que a morena esperava após acordar com a luz do sol entrando no quarto por uma fresta da cortina e com uma mão em sua cintura junto a uma boca beijando seu cabelo.

Seu primeiro pensamento fora sua mãe, ela sempre entrava em seu quarto - fosse no hospital ou em casa - e lhe abraçava na cama antes mesmo de acordar; ou poderia ser seu pai, mesmo que não fosse o jeito dele; até mesmo Julieta poderia ser, a governanta sempre fora como uma avó para si.

Mas não era nenhum deles. Ana percebeu assim que a pessoa beijou pescoço de leve e o cheiro entrou por suas narinas.

Aquele cheiro maravilhoso que ele tinha todas as vezes que se viam.

Christian.

O sinal de que seus vinte anos seria um ano bom não era o sol alpino no céu, não era os passarinhos cantando e nem mesmo o arco-íris tão raro que Ana perceberia estar la fora quando saísse de casa. Era Christian. Christian estava em sua vida, ele estava em seu ano. Aquilo fazia tudo ser perfeito.

Como aquilo aconteceu? Quando? Sabe, de repente ele era uma das pessoas mais importantes de sua vida e Ana nem percebeu, apenas aconteceu. Ele foi chegando de mansinho e ficou. E ela queria que ele ficasse para sempre. Não conseguia imaginar sua vida sem ele. Não conseguia nem mesmo lembrar com clareza de como era sua vida antes, era tudo cinza e vazio. Ela não queria mais saber como era acordar sem uma mensagem de bom dia no celular, não queria saber como era não ter ninguém para conversar quando não conseguia dormir, e nem queria mais saber como era acordar sem Christian no dia 10 de setembro.

Ana apenas fechou os olhos e relaxou, sentindo a doce sensação de Christian abraçando-a e distribuindo beijinhos em seu rosto e pescoço.

— Eu sei que está acordada - ele sussurrou em seu ouvido de forma brincalhona e então mordeu o lóbulo de sua orelha, fazendo a garota se arrepiar por inteiro.

Então ele a virou, deixando-a com as costas na cama e fazendo seu rosto se virar para o dele. A garota permaneceu de olhos fechados, fingindo seu sono totalmente fingido pois foi impossível evitar seus lábios de se curvarem num sorriso.

Ela sentiu o corpo de Christian em cima do seu, mas não completamente, ele estava apoiado para que ela não sentisse o peso.

— Você não sabe fingir que está dormindo - ele acusou, os lábios perigosamente perto dos seus.

Os lábios de Ana aumentaram no sorriso.

— Vamos, eu quero seus olhos, eu amor a cor deles de manhã - Christian murmurou e Ana sentiu seu coração encher de emoção.

A garota mordeu o lábio inferior e abriu os olhos em seguida, dando de cara com os tão cinzentos de Christian.

Ele estava maravilhoso como sempre. O cabelo ainda molhado do banho, um sorriso no rosto e os olhos brilhando apenas para Ana.

A morena ainda perdia o fôlego quando percebi que era realmente para si. Era apenas para ela que ele olhava daquele jeito, apenas com ela ele se perdia ser daquele jeito, tão espontâneo, gentil e carinhoso.

Ele a fazia se sentir a única mulher no mundo mesmo que estivesse no meio de um trilhão delas.

— Feliz aniversario, amor - ele sussurrou contra seus lábios dessa vez.

Sabe, o amor de verdade não é algo saído dos contos de fadas, ele exige tempo, exige atitudes e força de vontade. Compreensão. Esforço e comunicação. Ele não vem do nada. Ele é difícil, é complicado de entender, de sentir. Mas com certeza é a melhor coisa do mundo, ultrapassa até mesmo a felicidade. Pois o amor não é passageiro. O amor é tempo longo, é significado de para sempre. Você nunca deixa de senti-lo de verdade. Os anos passam e ele ainda estará ali, te mostrando como ele é pegajoso e importante. E o amor também pode ser um momento. Ele é devagar, mas tem seus lapsos de sentimento tão forte que uma pessoa pode até enlouquecer quando o sente.

