A seu lado escrita por magalud


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Terra Desconhecida




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Era plena tarde na Travessa do Tranco, mas isso não impedia que o ar estivesse carregado e escuro como convinha à região mais mal-afamada do Beco Diagonal. O vento frio do inverno londrino fez o Prof. Severo Snape, mestre de Poções da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, fechar ainda mais seu sobretudo e apertar sua carga preciosa contra seu corpo.

Aquele era o local mais adequado para o que ele tinha a fazer. Pois aquela seria a tarde em que ele entregaria Harry Potter ao Senhor das Trevas, Lord Voldemort.

Ao menos, era o que ele tinha prometido ao seu senhor. Como espião, Severo Snape jamais poderia fazer isso. Mas ele tinha dito que aproveitaria o fim de semana - quando os alunos estariam em Hogsmead - para raptar Harry Potter e entregá-lo Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado num lugar seguro, ou seja, a Travessa do Tranco.

E no momento, Severo estava segurando um aparentemente sonolento Harry Potter, que mal se agüentava em pé. Claro que aquele rapaz nada mais era na verdade do que simplemente uma doninha que ele tinha comprado na Loja de Animais Mágicos e transfigurado para que ele se parecesse com o Garoto que Sobreviveu.. Mas por via das dúvidas ele também dera uma Poção Soporífera à doninha para que ela não pusesse tudo a perder, assustando-se com sua forma humana de garoto de 16 anos. Resultado: um Harry Potter que parecia quase bêbado, cabelo todos desalinhado, óculos tortos mal se equilibrando na ponta do nariz.

— Ssseverusss - sibilou a voz nas sombras do beco sujo.

Sem poder evitar, Snape tremeu e aproximou-se da figura encapotada, arrastando o menino.

— Meu senhor.

— Você o trouxe, Severo. Excelente - A mão saiu do meio das vestes, pegou o queixo do rapaz e ergueu-lhe a cabeça, um dedo retraçando a famosa cicatriz. - Sim, sim. Outros me diziam que você era menos que leal, mas você me provou o contrário, querido Severo. Receberão a Maldição Cruciatus. - O falso Harry quase caiu, e Voldemort deu um passo para trás. - O que ele tem?

Com voz firme, Severo respondeu:

— Ele resistiu, meu amo. Tive que aplicar uma poção para dormir e arrastá-lo até aqui.

— E Dumbledore? Não dará falta do seu menino dourado?

— Eu coloquei um impostor em Hogwarts. Eles não perceberão a troca até ser tarde demais.

— Parece que você pensou em tudo, meu fiel Severo - Voldemort agarrou o rapaz desengonçado e urgiu: - Vamos embora.

E ele quase tinha ido. Severo ia se lembrar que ele já estava quase livre, quando Voldemort parou. Ele viu uma silhueta na mesinha da Sorveteria Florean Fortescu.

— O que eu vejo? - A voz de Voldemort não era nada amigável. - O que eu estou vendo, Severo?

Severo demorou dois segundos para localizar o que tinha chamado a atenção do Senhor das Trevas. E foram dois segundos fatais.

Harry Potter. O maldito rapaz estava tomando sorvete com os dois amigos inseparáveis numa das mesinhas da calçada.

Arruinando o plano de Severo.

— Aquele é o impostor, meu senhor - Ele tentou dizer. - É bom irmos embora rápido, antes que ele -

Mas foi inútil. Voldemort jogou o rapaz narcotizado contra uma parede e gritou:

Finite Incantatum!

A forma de Harry Potter tremeu e depois encolheu até voltar a ser doninha. Como um animal ferido, Voldemort puxou sua varinha e bradou:

— Traição!

Não havia tempo para mais nada. Severo correu, ficando entre Voldemort e o verdadeiro Harry Potter, e gritou:

— Potter, saia já daqui!

Os três garotos na sorveteria se alertaram ao ouvir os gritos vindos da Travessa do Tranco. Mas Voldemort gritou:

— Crucio! - Severo caiu no chão, agonizando - Ah, Severo! Você conhecerá a força total de minha fúria...

