Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 19
20


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários, espero q gostem do cap, esse ta grande hein rs ♥



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× Capítulo 20 ×

O que você pensa sobre o perdão? A quem ele beneficia de verdade: quem perdoa ou o perdoado?

Ana achava difícil ter algo bom do perdão em si, ela não sentia um pingo de vontade de perdoar sua mãe. Foi uma violação terrível de seu corpo, e ela sentia aquilo a casa dia.

Os enjoos haviam parado, mas de repente Ana se sentia mais cansada que o normal, e - por agora ou sabe talvez - em sua barriga tinha um pequeno vão que garantia a presença de um bebê em seu ventre a olho nu.

Foram dez dias que se passaram, e naquele momento Ana estava num parque perto do condomínio em que morava. Ela tinha Christian ao seu lado enquanto observava as criancinhas que saíram da escola e com certeza encheram o saco da babá para poderem ir brincar.

A morena havia tido mais uma discussão com sua mãe. E aquele tipo de coisa estava sendo constante em sua vida nos últimos dias. Carla Steele nunca soube respeitar o espaço de Ana e muito menos lhe dar privacidade, não seria agora - que a garota apenas respondia monossilábica às perguntado da mãe - que a mulher iria começar.

Christian e Ana descobriram que gostam de trocar mensagens - na verdade, descobriram que era o único jeito de se comunicarem o dia inteiro sem que atrapalhasse o trabalho dele e bem, Ana não fazia nada em casa. E então eles trocavam mensagens o dia inteiro, e quando a morena mandou um 'sos' sobre estar discutindo com a mãe, Christian saíra mais cedo da empresa e fora encontrar com a garota no parque.

Ana parecia diferente da menina que ele conheceu há semanas no CTI, não de um jeito ruim, mas de repente ela parecia ter a idade que tinha. E mesmo que ainda tivesse aquele sorriso que fazia seu cérebro se enrolar, ela aparentava maturidade, era como se ela fosse mulher agora.

Eles não haviam tocado no assunto do beijo, muito menos chegado tão perto um do outro como daquela vez, mas também não pareceriam dois amigos.

Era engraçada a forma que uma conversa sobre árvores pode se tornar num flerte... Entre eles, se tornava.

Ana deixou um suspiro escapar e Christian a encarou.

— Eu estou ficando com fome - ela comentou.

— Quando você não está? - ele rebateu.

A garota semicerrou os olhos para o mesmo e então bufou.

De qualquer forma ele estava certo. Ela estava sempre com fome ultimamente. E com sono também. Ela parecia um urso panda, apenas comia e dormia.

E ela passou a ter vontade de comer coisas que não comia antes e odiar o que amava. Ontem a noite ela preparou uma tigela de cereal. E ela sempre odiou cereal. Ela comeu peixe empanado no jantar, e ela sempre sentiu repulsa de qualquer comida que vinha do mar.

Efeitos da gravidez.

E naquele momento ela queria comer hambúrguer com muito bacon, da lanchonete do Mets. 

— Eu quero um hambúrguer com bacon - ela declarou. - Do Mets.

Christian levantou uma das sobrancelhas. O Mets ficava há meia hora de carro. Para ele, aquilo era muito longe.

— Por favor - ela pediu. - É o seu sobrinho quem está pedindo - ela chantageou.

E ele, bem, fosse pelo bebê ou por aquela carinha que ela fazia, se levantou do banco e a estendeu a mão para que se levantasse também. 

Aquilo havia se tornado uma brincadeira interna entre os dois, quando Christian ressaltou - tentando descontrair - que ela estava grávida de seu sobrinho e a menina riu, concordando. Ana sempre foi otimista em sua vida, sempre tentou tirar o lado bom das coisas e estar feliz mesmo quando a situação pedia lágrimas. E foi o que ela fez, ela deixou Christian tornar aquilo uma experiência nova que seria resultada em uma coisa boa no futuro.

Uma criança era sempre uma coisa boa, não? 

Mas era apenas Christian quem ela deixava tornar as coisas mais suportáveis, porque as outras pessoas em sua vida não eram ao menos permitidas se referir a gravidez em sua presença.

Ainda eram tempos difíceis aqueles.

