"Why can't I just focus on gettin' a pounding
All the bidness goin' on in my thighs?
But as my body's getting ruined, like, really trashed
I only wanna look in your eyes"

Crazy Ex-Girlfriend – Oh My God I Think I Like You

Os treinos haviam sido um desastre e o trabalho de relações públicas só não gerou um escândalo por causa do amor que Serenity logo despertou nos confusos cidadãos de Crystal Tokyo. Eles, Venus e Kunzite, renascidos e reinstaurados em seus devidos cargos como líderes das guardas reais e assessores pessoais do Rei e da Rainha, simplesmente não conseguiam concordar em nada.

Então, quando Venus foi chamada a sala de Kunzite, a última coisa que ela esperava era uma apresentação expositiva com slides cheios de diagramas sobre como eles deveriam fazer sexo para que seus respectivos cérebros liberassem substâncias químicas – oxitocina e outros hormônios que ela não se lembrava o nome – que faria que o vínculo entre os dois fosse formado.

Passado o momento de total estupefação ela caiu na gargalhada, é claro.

Mas apesar da reação dela, ele se manteve de pé com estoica dignidade o que a impressionava até mais do que todo o resto daquela situação absurda.

— Eu compreendo que minha proposta possa soar não-usual, mas creio que dei provas fortes o suficiente para dar suporte a ela, é uma pena que talvez elas soem pitorescas demais para que a senhorita as leve a sério.

Ela riu de novo, mas dessa vez do jeito que ele falava, deusa do céu como é que ela era atraída por aquilo?

— Kunzite, se tem uma coisa que não me surpreende em nada é uma proposta de sexo. Você que se acha tão preparado para fazer meu trabalho, não fez o seu corretamente, que no caso seria conhecer seu público.

— A senhorita está vendo de modo muito simplório o que eu estou propondo, simplório e vulgar. E está ignorando o fato que meu objetivo é completamente profissional e baseado em estudos científicos que provam meu ponto.

— Então você não quer dormir comigo de fato? O sexo seria como alguma atividade dinâmica para melhorar o nosso aproveitamento enquanto time de líderes.

— Exato.

Ela gargalhou novamente.

— Meu deus, eu juro que nunca vi ninguém em tão profunda negação assim na minha vida.

— Bem, eu compreendo que minhas explicações não tenham sido suficientemente claras para que a senhorita se convencesse ou sequer entendesse o que eu propus, é uma pena. Muitas vezes o que eu considero óbvio não parece o mesmo a outrem.

Ela revirou os olhos, deuses, ele conseguia ser tão arrogante, especialmente quando contrariado E PORQUE ELA AINDA ACHAVA AQUILO SEXY?!

— Oh, eu entendi muito bem, entendi mais do que você, na verdade. E concordo. Sexo provavelmente vai melhorar nosso relacionamento.

Ela sorriu quando ele ergueu o rosto dos materiais de escritório que estava raivosamente empilhando sobre a mesa e olhou para ela numa expressão quase cômica de surpresa. E sorrindo, ela se levantou da poltrona e caminho até ele, se sentando na mesa na frente dele.

— Podemos até contar essa nova função como adicional e pedir pagamento pelo trabalho extra. – E dizendo isso ela o puxou para perto pela gola da camisa e o beijou.

oOo

— Eu não acredito que eles estão atrasados de novo – reclamou Jadeite com notas exageradas de drama.

— Já é a terceira vez essa semana – completou Nephrite se jogando numa poltrona e agarrando Jupiter pela cintura se surpresa, forçando-a a sentar em seu colo e arrancando da ruiva um gritinho de surpresa e um tapa afetuoso em um dos ombros.

— Isso já está ficando ridículo – adicionou Zoisite aceitando uma xícara de chá de Mercury.

— Quero dizer, todo mundo aqui nessa sala faz sexo e não deixa isso atrapalhar nossas obrigações.

Mars e Nephrite trocaram um olhar divertido antes de encenarem um ataque de tosses para disfarçar o riso, Jadeite querendo soar como o responsável do grupo era no mínimo hilário.