E Ana sentiu um daqueles lapsos. Um momento de amor. Com certeza uma coisa tão forte de se sentir, e tão boa que dá vontade de sentir para sempre.

Talvez por isso o amor ou um momento de amor seja tão raro, a rotina é chato, é cômoda e irritante. Se o amor fosse fácil, ninguém o acharia tão importante.

Ana, aos vinte anos - tão nova para uns e velha para outros - sentiu um momento de amor naquela manha do dia 10 de setembro quando Christian a chamou de amor.

O amor também era um momento, e naquele ali, ela amou Christian.

Ana fechou os olhos e permitiu que Christian tocasse os lábios nos seus novamente, dessa vez aprofundando o beijo. Ela levou uma das mãos ao seu rosto e a outra a suas costas, sentiu Christian morder seu lábio inferior e em seguida forçou sua boca a se abrir. Foi então que ela parou, virando o rosto para o lado.

— Qual o problema? - ele questionou.

A garota o encarou e então pressionou os lábios um no outro.

— Eu ainda não escovei os dentes - declarou.

Christian revirou os olhos e riu, se jogando ao seu lado.

— Não é engraçado, é sério. Beijar sem escovar os dentes é nojento - ela murmurou.

Christian apenas riu novamente.

— Sem contar que você está muito saidinho me beijando desse jeito, e ainda sem antes me dar o meu presente.

Ela se sentou e olhou pelo quarto, procurando algum embrulho suspeito.

— Você não colocou debaixo da cama, não é? - ela questionou já se deitando de barriga para baixo e com a cabeça para fora, olhando debaixo da estrutura da cama.

Nada.

A garota voltou a se sentar e cruzou os braços, semicerrando os olhos para a expressão de desdém de Christian deitado em seu travesseiro.

— Quer saber? Eu vou tomar banho, e quando eu sair de lá espero que meu café da manhã esteja pronto e tenha um embrulho do tamanho de uma coleção do Harry Potter lá embaixo - declarou, logo levantando-se.

Christian riu novamente e segurou seu pulso, fazendo-a se voltar contra ele enquanto ele se sentava.

Seu rosto ficou rente a barriga da garota, que naquela manha vestia um short de moletom e uma blusa de regata, fazendo o ventre ficar traço a mostra e ele perceber a protuberância ainda mínima.

Era quase apenas para dizer que havia um ser ali dentro, mas tímido demais para se exibir para todo mundo, fazendo ter que ser visto milimetricamente de perto para ser observado.

Era fofo de qualquer forma.

Ana mordeu o lábio inferior quando percebeu para onde Christian estava olhando e baixou a blusa, cobrindo-a por completo, desconfortável de repente.

Dezessete semanas e ainda não se sentia bem nem mesmo em tocar a própria barriga. E quando ficasse maior? Ou quando começasse a sentir algo lá dentro de verdade? Como iria ser se continuasse tão desconfortável? 

Christian mirou seus olhos e percebeu o incômodo quando a garota soltou a mão da sua.

— Vou tomar banho - disse ela, logo indo em direção ao banheiro. 

Ana tirou a roupa e se limitou a apenas entrar no box, ignorando sua aparência no espelho.

O banho foi rápido, e logo ela estava enrolada na toalha, batendo na cabeça de leve por ter esquecido de pegar uma roupa.

O que ia fazer?

Aparecer de toalha na frente de Christian? Desde os nove anos nem mesmo ficava de sutiã na frente de seu pai, imagina de toalha na frente de outro homem. Se bem que aquele homem já havia até mesmo tocado em seu seio, e também em sua bunda, e não era como se ele nunca tivesse visto uma mulher nua na vida. E ela nem iria aparecer nua, e sim de toalha.

Não era nada demais.

Nada mesmo.

Então ela foi, abriu a porta do banheiro e como quem não quer nada caminhou em direção ao closet.

— Esqueceu a roupa? - Christian falou ainda deitado em sua cama, o tom sarcástico.

A garota bufou e se virou para ele.

