Pão de Mel escrita por Swimmer


Capítulo 1
1. Castigo




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As fórmulas de física e explicações enchiam o quadro negro e Laura tentava terminar de copiar tudo antes que o professor apagasse. Ela tinha se distraído conversando com os amigos e agora estava correndo contra o tempo e abreviando tantas palavras quanto possível, torcendo para entender depois.

A coordenadora bateu na porta da sala de aula e entrou. Laura viu isso como uma oportunidade de terminar de escrever, mas seu plano foi por água abaixo quando ouviu a dona Mariza dizer seu nome.

—...É sobre o grêmio, o diretor quer falar com ela por alguns minutos.

Laura largou a caneta na mesa e olhou para os amigos, desesperada. Não por causa da matéria, ela tinha visto Cecília tirando uma foto da lousa escondida. Ela só conseguia pensar em uma coisa relacionada ao grêmio que faria o diretor querer falar com ela e se virou o Bart, o melhor amigo, com uma cara tão desesperada que o fez sorrir.

—Eu vou lá com você e explico tudo - ele disse.

Laura assentiu, os dois se levantaram, ele deu uma explicação rápida para o professor e eles seguiram a dona Mariza até a sala do diretor.

—Relaxa, Lau - Bart colocou uma mão no ombro dela para tranquilizá-la. - Eu vou explicar que o dinheiro tava no cofre o tempo todo, ele vai dizer “tudo bem então, crianças” e a gente vai voltar pra sala.

Laura encarou os olhos cor de âmbar do amigo e fez uma careta.

—E se ele disser que somos irresponsáveis e tirar a gente do grêmio?

—Para de exagerar - ele a empurrou de leve.

Eles chegaram à sala, dona Mariza abriu a porta e voltou para a sala dela, Laura entrou e se preparou para uma possível bronca, apesar de saber que não aconteceria, o Sr. Lopez a adorava, era uma das alunas mais envolvidas em todos os assuntos acadêmicos possíveis.

O frio na barriga sumiu imediatamente quando viu o garoto sentado em uma das cadeiras. Ele estava de costas, mas só havia um aluno com tantas tatuagens no pescoço, piercings nas orelhas e que usasse uma jaqueta preta de couro no começo de maio, quando não estava frio o suficiente nem para usar uma blusinha fina por cima do uniforme da escola.

—Sr. Lopez, é o seguinte - Bart entrou atrás de Laura, chamando o diretor pelo sobrenome, como todos no corpo estudantil faziam - acontece que não perdemos o dinheiro, estava em um envelope, por baixo de umas folhas e… - ele se interrompeu ao ver a mesma cena que Laura.

O garoto da cadeira se virou para trás e olhou para Laura e Bart, que resolveram olhar para a estante de livros grossos no canto do cômodo. Ele tinha cabelo escuro e olhos castanhos intimidantes, olhava para os dois com tanto desprezo que conseguiam sentir mesmo sem olhar diretamente para ele.

—Vocês podem olhar pra mim, eu não mordo - ele abriu um sorriso cínico.

Gui Almeida tinha uma fama na escola. Assim como Laura era a menina bonita e inteligente da sala, ele era o caso perdido que passava mais tempo de castigo do que nas aulas - tanto que ninguém tinha sentido sua falta na sala. As advertências eram, em sua maioria, por discutir com professores, perambular pelos corredores em horário de aula e ouvir músicas de rock tão alto que as outras pessoas podiam ouvir, mesmo que ele usasse fones de ouvido.

Ainda que ninguém tivesse realmente confirmado, havia um boato de que ele tinha se juntado a uma gangue extremamente violenta no ano anterior. Esses boatos sempre voltavam quando ele aparecia na escola com um olho roxo, o que acontecia pelo menos umas três vezes por mês.

—Bartolomeu, já me avisaram. Eu chamei só a Laura, pode voltar pra sala, criança - Sr. Lopez respondeu e esperou Bart sair. O diretor era a única pessoa que ele não corrigia por usar seu nome inteiro. - Senta, Laura.

Laura se sentou ao lado de Guilherme e colocou o cabelo atrás da orelha.

Ele cheirava a algo cítrico que ela não conseguia identificar. Pensar no cheiro do menino não faria nenhum bem para ela, então se concentrou no rosto do diretor. Guilherme era exatamente o tipo de cara que todas as pessoas que conhecia tinham lhe dito para manter distância desde que era pequena.

—Última chance, Guilherme. Você me diz por que aquele menino estava te entregando dinheiro e eu penso em uma punição leve pra você.

—Hm… - Guilherme apoiou a cabeça numa mão. - Não estou interessado, velhote. Já falei que tinha emprestado pra ele, mas você não acredita.

Laura não conseguiu controlar a careta e virou o rosto para o lado direito, onde o garoto não veria e portanto, não faria nenhum comentário engraçadinho. O homem não tinha mais de cinquenta anos, não havia motivo para chamá-lo de velhote. Ela não devia se surpreender, perto do que ele dizia para os professores aquilo era praticamente um elogio.

—Eu vi você entregando alguma coisa pra ele, Guilherme. Não estou dizendo que seja o caso, mas não posso correr o risco de ter alunos traficando drogas nessa escola. Já que você não vai me dizer o que era aquilo, vai ter que fazer trabalho voluntário aqui na escola - o diretor falou.

—Por que não me dá um tiro de fuzil de uma vez? - Guilherme perguntou, era incrível como ele conseguia dizer uma coisa daquelas sem mudar a expressão.

—Laura, você é a presidente da comissão de formatura, não é? - ele perguntou e ela assentiu. - Pois bem, a partir de hoje, Guilherme estará ajudando vocês no que precisarem. Quero um relatório mensal de todas as atividades dele, e nada de moleza.

Laura tentou ficar quieta, até mordeu a língua, mas, quando percebeu, já estava falando.

—Sr. Lopez, isso não é justo. Ele faz coisas erradas e eu sou punida? A distribuição de tarefas já está toda pronta - reclamou, se sentindo uma criança birrenta em seguida.

Pelo menos não adicionou a parte sobre aquele garoto estranho arruinar a linda festa que estava planejando.

—Não quero saber, Laura, arrume alguma coisa para ele fazer.

Não era nem um pouco justo. Ela se esforçava todos os dias para conseguir tirar boas notas, participar das atividades extra curriculares, sair com os amigos e cuidar do irmãozinho. E tudo que ganhava era um traficante na organização de sua festa de formatura.

—Não esquenta, gatinha - ele disse, tão convencido que parecia saber o quanto ela odiaria o apelido. - Eu tenho um ótimo porte físico e prometo tentar ajudar a carregar algumas coisas, mas provavelmente vou pular o muro da escola e vazar.

—Vocês estão dispensados - disse o sr. Lopez, ignorando o comentário do garoto. Devia ser parte de seu cotidiano.

Bom, Laura não estava habituada a ter seus planos estragados e não estava nem um pouco feliz com isso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do primeiro capítulo e tenham se interessado em acompanhar a história. Se encontrarem qualquer erro ou tiverem uma sugestão, usem e abusem dos comentários
Até o próximo capítulo :)



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