Pão de Mel escrita por Swimmer


Capítulo 4
4. Reunião


Notas iniciais do capítulo

Sei que vocês, zero pessoas acompanhando esse livro, mal podiam esperar pra ler a continuação, então aqui está mais um capítulo.



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Eram duas da tarde e Guilherme estava na escola. Ele não tinha dormido muito na noite anterior e havia passado setenta por cento das aulas cochilando, agora teria que ouvir adolescentes irritantes falando sobre orçamentos e preços de barmen e canecas personalizadas.

Aquele garoto loiro e metido estava sentado em uma carteira perto da porta, anotando alguma coisa em uma folha de papel. Ele estava segurando um doce com a mão livre e encarou Guilherme quando ele entrou na sala de reuniões.

—Nome? - pediu.

—A gente não estuda junto há, tipo, uns cinco anos? - Guilherme perguntou.

—É o protocolo - Bart deu de ombros.

—Não vem com essa pra cima de mim, cara, - ele se abaixou para encarar o outro de perto -  isso aqui é só a escola, não é empresa idiota do seu pai.

Bart o encarou de volta por alguns segundos, provavelmente pensando se devia responder ou não.

—Só assina a lista de presença, Guilherme.

—Obrigado - disse, sarcástico. - Não vai me oferecer esse pão de mel? Tá guardando pra sua namorada?

Guilherme fez o que ele tinha pedido, desenhou um pássaro do lado - não havia um motivo além da pura vontade -  e foi se sentar.

Havia oito pessoas na sala, ele ouviu Laura comentar com os amigos o quão mais fácil sua vida seria se todos os representantes de turma viessem para as reuniões. Desde que ela tinha apoiado-o na aula de Geografia, estava tentando não provocá-la, mas era difícil quando tudo que a garota fazia era reclamar de sua vida de princesa.

Laura começou a falar, explicou brevemente o plano que tinham para formatura e mostrou algumas fotos. A escola tinha seis turmas de terceiro ano, três em cada período, e quase todo mundo ia participar. Dois representantes de cada turma deveriam estar ali, mas não era bem isso que acontecia na maioria dessas reuniões, ele percebeu.

—Vamos vender as rifas pra conseguir pagar o DJ, mas se quisermos o buffet do Sapore, temos que arrumar mais dinheiro. Sugestões? - disse Laura.

Um burburinho começou ao redor da mesa, pelo visto aquele tal buffet devia ser muito importante. Guilherme olhou ao redor e ligou o celular debaixo da mesa, entrou na internet e procurou pelo álbum novo de sua banda favorita. Se ia ficar preso ali, pelo menos podia fazer algo útil, como baixar músicas para ouvir mais tarde.

—Vamos vender brigadeiro - uma garota sugeriu.

—Não podemos, o segundo ano já tá vendendo - um garoto informou.

—Bolo? - outro sugeriu.

—Nunca vende bem - o garoto de antes respondeu.

Eles começaram a sugerir várias coisas, alguém sempre encontrava um defeito e a conversa virou uma discussão, com gente reclamando e gente pedindo para que sugerissem algo melhor.

Guilherme suspirou. Aqueles caras pagavam de espertalhões mas não conseguiam nem decidir algo simples sem gritar uns com os outros.

—Por que vocês não vendem pão de mel? - Guilherme falou alto. Tinha usado o tom firme que normalmente reservava ao irmão.

Os outros sete adolescentes se viraram para ele, agora em um silêncio curioso.

—É barato, incomum o suficiente pra atrair uns compradores e fácil o suficiente para que até um bando de idiotas como nós consiga fazer - ele falou. Seus argumentos eram bons, mas só tinha dado a ideia para fazê-los calar a boca, pareciam um bando de crianças.

Duas garotas cochicharam alguma coisa e riram baixo.

—Além disso, - ele continuou, agora encarando Bart, o garoto era um alvo fácil demais - você e sua namorada vão ter uma história fofa pra contar pros seus netos - apontou para Laura. Você pode chamá-la de pão de mel.

Por um momento ninguém soube o que dizer, até que Laura limpou a garganta e resolveu quebrar o silêncio.

—Essa é uma ideia boa, na verdade. Obrigada, Guilherme - falou sem olhar para ele. - Todos de acordo?

Todos levantaram a mão, exceto Guilherme, que não achou necessário, já que a ideia tinha sido dele. Ele não prestou muita atenção no resto da reunião, só conseguia pensar no trabalho de história atrasado que teria que fazer quando chegasse em casa. Eram quase três horas quando Laura encerrou o encontro e o garoto pôde se levantar.

—Guilherme? - ela chamou. - Preciso falar com você, é sobre algo que o diretor me disse.

Ele esperou que todos saíssem antes de falar.

—Ele disse que eu vou colocar vodka nas bebidas da festa? Porque esse é exatamente meu plano - sorriu.

—Não, mas nem pense nisso - ela disse, parecendo realmente preocupada. Devia ser muito estranho viver no mundo cor-de-rosa de Laura Mendez e se preocupar com coisas assim, era óbvio que ele não faria isso. Se não pedissem.

—Vai demorar? Eu tenho o que fazer em casa - ele olhou a hora no celular.

—Ok, primeiro, ele disse que você não pode pegar sua parte do dinheiro das vendas, mas pode usar pra pagar sua parte se for participar da formatura - ela disse cada palavra perfeitamente, como se tivesse ensaiado o discurso.

—Por que não estou surpreso que o velho Lopez abusar do trabalho infantil - ele negou com a cabeça.

Ele tinha quase dezoito anos, mas ainda podia usar aquele termo, certo? Dava um efeito chocante à frase.

—Segundo, - Laura continuou, ignorando-o completamente. - Você vai ter que trabalhar de verdade e já tenho uma função pra todo mundo, então você vai ter que ajudar com os pães de mel.

Guilherme estava acostumado a fazer a própria comida desde que os pais tinham morrido e ele passara a morar com o irmão, mas arroz, feijão, macarrão e carne não eram nada parecidos com confeitaria. De qualquer jeito, ela perceberia logo que ele mais atrapalhava que ajudava e mentiria para Lopez quanto à ajuda do garoto.

—Que seja. Era isso?

—É só isso - ela suspirou. - Você pode ir agora.


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