Christian conduziu a garota até seu carro enquanto a mesma falava sobre o quanto queria que tivesse batatas e ketchup.

Quando o homem deu partida no carro, Ana já declarava querer um milk-shake grande tambem.

— Como está a empresa? - ela questionou quando pararam num sinal vermelho, decidiu parar de falar em comida pois estava aumentando a vontade. - Não é ruim você sair cedo?

— Está tudo bem, não se preocupe. Quando você é o chefe, ninguém desconta do seu salário - ele brincou.

Ana revirou os olhos.

— Você não é engraçado - ela disse e Christian riu.

Aquela era mais uma coisa que acontecia muito com Ana: seu humor oscilava de um milésimo a outro. Mas para Christian era engraçado, o que a deixava ainda mais irritada.

E a irritação permaneceu até chegarem ao Mets.

O Mets era uma lanchonete muito famosa na cidade, provavelmente por ter o mesmo nome do time de baseball e sempre que tinha o campeonato a lanchonete colocava uma TV enorme na parede para todos verem o jogo.

Aquele era o único lugar que Ana foi que o número de vezes se igualava ao das idas a um hospital. Tanto que o Sr.  Joey - o dono e também chefe da cozinha - já a conhecia bem.

Christian e Ana já foram lá três vezes durante os dias se passaram. Os dois se sentaram numa das últimos meses, perto janela e logo Maria veio atendê-los, o sorriso no rosto e o bloquinho de anotar pedidos em mãos.

 _ Olá, pequena Ana. Sr. Grey. Como vão?

— Bem, obrigada, Maria - Ana respondeu, o bom humor voltando só por ter sentido o cheio de hambúrguer assim que entrou na lanchonete.

— O de sempre? - Maria perguntou.

— Na verdade, eu quero um hambúrguer com muito bacon e cheddar, uma porção grande batatas e também um Milk-shake de morango. Grande, é claro. Ah, me trás também um pedaço de torta de limão e põe calda de chocolate, por favor - pediu, sua boca enchendo d'água só de falar.

Maria foi educada ao apenas franzir o cenho enquanto anotava tudo e então sorriu largo para a garota, logo se virando para Christian que se limitou apenas a uma cerveja.

Ana balançou a cabeça enquanto a mulher saía e mirou Christian com os olhos semicerrados.

— Você está dirigindo - acusou se referindo ao fato do homem ter pedido álcool.

— Acredite eu não vou ficar bêbado - ele rebateu. - Mas você é humana, sabe que tem uma coisa em você chamada colesterol e ele aumentar é algo ruim... E ele aumenta com gordura.

Ana mordeu o lábio inferior.

— Mas estou com muita vontade de comer - falou enquanto mexia no tubo de ketchup em cima da mesa.

Christian não discutiu, e também não abriu a boca quando os pedidos chegaram e a garota nem sabia o que queria que primeiro chegasse ao seu estômago.

Mas enfim pareceu que tudo chegou ao mesmo tempo, e já era noite quando os dois saíram da lanchonete, após Ana ter sido agraciada pelo Sr. Joey feliz em vê-la novamente.

O caminho de volta, direto para a casa de Ana, foi menos silencioso, radio ligado tocava Toxic de Britney Spears e ainda teve ao vivo um coro de Ana Steele.

É, a morena alimentada era a melhor versão dela — pelo menos para Christian era assim.

Quando chegaram ao condomínio, Christian parou o carro ao lado da casa de Ana, pois a garota gostava mais da porta dos fundos que ficava mais perto das escadas para o segundo andar.

Ele realmente não iria perguntar nada!

Os postes luminários já haviam sido acesos, assim como as luzes da casa. A lua crescente no céu estava um pouco escondida pela camada de nuvens negras causadas pelo frio do outono que já se preparava para chegar.

Ana tirou o cinto de segurança enquanto ouvia Christian recusar seu convite de jantar em sua casa pois o mesmo alegava ter prometido que ficaria com os pais naquela noite.

Bem, família era uma coisa que Ana nem mesmo tentava competir. E mesmo que tenha recebido o convite de volta, ela apenas recusou. Aainda não queria ver Grace, ainda não queria aquela aproximação novamente.

