Sem Truques no Amor escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 4
O pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Demorei, mas cheguei com o primeiro capítulo do ano ♥

A fic está lynda, formosa e cheirosa (?) de capa nova, feita pela minha mishamiga Miss Queen, que ainda me deu de presente o banner do capítulo. Amei tudinho! Se estiver lendo essas notas, muito obrigada, chuchu!

Well, well, lá vai o disco voador!



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Não sei o que exatamente me acorda, se ter chegado ao limite da sensação pavorosa que ainda me desnorteia ou se foi o som do meu próprio grito. Só sei que abro os olhos e sento na cama de súbito, aliviado por ter despertado, ao mesmo tempo que muito abalado pelo maldito pesadelo.

Sentindo que meu corpo pesa uma tonelada e cada célula dele foi tomada por um estremecimento humilhante, olho o quarto à minha volta sem fixar nada em específico.

A garganta ainda queima e batimentos frenéticos reverberam nos meus ouvidos quando sinto uma leve lufada de ar irromper da porta. Alguém entra por ela com urgência.

— Sam?!

Gabriel corre, mas estanca a alguns passos, parando aos pés da cama. Me encara com uma expressão estranha. Seria... preocupação?

O arcanjo deve ter ficado impressionado com meu grito, já que eu mesmo estou. Aposto como o som ferido, talvez até animalesco, se espalhou por todo o bunker e o assustou.

— Gabriel...

É tudo o que consigo dizer, seu nome. E, de alguma forma, essa palavra me conforta.

Sei que sou um homem feito e um caçador; um pesadelo não deveria me assustar tanto. Ainda assim, é bom saber que não estou sozinho depois de um deles. Um dos piores que já tive.

— Me deixe adivinhar. — Gabriel arqueia uma sobrancelha e cruza os braços. — Palhaços?

Um leve riso vence a sensação seca em minha garganta. Fico chocado por Gabriel conseguir essa proeza, me fazer rir segundos após um momento de pânico.

— Sabe, a maioria das pessoas, numa situação assim, perguntaria se eu estou bem, não faria piada com a minha fobia.

— Eu não sou a maioria das pessoas. Analisando bem, nem sou uma pessoa. E fazer piada é o que me move.

— Touchè.

Sorrio de leve e olho para o lençol amarfanhado sobre mim. Pelo estado em que ele e a cama estão, tive um sono muito agitado. Perturbador se encaixa melhor.

— Então... não foi um pesadelo num circo, foi?

Ergo o olhar para Gabriel apenas para desviá-lo na sequência. Engulo em seco e me forço a responder:

— Não.

Há um breve momento de silêncio.

— Mulheres te agarrando?

— O quê? — Franzo o cenho e rio sem o menor humor. — Não! Eu não tenho medo de mulheres.

Um instante de silêncio depois, ele insinua baixinho:

— Homens... te agarrando?

Arregalo os olhos.

— Gabriel!

Demoro apenas alguns segundos para perceber o que o arcanjo tentou fazer. Me distrair com o seu senso de humor impróprio e afiado, tudo para que eu relaxasse um pouco. Odeio admitir, mas... a verdade é que funciona.

Solto um suspiro muito parecido com um riso baixo e volto a olhar para o lençol à minha volta.

Gabriel não levanta outras sugestões, mas também não vai embora. Em vez disso, continua aos pés da cama feito uma estátua, como que esperando que eu o dispense ou — o mais provável — decida me abrir.

Embora tudo o que eu queira nesse momento seja esquecer o maldito pesadelo, também sinto que será bom falar com alguém sobre ele. E, já que Gabriel tem sido minha única companhia nos últimos dias, por que não fazê-lo meu ouvinte também?

Esperando que isso alivie pelo menos um pouco da angústia que sinto, crio coragem e por fim revelo:

— Eu sonhei com Dean. Ele estava... sofrendo, e eu não conseguia fazer nada para ajudar.

Uma sensação incômoda de frustração e tristeza me reviram por dentro. Numa tentativa de escapar dela, faço uma piada infame:

— Bom, não é muito diferente da realidade, é?

Gabriel não diz nada. Mas continua aqui, por perto, atento. Sei lá por que, sinto vontade de falar mais. Na verdade, preciso que Gabriel me responda uma coisa, sobre algo que vem me assombrando desde que Miguel desapareceu com o meu irmão.