— Não, eu só estava pensando em andar de toalha pelo meu quarto antes de colocar alguma roupa - ironizou.

Christian riu.

— Não precisa colocar se não quiser - sugeriu ele.

Ana balançou a cabeça.

— Sou uma garota de respeito - murmurou ela.

Christian sorriu e se sentou na cama, mirando de suas pernas até a clavícula ainda com algumas gotas de água.

Ele nunca imaginou que uma garota de toalha pudesse ser tão sexy - mesmo que ela estivesse emburrada no momento.

— É claro que é. E eu te respeito muito. Na verdade, você é a mulher que eu mais respeito nesse mundo depois da minha mãe.

mãe dele...

Não importava em qual fosse a situação, ela não gostava de falar sobre Grace. Gostava dela, desde o começo havia tido uma certa ligação especial com a mulher, e seria eternamente grata a ela. Mas ela havia a decepcionado também. Fez Ana confiar em si e então a bomba explodiu, e Grace estava bem no meio dela.

— Bom saber disso - comentou a garota por fim e se virou para entrar no closet, fechando a porta atrás de si.

Escolheu um vestido leve e florido por cima da lingerie branca para o dia de sol que via através da janela, colocou suas sapatilhas pretas e penteou o cabelo rapidamente, deixando-o solto e bonito com algumas ondas devido a ter dormido com ele preso. Passou perfume, hidratante e também uma maquinarem leve, colocou brincos e e um cordão de com um pingente fofo de lacinho que não usava ha muito tempo. Se olhou no espelho detalhadamente e piscou para si mesma em aprovação.

Estava linda.

A garota saiu do closet e encontrou Christian observando suas fotos no criado mudo.

— Estou pronta - disse ela, chamando sua atenção.

Christian se virou para a mesma e deu de cara com seu sorriso meigo.

E la estava mais uma mudanças de humor constantes. Ele estava bem acostumado a elas, na verdade, mas ainda assim era engraçada a forma como Ana parecia estar com raiva num minuto e então estava rindo no outro.

A garota abriu as cortinas do quarto e arregalou os olhos quando viu o arco íris bem rente a sua janela.

— Eu estou encantada - declarou.

Christian se aproximou da garota e parou ao seu lado para admirar o arco íris.

— Eu amo arco íris, mas eu nunca os vejo - sussurrou ela, sentindo Christian abraçar sua cintura e logo beijar seu cabelo.

Ana desceu as escadas com Christian logo atrás, seus pais e até seus tios estavam ali, recebeu um feliz aniversario de todos e logo se sentou a mesa para comer.

Estava faminta.

Enquanto comia, recebeu seus presentes, mas nada parecido com uma coleção do Harry Potter - não que ela tenha ressaltado aquilo num sussurro para Christian, seria falta de educação, não é?

Apenas depois das 9h os tios de Ana foram embora, e a garota pôde ir para "sala de cinema" - uma sala com um sofá e uma TV grande - com Christian. E como ela disse que faria, ficaram vendo filmes e comendo pipoca - com brigadeiro para Ana - até as 11h, quando Christian cismou que iriam sair e ela não teve como dizer "não" quando ele disse algo sobre levá-la ao Mets depois.

Apenas recebendo a instrução de pegar um casaco, Ana seguiu Christian para o carro após o mesmo falar com seus pais - e ela nem pôde participar da conversa.

Então, com tanto mistério, a garota estava um pouco irritada quando entrou no Audi preto de Christian.

— Quantos carros você tem? - perguntou ela após cinco minutos de viajem.

O radio estava ligado na playlist de Ana, e música Mercy de Shawn Mendes já havia enjoado para ela.

— Quatro - Christian respondeu.

Ana franziu o cenho.

— Para que tantos carros? - ela questionou.

Christian deu de ombros.

— Gosto de carros - disse simplesmente.

Ana observou a paisagem enquanto ela mudava, o arco íris ficando mais denso e forte, em vez de apagado e menor.

— Para onde estamos indo? - perguntou pela terceira vez.

Christian suspirou e não disse nada.

Ana aumentou o volume do radio e cruzou os braços.

