A princesa proibida escrita por Helena Melbourne


Capítulo 12
Loucura louca


Notas iniciais do capítulo

Mai um capítulo para vocês!



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“Taka caminhava rumo ao seu lugar favorito, seu refúgio. Passou a ir com muito mais frequência ao castelo Stauben, não suportando ficar um longo tempo perto de sua família, principalmente do pequeno fedelho. Estava com um livro escondido nas vestes, que pretendia passar o dia lendo. O jovem príncipe apreciava muito a leitura, então seu tutor de filosofia indicou-lhe um exemplar de Erasmo de Roterdã. Suas ideias e obras estavam em alta por toda a Europa, apesar de sua morte, portanto, ele decidiu seguir o conselho e ler.

Chegou no castelo e assentou-se no trono abandonado. Muitas coisas do local estavam em perfeito estado e Taka perguntava-se por que o tataravô não havia reaproveitado algumas para Reichstein. Talvez fosse por algo mais profundo, o desejo de deixar o passado no passado e construir algo totalmente novo e melhor, sem nenhum resquício da vida antiga para lembrá-lo de sua derrota.

Após a família real fugir por passagens secretas na Grande Guerra, junto com um número considerável de soldados que debandaram, foram procurar abrigo no sul, na terra natal da rainha. Éfis herdou o trono ainda muito jovem, com seus 11 anos e, após casar-se com Takage, mudou-se para Stauben, unindo os dois reinos. O Reino de Tévora ficou sendo representado pelo duque de Ambros, primo da rainha. Contudo, Takage ficou furioso com o duque por não ter enviado mais tropas para Stauben, pois ele sabia a força de seu inimigo na guerra. Assim, o rei assassinou o primo da esposa, assumiu o reino e com os bens de Tévora reconstruiu seu castelo numa posição estratégica, demorando 50 anos no processo até derrotarem os bávaros.

Mesmo com uma história tão conturbada, Taka sentia paz naquele lugar, principalmente no trono. Não era de se espantar, afinal, ele nascera para aquilo. Então, abriu o livro O Elogio da Loucura e passou a desfrutar seu conhecimento. Após algum tempo de leitura percebeu o porquê o tutor, provavelmente influenciado por Ahadi, lhe recomendara Erasmo de Roterdã: ele era um pacifista. Riu alto e jogou-o no chão. Aquelas ideias eram ridículas e ingênuas, muito românticas, em sua opinião.

Em partes, ele concordava. De fato, as guerras eram feitas por motivos tolos e fúteis, por pura ganância e orgulho de seus soberanos. Todavia, a guerra não era loucura como o livro propunha, era necessária. As palavras eram efetivas até o momento em que não eram mais. Roterdã era um filósofo cristão, seus ideais estavam ligados a uma doutrina, que na arte do reinar não era aplicável.  Admirava Lúcifer por ter se rebelado, afinal era melhor ser o rei do inferno do que um escravo da vontade de outro no céu. A soberba era um dos privilégios de ser rei e Taka não a dispensaria.

— Ora, ora, o que temos aqui? – Taka assustou-se. Buscou o local de origem da voz e encontrou: uma garota e dois meninos um pouco mais velhos do que ele, deveriam ter 18 anos no máximo. Eram magros e as roupas bastante surradas. – Um principezinho? – os outros riram. Taka tinha medo, mas não deixou transparecer.

— Quem são vocês? -perguntou prepotente, levantando-se do trono.

— Somos ninguém. Os rejeitados. - novamente risadas.

— Bom, temos algo em comum então. Sou um príncipe rejeitado pela família real. -comentou, sentindo uma estranha empatia pelos três. Não que ele gostasse dos pobres ou tivesse alguma pena deles, mas a maneira que se auto referiram fez com que Taka se identificasse com aquilo. Rejeição era a palavra que definia sua vida.