Sentia falta da mulher, na verdade, ela era ótima com concelhos e também com indicações de filmes, mas Ana preferia ficar meia hora procurando no Netflix por aquele tempo.

A garota sentiu a mão de Christian em sua coxa e percebeu que havia se perdido em pensamentos mais uma vez.

Ela se virou para o mesmo e sorriu, voltando à vida real.

— Obrigada por ter ido me encontrar, eu estava enlouquecendo aqui - declarou.

Christian sorriu de lado, e ela quis bater no próprio coração por ter disparado por aquilo.

— Não precisa agradecer, eu vou estar aqui sempre que precisar - ele prometeu.

Ela sabia que ele estaria, não tinha como duvidar. Christian havia provado aquilo para valer nos últimos dias.

A morena sorriu novamente e se inclinou até ele, passando os braços por seu pescoço afim de ganhar mais um daqueles abraços em que ele apertava sua cintura, fazia seu peito colar no dela e deixava aquele cheiro maravilhoso grudado em sua roupa pelo resto da noite.

E foi o que aconteceu.

Ela fechou os olhos enquanto sentia seus braços enrolados em si e também seus lábios deixando um beijo em seu cabelo.

E a garota não viu maldade alguma quando por reflexo devolveu o beijo no pescoço do outro. 

Logo ela sentiu os braços em sua cintura tensionarem e a respiração perto de seu ouvido se irregularizar.

O efeito do outro foi para o seu próprio corpo, fazendo-a se arrepiar por inteiro.
Ela sentiu seu rosto corar sem nem saber porque e apenas se afastou, porém Christian não a soltou, deixando seus rostos a centímetros um do outro.

Ana sentiu vontade de beijá-lo e aquela vontade não tinha nada a ver com a gravidez.

Ela sentiu vontade... E bem, de repente ela já estava o beijando.

Pode ser contado como um efeito colateral da gravidez a não pensar antes de suas ações?

Ana sentiu seu cérebro desligar racionalmente quando Christian retribuiu o beijo. A garota entranhou os dedos em seu cabelo macio e puxou os fios levemente quando Christian fez mais pressão em sua cintura.

Aquele beijo era diferente do primeiro. Talvez porque ela não estivesse tão nervosa quanto antes ou porque a atmosfera do lugar também era diferente. Sabe, eles estavam dentro de um carro com as portas trancadas e os vidros cheio de insulfilme de forma que nem alguém com um canhão de luz poderia vê-los, à noite, sozinhos.

Nem mesmo Ana, com sua essência inocente, conseguia não pensar naquela situação de forma inocente.

Mas também podia ser apenas os hormônios.

Okay, com certeza eram os hormônios.

Ana, jamais, em sã consciência hormonal simplesmente iria sentar no colo de Christian dentro daquele carro.

Mas ela sentou, e nem se preocupou em reprimir o gemido que saiu de sua garganta quando o mesmo desceu uma das mãos por sua coxa e apertou com vontade, trazendo-a para mais perto de si e pressionando para baixo.

As bocas se afastaram quando precisaram de ar, mas Christian levou os lábios para o pescoço da menina, deixando-a louca quando chupou um lugar em específico.

Ana mordeu o lábio inferior com força e involuntariamente rebolou no colo de Christian quando sentiu prazer em provavelmente ter sido marcada no pescoço. O mesmo levou uma das mãos a sua bunda e apertou, levando a outra mão a sua nuca, trazendo sua boca de volta a própria e beijando-a. 

Christian, apesar de forte, era gentil. Ele apertava Ana nos lugares certos, mas não com força suficiente para marcá-la com as mãos. O que não podia ser dito do pescoço da menina, pois sua boca fez um estranho no local, mas nenhum dos dois se importava. Ainda mais Ana, que parecia ter literalmente desligado o filtro que ligava seu cérebro ao que acontecia ao seu corpo.

Ela tinha sua bunda apertada, seu cabelo sendo tirado do lugar para que não atrapalhasse a boca de Christian sem ombro agora e tinha suas próprias mãos abrindo os botões da camisa do mesmo. Aquilo era o paraíso para ela naquele momento.