Respiro fundo e tento organizar os pensamentos, empurrando para lugares recônditos o que vi no pesadelo.

— Eu lembro da sensação de ser possuído pelo Gadreel. Não no começo, mas depois quando descobri tudo e ele não precisava mais manter segredo sobre a sua presença. Não foi nada... agradável ter um piloto no comando. — Não sei se agradável é uma palavra justa. Volto a olhar para Gabriel. — É sempre assim? Tão doloroso para o receptáculo?

Doloroso também não chega nem perto, mas acho que o anjo entende o que quero dizer.

— Nem sempre — ele responde depois de um tempo, me encarando de um jeito sério. Ou talvez... de um jeito dissimulado.

Talvez tenha entendido que preciso mais de uma mentira que console do que de uma verdade que me deixe ainda mais angustiado por Dean. Não é qualquer anjo que se apossou dele, mas sim o tipo mais poderoso da hierarquia celestial. Um arcanjo. Justamente o que Gabriel é.

Engulo em seco.

— Foi difícil para o cara que você possuiu?

Um sorriso enviesado surge em seu rosto e uma sobrancelha se curva mais para cima.

— Não, eu fui muito gentil com ele.

Gabriel está fazendo aquilo de novo, tentando me tranquilizar com suas piadas. E, mais uma vez, percebo que gosto disso, porque surpreendentemente funciona, e me pego rindo do tom malicioso em seu comentário.

Para minha surpresa, o arcanjo decide revelar mais detalhes do homem que lhe serviu de casca esse tempo todo:

— Edmund estava condenado e disposto a sentir um pouco de dor. Ao menos, uma dor diferente daquela que o atormentava. Ele tinha poucos meses de vida quando eu apareci e fiz uma proposta irrecusável. Eu prometi aliviar a dor do câncer e proporcionar um pouco de aventura em seu lugar. Prazeres mundanos, se é que você me entende.

De repente, uma imagem me vem à cabeça. Uma representação caótica e lasciva de Gabriel em meio aos tais... prazeres mundanos.

Minha garganta fica mais seca e um calor impróprio surge sem explicação lógica, espalhando-se em ondas pelo meu corpo.

— Preferia não ter entendido. — Me mexo na cama e apresso-me em mudar o foco da conversa: — Você podia ter curado ele.

Talvez seja impressão minha, mas acho que Gabriel fica um tanto envergonhado com o meu comentário.

— Podia, mas não era nobre para fazer isso. Além do mais... surpresa! Eu só queria o receptáculo, Sam. Não fique chocado, mas para a maioria dos anjos, os seres humanos são miseravelmente descartáveis. Era assim que eu pensava.

Ele se afasta da cama e caminha pelo quarto. Coloca distância entre nós, o que me leva a crer que não gostou mesmo do que eu disse. Talvez por que, no fundo, não se orgulhe de ter rezado pela cartilha da maioria dos anjos nesse ponto. É uma possibilidade na qual me agarro, bem como o verbo no pretérito que usou.

— Bem mais para a frente, eu tive que moldá-lo à imagem e semelhança do verdadeiro Loki, mas Edmund já não estava na escuta nessa época. Ele teve uma morte tranquila três meses depois que me disse sim. — Gabriel para diante da cômoda no canto do quarto, apoia-se nela e volta a me encarar. — Eu o coloquei para dormir antes do grand finale.

— Parece que você é um pouco nobre afinal — observo, sentindo um inexplicável orgulho do arcanjo trapaceiro.

Um segundo depois, no entanto, ele retruca afiado feito uma navalha:

— Ou talvez eu só não estava a fim de assistir ao filme completo de uma morte que não importava para mim.

Também sei o que Gabriel está fazendo agora. O mesmo que fez durante uma conversa nossa, há alguns dias, quando despejou uma série de motivos para eu odiá-lo ou, no mínimo, não confiar nele. Bom, esse truque não funcionou antes e não será agora que vou cair.

— Seja como for, você o poupou de sofrer pela doença, já é alguma coisa. Ter um arcanjo no comando pode não ter sido agradável para ele o tempo todo, mas ao menos você o compensava com os... — Engulo em seco. — prazeres mundanos.

