Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 17
18


Notas iniciais do capítulo

voltei ;)



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× Capítulo 18 ×

Ana ainda estava em êxtase com o que aconteceu naquela tarde. Seus lábios permaneciam dormentes como se ainda tivesse outra textura sobre eles. A garota tocou-os delicadamente, como se qualquer gesto brusco pudesse quebrar o encanto do o que quer que estivesse prendendo-a naquele transe.

A morena encontrou Grace no meio do corredor para o seu quarto, e a mulher parecia nervosa enquanto mexia no celular.

— Grace, tudo bem? - questionou a morena.

A mulher finalmente pareceu notar sua presença.

— Ah, querida, sim, claro - respondeu com seu sorriso habitual para Ana.

— Algum problema? - a menina insistiu.

— Nada preocupante. Mas então, você e Christian conversaram?

Ana sorriu automaticamente, e Grace sentiu o coração se encher de alegria.

— Sim, nós conversamos - Ana murmurou, tentando controlar o coração ao se lembrar do beijo. - Está tudo bem, eu acho - disse a garota.

Grace franziu o cenho.

— O que houve?

— Minha mãe apareceu, acho que ela está conversando com o Christian agora. Não sei se isso é bom - ela riu de nervoso.

Grace sorriu.

— Ela só deve estar querendo saber as infeções dele com a filha dela - disse a pediatra logo em seguida dando uma piscada.

Ana mordeu o lábio inferior e sentiu o rosto corar de vergonha.

— Não tem nada acontecendo...

— Eu vi o jeito que ele olhou para você e a forma em que você falou dele... Acredite, tem muita coisa acontecendo aí. Eu conheço meu filho, e eu nunca o vi assim antes.

Ana sentiu o coração disparar com aquilo. Ainda era nova a sensação de poder tê-lo disparando sem o risco de uma arritmia de repente. Era bom de qualquer forma. Era bom poder sentir todas aquelas coisas que o coração nos proporciona em relação aos sentimentos.

Ele era tão além de apenas bombear sangue para o nosso corpo, finalmente Ana podia sentir aquilo com absoluta certeza.

— E eu torço muito por isso - Grace completou, e se Ana estava vermelha antes agora ela é um tomate em forma de garota.

— Ai, Deus! - a morena cobriu o rosto entre as mãos e ouviu a risada de Grace.

— Mas agora eu tenho que ir - disse a mulher com um suspiro. - Uma urgência no hospital, e eu só vim mesmo para saber como você estava, querida.

Ana balançou a cabeça e aceitou o abraço carinho que Grace lhe deu.

— Espero que fique tudo bem - disse a morena enquanto se afastava do abraço.

— Vai ficar - Grace garantiu, tocou seu rosto gentilmente e pôs a seguir pelo corredor em direção às escadas.

Ana continuou seu caminho até o quarto dos pais, a procura de seu notebook que havia ficado ali pois ela e sua mãe decidiram passar a manhã vendo filmes.

A garota não tinha esperança de que Christian continuaria ali, ainda mais com Grace indo embora, então apenas torcia para que ele voltasse... Que ela voltasse a vê-lo como o mesmo prometeu.

Era ingênuo ela acreditar nele?

Com certeza.

A garota entrou no quarto dos pais e não viu o notebook na cama, procurou na escrivaninha e nada, só então foi até o closet e o avistou na bancada.

O que o aparelho editava fazendo lá, a garota não fazia ideia, mas apenas o pegou.

Com uma gaveta em especial, com tranca, aberta, Ana viu sua curiosidade extrapolar os limites.

Era o quarto de seus pais, e se algo estava numa gaveta com tranca, com certeza não era algo que era para ser visto por alguém além deles.

Ana morde o lábio inferior e torceu para que não fosse nada constrangedor em relação aos pais quando escancarou a gaveta. Mas o que tinha eram papeis - muitos, verdade. E o que interessou mais ainda à Ana, era que aqueles papeis eram endereçados a ela.

Estava claro que eram relatórios médicos, o seu nome no nome de cada um. Sempre. Ana perdeu o interesse em muitos quando encontrou palavras que nem conseguia pronunciar corretamente. A morena voltou a guardá-los, mas o desastre em pessoa apenas derrubou alguns papeis mais grossos no chão.