E Christian não podia concordar mais. Ele sentiu Ana rebolando em seu colo novamente, seu membro já duro com todo aquele movimento e os gemidos que Ana soltava toda vez que ele a apertava ou marcava com sua boca. Aqueles sons só o incitava mais.

Ana sentiu a mão de Christian por dentro da sua camisa, e então em seu sutiã, logo o apertando, e também entrando dentro do mesmo. A garota mordeu o lábio inferior de Christian, pois seus seios estavam sensíveis e qualquer toque a deixava a flor da pele.

Ela teve de parar de abrir os botões de sua camisa quando chegou ao terceiro pois não tinha concentração para nada quando ele voltava a beijar seu pescoço.

Ela fechou os olhos e sentiu a trilha de beijos até seu ombro assim como o membro duro embaixo si ficando maior.

Não era coisas que já havia sentido na vida, nunca, e nem mesmo havia imaginado. Mas ela não estava ligando para a inexperiência ou qualquer coisa do tipo naquele momento.

Quando Christian passou a morder de leve seu maxilar, ela desceu as mãos por seu peito, quando sentiu os lábios de volta nos seus, os dedos tocaram de leve o cinto da calça.

E quando ela tocou de verdade a peça, com a intenção de abri-la, Christian pareceu acordar. E contra a vontade - aquilo ficou tão claro quanto água - ele segurou suas mãos.

Ana interrompeu o beijo e o encarou.

Ofegante como nunca havia ficado e com os lábios mais vermelhos do que um morango bonito, ela tentou respirar antes de falar.

— É melhor a gente parar antes que você se arrependa - ele disse, interrompendo a fala que nem havia sido proferida pela menina.

— Mas... - ela tentou protestar.

— É, sério, Ana, eu não acho que você queira que a sua primeira vez seja dentro de um carro - ele comentou gentilmente.

A garota mordeu o lábio inferior.

Ela sabia que se insistisse mais um pouquinho, ele faria o que ela quisesse. E ela queria, sabe. 

Naquele momento ela queria tudo. Mas quando ele passou a segurar suas mãos com apenas um das suas e tocou seu rosto de forma delicada, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, ela parece ter seu cérebro religado. Ela queria naquele momento, mas e depois? Christian estava certo, ela não queria ter sua primeira vez dentro de um carro.

E, bem, ela gostava de Christian, gostava demais. Mas eles só se beijaram uma única vez, e então teve aquele momento no carro. Ela já estava pronta para dizer que era ele quem ela queria lembrar pelo resto da vida sobre ter tocado seu corpo de forma tão intima pela primeira vez?

Não é que tem uma idade para aquilo, mas tinha uma certeza, tinha aquela duvida que não deveria ter. Sexo era uma coisa nada banalizada na concepção de Ana, não era algo para se fazer tendo dúvidas.

Ela deixou que ele fizesse carinho em seu rosto e beijasse seu queixo de leve antes, acariciasse seu cabelo... Ela deixou tudo aquilo antes de a vergonha começar a bater.

Seu rosto ficou mais vermelho que seus lábios quando de beijaram, e seu coração pareceu apertar de forma preocupante quando ela repassou toda a situação em sua cabeça.

Ela havia simplesmente se jogado em cima de Christian, beijado, sentado em seu colo, feito coisas que ela não queria dizer os nomes nem em pensamento pois não tinha como seu rosto ficar mais vermelho e então BAM ela havia tentado abrir a calça dele.

A vergonha de Ana naquele momento estava com vergonha da menina.

A garota encarou o teto, parou de respirar e se pôs a sair do colo do homem.

Era o mínimo que ela podia fazer antes de enterrar a cabeça no gramado ao lado de sua casa.

Mas Christian a segurou, tocou seu queixo com o indicador e o polegar e levantou até que os olhos dos dois estivessem frente a frente.

Puxa, a última coisa que Ana queria naquele momento!

— Não fica assim...

— Eu vou sentar no banco - ela disse, o olhar já desviado para a janela.

— Ana, olha para mim.

— O banco está aqui do lado - ela pautou.

Christian sorriu. De qualquer forma era fofa a timidez da morena.