Mas mesmo todos na sala estarem de acordo com as reclamações ditas que, aliás, haviam já sido repetidas entre eles diversas vezes, nada poderia ser feito, e eles estavam na terceira rodada do jogo de mímica – time de Zoisite e Mercury vencendo o de Jupiter e Nephrite por décimos e Mars e Jadeite na lanterna porque enquanto ela era terrível em expressão corporal, a interpretação dele dos itens era sempre bizarra demais para ser reconhecida por qualquer pessoa – os líderes do Shitennou e das Senshi chegaram quarenta minutos atrasados. Suas roupas rotas, haviam ainda menos botões fechados na camisa da Kunzite que o de costume, o laço de Venus estava torto e quase no nível dos ombros dela e parecia que além do delineador que ele às vezes usava em festas ou batalhas, Kunzite parecia ter começado a usar batom.

Mas nenhum dos seis ousou comentar ou reclamar, atrasos, afinal, eram melhores que brigas que terminavam com reuniões e treinos extras separados em horários inconvenientes.

E ninguém poderia dizer que a dinâmica dos dois não havia melhorado, só era confuso, porque embora estivesses obviamente fazendo sexo em todas as superfícies cristalinas do castelo, eles não estavam, de fato, juntos.

— É puramente profissional – dizia Venus quando perguntada por Serenity.

— Mas você não quer algo com ela, algo sério?

— Master, essa reunião não era sobre a distribuição de água na ala leste da cidade?

E nenhum dos dois podia reclamar que agora toda briga ou desacordo sobre trabalho terminava em peças de roupa jogadas pelo chão em vez de gritos e climas ruins.

O problema foi quando Kunzite se pegou olhando Venus dormir.

Oh não...

Voltando a se deitar – no chão do escritório dele, onde os dois tinham passado a noite – de costas no tapete, ele olhou horrorizado para o teto. Maldita química cerebral, maldita oxitocina, porque diabos agora ele só conseguia imaginar os dois se casando nas margens de um rio cercados de patos e depois seguindo para lua de mel numa canoa enquanto ele remava e os vento balançada os cabelos cobertos por um véu rendado na cabeça dela? Credo, as fantasias dele eram bastante ricas em detalhe e ele nunca tinha pensado em si mesmo como alguém extremamente criativo, enfim. Deveria ter alguma coisa que impedisse que aquelas imagens surgissem no cérebro dele e que matasse todas aquelas borboletas em seu estômago, mas que não cortasse o sexo, o sexo era importante. Talvez houvesse algum preservativo que o protegesse dos sentimentos ou lubrificante espermicida que inibisse a produção exagerada de oxitocina? Ele deveria pesquisar sobre isso, mas depois, agora ele estava cansado, Venus poderia completamente destruir um homem e aquele chão era desconfortável. Aliás, ela não deveria estar confortável também. E foi assim que Jadeite conseguiu a foto tremida e embaçada de Kunzite sem camisa, com o cabelo amarrado num nó no alto da cabeça, descalço e cara de sono carregando nos braços uma Venus adormecida e seminua para o quarto dele.

oOo

— Você acordou.

Venus o ouviu constatar o óbvio assim que abriu os olhos e deu de cara com ele.

— Onde eu estou? – Ela escondeu o bocejo atrás de uma mão e olhou em volta o recinto decorado com mobília minimalista em tons de cinza e branco.

— No meu quarto.

Aquilo trouxe o olhar dela de volta pra ele.

— Mas a gente não tinha combinado nada de passar a noite nos quartos um do outro... – Ela começou com uma sobrancelha erguida inquisidoramente para depois franzir o rosto inteiro. – Pera, você estava me vendo dormir?

— Porque eu faria isso?

Ela podia jurar que o rosto dele havia escurecido, mas ele tinha muita sorte de não ter uma pele que corava com facilidade.

— Pelo mesmo motivo pelo qual você me trouxe pro seu quarto?

— E qual seria este?

— Eis a pergunta de um milhão de cristais de prata!

Ele desfez o contato visual e se sentou na cama cruzando os braços.

— É você quem está insinuando saber algo que eu não sei.

Ela também se ergueu, se sentando de lado e apoiando uma mão no ombro dele.

— Ah mas você sabe, só não quer admitir.

— Venus, do que você está falando?