Ana ainda não podia se abaixar, não podia subir escadas o tempo todo e nem mesmo ficar num lugar sozinha com a porta trancada. Ela havia passado por uma cirurgia, afinal.

Mas a garota não podia esperar sua mãe voltar para pegá-los, ela nem devia vê-los na verdade.

Então a morena se abaixou devagar e pegou os papeis. Os mesmos na verdade eram radiografias. Ana não faz ideia de quantas já tirou em toda a sua vida, e ela já não aguentava mais ouvir o quanto aquilo era perigoso para alguém passar muitas vezes. Ana já viu seu coração do lado de dentro mais vezes do que qualquer pessoa no mundo, com certeza. Mas aquela radiografia não era de seu coração. As palavras 'placenta' e 'saco gestacional' iluminou sua cabeça para perceber que era uma ultrassonografia, e não uma rádio.

Havia claramente um bebê ali, os braços e os dedos já formados, a cabeça bem proporcional ao corpo. Ele media 2,6 cm e pesava 2,3g. Linhas abaixo da imagem mostrava os batimentos cardíacos. Era rápido, mal era possível ver as contrações e dilatações em sequência.
Podia ser coisa da sua cabeça, mas aquilo fez o seu próprio coração bater mais rápido.

Mas confusão era tudo o que Ana era naquele momento pois o seu próprio nome estava preenchido na lacuna de paciente.

Como aquilo poderia ser dela? 

Entre não deixar sua mãe saber que ela mexeu em suas e apenas ouvir um sermão, mas ter uma resposta, Ana ficou com a segunda opção. E assim a garota saiu do quarto, a ultra na mão, ainda mirando a imagem arritmada em que mostrava os batimentos do bebê. 

Ana desceu o primeiro degrau, e chegou até a metade da escada, e talvez - com certeza - por estar tão absorta em seus pensamentos e em possíveis respostas da sua mãe, a arte de ser desastrada a pegou novamente, fazendo-a tropeçar no próximo degrau e cair por todo o resto da escada.

A garota já havia apagado antes de chegar ao chão.

Sabe, com quatro semanas e três dias em casa depois de um longo tempo num hospital, Ana nem se lembrava mais de como era sentir o cheio de desinfetante e como era deitar na cama de um dos quartos do lugar. Mas podia passar anos sem sequer entrar em um hospital, e ela nunca se esqueceria de como era o som do bip irritante de um coração. Bom ou estragado, aquele negócio era uma dor de cabeça.

A morena abriu os olhos e encarou o teto branco.

— Claro que tinha que ser branco - sussurrou.

— Amor - era sua mãe. 

Carla Steele tinha o rosto inchado e vermelho, provavelmente de tanto que chorou, os olhos pequenos já.

— Nunca mais faça isso comigo, eu quase tenho um enfarte - ralhou a mulher de forma carinhosa.

— Me desculpa, mãe, tropecei - sussurrou a garota.

— Filha, precisa tomar mais cuidado - seu pai quem falou dessa vez e só então a garota percebeu que o mesma estava ali também. 

Ana sorriu minimamente.

— Eu estou bem? - questionou.

Ray riu baixinho e beijou sua testa.

— Está sim.

— Mas vai precisar ficar em observação essa noite, para o caso de ter batido a cabeça - sua mãe informou. - Ai, meu Deus, vamos precisar colocar trava de segurança naquela escada.

Ana revirou os olhos.

Sua mãe sendo exagerada como sempre.

— Mãe, eu não tenho três anos. Eu apenas tropecei, acontece. Eu não estava prestando atenção.

E aquele pensamento a levou de volta ao que aconteceu. Ela tropeçou por não estar prestando a devida atenção na escada, por causa da ultrassonografia que encontrou.

A garota mirou a mãe e nem precisou dizer nada para que Carla travasse.

Ela sabia que Ana sabia.

Ray era sempre muito calmo e na sua, brincalhão também de um jeito que conseguia um sorriso de até mesmo em seus piores dias. Ele era honesto ao extremo e tão sincero que podia ser considerado rude por alguns. O homem nunca seria capaz de mentir.