— Hey - ele sussurrou, os lábios tocando seu maxilar quando a garota voltou a virar o rosto para o lado. - Não precisa ficar assim, é completamente normal. E foi bom... Muito bom, na verdade.

Ana fechou os olhos com força. Christian não estava ajudando muito.

— É, sério, Christian, é melhor eu...

— Olha para mim - ele pediu mais firme, dessa vez pegando seu maxilar e virando seu rosto para ele, deixando-a mais perto por ao mesmo tempo ter puxado pela cintura.

Ele não forçava, apenas a segurava, de forma que ela não conseguia se mexer. Mas Ana sabia que era só pedir que ele a soltava... Ela queria pedir não queria?

— Para com isso, para de pensar que o que fizemos é coisa de outro mundo - ele disse sério, ainda assim completamente gentil e delicado. - Porque não é. Se você gostou e eu também, não tem nada para ser errado. E acredite, eu realmente gostei disso.

A garota revirou os olhos e bateu de leve em seu ombro, mas deixou que ele a abraçasse.

No mesmo segundo, o celular dentro da bolsa de Ana tocou. E ela sabia que era sua mãe. Provavelmente não vira o carro de Christian ao lado da casa.

Deus, sua mãe estava bem ali e ela fazendo coisas que não deveria bem ao lado.

A garota sentiu o rosto voltar a ficar vermelho, mas Christian não percebeu pois estava pegando sua bolsa para que pudesse seu celular.

A morena pegou o aparelho, desligou a ligação - que realmente era de Carla - e mandou uma mensagem com 'já to casa' apenas.

Ela encarou Christian por vontade própria dessa vez e engoliu em seco.

Ele sempre era tão bonito, mesmo com o cabelo bagunçado e tudo mais. Aquilo fez Ana pensar em como ele era na hora de acordar.

Não, ela não pensou sobre acordar com ele ou dormir com ele...

Okay, Ana, você precisa entrar em casa.

— É melhor eu ir - disse. - Antes que minha mãe venha aqui e me trate como criança novamente - ela bufou.

— Isso nós sabemos que você não é - ele foi sarcástico.

Ana bufou novamente e saiu de seu colo, dessa vez conseguindo.

— Até amanhã. Vamos nos ver amanhã, não é? - questionou.

— Com certeza - ele garantiu.

A morena balançou a cabeça e tocou a maçaneta, a bolsa e o celular em mãos.

— Me manda mensagem quando chegar na casa dos seus pais - pediu.

— Pode deixar - disse ele.

A garota abriu a porta e antes que saísse Christian voltou a falar.

— Eu não ganho um beijo de boa noite? - falou ele.

Ana se virou e levantou uma das sobrancelhas.

Alguém havia ficado abusadinho aqui!

A morena sorriu cinicamente e se inclinou, beijou sua bochecha, mas é claro que foi segurada antes de se afastar, ganhando um beijo na boca e risadinha de Christian em seguida. Ela revirou os olhos mais uma vez, mas Christian pôde ver seu sorriso antes dela fechar a porta do carro depois que saiu.

Como um coração pode ser quebrado e continuar funcionando? Era mais figurativo do que literal, mas ainda assim era uma boa pergunta para Ana.

Naquela noite a garota entrou em casa e ouviu o carro de Christian sendo ligado novamente, logo o som do motor estava longínquo e ela subiu as escadas, fazendo questão de fazer barulho para que sua mãe percebesse que ela estava em casa, mas foi direto para o quarto para que a mulher não a parasse com a intenção de conversar / ter outra discussão.

Ana entrou no quarto, deixou o celular na escrivaninha e jogou a bolsa na cadeira da mesma, sentou na beira da cama e suspirou.

O que havia acabado de acontecer com ela?

A garota se perguntou antes de se jogar na cama de vez.

O sorriso em seu rosto foi inevitável e ela passou o indicador pelos lábios. Ainda podia sentir a sensação dos beijos; tocou seu pescoço, seu ombro. Com o rosto ficando vermelho enroscou a barra da camisa nos dedos, lembrando-se das mãos de Christian adentrando-a.

Se sentia diferente. Como quando ele a beijou, e ela sentiu como se nunca mais fosse ser a mesma. E não foi. Tinha a mesma sensação naquele momento.