— O principezinho rejeitado da cicatriz. Interessante. -debochou fazendo com que os outros rissem novamente. Aqueles risos já estavam eliminando sua rápida simpatia para com o grupo. – Podemos nos ajudar, quem sabe.

— E por que um príncipe como eu iria querer ajuda de um bando de hienas? -debochou também, revirando os olhos.

— Porque nós somos muitos e estamos à procura de um líder. -então a menina assobiou e, como se fosse ensaiado, pessoas que antes estavam escondidas em alguns pontos do castelo se colocaram à vista de Taka; a maioria jovem. Havia centenas deles - E temos muito mais de onde viemos.

 Taka sorriu avaliando a possibilidade daqueles aliados. Tinha 16 anos e seu pai ainda não confiava que ele era digno do trono, talvez cultivar um exército de rebeldes rejeitados não fosse tão ruim. Talvez fosse uma loucura louca, como apresentada no livro de Erasmo. Totalmente passional e movida pelo seu ódio à família, mas viu ali seu plano B de ascensão ao trono.

— Muito bem. Irei ajudá-los, por hora. Prometo trazer mantimentos toda semana. -assegurou.

— Estamos ao seu dispor então, príncipe Scar. – falou a menina, fazendo uma mesura com um sorriso de escárnio.

A intenção pode ter sido a de zombar de sua cicatriz, todavia, o nome soara melhor a Taka do que o seu próprio. Adotá-lo como símbolo de rebeldia a seus pais parecia interessante. Ninguém ligara quando se acidentou e recebeu o corte na face, salvando Mufasa há 4 anos atrás. Se identificar pela cicatriz seria uma boa maneira de lembrá-los que ele existia e poderia fazer um grande estrago em suas vidas.’’

...

Simba estava furioso, nunca se sentiu tão impotente diante de uma situação. Se lhe dissessem naquela manhã que ao final do dia estaria retornando para seu castelo com um exilado em seu encalço, riria e chamaria de louco quem fez aquela insinuação. Contudo, ali estava ele com um exilado em seu castelo, não como um prisioneiro, mas sim convidado. Talvez ele estivesse louco, de fato, pois parecia muito surreal para ser verdade.

Entrou em seu aposento e bateu a porta com força. Ali estava sua esposa Nala, ajoelhada diante da cama com os olhos fechados e um crucifixo na mão. Ao ouvir o barulho estrondoso da porta, saiu de suas orações e encarou o marido.

— Onde está Kiara? Você a encontrou? Ela está bem? – Nala falava rápido demais. Simba estapeou um jarro de água com bandeja e copos, espatifando-os no chão. Em seguida, sentou-se na cama e segurou a cabeça com as duas mãos. A atitude fez a esposa arregalar os olhos, esperando o pior. -Simba!

— Ela está bem! -gritou. – Ela passou por perigo e adivinha? Kovu a salvou. Justamente ele. E agora temos um exilado no castelo. -soltou com sarcasmo.

...

Kiara estava apreensiva. Descansou em seu quarto após o ocorrido. Estava exausta fisicamente e psicologicamente, nunca sentiu tanto medo em sua vida. Só de lembrar daquele homem a tocando com aquele olhar, dava-lhe náuseas. Após a mãe aparecer em seu quarto preocupada para ver como ela estava, caiu de exaustão em sua cama e adormeceu por 2 horas. Depois, as criadas trataram de encher sua banheira e deixaram que tomasse um banho relaxante, e que este também lavasse um pouco de sua alma.

E ali estava ela agora, de frente para o quarto de convidados na ala sul, temendo bater na porta. Por que ela estava tão nervosa, afinal? Era só agradecer e ir embora. Mas havia algo em Kovu que a intimidava. Sua postura confiante ou talvez o modo como ele ficou sereno diante de toda aquela situação a assustava; parecia tão frio, tão pouco humano.