Ela se aproximou de forma que os lábios estavam roçando na orelha dele e disse baixinho:

— Que você me ama, que você quer mais do que sexo comigo, que você só usou nosso trabalho como pretexto pra conseguir me levar para cama e passar mais tempo comigo.

Ela quase gargalhou quando ele se apressou em se afastar dela, os pelinhos dos braços visivelmente eriçados.

— Minhas intenções com a senhorita são puramente profissionais.

— Oh sim, profissionais, por isso que desde que começamos a dormir juntos o que menos temos feito é trabalhar, já que toda vez que nos encontramos para trocar relatórios eu termino com uma cópia deles tatuada nas minhas costas por fazer sexo em cima da mesa.

— O que a senhorita propõe? Que paremos? Que voltemos a como era antes?

Ela apanhou um elástico de cabelos da mesa de cabaceira dele e começou a empilhar os cabelos no alto da cabeça ignorando o modo como ele estava falhando miseravelmente não olhar para os seios desavergonhadamente desnudos dela.

— Não. Eu quero que você me leve para jantar.

Ele suspirou fechando os olhos.

— Nós já jantamos juntos toda a noite com o resto da guarda e da família real.

— Nah, só eu e você, fora do castelo.

— Com qual finalidade? Isso não me parece muito profissional.

— A finalidade é provar que eu estou certa. Você diz que o sexo é completamente por motivos profissionais, estou te convidando para algo que não tem nada a ver com trabalho e tenho certeza que antes do fim da noite você vai estar dentro de mim por motivos que definitivamente não envolvem trabalho.

— É uma espécie de aposta? Porque a senhorita sabe muito bom que eu não participo desse tipo de coisa.

Ela gargalhou por dentro, que mentiroso! Todo mundo sabia das apostas e jogos do Shitennou.

— Entenda como quiser, aposta ou chance de provar que sua teoria da química está certa e o que está acontecendo aqui é um meio e não um fim.

— Se isso fizer a senhorita parar de vir com essas ideias estapafúrdias, tudo bem, jantaremos.

Ela sorriu radiante.

— É um encontro então.

oOo

— Eu não te disse? – Gemeu Venus no ouvido de Kunzite enquanto ele a depositava sobre a pia do restaurante em que tinham jantado, ou feito uma tentativa de jantar antes de largarem os pratos e os talheres e correrem para o banheiro onde agora estavam em algo que era claramente preliminares.

Ele pareceu irritado que ela tinha parado de usar a boca para o que estava fazendo no ponto sensível dele atrás da orelha pra começar uma conversa, especialmente uma conversa que envolvia provar que ele estava errado.

— Você quer que eu pare? – Ele disse bem sério.

— Não ouse! – Avisou ela em tom igualmente sério e tornando seu abraço com as pernas ao redor dos quadris dele mais firme.

— Então fique quieta.

Ele se aproximou para beijá-la, mas Venus desviou o rosto com um sorriso maligno que aumentou quando ouviu o gemido de frustração dele.

— Só depois de você assumir que me quer e que nada disso tem a ver com trabalho ou com química.

— Feromônios – começou ele desabotoando a parte de trás do vestido dela – também são substâncias químicas e são eles que fazem eu me sentir atraído por você.

Ela apoiou a testa no ombro dele e começou a rir.

— Você me amaaaa.

— Venus! E pra sua informação, o amor também é causado por um monte de substâncias químicas.

Ela ergueu o rosto e no caminho parou para depositar um beijo sobre o queixo dele.

— Minha deusa, esse homem! Então se isso aqui é puramente químico, você não vai mais me levar pra sair?

— Eu fiz reservas para todos os domingos do mês.

Ela começou a rir de novo.

— Disse o homem que definitivamente não me ama.

— A senhorita prefere continuar discutindo ou devemos prosseguir com isto aqui?

E como resposta ela o puxou pela gravata para um beijo.

E quando eles finalmente chegaram ao altar meses depois, quando Endymion perguntou se era de livre e espontânea vontade que ela estava se casando com Kunzite, ela fez todos no salão rirem dizendo que não tinha certeza uma vez que poderiam apenas estar sendo influenciada por substâncias químicas.