Levantou-se e foi até o closet, olhou-se no enorme espelho de corpo inteiro e admirou-se. Seus olhos estavam muito brilhantes, sua pele completamente corada e seu cabelo bem bagunçado. Ana passou a mão pelos fios castanhos e penteou com os dedos, logo colocou-os para um único lado e então seus olhos se arregalaram.

— Ai, meu Deus! - sussurrou para seu reflexo.

A garota parecia ter levado uma surra de tantas manchas roxas em seu pescoço, descendo para o colo e também em parte de seu ombro - percebeu quando desceu a manga da camisa.

Ela lembra de sentir Christian fazendo aquelas coisas, mas também lembra de nem se importar pois a sensação da boca dele em sua pele era mais importante do que se tocar que não era legal ter manchas daquela forma em seu corpo.

Mesmo que não fossem grandes nem tão fortes, provavelmente na manhã seguinte já estariam vermelhas e à noite já quase desaparecidas, ainda assim era uma coisa vulgar - pelo menos para Ana.

Mas, enfim, a garota balançou a cabeça e apenas sorriu novamente.

Havia uma áurea boa ali que era impossível ser retirada.

Ana se virou e caminhou em direção ao banheiro, precisava de um banho.

A garota colocou o celular plugado na caixa de som que já ficava na bancada de mármore da pia e ligou a playlist 'de banho', tirou toda a roupa e decidiu por uma ducha, nunca gostou de banhos em banheiras. Primeiro porque era meio nojento ficar na própria sujeira por mais relaxante que fosse, segundo porque todos os filmes de terror em que alguém morre no banheiro é exatamente na banheira.

Então ela enrolou o cabelo num coque bem alto, entrou no box e ligou o registo, logo sentindo a água quente em seus ombros e então no resto do corpo. Ela fechou os olhos e apenas sentiu a água em suas costas ao som de The a Team de Ed Sheeran. 

Era tão relaxante.

Ana passou a esponja pelo corpo e a parou em sua barriga, olhando para a mesma quando sentiu o volume mínimo. Era realmente mínimo mesmo com quinze semanas.

Ela não havia sentindo nada chutando dentro de si, a Drª. Greene dissera que ela poderia começar a sentir alguns movimentos pequenos na barriga pelo bebê estar com soluço, mas não havia sentido nada ainda.

Era uma coisa boa, não queria passar pelo processo de sentir fisicamente, não queria sentir tanta mudança dentro de si, já bastava os sintomas.

A garota gostava do bebê, não a leve a mal, adorava seu coração rápido, mas ainda era tudo novo, era tudo uma coisa repentina e sem volta que ela precisava se concentrar em não surtar toda vez que pensava sobre.

A morena passou a esponja gentilmente pela barriga e então se voltou para o resto do corpo. Seu banho durou exatos quinze minutos inteiros, quatro músicas e meia para ser mais preciso, e então ela se enrolou numa toalha e saiu do banheiro direto para o closet. Colocou um pijama de shorts e camisa larga e se pôs a pentear o cabelo.

Uma batida na porta a fez se assustar pois ainda estava concentrada em não pensar no bebê de Mia - pensando nele.

A garota mordeu o lábio inferior e colocou o cabelo todo para frente, tendo o cuidado para não deixar nenhuma mancha a vista, disse um 'entre' para quem quer que estivesse na porta e se levantou, de volta para a cama.

Era sua mãe.

Carla e Ana eram como duas estranhas em casa quando não estavam discutindo. Geralmente discutiam por Carla continuar com sua mania de dominar a vida de Ana e a garota não deixar mais. 

Naquele momento Carla tinha uma expressão nada boa enquanto olhava para Ana, desconfiada.

— Não acha que chegou um pouco tarde? Eu sei que resolveu que agora ninguém mais manda em você, mas isso não significa que pode fazer o que quiser sem dizer a ninguém.

Ana bufou baixinho.

— Eu não estava fazendo nada, estava com o Christian no parque, já que quer tanto saber - comentou ela petulante.

Sabia que era totalmente infantil aquela forma de agir, mas era tudo tão inevitável quando se tratava das outras pessoas ultimamente.