É, ela era mimada mesmo.

Três músicas mais tarde, Ana reconheceu os ladrilhos e enorme ponte do outro lado da estrada que estavam seguindo.

— Estamos na marina - confirmou. - O que estamos fazendo aqui?

— Você vai ver - disse Christian, todo animado de repente.

Ana se virou para ele e sorriu, nem mesmo se irritou com sua resposta. Ele estava feliz, afinal. E ela também estava.

Christian estacionou numa vaga especifica na marina, e saiu do carro logo em seguida, abriu a porta para Ana e surpreendentemente segurou sua mão enquanto andavam até a ponte de barcos.

No caminho, Ana já sentiu o frio bater em sua pele, fazendo Christian força-la a colocar o casaco.

Eles pararam em frente a um barco bonito e luxuoso demais para der chamado apenas de barco.

— Nossa - Ana sussurrou. - Um catamarã. Eu morreria por um desses - a garota comentou.

— Não sabia que conhecia barcos - Christian se surpreendeu.

— Na verdade, eu só sei identificá-los, dar nós e também não afundá-los, ah, e que um catamarã é o tipo de barco que uma pessoa deseja mais do que um Audi R8 branco - disse ela de uma vez.

Christian a puxou pela cintura e a abraçou, deixando seus rostos bem perto.

— Você realmente não para de me surpreender - confessou. - Como eu vou te impressionar agora se sabe de tudo isso?

Ana riu mas então parou abruptamente.

— Como assim me impressionar?

— Eu estava pensando em... Talvez te levar para velejar num barco que você meio que idolatra, e por acaso eu também. 

Ana abriu a boca e se virou para o barco novamente, em seguida de volta para Christian.

— Não é seu - falou.

— Claro que é.

— Não pode ser.

— Mas é.

A garota balançou a cabeça e então sorriu.

— Nós vamos nos casar, nos divorciar e eu fico com o barco - decidiu.

Christian riu.

— Não precisamos nos divorciar para o barco ser seu. Mas eu não abro mão casar.

Brincadeiras e mais brincadeiras... Mas é como dizem, toda brincadeira tem um fundo de verdade.

O grande catamarã estava a deriva no mar, longe dos barcos atracados na marina, e Ana tinha Christian atrás de si, instruindo-a como segurar o timão. Era o final da tarde, estavam prontos para voltar.

E Ana olhou bem para aquela cena, tudo ao ser redor, mas apenas o que via era Christian - nem mesmo a caixa com a nova coleção de Harry Potter na poltrona ao lado ela se importava mais. Ultimamente tudo o que via era ele, na verdade.

A tarde havia sido repleta de risadas altas vindas de Ana, Christian lhe contou sobre sua vida, sobre seus pais e também sobre Mia. E as risadas vinham por causa dela. Ao ouvir sobre ela, Ana não de sentia desconfortável, como achou que seria. Pelo contrario, era como se fizesse parte daquilo, ela queria conhecer Mia, queria ser amiga dela, queria passar noites em claro com ela conversando sobre nada. Mas claro que ela nunca poderia fazer aquilo. Era estranha a forma com que Ana sentia saudades de algo com alguém que nunca conheceu. 

Mas ela achava mais estranho ainda o fato de ter se apaixonado pelo irmão da garota.

Que porra!

Nem era como se pudesse negar, né? Ficava mal só de passar um dia inteiro sem ver Christian. Ela sentia necessidade de contar sobre tudo para ele, e quando não o fazia, parecia estar faltando algo em sua vida.

Sabe, de todos os sentimentos, o amor é o mais complicado. É como se ele tivesse todos os sentimentos do mundo misturado a ele. O amor é diverso, é diferente e é longo.

É um casal de idoso no banco do parque, é um casal do colégio brigando porque não querem terminar, mas não sabem mais continuar aquele relacionamento. É o garotinho no jardim de infância levando uma flor para a "amiguinha". É o menino apaixonado pelo menino. É a menina apaixonada pela menina. E nenhuma dessas faces atrapalha a vida de ninguém. Nenhuma forma de amor foi feita para não caber no mundo. Amar Christian não era errado, não era ruim, e não dificuldade alguma. Era tão fácil amá-lo.