Adolescentes que eram, curiosos como só eles, os três jovens se aproximaram da confusão, vendo uma doninha decididamente alcoolizada passar por eles. Harry arregalou os olhos:

— Professor Snape!

Cada músculo que ele tinha parecia se retorcer, mas ainda assim Severo conseguiu se colocar de joelhos e dizer:

— Corram...! Agora...!

Voldemort empunhou sua varinha e disse:

— Não, Sr. Potter. A festa está apenas começando. Avada

— NÃÃO!!

Com o que lhe restava de forças, Severo ergueu um dos joelhos e se jogou contra Voldemort, desequilibrando-o e fazendo o raio verde da varinha de seu mestre atingi-lo em cheio no peito. Ele sentiu uma energia fantástica e mortal espalhar-se em direção a seus braços e não pôde evitar o grito de dor que parecia brotar do fundo de suas células, enquanto caia de joelhos novamente, o rosto crispado.

— Prof. Snape! - gritou Harry.

Hermione o puxou pelas capas, gritando:

— Vamos, Harry! Vamos!

Rony a ajudou e os três saíram correndo. Voldemort parecia enlouquecido de ódio:

— Não! - Mas era tarde demais: os garotos tinham saído correndo, misturando-se ao burburinho do Beco Diagonal. - Não!

Severo sabia que não tinha muito tempo. Aproveitando-se da distração de Voldemort, ele Aparatou até os portões de Hogwarts. Talvez ele tivesse tempo para uma poção restaurativa.

Sim, ele conseguiu chegar às masmorras. Mas ele caiu no chão de sua sala, sua varinha rolando - ele estendeu o braço, mas ela estava além de seu alcance. Ele sentiu lágrimas de ódio subindo ao rosto.

Agonizando no chão de sua sala, Snape ergueu os olhos cheios de lágrimas e começou a olhar ao seu redor, como se tudo o que tivesse passado naquele lugar lhe viesse na memória. Sua varinha estava a apenas um metro de distância de seu braço direito, mas suas forças haviam se esgotado. O silêncio era mórbido. A dor que lhe percorria o corpo
parecia lhe dar a certeza de que não seria possível viver até o final daquela gélida tarde. Mas repentinamente, ele viu uma sombra se aproximando de sua porta. Era a última pessoa de quem ele poderia esperar um auxílio naquele momento.

— Diretor... eu falhei.

E foi a última coisa que ele conseguiu dizer.

***

Snape acordou se sentindo bem. Estava numa cama coberta com lençóis brancos, num quarto que aparentemente não tinha janelas, mas ainda assim era bastante claro e iluminado. Bom feitiço, pensou.

Sentou-se e foi quando viu, sentado à cabeceira de sua cama, a última pessoa em quem teria pensado.

— Pai?

— Sim, filho, sou eu.

— Então - concluiu - eu estou morto?

— Sim, filho, está.

De alguma maneira, aquilo não causou espanto. Ele havia sido atingido por uma Avada Kedavra, o que mais ele podia esperar?

— Entendo - Ele olhou em volta - Que lugar é esse?

— O lugar em si não é importante. O importante é que você conseguiu chegar.

— Como assim?

— Durante muito tempo, eu achei que você fosse direto para... bem, para baixo, se é que você me entende. Mas você não foi, isso é muito bom! - Antes que Severo pudesse sequer reagir, ele continuou: - É por isso que eu estou aqui. Para lhe oferecer uma escolha.

— Uma escolha - Não era uma pergunta.

— Isso mesmo. Considerando o seu passado, seus dias de Comensal da Morte e basicamente tudo o que você fez seus alunos passarem, você teria ido direto lá para... er, lá para baixo, entende? Mas depois você se redimiu, você foi um espião para as forças da luz, e sofreu muito quando era pequeno.

— Por sua causa - Severo não pôde deixar de apontar.

— Não pense que não estou pagando por isso, Severo. Mas eu não estou em discussão aqui, e sim você. Está contando muito tudo o que você fez pela luz. Espionou durante muito tempo, fez poções contra Aquele-que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Você também ajudou o pequeno Malfoy a não seguir os passos do pai. Você salvou aquele outro menino inúmeras vezes e até morreu por ele, o filho de seu grande inimigo Potter.