Como todo filho, Ana conhecia os próprios pais já que passou a vida inteira com eles. Era uma coisa horrível de se dizer, mas ela podia afirmar com toda a certeza - e também tristeza - do mundo, que sua mãe sim seria capaz de mentir - até mesmo para a própria filha 

— Papai, pode me trazer algo para comer? Estou com fome - a garota pediu.

— Tudo bem, acho que você pode comer alguma coisa, não houve nada sério - o homem comentou e lhe deu mais um beijo na testa.

Ana inspirou o ar profundamente enquanto via seu pai já saindo do quarto.

— Eu tenho que avisar a Grace que você acordou, meu amor - sua mãe começou, e Ana sabia que era para fugir de qualquer assunto que a garota fosse começar. - Ela está bem preocupada, só foi embora quando o doutor disse que...

— Eu quero saber porque o meu nome estava naquela ultra - Ana disse calmamente.

Carla apenas olhou para o celular, provavelmente procurando o numero de Grace, mas ela estava nervosa e já havia passado por ele duas vezes.

— Mamãe - Ana chamou urgente. - Eu quero saber.

Carla suspirou e bloqueou a tela do celular, e ainda sem olhar para a filha, falou:

— O que exatamente você acha que é aquilo?

Ana levantou as sobrancelhas.

— Eu não sei, me diz a senhora. Com certeza sabe mais do que eu - a garota rebateu.

— Não é nada importante - Carla deu de ombros, olhando sem preocupação para a TV ligada no mudo.

Uma coisa era certa: sua mãe podia mentir, mas ela não era tão mal caráter a ponto de olhar na cara da própria filha e continuar com suas falsas verdade.

— Olha para mim, mãe - pediu a garota.

Seu pedido não foi atendido.

Ana se sentou na cama, só então recebendo a devida atenção de Carla que a ajudou no processo. E a morena segurou sua mão e tocou seu rosto para que ela não desviasse o olhar.

— Mamãe, eu não sou mais uma criança. Eu tenho o direito de saber sobre mim, eu sei que só quer me proteger, mas eu posso aguentar. Me diz o que está havendo - pediu.

A morena sentiu o coração apertar e o bip no monitor irregulou por alguns segundos quando viu lágrimas descendo pelos olhos de sua mãe. 

Daquela vez, Ana sabia, não era por ela que a mãe estava chorando.

— Eu sinto muito, meu amor... Eu sinto tanto... E-eu não sei porque eu fiz aquilo, eu devia ter te contado... Eu... - ela chorava agora sem parar, abraçada a Ana delicadamente.

A garota passou as mãos gentil pelo cabelo da mãe, não entendendo uma palavra sequer do que ela falava, mas apenas deixando ir.

— Está tudo bem, mamãe. Vai ficar tudo bem, seja o que for - garantiu.

Demorou longos minutos até Carla de recompor.

E quando aconteceu, Ana a encarou com um sorriso leve e encorajador.

— A senhora está gravida, é isso? Mas colocou o meu nome para ninguém saber? - questionou.

Aquela era a única justificativa vil em sua cabeça - e com certeza para o resto do mundo também. Sua mãe não queria contar para ninguém, não queria que ninguém soubesse ainda, então pode ter colocado o nome de Ana em tudo para não ser descoberta.

Uma outra coisa que Ana iria querer saber: por que sua mãe iria esconder?

Mas a garota não se importava muito com aquela parte, sua mãe os motivos dela. E na verdade Ana já estava sorrindo com o pensamento de ter um irmãozinho.

— Está tudo bem, mamãe. O papai vai gostar. E eu também - garantiu, mas Carla apenas pressionou os lábios um no outro.

Ana parou de sorrir.

— A senhora está gravida, não é, mamãe? - tentou novamente.

Carla respirou fundo e olhou em seus olhos diretamente - pela primeira vez em toda a conversa.

— Não, filha, eu não estou grávida. Você é quem está.

× ×


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Notas finais do capítulo

Agora fedeu-se!
Mas coisas ruins a parte...Owwwn gostei tanto desse cap, quanto do outro que já estou escrevendo, revelações estão para chegar, adoro vcs ;)



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