Quando consigo olhar para Gabriel de novo — porque fiquei sem graça e desviei por um instante —, aquele sorriso torto está de volta. Bem como o calor inoportuno em mim.

— Sempre me defendendo, Sam — observa, me olhando de um jeito indecifrável. — Desse jeito, eu vou acabar gostando de você.

Sem pensar, ouço-me respondendo desafiador e com certo orgulho:

— Engraçado, eu pensei que você já gostasse. Um pouco, pelo menos.

Para minha surpresa, o que Gabriel diz em seguida é...

— Pior que você tem razão, eu gosto.

E parece que ele fica surpreso consigo mesmo também. Surpreso e um tanto constrangido pela confissão gratuita que me fez.

Gabriel cruza os braços só para descruzá-los logo depois e apoia as mãos na cômoda atrás de si. Um instante mais tarde, não sabe o que fazer com elas.

Não nego que sempre tive certa inveja da relação de verdadeira adoração do Cass para com o meu irmão. Saber que, de certa forma, também tenho um anjo ao meu lado — mesmo que Gabriel não me adore, apenas goste um pouco de mim —, me deixa inexplicavelmente feliz.

Por outro lado, também fico assustado com o que essa felicidade genuína pode significar e decido mudar de assunto, dizendo a primeira coisa que me vem à cabeça:

— Ei... O meu grito foi muito alto?

Gabriel parece muito agradecido pela mudança brusca de foco, ri um pouco e responde um segundo depois:

— Ensurdecedor, camarada. Deixaria Mariah Carey no chinelo. Eu tentei voar para cá assim que ouvi, pensei que você tinha descoberto um cabelo branco ou uma mecha fora do lugar, mas só consegui chegar até o corredor.

Comprimo os lábios para não rir. Isso seria admitir que a piada sobre a Mariah Carey ou do meu cabelo foram muito boas.

— Já é um progresso. Há poucos dias, você mal conseguia bater as asas direito.

Ficamos em silêncio depois disso. Parece que o assunto simplesmente evapora no ar, enquanto Gabriel e eu nos encaramos em silêncio. No mais absoluto e pesado silêncio.

Não sei no que ele está pensando agora, mas imagino que seja o mesmo que eu. Justamente as palavras que escaparam há pouco da sua garganta sobre mim. Eu gosto.

Como se a estranha pausa fosse demais para ele — tanto quanto para mim —, Gabriel abre um sorriso preguiçoso e anuncia de maneira repentina:

— Acho que vou treinar um pouco de voo pelo bunker.

— É uma ótima ideia!

Não que eu queira realmente que ele se afaste, mas talvez seja melhor assim. Preciso pensar e, principalmente, aplacar esse calor inconveniente. Desconfio que, assim que Gabriel não estiver por perto, o misterioso estado febril vai desaparecer.

— Tente pequenas distâncias por enquanto, de um cômodo para o outro.

Seguindo meu conselho imediatamente, ouço um farfalhar de asas e uma leve brisa acaricia o meu rosto. Por um segundo, não vejo Gabriel em parte alguma. Depois, ouço um baque surdo na porta e um gemido:

— Au!

De costas para mim, o arcanjo massageia o nariz que foi atingido em cheio pela porta. Minha aposta é que ele pretendia voar para fora do quarto, mas não conseguiu atravessar porque suas asas lhe traíram mais uma vez.

A  cena me despertaria compaixão, se não tivesse sido tão engraçada. É por isso que minha gargalhada logo se sobrepõe aos resmungos de Gabriel. Uma gargalhada fácil, irresistível, que espanta de vez — pelo menos por ora — a angústia por Dean.

O arcanjo se vira para mim com uma carranca no lugar do rosto.

— Não é engraçado.

— Discordo, é sim — aponto, ainda rindo.

Ele estreita o olhar, ergue a mão direita se preparando para fazer uma coisa e dispara de um jeito ameaçador:

— Não será tão engraçado quando você, no estalar dos meus dedos, não tiver mais uma boca para rir.

Sem me abalar, digo:

— Desculpa te lembrar, mas você está enferrujado para esse tipo de truque.