Seu pai deixou ordens para que as criadas preparassem o quarto de convidados para Kovu. Quando festas eram dadas ou havia algum evento importante no castelo e nobres vinham, eles ficavam ali, nos aposentos da ala sul. Apenas a família real ficava na ala norte, propositalmente por questões de segurança.

Ela agradeceu mentalmente pelos soldados que faziam ronda no corredor não falarem nada sobre sua indecisão entre bater ou não na porta, senão ficaria ainda mais vermelha. Respirou fundo mais uma vez e com o punho fechado deu batidas tímidas na porta. Ela temeu que tivessem sido fracas demais, mas então ouviu a porta se destrancando e sendo aberta.

Kovu abriu e encarou-a nos olhos. Kiara sentiu vontade de dar a volta e sair correndo. Ele não lembrava em nada o menino zombeteiro que conheceu, estava muito mais sério, seus olhos eram penetrantes como se estivesse desvendando sua alma. Percebeu que ele havia acabado de banhar-se, pois exalava um aroma fresco, os cabelos estavam úmidos e as roupas mudadas; provavelmente as criadas lhe trouxeram novas.

— Princesa? -perguntou, mais como uma saudação do que como surpresa por vê-la ali. Kiara abriu a boca, mas não saiu nenhum tipo de som. Ele ergueu a sobrancelha direita, curioso. -Quer entrar? -ofereceu. Ela sabia que não era apropriado, mas o percurso até o quarto lhe daria tempo para pensar em algo. Sentou-se numa cadeira perto da lareira, sem fogo por ser um dia quente.

— Eu só queria lhe agradecer por hoje. -falou, sem olhá-lo nos olhos. O modo como ele a encarava era demasiadamente desconcertante.

— Você já agradeceu. – disse sem dar muita importância ao ato.

— Sim, mas não da maneira mais apropriada. – decidiu encará-lo então. - Foi muito corajoso de sua parte enfrentar o seu povo para me salvar. Não deve ter sido fácil. -ele aceitou o agradecimento, novamente com um aceno de cabeça. – Posso perguntar por que fez isso? – parte dela sabia ser o fato dele saber que salvar alguém de sangue real dava o direito de exigir recompensa. Todavia, a outra parte esperava que ele nutrisse algum tipo de sentimento, da amizade de um dia que construíram no passado.

— Era a coisa certa a fazer. Como disse a vosso pai, nunca concordei com as atitudes de minha família, sempre quis uma chance de sair da terra dos exilados. – explicou. Então seu salvamento se tratou disso: um passaporte para as terras do reino. – E porque acho que se tornou um hábito meu salvar vossa Alteza. -sorriu de canto, fazendo com que ela corasse e risse junto. – É a terceira vez.

— Então você se lembra. -afirmou.

— É claro. -confirmou. Pairou-se um silêncio no ar.

— Bom, é melhor que eu vá. -levantou-se. -Está bem acomodado?

— Sim. -sorriu de leve. -Boa noite, Alteza. -desejou, abrindo a porta. Kiara percebeu o quão formal ele estava sendo e incomodou-se com isso.

— Pode me chamar de Kiara. Não há necessidade para tamanha formalidade. – disse docemente.

— Prefiro chama-la de Alteza, Alteza. – falou simplesmente, sereno. O coração de Kiara apertou-se, sentindo-se levemente magoada e irritada. Decidiu que se ele seria frio, ela também seria.

— Muito bem então, senhor. Boa noite. – e assim partiu sem olhar para trás.

 


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam do primeiro contato do Scar com as hienas e como ganhou o apelido? Gostaram de saber um pouco mais sobre a história do reino? Está interessante esses flashbacks?
Aeee!! Tivemos a primeira conversa oficial do Kovu com a Kiara! Estava fofo até que o Kovu cagou né? Coitada da Kiara.. Por que será que ele tomou essa postura?
Comentem, por favor! Como sempre digo: a opinião de vocês é muito importante para mim.



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