× Capítulo 9 ×

Ficar feliz pela morte de uma garota de vinte e quatro anos era um humor negro terrível, mas Ana não se importava com esse lado. Ela passou sua vida inteira esperando por aquilo - por um coração, não pela morte de outra pessoa, mesmo que na teoria isso não tivesse diferença alguma.

Ana entrou no pré-operatório no mesmo minuto que seus pais lhe disseram que o transplante seria no outro dia, o Dr. Jackson entrou em seu quarto logo em seguida.

Era tudo agitado e ao mesmo tempo calmo. Metade do hospital estaria na sala de cirurgia, estava previsto dezessete horas de operação.

Era uma cirurgia grande e arriscada. 

Um coração pode ficar apenas sete minutos sem bater, eles teriam que correr contra o tempo durante todo o processo que retirá-lo de Mia e colocá-lo em Ana.

Ana estranhamente não estava nervosa, talvez fosse ficar quando fosse levada para a sala de cirurgia, mas ali, na cama de um outro quarto, no andar do Centro Cirúrgico, longe da movimentação que estava do lado de fora, com os médicos e enfermeiros arrumando tudo, ela apenas respirava uniforme, mandando seu coração ao inferno mentalmente.

Finalmente não precisaria mais dele, não iria mais tê-lo destruindo sua vida.

Iria ser uma garota normal... Uma garota com uma cicatriz, com o coração de outra pessoa e sem ideia do que fazer com a vida, mas normal.

Acho que nenhuma garota de 19 anos tem ideia do que fazer com a própria vida.

Aquilo a fazia mais normal, não é? Normal como...

Ana se xingou quando seus pensamentos foram para Christian novamente.

Ela estava prestes a fazer um transplante de coração e estava pensando no homem.

Mas entenda, Ana nunca teve nada nem mesmo parecido com o que teve com ele - e olha que não tiveram nada. Mas ela queria mais, queria que ele continuasse segurando sua mão enquanto falava, queria que ele chegasse tão perto que ele poderia ver a íris em volta da bola redonda e cinzenta de seus olhos, ela queria que sua respiração parasse por ele ter a elogiado... E, é, ela queria beijá-lo também.

Eles poderiam casar, ter um apartamento no centro de Seattle, tomar chá às cinco da tarde como se fossem ingleses porque ela os acha muito chique. E eles teriam conversas longas e sem sentido, discordariam quanto a cor das cortinas, não arrumariam a cama diariamente, a geladeira seria repleta de congelados e Coca-Cola - eles não eram ingleses de verdade mesmo -, o armário seria repleto de porcarias e muito macarrão, adiariam o despertador umas dez vezes, sentariam na sala de pijama - ela só com a camisa dele - sairiam pra jantar em dia de chuva e chegariam encharcados e já ficando gripados, se beijariam no meio de uma frase, ela o faria rir no meio de uma discussão, ele pegaria no sono com a mão em seu cabelo e ela ficaria escutando sua respiração.

Okay, nenhuma daquelas coisas muito provavelmente nunca aconteceria, mas Ana passou 19 anos apenas lendo livros, no que ela iria acreditar?

As horas se passaram, e às 7:40 Ana foi levada para a Sala de Cirurgia 2.

Ela ainda estava acordada quando levaram a outra garota para o seu lado. Ana tentou não se assustar com o tanto de coisas que era ligado a garota na outra maca, nem ela nunca teve tantos aparelhos ligado a si.

Não podia ver seu rosto, mas sua pele era clara e o cabelo escuro preso na touca. Ana piscou e encarou a luz do foco central acima de si quando a enfermeira apareceu em seu campo de visão.

— Vamos contar, okay? Quando você acordar, tudo já terá passado.

Ana assentiu com a cabeça e deixou que a enfermeira descesse o aparelho com a fumaça anestésica.

— Dez, nove - começou a mulher.

— Oito, sete - Ana acompanhado. - Seis...

O cinco ela não conseguiu pronunciar, o quatro ela ao menos escutou enfermeira, no três sua mente apagou.

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