De um jeito muito ensaiado, Gabriel argumenta:

— Exato. Imagine então o que pode acontecer se eu tentar. Ao invés da boca, eu posso fazer o seu cabelo desaparecer do mapa. O que será de Sam Winchester sem a sua fonte de poder? E, já que estou enferrujado, duvido ser capaz de desfazer tal desgraça...

Desmancho o sorriso cretino que estava lançando a ele até agora. Embora eu tenha certeza que Gabriel não seria capaz de ato tão baixo, é do meu cabelo que estamos falando. O seguro morreu de velho, é melhor não arriscar.

Balanço a cabeça, assentindo.

— Tem razão, não é nada engraçado.

O arcanjo ainda me analisa atentamente por alguns segundos. Querendo ter certeza de que não terei uma recaída, aposto.

Com certo esforço, mantenho uma expressão impenetrável até ele deixar o quarto. Do jeito convencional, abrindo a porta e fechando-a depois de passar por ela.

Ao contrário do que eu imaginava, o afastamento de Gabriel não diminui aquele calor misterioso. Mas talvez um bom banho dê um jeito nisso.

[...]

Não, nada de banho gelado de trincar os ossos. Também não preciso de algo tão drástico. O calor nem é tão insuportável assim. Um banho morno e relaxante deve servir. Resolver o meu problema, seja lá qual ele for.

Já em um dos banheiros do bunker, um que fica no final do corredor, algumas portas depois do quarto de Dean, tiro o pijama e ligo o chuveiro. Checo a temperatura da água e, quando sinto que está agradável, me livro da cueca e entro descalço no box.

A água escorre primeiro pelo meu cabelo, passo as mãos por ele para apressar o processo e deixar cada fio bem encharcado. Ergo a cabeça para molhar bem o rosto logo depois, demorando-me nesse ritual. Aos poucos, todo o meu corpo é tomado pelo líquido cristalino e revigorante.

Fecho os olhos e me viro, ficando de frente para a parede onde a torneira do registro foi instalada há muitos anos e deixando a água percorrer minhas costas com total liberdade.

Eu pretendia ficar mais um pouco assim — desperdiçando um recurso natural do planeta, eu sei —, antes de começar o banho de fato. Só que algo  muito estranho e inesperado acontece e me arranca do momento relaxante e egoísta.

Um ruído parecido com folhas ao vento irrompe pelo banheiro e movimenta o ar de forma incomum.

Por puro instinto e tomado pelo susto, me viro na direção de onde o som veio mais forte, apoiando as mãos na parede atrás de mim e ficando de frente para...

— Gabriel!

— Sam!

A uma distância mínima do chuveiro sobre minha cabeça e transparecendo tanta surpresa quanto eu, surgiu o bendito arcanjo! O barulho que ouvi de folhas ao vento era o farfalhar de suas asas, claro!

— Gabriel!

Por que meu extenso vocabulário evaporou e tudo o que consigo dizer e repetir agora é o seu nome?

E por que Gabriel ainda está olhando para mim, ao invés de ir embora daqui imediatamente? Por que o choque logo desaparece do seu rosto e dá lugar a outra coisa que não sei identificar?

Por que diabos ele ainda tem a audácia de percorrer o meu corpo com um olhar travesso, descendo devagar até parar justamente no... Onde não devia!

— Gabriel?

— Ah, Sam... — Suspira, acho que impressionado.

Como se a situação já não fosse constrangedora demais, algo muito pior acontece. Uma parte de mim — justo aquela que Gabriel ainda devora com os olhos cheios de calor e interesse — parece gostar de ver o arcanjo por aqui e... meio que... começa a responder.


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Notas finais do capítulo

Eita nóis kkkkkkkkkkkkkkkkkk Talvez eu mude a classificação da fic para +18 futuramente, mas por enquanto, como foi só uma insinuação de que o Sammy ficou "alegrinho", vou manter como está.

Gostaram? Contem tudinho aí nos comentários, podem abrir os coraçõezinhos shippadores de Sabriel ♥

Importante, a parte que o Gabriel fala sobre o receptáculo dele foi invenção minha, blz? Na série, não é mencionado quem era o dono daquele corpinho delicioso (oi?), então tomei minhas liberdades fanfiqueiras.

Aproveitando, quero deixar o convite aqui para o meu grupo de leitores no Facebook. Colem lá! https://www.facebook.com/login/?next=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fgroups%2F1416810001741404%2F



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