— Eu sei que está com raiva, foi muito errado o que fiz, mas eu ainda sou sua mãe e você é minha responsabilidade, me deve satisfações...

— Com raiva? Eu não estou com raiva, isso já passou há muito tempo. Eu estou chateada, mãe. Parece que não sabe a gravidade do que fez, não entende. A senhora colocou uma criança dentro de mim, e não me disse nada, não me perguntou se eu queria. E se eu não quisesse ter filhos? Se eu nunca quisesse ficar gravida? A senhora não pensou nisso, não pensou em mim, na verdade...

— É claro que pensei em você. Eu pensei em como me senti a vida inteira, a ameaça de perder você... Eu sabia como Grace estava se sentindo, e ela tinha uma oportunidade de salvar um pedaço da filha. Eu não podia tirar isso dela.

Carla já chorava a essa altura, mas Ana não sentia nenhuma vontade dos olhos arderem, não havia nem mesmo um nó em sua garganta.

— Você não entende mesmo, não é? Não entende que o problema não é tê-lo dentro de mim, é ninguém ter me pedido permissão para colocá-lo aqui! Você destruiu a confiança que eu tinha na senhora, e para nada, porque se tivessem me perguntado, eu teria concordado. Mas você preferiu não se importar com a minha opinião, achando que eu tenho que acatar tudo o que quer. Eu já tenho dezenove anos, mãe, e acredite, você não vai mais controlar a minha vida desse jeito. 

— Filha...

— Por favor, eu quero ficar sozinha agora.

Ana ainda não sentia o nó na garganta nem o famoso aperto no peito, mas ela desconfiava que dali há alguns minutos, tudo o que ela iria sentir era o desmoronamento do seu coração se quebrando.

Pela primeira vez na semana sua mãe e ela não estava gritando uma com a outra, o que era pior. 

Decepção sempre seria pior do que raiva.

— Meu amor...

Ana podia ver que não havia arrependimento, havia culpa, remorso, mas ainda assim, sua mãe faria tudo novamente.

— Eu entendo, eu entendo o que esteja sentindo agora... Mas isso vai passar, e logo vamos...

— Não, não vamos. E isso nunca vai passar. Nunca vamos voltar a ser as mesmas porque eu não confio mais na senhora - a morena mordeu o lábio inferior enquanto sua mãe deu um soluço. - Me desculpa, mas eu não acho que algum dia vou voltar a confiar - seu tom foi gentil, mas triste de qualquer forma, verdadeiramente honesto.

Ana desviou o olhar e logo ouviu a porta do quarto bater, voltando os olhos percebeu que sua mãe havia ido embora.

Ela amava Carla, Deus, era sua mãe, ela não acha que alguma coisa no mundo seria capaz de fazê-la mudar aquele sentimento. Ela sempre fora sua melhor amiga, a melhor mãe do mundo, sempre protegendo Ana ao extremo. A pessoa que Ana faria qualquer coisa. A morena sabia que nunca conseguiria viver sem ela. E talvez aquilo, aquele amor infinito e a confiança sem limites que sempre depositou em sua mãe, a fez se decepcionar tanto. Ela estava muito alto, entende, e a queda foi longa.

Era muito difícil você perdoar alguém que amava, pois era a pessoa que você nunca imaginou que te machucaria. Era a sua própria mãe!

A garota pegou o celular em cima da escrivaninha e desbloqueou a tela, uma mensagem de Christian avisando que chegou.

Ana sentiu o aperto no peito e a droga do nó na garganta.

Uma pessoa que não a conhecia a vida inteira, e ela conseguia confiar mais do que na que lhe deu a vida.

Ana sabia que o coração de Mia dentro de si estava perfeitamente bem, batendo normalmente, mas ele não estava inteiro.

Então, como um coração pode ser quebrado e continuar funcionando bem?

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Notas finais do capítulo

A deusa interior dela acordou, monamour, pq eeeente do céu, o espírito da safadeza pegou Ana nesse capítulo haha,, mas também com um homem desses, q Deusa não acorda?? #adoro eu só queria estar no lugar dela neste cap ;) Enfim, até maaais



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