Okay, havia diversas coisas para se pensar, pessoas lógicas precisam ponderar tudo até mesmo num relacionamento. Ana nunca foi uma dessas pessoas. Ela só fazia e sentia.

A garota mordeu o lábio inferior enquanto observava sua mão embaixo da de Christian, enquanto ele já se preparava para ligar o barco novamente.

— Espera - ela pediu.

— Está tudo bem, eu estou aqui, você não vai fazer nada errado - ele garantiu.

Ela riu baixinho. Ele realmente confiava nela, deixava ela fazer o que queria com o que queria.

— Não, não é isso - ela murmurou e se virou para ele. - Eu só... Obrigada, okay? Obrigada por ter feito tudo isso. Foi um dia incrível... Eu só não quero que isso acabe.

Christian sorriu e beijou sua bochecha.

— Já está escurecendo, precisamos ir - falou ele.

— Eu estou falando de nós dois - ela confessou.

Christian inspirou o ar e o soltou lentamente, passou a mão pelo cabelo e mirou a água atrás de Ana.

Eles não conversavam sobre coisas sérias, não era o tipo de coisa que faziam. Quando o assunto ficava sério, eles apenas ignoravam e mudavam a conversa de rumo. Eles não falavam sobre eles dois, porque era um assunto sério, era algo que precisava de decisão, e Ana não sabia decidir as coisas.

Christian não sabia o que dizer a ela sobre aquilo, não podia simplesmente exigir uma conversa, não podia pedir uma decisão de Ana quando ela nunca havia decidido nada.

— O que quer falar de nós dois? - ele questionou.

— Eu sei que não conversamos sobre isso, sobre coisas sérias. Mas é que você está fazendo parte da minha vida. Está ocupando um espaço grande demais para eu não me preocupar em ter alguma garantia.

— Acha que eu vou embora?

— Eu acho que precisamos conversar, só isso - ela rebateu. - Eu sei que status é só status, mas gosto de você e eu acho que você também gosta de mim. Eu não quero não ter certeza da minha vida, e do que está acontecendo nela.

Christian balançou a cabeça e a encarou.

— Ana, você sabe que é só você decidir. Você só precisa me dizer o que quer - ela tocou em sua cintura e beijou sua treta. - E precisa ter certeza disso, porque se você disser sim, não tem mais volta - ele sussurrou.

A garota respirou fundo e então suspirou.

Porra, ela gostava mesmo de Christian.

Ana sempre achou que conhecer alguém, se casar e ter filhos fosse importante, que fosse o pico da vida. Sabe, você nasce, casa e morre.

Mas a verdade é que só é importante quando estamos com a pessoa certa. E são as pessoas que te tiram um sorriso espontâneo nos momentos mais inesperados da sua vida, nas situações tristes apenas porque não suportam a ideia de te ver triste que são as certas. Essas sim são as que valem a pena você se casar, ter filhos e passar o resto da sua vida junto. Você não nasce, casa e morre. Você nasce, se forma, se casa, faz loucuras, descobre coisas, tem filhos - ou não - e vive tudo.

Não necessariamente nessa ordem, e não necessariamente tudo isso.

Porque a vida não tem um roteiro, não tem um contrato que você tem que seguir. Era isso que Christian mostrava a Ana, que ela não tinha uma vida apenas para seguir a dos outros, ela tinha uma para fazer o que queria. Ela tinha escolhas. Esse era o ponto: ela tinha escolhas, opções, e tudo era por conta dela dessa vez. Só precisava decidir o que queria.

Ana sabia o que queria. Isso era uma certeza.

Qual é, quantas garotas de - oficialmente - vinte anos pode dizer que tem certeza do que quer?

Mas saber o que queria nunca foi uma coisa difícil para Ana. Ela pensava em algo, queria algo, então pronto. Não tinha problemas em admitir e querer.

O problema todo era fazer algo para ter o que queria.