— Pai, se tem alguma coisa a me dizer, diga logo.

— Você tem uma escolha, Severo. Se preferir ir lá para baixo, você pode ir agora mesmo. Verá muitas pessoas conhecidas, posso garantir. Mas você tem uma escolha. Se continuar ajudando os que precisam, um dia você pode ter chance de chegar... lá em cima.

Severo olhou para seu próprio pai e disse:

— Eu teria que continuar ajudando os que precisam? O que isso quer dizer?

— Proteção, Severo. Mesmo nós, bruxos, temos proteção das forças da natureza. Como você não está mais entre os vivos, você voltou a fazer parte da natureza, e agora pode se dedicar a proteger os mortais. Você não faz idéia de quanta confusão esses mortais podem se meter...

— Mas eu já morri. Como faria isso? Eu viraria um fantasma?

— Não, não um fantasma. Algo melhor. Um ser de proteção, entende?

Severo não estava gostando do rumo aquela conversa estava tomando...

— Tipo um... anjo?! Não! Não pode ser um anjo! - Ele estava horrorizado.

Seu pai parecia feliz.

— Eu sabia que você logo saberia! Você sempre foi esperto, desde pequeno!

— Isso não! A indignidade! Eu, um anjo?! A mera noção é absolutamente ridícula! Não tem o menor cabimento!

— Acho que você está reagindo mal, meu filho. Bem que sua mãe falou que você teria um acesso.

— Não mete a mamãe no meio, papai!

— Meu filho, pense bem na oferta. Você tem uma escolha. Deixe de lado esse preconceito bobo.

— Não é preconceito! É uma questão de imagem pessoal. - Mas ele indagou: - E o que eu teria que fazer?

— Você faria a guarda de um protegido. No seu caso, provavelmente eles designariam uma criança.

— MAS EU ODEIO CRIANÇAS!

Acostumado ao temperamento do filho, Snape Pai sequer se abalou: - Elas são mais fáceis de proteger do que adultos. Poucas dúvidas morais, a coisa é muito mais preto no branco. E você ganha até uma certa corporalidade para preservar um protegido.

— Corporalidade?

— Já ouviu falar de trouxas que foram protegidos de balas por uma caneta no bolso, ou um celular dentro do paletó? - Severo assentiu. - Você acha realmente que a tal caneta ou celular foram parar ali por acaso? Com crianças, o trabalho exige uma certa... coordenação motora.

— Vou ter que segurar pestinhas que caem de escadas ou que enfiam dedos em tomadas elétricas de trouxa? Que insultuoso!

— Você não poderá se afastar mais do que 150 metros de seu protegido. Se você quiser, ele poderá ver você, tocar em você. Isso será muito útil. Mas você tem que escolher, Severo. Escolher ativamente se quer o trabalho ou se prefere começar a eternidade lá... em baixo. E tem que ser agora. Para isso eu fui escolhido: para saber sua resposta.

Não havia opção, na verdade. As pessoas conhecidas que ele encontraria lá embaixo com certeza fariam de tudo para tornar sua pós-morte um... er, inferno.

— Está bem, então. Eu escolho tomar conta de um pestinha.

— Excelente! - Seu pai parecia muito feliz. - Tenho certeza de que não vai se arrepender.

— Já estou arrependido - disse, sem sinceridade. - Pai, reparou que conversamos mais nesse tempo aqui do que quando os dois estávamos vivos?

— Sim. Eu sinto muito, Severo.

— Eu também.

— Sua mãe manda lembranças. - Ele se ergueu repentinamente. - E agora, você deverá começar suas tarefas assim que um protegido lhe for designado.

— Mas... mas... eu não sei nada sobre isso! Não tem um treinamento antes, um estágio, qualquer coisa assim?

— Não será preciso. Você vai pegando o jeito, tenho certeza. Boa sorte, filho.

E sumiu. Mas Severo também tinha sumido, então isso deixava os dois quites.


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