Esse era o grande 'e se' da sua vida. Querer algo era diferente de se esforçar para ter.

Mas ela queria demais a vida que estava tendo naquele momento para não se esforçar em ter.

— Christian - ela começou. - Eu tenho vinte anos e passei mais tempo da minha vida num hospital do que os próprios médicos - declarou. - Eu tenho vinte anos e uma cicatriz vertical de dezessete centímetros desde o meu peito até o começo do meu estômago, uma de oito centímetros na horizontal bem no processo xifoide e uma de quatro centímetros abaixo do umbigo. Eu tenho um bebê crescendo dentro da minha barriga e ele nem é meu - ela tocou a própria barriga enquanto deixava uma única lágrima escorrer pelo rosto. - E sabe o que é pior? Eu não fiz nenhuma dessas escolhas, eu não decidi nada disso. A minha vida inteira eu fui guiada pelos médicos, eles quem decidiam tudo. Até o que eu ia comer era eles quem tinham que dizer. Eu nunca escolhi nada na minha vida, eu nunca pude ter uma vida - ela limpou o rosto e mirou o céu. - E eu pensava no transplante como um passe livre para ter uma, mas desde a cirurgia eu não sei o que é fazer as coisas por conta própria - admitiu, olhando-o nos olhos. - E eu não posso decidir ainda. Eu não posso fazer escolhas sem pensar em outra pessoa - ela apertou a própria barriga de forma angustiante. - Eu nunca decidi nem mesmo a hora que eu ia dormir, entende? Você foi a única pessoa no mundo que me deu mais do que opções e não escolheu por mim. Você sempre me pergunta, você me deixa saber e entender o que eu quero. Você não fica dizendo porque eu não posso fazer algo, você apenas me deixa fazer - ela mordeu o lábio inferior e segurou uma das mãos de Christian. - Eu quero isso, okay? Eu quero você. Eu escolho você. E eu nunca tive tanta certeza do que a que eu tenho de que eu quero você na minha vida para sempre - ela mordeu o lábio inferior e limpou as mais lágrimas que escorreram por seu rosto. - Eu sei que somos totalmente diferentes um do outro, mas eu quero tentar com você. Eu nunca me apaixonei por alguém, nunca me apeguei com tanta segurança à alguém tão rápido. Você me dá tudo aquilo que nunca tive, e nem sequer pensei em ter, me fez sentir como se nada mais fosse impossível - ela bufou baixinho e revirou os olhos. - Nossa, eu estou tão apaixonada por você que eu acho que vou enlouquecer.

Para Ana, as coisas sempre foram um pouco literais demais, sabe? Talvez porque cresceu rodeada de médicos, a ciência exata fazia mais parte de sua vida do que as poesias e tudo mais. 

Então, enquanto lia livros sobre amor durante a adolescência, ficava imaginando como seria sentir aquelas sensações metafóricas. Por exemplo,  a mocinha sentindo aquela eletricidade quando toca no cara mesmo mínimo que for o toque, ou quando diz se sentir flutuar apenas porque ele a beijou. Sabe, não tem como sentir choques por ter tocado em alguém simplesmente sem uma boa carga de íons ali, e também não tem como flutuar quando se tem gravidade. E Ana também sempre acreditou que fosse preciso estar sobre as nuvens para poder dizer que está no céu.

Mas ali, naquele momento, percebeu que estava errada. Bem quando Christian tocou seu rosto com as costas da mão e segurou seu queixo com o polegar e o indicador, olhou em seus olhos e se aproximou minimamente apenas para sussurrar algo que Ana jamais imaginou que a faria ter sensações físicas completamente impossíveis.

— Eu amo você - foi sem hesitação.

Ali ela percebeu que tocar o céu nunca teve relação com o quão alto você está, mas, sim, com quem, é sobre o quanto uma pessoa em específico é importante para você. Talvez estar no céu seja a importância que existe no mundo. Talvez o céu seja alguém. Talvez seu céu seja Christian.

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Notas finais do capítulo

Apaixonada tbm estou ♥ e aì, o que acharam desse cap todo revelatorio?



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